quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

A Gloriosa Revolução

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Nota da Redação:
Se você está procurando dados sobre a Revolução Gloriosa, encetada em 1688, na Inglaterra, não é esta não. Esta é a Gloriosa Revolução, de 1968, de semelhante soar, quilate e efeito, mas não a que procura. Se este é o caso, vários approaches abordam aquele marcante episódio:
A Gloriosa Revolução
A grande epopéia das Luzes incluía no mesmo movimento o justo e o belo. Organizava um afresco tranquilizador da natureza e da sociedade. Os romances de aprendizagem diziam como se conduzir e se comportar. Ora, as indicações foram se desagregando nas sociedades industriais contemporâneas. (Descamps: 27)
No EspaçoTempo dos gangsters, John Dewey (p. 205) compôs a prece:
"Quando a filosofia vier a cooperar com o curso dos acontecimentos e tornar claro e coerente o significado dos pormenores diários, a ciência e a emoção hão de interpenetrar-se, a prática e a imaginação hão de abraçar-se."
O vaticínio cumpriu bodas contido pelo escuso:
É verdade que desde 1915 a compreensão da relatividade geral foi vastamente aprimorada, nossa confiança na teoria cresceu e não foram encontradas limitações confirmadas sobre sua validade. Contudo, ninguém hoje afirmaria ter um domínio total do rico conteúdo da relatividade geral. O mesmo vale para as respostas a problemas filosóficos levantados pela teoria totalmente ao nosso alcance hoje. Segundo meus conhecimentos, os escritos filosóficos sobre esse assunto foram um tanto limitados, sem dúvida principalmente porque a matemática envolvida é bastante complicada.
(Pais, 1997: 150)
Nas de prata coube a menção do espirituoso Russell:
“Todo o mundo sabe que Einstein fez algo assombroso, mas poucos sabem, ao certo, o que foi que ele fez.” (Filippi, Marco Antônio, O Maior Cientista do Século XX: O Homem e o Gênio; in Trattner: 112)
Na década famosa, todavia, o muro da Sorbonne e a imprensa internacional acordavam à epopéia:
A revolução que está começando questionará não só a sociedade capitalista como também a sociedade industrial. A sociedade de consumo tem de morrer de morte violenta. A sociedade da alienação tem de desaparecer da história. Estamos inventando um mundo novo e original. A imaginação está tomando o poder.
(Mortimer, Edward, The Times, Londres, 17/5/1968 cit. Roszak: 33)
O Ano da Graça
A imaginação até já permeava o poder, mas fixada num real imaginado, querido, idealizado como desenho nas nuvens, descrito na sapiência na Kant. Políticos e politicólogos, malgrado o toque de Kant, e a oração de Dewey, deitavam-se a mirar os céus. Não perceberam o iceberg:
Nesse contexto, o mês de maio de 1968 aparecera como um acontecimento que ninguém previra. Generalizado, o discurso político perdeu então seu privilégio. A proclamação do que era científico ficou abalada; as ciências políticas não souberam antecipar esta explosão internacional.
Descamps: 15
"Foi um movimento espontâneo, sobre o qual líderes dos partidos de esquerda e os sindicatos tiveram pouco controle e no qual algo semelhante a um programa anarquista para uma revolução libertária foi realmente organizado. " (Woodcock, 1971: 50)
"O ano de 1968, que foi igualmente o da invasão e da normalização da Checoslováquia, marca para a história o fim definitivo, nas democracias populares, de todas as esperanças em uma 'boa' sociedade comunista e em uma 'regeneração' de sua ideologia." (Dewitte, J., posfácio de Kolakowski: 174)
Até então, cientistas malucos e filósofos de torres repousavam nos louros:
Mesmo que fizessem esforços desesperados para falar de ‘seu tempo’, agitando os grandes significantes novos (comunicação, interação, inteligência artificial) mesmo que se esmerassem em manipular, em seus discursos, toda uma quinquilharia de objetos considerados concretos, posto que retirado do vivido mais banal (walkman, minitels, pílulas e robôs domésticos), os filósofos fugiam das questões mais decisivas. Porque as consideravam resolvidas.
(Contre la peus, Hachette, 1990: 112; cit. Japiassú, Um desafio à Filosofia: pensar-se nos dias de hoje: 17)
Da Itália, Bobbio (1992; prefácio à edição brasileira) confirmava a precariedade:
Devo acrescentar que estávamos em meados de 68, ano dos protestos juvenis, que foram particularmente mais inflamados na Itália. A Universidade italiana (embora não apenas a italiana) mostrara-se politizada - e mal politizada - sobretudo nas Faculdades de Ciências Humanas.
Obrigadas a revirar suas próprias entranhas, mesmo que completamente atrasadas, e à contragosto, elas resgatavam, justamente, o mentor da Revolução Gloriosa, à Gloriosa Revolução:
O ano de 1960 foi um marco para os estudos sobre Locke. Em um só ano, além da edição crítica de Laslett, já lembrada, foram publicadas três monografias importantes (2) que representam muito bem o interesse renovado pelo filósofo do liberalismo e do cristianismo racional. Todas as três enfatizam Locke moralista e político, mais do que o teórico do conhecimento, sobre o qual se havia detido especialmente os trabalhos e a crítica precedente. (Bobbio, 1997:78)

Ainda:
A árvore de 68
A difusão atômica de 1968
1688/1968: Iluminismo & Relatividade
A Future 1
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Notas
1. Saindo da prisão; cit. Woodcock, 2002: 148.
2. As três monografias são: Viano, C. A., John Locke: dal razionalismo all'illuminismo; Polin, R., La politique morale de John Locke, onde o autor enaltece a validade temporal e espacial das hipóteses do iluminista; e Cox, R. H., Locke on war and peace.


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