sábado, 2 de fevereiro de 2008

O que dizem os astros

ANO QUE VEM será intenso.
A França anuncia "seu ano," no Brasil.
Sua Revolução aniversaria em zerado.
Merci, mas terá que dividi-lo: trata-se do Ano Internacional da Astronomia.
Ambos eventos marcarão época, tanto pela pujança dos idealizadores, como pelas magnitudes temáticas.
Além de voltarmos a receber a atenção daquele riquíssimo país, será um excelente momento para relembrarmos as decisivas presenças brasileiras no cenário astronômico mais avançado: primeiro, em 1919, quando os céticos e estupefatos cientistas entraram Ceará adentro para fincarem seus telescópios apontados ao Sol. Em Sobral os pesquisadores veriam, com seus próprios olhos, a luz de Mercúrio obedecer o tobogã da gravidade solar.
O eclipse e a localidade eram propícios para os incrédulos se redimirem. Todos, sem exceção, os que viram e os que não viram, confirmam a predição do mago.
A gravidade não é uma questão de força, mas de sutileza!
Outra participação efetiva do canarinho se deu na década passada. Um astronômico valor deixou a base naquela base.
Da astrologia, enfim, mulheres geralmente costumam bem entender.
Brasileiros em geral valorizam os astros, de futebol ou cantor, ou o que mais aparecer. Incluo-me.
A astrologia parece uma ciência psicológica, não astrológica. Suponho, contudo, dar na mesma. Ambas incorrem em idênticas precipitações. Quando se misturam todas as cores, obtém-se um quadro cinzento, o qual não expressa cor nenhuma. Todavia, não me cabe julgá-la, ao contrário. Procuro compreender suas razões. Sua maior virtude nos livra do oceano comunista, o que, per se, já justifica sua presença. O mar vermelho teima propalado, de maneira paradoxal. Pelo simples fato de dividir a manada em doze, pelo menos, ela fica mais perto da individualidade, um atributo por demais sonegado, especialmente nos anos das chaminés.
A astrologia pode levar a massa, mas não toda.
Como não se aplica assim, a todos os casos, no mesmo tempo, o homem segue tateando, à procura ou na espera de um passe-de-mágica, pela qual teria acesso às portas do futuro.
Por causa da deficiência, não falta quem encoste algum número:
“As imutáveis leis da História descritas por Marx, a luta desesperada pela sobrevivência de Darwin e as tempestuosas forças da sombria psiquê de Freud devem, em alguma medida, sua inspiração à teoria física de Newton.”
Então lembro, de plano, do bio-ritmo, mas não esqueço o macête bi-polar, tão decantado nas cadeiras centradas na mente. Essas desfilarão na terça-feira, junto com as campeãs do carnaval. Quanto aos associados Marx e Darwin, Nav's ALL os recolherá em breve. Por enquanto, ela retém aquele.

A hipótese do bio-ritmo surgiu nos pés do II Reich. Naquela época buscavam-se regularidades em tudo, especialmente na marcha dos soldados. Não há apontamentos biorrítmicos, contudo, sobre os comportamentos de cada soldado participante das costumeiras guerras contra a França.
Essas ilações demoraram um século para lograrem alguma credibilidade, efêmera, contudo. Exceto nos redutos apontados, nas ruas pouco se ouve falar dessa moda. Todavia, ao discorrer sobre as armadilhas dialéticas, numeradas, deparei-me com a essa coqueluche do último quarto do século XX, na companhia do pelotão que anunciava a era do Aquário.
A base teórica do bio-ritmo vem do mesmo berço da astrologia: ao nascer, o pimpolho já fica com sua vida definida; pelo menos, delineada. Há um cuidado em não torná-la por demais determinística, mas pretende compassá-lo. Sim, no meio do pelotão poderá haver alguém de passo errado, mas a regra é aplicável a todos, independente de altura, sexo, idade, status, ou raça. Não se cogita que a vida é um salpicar de boas surpresas, em sua vasta maioria, mas também de algumas tristezas, que às vezes, de tão profundas, parecem sobrepujar também as nossas caras alegrias. Não há como prever tais efemérides.
Por outro viés, repare no bio-ritmo dos passistas da Sapucaí: em que pese nascidos em datas diferentes, oriundos de universos não poucas vezes por demais divergentes, todos se cadenciam pela contagiante batida do samba. Não há bio-ritmo que guarde alguma fidelidade; só se for o do puxador.
Sob o ponto de vista da física, não se ateve o arauto a reparar o espaço, além do tempo. O local de nascimento é tão ou mais importante do que a data do nascimento da criatura. Ambos são complementares. Aliás, é bom que se saiba, o Universo não se reparte em dias. Sequer na Terra é prudente: qual a data correta? Dia primeiro, de manhã, no país do Sol Nascente, ou ainda no anterior, em outro ponto da Terra? Qual data valerá? Do local do nascimento? Ou do local da aferição, que pode ser distante? Quem sabe um campo neutro - no Equador, por exemplo?
Sob o crivo científico não passa. Ademais, mesmo que passasse, seria inverossímel, por improvável, felizmente. Ou não seria por demais monótono nos programarmos assim, feito forno de microondas?
As reações dos esquimós divergem das cubanas, seja pelo clima, pela luminosidade dos dias, temperatura, hábitos sociais e alimentares, entre uma infinidade. Também é claro que os suecos são claros, portanto, um tanto diferentes dos tropicalistas. E não me acusem de racismo. Aliás, até a gravidade dessa pecha varia conforme o tempo e o local.
O que quero dizer é que a mesma medida dificilmente será compatível com todos tipos, ao mesmo tempo, mesmo a dois nascidos no mesmo dia, no mesmo local. Ainda assim, seus universos foram, são e serão sempre distintos. Ainda antes de nascer, embora escondidos, eles já recebiam inumeráveis impactos dos respectivos ambientes pelos quais transitaram.
A receita para quem trabalha com as mãos não é a mesma ao jogador de futebol.
Todos vivemos e viveremos por batidas peculiares, subjetivas, inacessíveis à medições externas, ainda que aproximadas. Se os dias, conforme o lugar, varia sua extensão; se o tempo, confrme a velocidade, se altera, como querer que tudo o mais siga alguma regularidade?
Onde quer que haja organismos, importa conhecer o meio. Os próprios elementos dos organismos estão sempre e necessariamente em relação mediata ou imediata com o conjunto de outros elementos. A interação é o fato perene do mundo. Qualquer aferição que pelo menos não infira tais relação, não inspira confiança. Melhor ter ficado mudo._
Na tese focada, ao passar o tempo as incidências se avolumam, e com elas, novos cálculos. O vivente tem a chance de ir refazendo as contas. É tantos dias para lá, outros para cá, mas eles gravitam em torno do trinta. Perdão, mas não teria algo a ver com o prosaico ciclo menstrual?
O maior apelo passa pela idéia de previnir atropelo. Ou seja: as tabelas são elaboradas para que conheçamos, e por isso atentemos àqueles períodos assinalados críticos.
Cabe-lhe a mesma salvaguarda que ampara a astrologia. Voltado ao ser, o bio-ritmo tem a grande virtude de discernir seu objeto da manada, nem que seja por algum tempo, até surgir algum imprevisto. Duram pouco, pois, muito pouco seus prognósticos. A metafísica tende a se diluir no tempo, tal qual entropia; mas se bem arraigada, pode ser salvo-conduto para uma vida menos sofrida, ainda que meio onírica.
Não está na tabela, nem no mapa, contudo, o dia de ganhar em loteria. Nesta data quero ver o que marca meu bio-ritmo. Será suplantado, até esquecido, sem a menor dúvida.
Todo dia ganhamos vários grandes-prêmios; agora, até anunciados com antecedência.
Por tanta riqueza a nós endereçada, um brinde à França, e à Astronomia.

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