quinta-feira, 5 de junho de 2008

Impeachment no Rio Grande do Sul


Rádios transmitem gravações colhidas pela Polícia Federal. São chocantes.
Milhões repartidos como se fossem pirulitos.
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A governadora surge envolvida.
A ramificação se estende a partir do DETRAN, ao deleite das secretarias, do tribunal de contas, e de vários integrantes da cúpula, dos líderes do partido e da base legislativa.
Destaca-se a representação do estado no D.F.
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Gov. Yeda Rorato Crusius e o arrecadador Lair Ferst, ao fundo, à esquerda.

A quantia apurada beira a fabulosa cifra de 50 milhões, e vinha sendo distribuída sob
a batuta do arrecadador de campanha do p$db.
A professora foi ministra do professor. Pobre dos nossos filhos, desse modo tão mal-educados.
Desde o Movimento da Legalidade o estado não atingia tamanho grau de efervescência.
Numa das gravações, o secretário-geral taxa a "patroa" como "sem-vergonha". Não pode ser verdade, mas a ave bicuda deve estar muito envergonhada, tanto que sumiu.
O estado está acéfalo, à deriva.*
Há quem aguarde ansiosamente pela demissão do super-secretário, supondo que tal ato arrefeça a sede da sociedade. A principal rede de comunicações não mede esforços em tentar desviar a atenção que se abate sobre sua ex-funcionária, projetada por suas telas, na esperança de que o sangue do pangaré sacie a concorrência. Amanhã o secretário (função derivada de secreto, segredo) de fato deve ser defenestrado; porém, o rastro do mau-cheiro, não. Ele vem da sala ao lado, bem maior, e mais espaçosa. O odor é mais potente, instalado há muito, e impregnado por todas as dependências do corpo, membros e acessórios do castelo em ruínas. Será inóquo dispensar apenas mais um elemento da quadrilha.** Muitos já partiram em debandada; porém o fogo se alastra, cada vez mais, por todas as pradarias. Sobre o Banco do Estado pairam sérias denúncias, além da CORSAN, CEEE, TCE, e, provavelmente, em todos os braços do podre organismo.
Como se não bastasse, neste instante circula na Assembléia várias cópias de um "relatório das operações" endereçado à governante. As cartas vem assinadas pelo responsável, o próprio encarregado de organizar a formidável maracutaia. Nela o elemento se apresenta como "representante do governo" para fechar os esdrúxulos contratos. Como se sabe, obteve pleno êxito.
Além da vultosa quantia desviada, os lotados nos meandros do DETRAN usufruiam de um polpudo mensalão, gentileza de um pool de seguradoras, para o favorecimento desse picaretas nos laudos dos acidentes, assim isentando-os do cumprimento das coberturas contratadas.
A Polícia Federal detém centenas de documentos, em milhares de páginas. Um deles se atém à compra da mansão onde a professora residiria ao deixar o Palácio da Praça da Matriz. Os recursos declarados para esta aquisição são insuficientes. Não atingem, sequer, o valor nominal escriturado. 1
Por certo o grau de desídia e desonestidade imprida está intimamente ligado ao mar de corrupção e impunidade que assola todas as instâncias dos poderes, notadamente a partir do chefe que lhe guindou a Ministra. Eis o grande Ali Babá, até agora incólume.
O Executivo detém a maioria parlamentar, mercê do suborno generalizado; à oposição quanto pior o governo mais fácil da grei retornar; mas a revolta popular exige o remédio heróico.
A enorme quantidade de manifestações endereçadas às rádios, tvs e jornais, asseguram que a vilã chegou ao fim-da-linha.
Há quem se entristeça com o episódio, mas a catarse é salutar, e oportuna. Arrisco a dizer:
de Porto Alegre, mais uma vez, pode partir o rastilho fulminante à estupenda cadeia que se agadanha do poder, de ponta-a-ponta do país, precisamente desde 1995.
Não é mais possível a tolerância com a criminalidade oficializada.
A vitória da dignidade do povo gaúcho contaminará o espírito nacional.
No fim-de-semana a música rancheira cederá o espaço à bandalheira no gravador dos deputados. A fita é enorme, com dezenas de faixas, acrescidas da letra impressa pelo incauto "tesoureiro."
O processo de impeachment é iminente. A renúncia não surpreenderá.
Gaúchos no mar de lama
Fascismo & positivismo gaúcho
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Notas
1. O imóvel foi comprado no dia 6 de dezembro de 2006, 21 dias após a eleição de Yeda para o governo gaúcho. Segundo a matrícula da casa, registrada no dia 12 de dezembro de 2006 no cartório da 4ª Zona de Registro de Imóveis de Porto Alegre, a compradora pagou R$ 750 mil pela transação. Para quem jamais geriu algum negócio privado, por certo foi um negócio da China. A Rio Del Sur Ltda. adquiriu uma casa e dois apartamentos em bairros nobres de Porto Alegre e de Gramado. Os imóveis, avaliados em R$ 2,7 milhões. A empresa pertence a familiares do "empresário" tucano Lair Ferst, que atuou na campanha da governadora Yeda Crusius (p$db) e é réu com outras 39 pessoas em ação penal que tramita na Justiça Federal.
* Até este sábado, tres dias após divulgadas as comprometedoras gravações, não só a governadora; com exceção do chefe da casa-civil, nenhum outro secretário ou integrante do núcleo do governo foi localizado. Dizem estarem reunidos em alguma toca do palácio, com a cúpula do p$db nacional. O partido está enlameado em vários estados.
*Ontem, sexta-feira, o senhor vice-governador apresentou outra gravação, em
CD, desta feita implicando a "casa-civil". O psdb comprou a base aliada através de recursos subtraídos do Banrisul, DAER, CEEE, e DETRAN, entre outras empresas públicas. Caras-pintadas invadiram a Assembléia. O Palácio Piratini está com as portas fechadas, e cercado pela Polícia Militar. A ira popular recrudesce. O povo em coro clama pela renúncia. A governadora permanece no interior do palácio, incomunicável.
**Porto Alegre, 27/5/2008: "Atingido em cheio pelo caso do Detran, um dos auxiliares mais próximos de Crusius, o secretário de Planejamento e Gestão, Ariosto Culau, pediu demissão após ser filmado em uma reunião com Ferst."
* Na noite do sábado, vestida cor-de-rosa, a velha artista veio à tela manifestar sua indignação com o "desleal" vice-governador. Mas suas ações comprovam o acerto da denúncia, ao despachar quatro de seus comparsas do avião, para aliviar a carga. É tarde. Nunca vi um governante tão desmoralizado, nem Getúlio, nas vésperas do suicídio. Seu destino está selado, mas não precisa apelar. Os comentários inseridos em milhares de sites e jornais indicam que a solução menos traumática, para ela mesmo, é sair de fininho, e rápido. Pessoal perdoa sardinha, porque aguarda o mestre de todos, o da Bobonne, e o comparsa maior, já enredado também.
**** As afirmações de Barrionuevo comprometem a governadora Yeda Crusius que considera Lair Ferst um “companheiro” e “militante” do PSDB. Se ela teve acesso à “ficha policial” de Ferst durante a campanha, como permitiu que ele trabalhasse como captador de recursos para sua campanha? O ex-vice-governador do RS, Antonio Hohlfeldt (ex-PSDB, hoje no PMDB) também se referiu a Ferst de maneira nada elogiosa, dizendo que conhecia sua reputação e, por isso, jamais permitiu que ele entrasse em sua sala. 16/6/2008 (www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=139783)
"O principal resultado concreto do Pacto foi o lançamento do livro “Pacto – Compromisso de todos – Jogo da Verdade – Crise estrutural e governabilidade do Rio Grande”, assinado pelo próprio Barrionuevo e por Cezar Busatto (do PPS, ex-chefe da Casa Civil do governo Yeda Crusius, demitido após a revelação de uma conversa explosiva com o vice-governador Paulo Feijó (DEM), onde admitia o uso de empresas públicas para financiar campanhas eleitorais do PMDB e do PP). Na noite do lançamento do livro (13 de novembro de 2006), Barrionuevo deu o seguinte autógrafo para José Fernandes, dono da empresa Pensant, acusado de ser um dos chefes da quadrilha que roubou o Detran:
“Prezado José Fernandes, meu bruxo: este livro e o Pacto não existiriam sem o teu apoio e as tuas luzes. Vamos juntos nesta caminhada. Viva a Pensant”.
O autógrafo de Busatto para Fernandes não foi menos entusiasmado:
“Caríssimo José Fernandes, o Pacto tem uma marca indelével da tua competência, sabedoria, compromisso público! Obrigado por tudo! Vamos continuar trabalhando juntos pelas boas causas!”. (idem, ibidem)
Barrionuevo é José Barrionuevo, ex-colunista político do jornal Zero Hora. Após deixar o jornal, Barrionuevo passou a trabalhar como “consultor de imagem” e marqueteiro em campanhas políticas. Em 2006, Barrionuevo trabalhou como consultor para o Pacto pelo Rio Grande, uma iniciativa do então presidente da Assembléia Legislativa do RS, Luiz Fernando Zachia (PMDB), posteriormente Chefe-de-Gabinete da Governadora, que seria substituído por Busatto, ora igualmente fora.
20/6/2008: Processo de Impeachment foi abortado pela Procuradoria da Assembléia. Ou seja, um técnico em direito é capaz de solapar a vontade popular, em troca da continuação dos desmandos. Ate quando?
20/6/2008: Além do escândalo político em que se encontra, o governo tucano levou o MST a denunciar, nesta sexta-feira, a "volta da ditadura" no Rio Grande do Sul. A coordenação do movimento diz que há um "nefasto projeto em curso no RS, envolvendo a proteção dos interesses de empresas estrangeiras, que são também grandes financiadores da campanha de Yeda Crusius, a supressão de direitos civis e a repressão policial". Movimentos sociais, sindicatos e partidos de oposição pretendem iniciar uma onda de protestos contra o governo estadual.

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