quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Jogo de Xadrez & Educação



vantagem competitiva de uma sociedade não virá da eficiência com que a escola ensina a multiplicação e tabela periódica, mas do modo como estimula a imaginação e a criatividade. EINSTEIN, A., cit. ISAACSON, W.: 26
O aprendizado à profissão, a educação física, e em algumas o ministério religioso constituem a função das escolas. Tirante a última, a qual considero mera ideologia, e como todas, capciosa, à qualificação ao trabalho não podemos nos insurgir. Ea destreza, a rigidez muscular, a força, o fôlego, a persistência, a endorfina decorrente, e vários outros predicados tornam as atividades físicas prazeirosas e necessárias. As escolas remetem as mentes à preocupação com o Reino Celestial, cuidam do corpo, profissionalizam, e desse modo dispõem o ser à função social,, mas raras se atém desenvolver a arte, a intuição, o intelecto.
Os bens são adquiridos com dedicação; porém, não há empenho algum pela pessoa que os vai possuir. Erasmo de Roterdã, De Pueris: 27.
Tamanha desídia reflete o sucesso da alienação
O que você diria hoje do grande número de estudantes que consideram o saber como meio utilitário, como um meio de se tornarem uma engrenagem na máquina econômica e social? Os estudantes da máquina de que você fala fazem o que lhes mandam fazer. Adultos construíram essa máquina, essa ratoeira, esse labirinto. Num labirinto onde os ratos se perdem, as pessoas não dizem, ao observá-los 'os ratos estão loucos'; dizem 'construiu-se um labirinto para deixar os ratos loucos'. Em muitos países, o ensino foi construído para deixar os estudantes não muito felizes. SERRES, MICHEL, De duas coisas, a outra; cit. DERRIDA, J.: 67
O jogo de xadrez pode encaminhar a gente, e de modo divertido, atraente, prazeroso. No entanto, talvez alguma rara exceção, entre nós não figura no curriculo pedagógico. Tive a sorte de contar com um avô aficcionado, e ele, com um parceiro até seus últimos dias.
O que a cultura americana faz de melhor? É a preocupação que os pais têm com o que os filhos fazem fora da escola. A maioria das instituições possui clubes de xadrez, debate, inovação e fazem visitas a museus e galerias de arte”, disse o professor ao explicar sobre um grupo de japoneses que buscou junto às escolas dos Estados Unidos o motivo para o empreendedorismo dos americanos. Papel de professores é questionado no Fórum da Liberdade
 O pequeno quadrilátero qualifica e vai nos aprimorando no decorrer de toda a vida. Até a hora fatal, estimula o pensamento, naturalmente o raciocínio, a reflexão, a arte, o cavalheirismo, a cortesia, a ética, o respeito, e até o amor às regras. Por se valer constantemente da memória, a consciência pode exercitar quiçá seu principal atributo, aliás o que nos diferencia de todas outras espécies. Seu cultivo minimiza até mesmo doenças senis, tais como o intolerável Mal de Parkinson.
Há até quem dele retire proventos. Não são poucos os profissionais que faturam milhares de dólares em competições internacionais.  A França patrocina competições e sugere às autoridades acadêmicas que incentivem o ensino do xadrez como atividade “sócio-educativa”, como atividade de “estimulação cognitiva” e como “estudo dirigido”. A U.R.S.S. apresentou os célebres Karkov e Kasparov. Na Holanda o estudo é reconhecido oficial, já no primário.
Nos últimos anos, o tema 'xadrez e educação' tem estado presente nos debates institucionais. Se em países desenvolvidos a utilização de jogos de estratégia em salas de aula já se encontra perfeitamente aceitável, o mesmo não se pode afirmar, salvo algumas exceções, quanto aos países em desenvolvimento, entretanto, no Brasil, a implantação do xadrez nas escolas já é vista como fundamental por pedagogos e coordenadores, e isto vem sendo feito, mas mais especificamente nos últimos quinze anos. No estado do Paraná o projeto encontra-se em fase bastante avançada, sobretudo pelos esforços do grande mestre Jaime Sunye Neto e de sua equipe de trabalho. Em Curitiba já existem torneios que mobilizam mais de oitocentas crianças em cada etapa, e em todo estado estima-se que o número de alunos envolvidos com o xadrez passe de quinhentos mil. www.cdof.com.br/xadrez
Os Jogos de Tabuleiros são considerados ciência (tem sido investigado por áreas como psicologia, pedagogia, história, matemática, informática, entre outras), arte (ao realizar uma bela partida experimenta a sensação estética similar à sentida ante uma obra mestra da pintura ou da música) e esporte (pelo seu caráter competitivo, cooperativo). O xadrez é reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional – COI –, como modalidade esportiva desde 1999). A Fide (Federação Internacional de Xadrez), com sede na Suíça, é a segunda maior federação esportiva do mundo, com 161 países filiados, ficando atrás somente da Fifa. PROJETO ESCOLAR -

Esse jogo cria uma disciplina, a relação entre as crianças é diferente, mais harmoniosa, e tem o conflito, que ajuda a amadurecê-las, mas não confrontos", conclui a pedagoga. E durante as partidas, concentradas nas estratégias das próximas jogadas das peças no tabuleiro, as crianças ficam quietas. Bom para elas, para os professores e para os familiares. Pedagoga Solange Ferreira, Estadão, 28/9/2008
Da invenção
O grão-vizir, principal conselheiro do rei, na falta de guerras entendeu distraí-lo, e inventou um jogo. A peça mais importante era também um rei, e a segunda, naturalmente, o grão-vizir. Tanto quanto nas pelejas, ganhava o confronto quem capturasse o rei inimigo, e por isso o jogo se chamava, em persa, shamat - sha, de rei, e mat, de morte. Os anglo-saxões adaptaram o lance final, designando-lhe checkmate. Em russo permanece a grafia original, uma expressão que se coaduna com seu viés revolucionário.
Peças e movimentos, as regras, enfim, foram se aperfeiçoando. O grão-vizir foi trocado por uma rainha, dona de poderes muito mais contundentes, terríveis mesmo. Ademais encostou a Igreja, com seus bispos salvadores, em diagonais. A dinâmica cavalaria e as torres de segurança permaneceram, bem como os peões, sempre os mesmos, coitados, os primeiros que sucumbem.. A qualquer movimento de peças, corresponde antecipada meditação. A lógica matemática ocupa lugar preponderante. O ato requer planejamento, técnica executiva, precisão, estabelecimento de metas, estratégias, persuasão, sangue-frio, até condicionamento dos reflexos, ainda que em cada jogada se tolere algum tempo para maturar o objetivo, mas não muito. Diferentemente de uma empresa, contudo, e até da vida, uma vez tocada a peça, não se admite o retorno. A responsabilidade é plena, mas há compensações.
Disciplina o cérebro
O xadrez é a ginástica da inteligência 
Goethe  
Jogos são ferramentas com grande potencial para o ensino, não só de ciências, mas em diversas áreas. O motivo é a criação de ambientes propícios à simulação e experimentação, que estimulariam a interpretação dos resultados obtidos.Eduardo Galembeck, prof. do Instituto de Biologia, Unicamp
"O processo de reflexão que o jogo promove ajuda no desenvolvimento e fixação do conteúdo. É a metacognição, o pensar sobre o pensar, com a verificação das decisões e resultados obtidos." (Cesar Nunes, diretor executivo da Oort Tecnologia e coordenador do Laboratório Didático Virtual na Escola do Futuro da USP)
O tabuleiro pode bem auxiliar crianças hiperativas. Rafael Vinha tinha poucas amizades, notas baixas na escola e não conseguia prestar atenção nas aulas ou em filmes. Quando foi confirmado o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Rafael iniciou um tratamento que incluía, além de medicamentos, aulas de xadrez. "O jogo exige concentração e isso ajudou na minha vida", diz ele, que hoje com 13 anos sonha em ser veterinário. (www.estadao.com.br/estadaodehoje/20080928/not_imp249572,0.php)
Seriam bizarras, contudo, as corriqueiras avaliações sobre o desempenho, o desenvolvimento do aprendiz. durante o lapso estipulado. Nada pode ser obrigatório. Sempre haverá quem não encontre a menor afinidade. não se disponha a pensar sobre qualquer abstração, que dirá um estratificação par excellence.   Para não favorecê-lo com total liberdade, assim inclinando a preguiça geral, é prudente manter, pelo menos, mais uma ou duas atividades extra-curriculares à disposição.
O enfrentar das adversidades
Nenhum jogador de xadrez jogará jogos medíocres. Desse modo, a aptidão pode contribuir para a virtude.
RUSSELL, Bertrand, Ensaios céticos: 193
No tabuleiro se aprende a sobrepujar intempéries, casos fortuitos, pelo menos enfrentá-los com maior ímpeto e destreza, em situações aparentemente intransponíveis pela carência de peças. A imaginaçãocopiloto Einstein. sempre é aguçada, estimulada. É ingrediente preponderante. O embate proporciona a evolução dessa que é até mais fundamental do que o próprio conhecimento, e assim atende a relevância também enaltecida, paradoxalmente, pelo maior dos cientistas, nosso copiloto: "A vantagem competitiva de uma sociedade não virá da eficiência com que a escola ensina a multiplicação e tabela periódica, mas do modo como estimula a imaginação e a criatividade." (EINSTEIN, A., cit. ISAACSON, W.: 26)  
Um dado que o diferencia dos demais jogos  muito me apraz. Mesmo estando em desvantagem numérica e mesmo de posição,  um ou dois lances podem virar o jogo, até um xeque-mate.
Devaneio
Das qualidades necessárias ao xadrez, Iaiá possuía as duas essenciais: vista pronta e paciência beneditina, qualidades preciosas na vida, que também é um xadrez, com seus problemas e partidas, umas ganhas, outras perdidas, outras nulas. ASSIS, Machado, A Semana
A trajetória de um ser humano talvez possa ser mesmo descrita como um grande jogo de xadrez, num tabuleiro repleto de peças. Podemos começar ao momento que determinarmos, ou dele tivermos consciência. Para ambos, é vedado o retorno, embora a vida admita correções. Qualquer movimento acarreta consequências ao jogador, e ao adversário.
A abertura do jogo requer passo dos peões, que podem ser os centrais, os laterais, ou até os quase-ponteiros, no caso de um projeto em Fianchetto. O folclórico sai com cavalos, mas o movimento da pionada logo se faz obrigatório.
Esses primordiais instantes corresponderiam ao pré-primário, o jardim-de-infância, e ao primeiro grau.
Com o desenrolar, joga-se no front peças de maior realce. Esta fase equivaleria ao segundo grau. É o pré-vestibular.
No curso superior, ou já no desenvolvimento profissional, surgem os decisivos reforços das torres e da Rainha, se esta ainda não tiver atuado.
Ao endereçarmo-nos para o último quarto da existência, vislumbramos o cheque-mate, ou tentamos dele escapar.
A cada jogada, uma nova chance
Há quem perca, no rallye, muitos peões e peças de grande valor. Ainda assim, contudo, não está alijado da disputa, pois o jogo não é de come-come, e sim de eficácia. Destarte, você poderá chegar ao fim com apenas um peão, e dar o mate campeão. Eis o sabor da vida, a esperança nutrida a cada movimento, mesmo que subsistam alguns deles em falso. Sempre é possível uma recuperação, malgrado as intempéries. -
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O PRAZER
O xadrez é uma das mais ricas fontes de prazer, um meio no qual se encontram elementos para representar as mais admiráveis concepções artísticas, um campo pelo qual a imaginação pode voar livremente, produzindo, com encantadora beleza, idéias deliciosamente sutis e originais. O xadrez é uma das raras e preciosas atividades em que o homem pode explorar ao fundo suas emoções, atingindo estados de prazer tão sublimes, tão ternos, tão intensos, que só podem ser igualados pelas sensações proporcionadas pelo amor e pela música. MELÃO JÚNIOR, Hindemburgo. Tributo à Deusa Caissa. www.terravista.pt/Enseada/2502/Tributo2.
O jogo de xadrez é lúdico, recreativo, enobrece e cultua o cérebro. Todas as escolas deveriam adotá-lo. É lazer e instrução, os dois ao mesmo tempo. Um ócio criativo, como prefere De Masi. É atraente, escapa das mesmices das más temáticas e portuguesas, não perdendo suas características de exercitar o raciocínio, o cálculo, e de se constituir numa plataforma de expressão pessoal, sem deixar de ser social, por envolver o parceiro.
A simplicidade da prática
Trivial é explicar modos e fins dos movimentos das peças. Ao aprendiz não lhe é exigido a prática, naturalmente, tampouco habilidade. Os próprios alunos podem ir ensinando uns aos outros. Neste caso, promove-se a integração social, em empresa cooperativa, solidária. O espaço físico utilizado é insignificante. E faz-se complementar a toda cultura por nós perseguida.
Se queremos uma personalidade criativa e responsável, com capacidade de inteligência elevada, nada melhor do que dotá-la de tão singelo quanto dignificante treinamento.
O peão ocupa a linha de frente.
Pobre diabo sói sucumbir à granel.
Morre pra salvar a gente,
tal boi-de-piranha, o bedel.

O bispo corre na diagonal,
obtuso, como convém ao velhaco.
É capaz de livrar-nos do mal,
mas é o segundo a ir pro buraco.

O cavalo é mais arisco.
Anda por "L", de frente e lado.
Porém, quando se mete no cisco,
faz-se também sepultado.

A torre dificilmente cai;
Mas por vigia do reino,
por isso também se vai,
e deixa passar o demo.

A Rainha, por andar por todo canto,
dana-se na correnteza.
Lá se fica Rei em pranto,
quase só, em sua mesa.

Disse quase por restar o garçon,
pequeno peão, de grande quilate.
A vida passou como avião;
ora é hora do xeque-mate!


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