quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

A dificuldade do resgate

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TANTO A REALIDADE da Relatividade, como o Iluminismo, o Laissez-Faire e a Mão Invisível não se difundem na universalidade desejada, nem tanto por suas complexidades, até acacianas, ou por suas matemáticas, eis que dispensáveis, mas pelo inusitado, pelo inimaginado, pela dificuldade das pessoas raciocinarem diversamente da voz geral, e pela facilidade de impostores conduzirem povos ingênuos. Custamos a entender, ainda mais se confinados nas remotas épocas. Resignava-se Voltaire (cit. Stewart, D., in Smith, A., 1999: XLVI):
Meu caro Sr. Smith, tem paciência; tranquiliza-te; mostra-te na prática tão filósofo como és na profissão; pensa na vacuidade, aridez e futilidade dos juízos comuns dos homens: como são poucos governados pela razão, notadamente nas questões filosóficas, que tanto excedem a compreensão do vulgo.
Ao delinear o diário, Voltaire adivinhava o futuro:
“A mensagem de Adam Smith, em particular, foi grotescamente distorcida durante os últimos duzentos anos.” (Ormerod:, 1996: 223)
Passado tanto da tempo das curiosas referências de Voltaire, Russell, Bachelard, Dewey e Whitehead, muitos já sabem o que Smith, Einstein e Locke, concluíram:
“Um deles, publicado em 1966, afirmou que ‘nos últimos anos foram lançados uns quatrocentos livros sobre Einstein e seu trabalho.’” (Jammer: 9)
A década famosa proporcionava esse ruído até então desconhecido, o barulho da natureza, que é mais forte, mais intenso, coeso, e mais eficaz do que qualquer organização estipulada:
Parece haver, na natureza, uma série de processos em que, aparentemente, se dá uma passagem da desordem para a ordem. Esta passagem se dá espontâneamente, não como uma ação consciente. E, possívelmente, isso se aplica à vida social, onde nem tudo vai pelo pensamento ou pela razão.
Schenberg: 151
"A aceleração da mudança na nossa época é, ela própria, uma força elementar, fundamental. Este impulso de aceleração oferece conseqüências pessoais e psicológicas, assim como sociológicas." (Toffler, 1972: Introdução.)
A França, que congelara seu principal autor, viu-se na contingência de reanimá-lo:
A obra de Alexis de Tocqueville somente começou a ser valorizada na França, neste século, a partir dos anos 50. Em segundo lugar, os anos 60, período no qual os sociólogos, filósofos e etnólogos focalizam a Segunda Democracia, aprofundando a concepção tocquevilliana acerca da cultura democrática. Em terceiro lugar, os anos 70, período no qual François Furet e o grupo de seus colaboradores (entre os quais se situa Françoise Mélonio) reunidos no Centre de Recherches Politiques Raymond Aron (entidade ligada à École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris)O Antigo Regime e a Revolução (editado pela primeira vez em 1856) um lugar de destaque na interpretação da história da França.
Furet François, Pensar a Revolução Francesa. Trad. R. Fernandes de Carvalho. – Lisboa : Edições 70, 1988; Rodríguez: 108)
E quanto ao Brasil? Responde-nos o nobre Diplomata:
Infelizmente, nós, brasileiros, nunca lemos Burke, Locke ou Tocqueville, nem Acton, Burkhardt ou Hayek, ou outros bons autores anglos-axônicos. Preferimos as divagações românticas dos discípulos de Rousseau, as chatices de Comte e a filodoxia ou pretensioso amor das opiniões especulativas e rebuscadas dos autores da rive-gauche, influenciados por Marx e seus corifeus. Gramsci e os medíocres professores da Escola de Frankfurt ainda continuam aqui hegemônicos.
Penna, O. M. : 469
Péra, digníssimo Embaixador. Daremos um jeito. Com certeza.

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