quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

A impressionante influência de Hegel


Nenhum outro sistema filosófico exerceu tão forte e duradoura influência na vida política como a metafísica de Hegel CASSIRER, Ernst, O mito do Estado: 289
A confusão entre os conceitos de sociedade e estado se originou com Hegel e Schelling.  É costumeiro diferenciar duas escolas de hegelianos: a de esquerda e a de direita.  A distinção refere-se apenas à postura desses autores em relação ao Reino da Prússia e à Igreja Evangélica da Prússia.  O credo político de ambas as ideologias era essencialmente o mesmo.  Ambas advogavam a onipotência do governo.  Foi um hegeliano de esquerda, Ferdinand Lassalle, quem mais claramente expressou a tese fundamental do hegelianismo: "O Estado é Deus."[1] O próprio Hegel havia sido um pouco mais cauteloso.  Ele declarou apenas que é "o percurso de Deus através do mundo que constitui o Estado" e que ao lidarmos com o estado devemos contemplar "a Ideia, o próprio Deus presente na terra."[2] 
A filosofia de Platão, que outrora reclamara ser senhora no Estado, torna-se com Hegel o seu mais servil lacaio. KARL POPPER .
NA ANTIGUIDADE não havia distinção entre filosofia e ciência. Fosse Platão, Aristóteles, Aristarco ou qualquer marco, filósofos eram considerados cientistas. "A sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas os homens podem desejá-la ou amá-la tornando-se filósofos." (PITÁGORAS) "Se não houvesse o 'teorema Pitágoras', não existiria a Geometria".
E lá vem a civilização medindo tudo, até mesmo a imaginação: "Quase que invariavelmente, todas as modernas áreas do conhecimento tiveram lume na Grécia Antiga." (MEISTER, L.F., A evolução do pensamento econômico - www.webartigos.com.br) 
O resultado de tão douta sabedoria se apura no raiar de cada dia:
Com efeito, hoje sabemos que o direito está imerso numa atmosfera ideológica e a teoria geral do direito, empenhando-se em abstrair este aspecto do direito, só pode falsear as perpectivas e, com isso, fica, por sua vez, sujeita à acusação de ser mais ideologia do que ciência. PERELMAN: 621
Na falta de instrumentação, a ciência evoluia por pensamento cadenciado, encordoado, mas não por ação. A simbiose cruzou os séculos. Descartes é considerado filósofo, porém deu as cartas às ciências. Newton é considerado pioneiro cientista; mas suas elucubrações eram produtos de preconceitos filosóficos ou mais correto, de sugestões metafísicas. Seus cálculos foram aproveitados pela própria Filosofia. Quem alimentasse a pretensão de reconhecimento científico ou mesmo filosófico, não poderia se indispor com tanto conhecimento acumulado. Nossa sumidade caprichou na retórica. E por acreditar na estória porque se confirmava pela História, HEGEL impulsionou a ciência, a filosofia, o direito, a política, a humanidade, enfim, ao maior desatino que sua privilegiada e treinada mente poderia alcançar.
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (Estugarda, 1770 - Berlim 1831) foi este filósofo que influenciou todas as ciências, e conseqüentemente todos os povos, justamente por bem assar a filosofia com a física, no tempêro metafísico. Infelizmente. E assim encerrava HEGEL (cit. BOBBIO, N.:, 86)."Tudo o que o homem é, ele deve ao Estado; só nele o homem tem sua essência”
A filosofia do direito de Hegel foi capaz de funcionar como apologia do Estado prussiano. ‘Assim como não se passeia impunemente por entre palmeiras tampouco se vive impunemente em Berlim,’ diz Karl Rosenkranz. CÍCERO, A.:134
Quando Hegel estudava o destino do sujeito racional sobre a linha do saber, ele não dispunha mais do que de um racionalismo linear, de um racionalismo que se temporalizava sobre a linha histórica de sua cultura, realizando movimentos sucessivos de diversas dialéticas e sínteses. BACHELARD, G.,:57
De que maneira esta estratégia ideológica de Hegel pode ser acolhida, ainda mais como manifestação científica, embora repleta de carências e absurdos? Como a dialética recebeu tão cobiçado galardão? De que modo a simples lei positiva, essa expressão de vontade unilateral e e comumente paranóica brilha tal qual pura expressão da ciência, e até da democracia? 
Desde o momento em que o Estado assume a realidade do direito como desenvolvimento de uma pura idéia, pretensamente moral, em pleno voluntarismo jurídico, a tarefa de legislar tende a converter-se num facere. Trata-se de um fazer mediante o qual sua vontade à prática a construção de uma sociedade nova através do método que combina o idealismo, que lhe ministra o modelo, e o empirismo, com o qual trata de construí-lo. Assim ficam abertas as portas a todo o intento de realizar científicamente qualquer tipo de utopia. “A cisão é a fonte da exigência da filosofia”, diz Hegel no Differenzschrift". (CÍCERO,  A., : 73)
O instrumento sectário platônico, já utilizado com êxito por Maquiavel, Bacon, Hobbes, Newton, Rousseau e, principalmente, Descartes, vinha a calhar.  Newton emprestara a certeza.   "Para o hegelianismo, a relação da filosofia com as outras disciplinas  era de que a primeira, 'de algum modo tanto completava como engolia as outras disciplinas em vez de as basear'." (FEN: 143; cit. PICHELER e TESTA: 63) No começo da terceira parte dos Principia Mathematica a demonstração cabal de fenômenos de ação e reação, fenômenos mensuráveis, por isso com carga científica, sustentaria o edifício hegeliano: “Na natureza, nenhuma coisa muda senão pelo encontro das outras”. (Newton, Isaac, cit. Capra, F., 1991: 60.) O método cartesiano não poderia encontrar contestação: “Hegel tem Descartes na conta de um herói." (Alquié, F., : 17) Hegel não titubeou homenagear o ídolo: "Como ele cruzamos propriamente o umbral de nossa filosofia independente. Aqui, podemos dizer, estamos em casa e podemos, como o navegante após longo périplo por mar proceloso, exclamar ‘terra’! (Hegel, G. W., Conferências e escritos filosóficos de Martin Heidegger; Hegel e os gregos: 20) Sinceramente, era preferido ter ficado no mar. 
Hegel influiu nos negócios na Alemanha ao fim das guerras Napoleônicas, diante a profunda humilhação nacional perante a França e as aspirações de unificação política e criação de um estado nacional que correspondesse a unidade e grandeza da cultura germânica. BOBBIO, N., Estudos sobre Hegel : direito, sociedade civil e Estado: 119 
Se examinarmos todas as guerras internacionais  e revoluções civis  que Alemanha e Itália precipitaram nos séculos XIX e XX, fulgura a bandeira de Hegel. "Hegel foi o filósofo clássico de todos os totalitarismos estatais e políticos, tanto os da direita (nazismo) como os da esquerda (comunismo).” (ROHDEN, H. 1993: 157)  
No final do século XIX, a principal influência sobre a teoria acadêmica social e econômica era das universidades. A idealização bismarckiana do Estado, com suas funções previdenciárias centralizadas foi devidamente reestudada pelos milhares de ocupantes de postos-chave do meio acadêmico que estudaram em universidades alemãs nas décadas de 1880 e 90. SCHESINGER, ARTHUR M., The Crisis of the Old Order 1919-1933, p. 20; cit. em JOHNSON, P.: 13.
Se pegarmos a Bolchevique e suas afilhadas, nem precisa falar. "É na guerra e não na paz que o Estado mostra seu ânimo e ascende às alturas de sua potencialidades.” (HEGEL F.W., cit. SABINE, G.: 620)
O tema de guerra inspirou a Hegel algumas de suas páginas mais famosas: desde as primeiras obras tinha proclamado que a guerra é necessária e mantém a saúde dos povos: como o vento sobre o pântano, a guerra é o momento de igualdade absoluta. BOBBIO, N., 1997: 24
A Europa se preparava à insanidade. Sabine (p. 650) detalha: “Na Itália o hegelianismo atuou no fascismo principalmente nas primeiras fases. O hegelianismo fascista foi reconhecidamente quase uma racionalização ad hoc.” O ano de 1931, centenário da morte de Hegel e véspera do descalabro mundial, um grupo internacional se congregou aos seus estudos, em Haia. Publicaram-se vários ensaios, todos sem originalidade, exceto a exaltação ao fascismo e, certamente, ao nazismo também. Rivista di Filosofia foi dedicada a Hegel; Antônio Barfi clamou por um Renascimento Hegeliano, o retorno do sistema orgânico com leis de continuidade e desenvolvimento. E Appunti di filosofia del diritto (ad uso degli studenti), Turim, Giappichelli, 1932, definiu-se como filosofia jurídica neo-hegeliana. ( Barfi, Antônio, cit. Bobbio, N., 1991: 182)  
É bem verdade que na cultura italiana daquele tempo o Filósofo por excelência era Hegel. Quase totalmente ignoradas eram as obras de Locke (a primeira tradução completa de Dois Tratados sobre o Governo somente aparecerá em 1948) Constant, Tocqueville, Benhtham e Mill. Haviam florescidos estudos sobre Maquiavel: basta recordar os nomes de Ercole, de Russo, de Chabod. Nas breves notas Para a história da filosofia política, escritas em 1924, os autores levados em consideração eram (pareceria incrível nos dias de hoje) Maquiavel, Vico, Rousseau (maltratado), Hegel, Haller e Treitschke. A grande tradição do pensamento liberal e democrático da qual nascera o Estado moderno (também o estado italiano) era completamente ignorada.  BOBBIO,  N., Ensaios sobre Gramsci e o conceito de sociedade civil,: 92.
A vizinha Vaca Leiteira também se encantou com a Coruja de Minerva
Antes da II Grande Guerra, durante mais de vinte anos, Hegel ocupou na França um lugar central. Se a maioria dos pensamentos se afastam dele, também é por terem sofrido a influência determinante daquele que se quis o ‘último filósofo’ e que continua a colocar para todos a questão da mudança do mundo. DESCAMPS, C.,: 132
A filosofia influencia os povos, não há dúvidas. Hegel foi muito capaz: “Sob influência dos filósofos absolutistas e autoritários, Hegel, Marx, Comte e uma pletora de epígonos contaminados por esta magia negra da política que é Ideologia - o Liberalismo recuou a partir da segunda metade do século XIX." (Penna, J. O. de Meira: 179)
"A dialética hegeliana é idealista, pela primazia concedida ao espiritual sobre o material. Feuerbach, na própria escola de Hegel, iniciou a conversão do idealismo para o materialismo, obra esta completada por Karl Marx.” (Goldman, L.: 15)
“Hegel foi o filósofo clássico de todos os totalitarismos estatais e políticos, tanto os da direita (nazismo) como os da esquerda (comunismo).” (Rohden, H. 1993: 157)

Sem Hegel, não há Darwin.
NIETZSCHE, Gaia Ciência
Na arena das ciências, sua participação é fulgurante. É presente nas artimanhas de Darwin e na loucura de Freud, apenas para citar os mais clássicos. Como seu método filosófico se baseia na síntese, cujo desfecho requer antecipadamente a dialética, o jogo de forças, coaduna-se com o mistiscismo religioso e com o mecanicismo newtoniano, do pêndulo do relógio, naturalmente inferido por método cartesiano. Eis a razão do surgimento do tal materialismo dialético marxista. Destarte, Hegel entortou a Economia, através das mãos bobas de Marx e Keynes, para não mencionar o Direito, sua especialidade, completamente subvertido, reduzido à massa, fato pertinente a Hitler e Mussolini.
Hegel havia declarado que a consciência do homem determinava seu modo de ser. Marx lhe corrigiu parcialmente, mas adotou igual método - o fenômeno seria inverso: o status social determinaria a consciência:
“O padrão final das relações econômicas como vistas na superfície é muito diferente, para não dizer o oposto, do seu padrão essencialmente interno e oculto." (Marx, Karl, Para a Crítica da Economia Política: 135
Pereira (Epistemologia e Liberalismo: 128) explica a pretensão:
O último elemento presente no materialismo histórico é a afirmação de que o homem não é dotado de consciência autônoma e liberdade de escolha, já que 'não é a consciência que determina o ser, mas, ao contrário, o ser social que determina sua consciência'.
No caso mental, basta substituir a causa econômica, o ser social marxista (pai) pela “causa-mãe”, de Freud. Ambas as teorias e todos os seus efeitos dialéticos são dispostos nos limitados eixos correspondentes. "O marxismo e a psicanálise freudiana expressam os dois lados de um mesmo 'fato', duas perspectivas de uma mesma realidade, a realidade do indivíduo 'cindido', explorado e alienado." (Mrilia Mello Pisani, Revista Mal-estar e subjetividade . - Fortaleza, CE, março/2004.)
"Em nossos próprios tempos, o historicismo histérico de Hegel é ainda o fertilizante a que o totalitarismo moderno deve seu rápido crescimento. Seu uso preparou o terreno e educou os meios cultos da desonestidade intelectual.” (Popper, K.: 282)
Por certo Hegel, do mesmo modo que Aristóteles, ainda está convencido de que a sociedade encontra sua unidade na vida política e na organização do Estado; a filosofia prática dos tempos modernos parte, como antes, do princípio de que os indivíduos pertencem à sociedade como membros a uma coletividade ou as partes do todo - mesmo quando o todo deva ser constituído somente através do vínculo entre suas partes. As sociedades modernas, todavia, tornaram-se tão complexas que não se pode mais aplicar sem problemas ambas as figuras de pensamento - uma sociedade centrada no Estado, outra no indivíduo. A teoria do discurso do direito - e do Estado de Direito - tem de romper a bitola convencional imposta pela filosofia do direito e do estado, ainda que acolha sua temática. (Habermas, Jörgen, especial para O Estado de São Paulo, 6/11/1993. 
O material é farto; no entanto, exceto no departamento de filosofia, a universidade praticamente desconhece o veneno. O pior é que nela o jurisconsulto preferido do marxismo ainda é tomado como grande sapiência. Na do Direito, a honra cabe a Comte, pseudo-contraveneno à picada da víbora. Da serpente, todavia, ninguém sabe nada. Como encontrar o andídoto sem conhecer o veneno, apenas efeitos?
Se me permite, deixarei para breve uma narração mais mais detalhada sobre as façanhas da Coruja de Minerva. Por enquanto, não se preocupe. Se a academia não é capaz de lhe cortar as asas, vai ver nem mais asas a Coruja tem.
O cérebro do Universo é capaz de contar acima de dois. Os dilemas do intelectual-artista e do teórico -político tem mais de dois chifres. Entre a torre de marfim, de um lado e a ação política direta, de outro, existe a alternativa da espiritualidade. Do mesmo modo, entre o fascismo totalitário e o socialismo totalitário existe a alternativa da descentralização e do empreendimento cooperativo - o sistema político-econômico mais natural à espiritualidade.
WELLS H.G.
Felizmente.
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Algumas influências:
Uma metafísica de meta
Leviathan à la italiana
O fim do Duce, mas não do fascismo
A (tétrica) mão visível
A "ciência social" de Bismarck
A tragédia científica da proposição "social"
O embuste freudiano
A lei como expressão da vontade de poder
Fábrica de leis
O preparo do Reich
Darwinismo à caminho do fim
O Triunfo da Doilética
A mistificação dial-ética

A falta de ética da Totalidade Ética
Freudismo & marxismo: charlatanismo & violência




Um comentário:

  1. A influência de Hegel Vale a pena lBlogs de Ciência by bafonso ·

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