quarta-feira, 18 de junho de 2008

Inflação e deflação

A liberdade consiste em conhecer os cordéis que nos manipulam. 
Baruch Spinoza (1632-77) 
É um fenômeno indesejado, principalmente quando a deflação é provocada pelo excesso de capacidade produtiva. BELLUZZO, Luiz Gonzaga, Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, em Wikipédia, Deflação.
Ouso confrontar o ilustre professor. Tirante o caso do café, virado moeda mas  encrencada sua exportação por causa da crise de 1929, a história não registra superprodução deflacionária, que significa redução de preços nominais.  A definição do ex-Ministro, renomado Economista, e ex-presidente de clube de futebol (S.E. Palmeiras/SP) é sofística, ainda que empírica; platônica, e radicalmente cartesiana; meia própria de catedrático, mas não de comerciante. De "senso comum", comum a meros retransmissores. Talvez de político, não de pesquisador. Bronzeador de pílulas. Seu diagnóstico é "para inglês ver." Carece de objeto; e, por conseqüência, de cientificidade. "Não há erro mais perigoso do que confundir a conseqüência com a causa: chamo-a de a verdadeira corrupção da razão." (NIETZSCHE, F., Crepúsculo dos Ídolos: 49) Assim como a febre é consequência, não a causa da patogênese, índices de preços apenas indicam a higidez ou desequilíbrio monetário. Não são causas, mas consequências de uma gestão mais ou menos honesta. Os termos inflação, deflação e mesmo estagflação se referem ao valor da moeda, não ao valor dos bens produzidos, e comercializados; tampouco é diapasão para seu preço nominal:
A inflação, como dizia Milton Friedman, é sempre e em todo lugar um fenômeno monetário. O que isso quer dizer, basicamente, é que a alta generalizada de preços é causada pelo aumento da oferta monetária e creditícia, fazendo com que mais moeda procure a mesma quantidade de bens e serviços. Portanto, a inflação será sempre resultado de uma política deliberada de quem controla a emissão de moeda e o crédito dos bancos. Uma boa ideia no combate à inflação
O que aquela Exa se refere é lei de oferta e procura comercial. Esta é composta por uma infinidade de fatores econômicos, políticos, sociais, psicológicos e sazonais. A vazão da produção não se deve tanto à oferta/demanda dos produtos quanto à oferta/demanda da moeda, e/ou crédito à disposição: Vamos a definição mais precisa: "A inflação, para resumir, é o aumento no volume de dinheiro e do crédito bancário em relação ao volume de bens." HAZLITT, Henry A relação é direta; e as conseqüências, óbvias: :
LONDRES, 5 mar (EFE).- O Banco da Inglaterra (autoridade monetária) recorreu hoje à emissão de dinheiro para aumentar a liquidez nos mercados e impulsionar a concessão do crédito, diante da forte recessão pela qual o Reino Unido atravessa.
http://economia.uol.com.br/ultnot/2009/03/05/ult1767u141522.jhtm

LONDRES (Reuters) 24/3/2009 - Os preços ao consumidor da Grã-Bretanha inesperadamente aumentaram em 3,2 por cento em fevereiro na comparação com igual mês de 2008.
* * *
A moeda dá direito a uma parcela correspondente da riqueza nacional, representada pela produção, alcunhada PIB (Produto Interno Bruto). Caso haja apenas uma dezena de níqueis em circulação, quem detiver um tem direito a 10% do Tesouro. Se o governo resolver fabricar mais dez moedas, sem aumentar a riqueza, o detentor daquela moeda teria que repartir o quinhão com as novas colocadas no mercado. Neste caso, apuramos uma inflação de 100%.

Essa enxurrada de dinheiro no sistema econômico faz com que o primeiro grupo que o receba tenha o privilégio de poder comprar itens a preços basicamente inalterados. À medida que esse dinheiro recém-criado vai perpassando a economia, os preços vão aumentando. Quando esse dinheiro finalmente chega ao último grupo da economia (o grupo de mais baixa renda), todos os preços já subiram. Portanto, os primeiros recebedores do dinheiro recém-criado se beneficiaram à custa dos últimos recebedores ("Efeito Cantillon"). Houve uma redistribuição de renda às avessas.
No entanto o governo, mercê de impostos, retiradas através de compulsórios, taxas, multas e várias rubricas que cria, pode cercear a circulação. Se a que cada ano o governo retirar uma moeda, incinerá-la ou enviá-la a um paraíso fiscal, a que permanece comprará cada vez mais, na mesma proporção. O fenômeno é justamente o contrário da inflação, e leva o nome de deflação.
Esta anomalia pode ser detetada através da relação com as moedas de outros países. Quando nosso dinheiro se valoriza, frente aos demais, isto quer dizer que há menos moeda em circulação, portanto, incita à deflação. É o que tem acontecido no Brasil, já desde a implantação do real, com exceção de um curto período de uma maxidesvalorização muito mais elaborada para enriquecer os amigos da Pasárgada, do que em função dos súditos, ou de uma natural variação cambial.
Se a inflação é tida como dragão a ser vencido, a deflação tem um efeito ainda mais nefasto, dantesco, deletério, pernicioso, devastador porque subliminar, dissimulada como a cobra:


O processo de deflação ainda pode ser iniciado, ou agravado, pela baixa oferta de moeda. Quer dizer, falta dinheiro em circulação, seja por causa dos juros altos, que tornam o crédito proibitivo, seja pela falta de investimentos. Essa bola de neve costuma afetar todos os setores da economia, do agricultor aos fabricantes de, além de abalar a própria estrutura social.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Defla%C3%A7%C3%A3o_(economia)
A quantidade de dinheiro exigida para efetuar, de um modo livre e fluente, as transações de um país em determinada proporção; se for superior às necessidades, não haverá nisso vantagens para o comércio; se for inferior, muito inferior, ser-lhe-á extremamente prejudicial, A escassez de dinheiro reduz o preço daquela parte da produção que é usada no comércio, pois o desestímulo que daí resulta para o comércio restringe a demanda da produção a ele destinada. A escassez de dinheiro num país desestimula o trabalhador e os artífices (que são a principal força e sustentáculo de um povo).
FRANKLIN, Modesta Investigação Sobre a Natureza e Necessidade do Papel-Moeda; Economistas políticos: 177/9.
O que tem de mais dantesco é ver nossa Economia entregue a meros contadores financeiros, desprovidos que qualquer cultura política, social, histórica, humanística, comercial, industrial, ou produtiva:

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou nesta quarta-feira o resultado do Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e que apresentou deflação de 0,32% em agosto. 'Fiquei muito satisfeito com IGP-M de hoje que deu negativo, deu deflação, que significa que estamos desacelerando a inflação no mundo e no Brasil e, portanto, podemos dizer que a inflação está sob controle e deveremos ficar dentro da meta", disse o ministro.' Invertia
O que de certo modo é reconfortante é que pela primeira vez há a confissão da anomalia, adiantada com exclusividade a você, e com bastante antecedência, pelos radares da Nav's ALL.
Como a capacidade gerencial das nações tem se restringido apenas a percorrer tal eixo, e como nada no mundo é estático, a humanidade é levada a buscar o equilíbrio neste movimento bipolar. Não são poucos os institutos com vistas às medições, a fim de proporcionar aos meios produtivos os parâmetros necessários aos projetos que implementam. Tudo à tôa, tudo em vão. Os institutos apenas acusam efeitos de ações já acontecidas; suas informações serão sempre obsoletas.
Assim como para medir a febre no corpo existe um ponto específico, para identificar a temperatura da moeda é mister colocar o termômetro na cabeceira, isto é, na casa da moeda.
No caso do valor do dinheiro, contudo, por sua relação direta com a quantidade de bens produzidos, sua aferição requer o balanço do que se tem. Embora esta foto também se refira a um passado, é através da conjunção que se pode mais ou menos aquilatar em que ponto do eixo nos encontramos, bem como sua direção.
Ensina a história que os períodos de inflação são antecedidos pela incidência da deflação. O exemplo mais fulgurante encontramos na horrososa década de 1920 americana, que culminou com o maior desastre econômico que se tem notícia, a fim de encontrar o salvador:

Aumentos rápidos da quantidade de moeda provocam inflação. Quedas acentuadas provocam recessão. Esta é uma proposição igualmente bem documentada. Não está diretamente documentada neste livro, embora sejam mencionados alguns tópicos: a depressão de 1873-79 nos Estados Unidos, os anos deprimidos do início da década de 1890, a grande retração de 1929-33 que levou Franklin Delano Roosevelt à Casa Branca e armou o palco para o programa de compra de prata da década de 1930." FRIEDMAN, M. 242
Em qualquer país ou sociedade, em qualquer tempo, a inflação ou a deflação, o desenvolvimento ou a recessão só podem ser calibrados pela mão, bem visível, do titular governamental. Para recuperar aquele paciente, o remédio foi a inflação acelerada, a partir de um programa de gastos governamentais, através do pomposo nome de New Deal.
Em nosso meio John tornou-se João, e levou o nome de
Estado Novo.
Em 1945 a inflação já tinha cumprido o papel, e
Tio Sam estava mais sadio do que nunca, nem tanto pela manipulação monetária envolvida, mas pelo usufruto dos despojos proveniente da vitoriosa Guerra. Na efeméride a participação brasileira foi insignificante, de modo que continuamos com a doença bipolar.
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A interferência do FMI
A demanda de moeda depende da taxa de juros!
O palco está armado para o Sr. Keynes.

Hicks, O Sr. Keynes e os Clássicos: uma Sugestão de Interpretação; cit. Hilferding: 149
O Fundo Monetário Internacional teve que intervir nas irresponsáveis políticas das republiquetas, tendo em vista o incremento da globalização e do comércio internacional.
O Brasil viu sua Casa da Moeda lacrada, impedida de fabricar a moeda sem a correspondência com o que produzia. Os impostos, as taxas, os compulsórios, o enxugamento monetário, e principalmente as taxas de juros aplicados no período inflacionário, contudo, não foram reduzidos, de modo que o expediente refreou de modo abrupto a quantidade de dinheiro em circulação:


Antes de Keynes os governos liberais temiam, com razão, perturbar os equilíbrios econômicos se manipulassem a moeda, o orçamento, o imposto, as taxas de juros. A partir de então, tendo justificativas para atuar nesta direção, a estatização se torna “científica”, intelectualmente respeitada.
SORMAN, G. 1989: 54.
Ora, como bem sabemos, a moeda tem a função oxigenar a produção; caso haja escassez, é trivial concluir o estrangulamento. A moeda, contudo, por mais escassa, valerá mais, de modo que quem a detém estará, fatalmente, mais rico, justamente na proporção de sua escassez. Eis a razão da deflação contemplar, especialmente, os bancos e as empresas públicas.
A partir dos anos setenta, com o aumento vertiginoso dos preços do petróleo e da primeira manifestação de escassez dos alimentos, o mundo conheceu o fenômeno da estagflação, o misto de inflação com recessão, algo totalmente impensado pelo grande formulador do macête inflacionário. Pretendo amanhã abordar este efeito, fantasma maior do que todos, o qual muitos economistas tem vislumbrado sua silhueta.
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Notícias
O presidente do BC insistiu nesta quarta-feira que a autoridade monetária não faz previsões para a inflação. "Não fazemos nossa própria previsão. Isso compete aos mercados."
Ou seja: cabe ao mercado, através dos incontáveis institutos, tentar elucidar o quanto foi retirado de moeda da circulação através dos impostos, compulsórios e afins, o quanto deixou de circular pelo preço proibitivo dos juros, o que foi fabricado e ao mercado devolvido, o quanto foi desviado aos paraísos fiscais, quais os preços de varejo e atacado que sofreram variações, bem como de serviços, e até de salários, cuidando de expurgar preços alterados por variações sazonais, sem esquecer da variação cambial sobre um período que julgar conveniente. Com base nesses incontáveis e aleatórios vetores, "cabe ao mercado" tentar se aproximar de um número de taxa de inflação ou deflação, para então, de posso desse vago e amplo pretérito, tentar adivinhar o futuro. Só pode ser gozação.
Folha de São Paulo, hoje: "A inflação vem se mostrando mais 'resistente', e diante disso o BC (Banco Central) terá que continuar elevando a taxa de juros, afirmou nesta quarta-feira o economista da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Salomão Quadros. Ele calcula que há espaço para que os juros subam de 3 p.p. (pontos percentuais) a 3,5 p.p. em um período mais longo, com dosagens de 0,5
p.p a cada reunião, como o BC vem fazendo."
Evidentemente a sumidade é paga para dizer o disparate. Seus colegas conhecem a história:

"Não obstante, o que se observou no sistema financeiro internacional foi o surgimento de uma brecha entre as duas taxas: os juros incidentes sobre empréstimos bancários mantiveram-se elevados enquanto o retorno esperado de investimentos produtivos declinava." (Hilferding: 101).

Sabe-se que ganha com a deflação quem estiver com as cédulas na mão; neste caso, os bancos, que nada produzem. Hayek antecipadamente lamentou:

Essa perda da compreensão dos fatores que determinam tanto o valor do dinheiro como os efeitos dos eventos monetários sobre o valor de bens específicos é um dos principais danos que a avalanche keynesiana causou ao entendimento do processo econômico. (1986: 73)
 Em abril
Desde 1995 mantemos a maior taxa de juros de mundo. Quanto mais ela deverá avançar para "segurar a inflação"?
]
Veja, ainda:

O caminho da estagflação
A atual crise americana
Os aliados da crise
Banco Central, agente comercial?

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