segunda-feira, 2 de junho de 2008

A chicana de Platão

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Na língua dos pássaros uma expressão tinge a seguinte.
Se é vermelha tinge a outra de vermelho.
Se é alva tinge a outra dos lírios da manhã.
É língua muito transitiva a dos pássaros.
Não carece de conjunções nem de abotoaduras.
Se comunica por encantamentos.
E por não ser contaminada de contradições,
a linguagem dos pássaros só produz gorgeios¹
DEPOIS DA MAÇÃ, vestimos preto-e-branco, em listas horizontais, e devidamente numerados; Daí a Platão (428-347 a. C.) foi apenas um lapso. : 
Então veio, parece, um sábio astuto,
o primeiro inventor do medo aos deuses...
Forjou um conto, altamente sedutora doutrina,
em que a verdade se ocultava
sob os véus de mendaz sabedoria.
Disse onde moram os terríveis deuses das alturas,
em cúpulas gigantes, de onde ruge o trovão,
e aterradores relâmpagos do raio aos olhos cegam.
Cingiu assim os homens com seus atilhos de pavor
rodeando-os de deuses em esplêndidos sólios,
encantou-os com seus feitiços, e os intimidou –
e a desordem mudou-se em lei e ordem.
Crítias,
tio de Platão e líder dos Trinta Tiranos em Atenas
O futuro "secretário" do Tirano de Siracusa, na verdade amante do príncipe Dion, era tiete de Sócrates. Entendendo a curiosidade do suicida  em se conhecer completamente, fato que lhe fez antecipar a viagem, Platão rachou o mundo: uma parte  sensível, aquela que se percebe com os cinco sentidos de modo natural, porque na época nem pensar em instrumentos, e a outra  chamada inteligível, que podemos perceber, dizia o dogmático, apenas com a inteligência, com a mente. Com a matemática, pronto. O mundo sensível seria apenas um reflexo do que há de bom no mundo inteligível. Platão preferiu susbtituir a Filosofia, em favor da tecnologia. Em reduto pedófilo, prudente que ninguém mais saiba pensar. "Que não adentre ignorante em geometria" 
Em Atenas, Eurípedes e Platão foram acusados de roubar idéias de outros autores e filósofos. BURKE, Peter, A propriedade das idéias, tradução Luiz Roberto Mendes Gonçalves; Folha de São Paulo, 24/6/2001, p. 16.)  
A tanto, de Parmênides (540-450 a.C.) Sócrates e Platão contrabandearam as alegorias da ilusão; de Pitágoras, (VI a.C.) a geometria,  a matemática, e principalmente a doutrina órfica trazida pelo afilhado da Pítia - a Lenda de Orfeu, para lhe confortar da sentida perda.  Assim crescia a primaz chicana dialética: o fato, a suposição e a resposta, conflito estimulado por distinções polares, paradoxais e enfraquecidas mutuamente, mas desse modo receptiva à introdução da vontade do amo:
Com efeito, quase todos os vícios, quase todos os erros, quase todos os preconceitos funestos que acabo de pintar deveram seu aparecimento, ou sua duração, ou seu desenvolvimento à arte da maioria de nossos reis de dividir os homens para governá-los mais absolutamente. (Tocqueville, A., 1997, cap. XII, p. 139.)
 Como ainda se referiu Tocqueville, , “uma idéia simples, mas falsa, terá sempre mais peso no mundo do que uma idéia verdadeira, mas complexa.” (Cit. Morin, E. e Le Moigne, J.-L., p. 136.)
Os Trinta Tiranos`tornaram a Acrópole salão de baile espartano para se vingarem dos almofadinhas atenienses, "estragam-prazeres" responsáveis pela morte de seu maior afeto.   Arrasada Atenas, o solitário Platão tomou o barco à Siracusa, de lá retornando à periferia ateniense, à colônia grega graças a hospedagem de um até então anônimo Academus. Do novo casamento nasceu a Academia². O astuto estufava o peito pressupondo apresentar o termo de rendição aos incomodativos filósofos: “Platão, sonhando com uma retórica digna do filósofo, queria que os discursos deste pudessem convencer os próprios deuses”. (Fedro, 273e, cit. Perelman, C.:  536.) Esta “engenharia teológica" submeteu o homem ao infinito pêndulo
Dilacerado entre o desejo de eternidade e a solicitação do corpo, jamais ele poderia superar essa contradição se a sua alma não fosse naturalmente votada ao divino. (3)

Tudo é duplo no homem, tudo se joga entre o tempo e a eternidade. Só o amor, que surge como raiva, libido, arrebatamento ou delírio divino, pode rasgar o reino da necessidade.
(Châtelet, F., p. 43.)
Maior bobagem não há. O tempo faz parte da Eternidade, ele é a Eternidade. Nada pode existir no interregno.  E “bem e mal são categorias inventadas pelo homem para conviver. [...] A imensidão do espaço não pode ser analisada do ponto de vista do bem e do mal. Não tem sentido, nenhum sentido, do ponto de vista do bem e do mal.” (Bobbio, N. e Viroli, M., p. 79.)
Como qualquer um que fale em amor ganha lá seu favor, Platão, pela abóbora-prima, ainda logra levar o ocidente de roldão.
O homem ocidental civilizado vive num mundo que gira de acordo com os símbolos mecânicos e matemáticos das horas marcadas pelo relógio. É ele que vai determinar seus movimentos e dificultar suas ações. O relógio transformou o tempo, transformando-o de um processo natural em uma mercadoria que pode ser comprada, vendida e medida como um sabonete ou um punhado de passas- de-uva. E pelo simples fato de que, se não houvesse um meio para marcar as horas com exatidão, o capitalismo industrial nunca poderia ter se desenvolvido, nem teria contnuado a explorar os trabalhadores, o relógio representa um elemento de ditadura mecânica na vida do homem moderno, mais poderoso do que qualquer outro explorador isolado ou do que qualquer outra máquina. WOODCOCK, A ditadura do relógio, In A rejeição da política, 1972 - http://lovedbdb.com/nudemenClock/index2.html
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Notas
1. Barros, Manoel, Retrato do artista quando coisa; cit. Ferraz, M.C., p. 3.
2.Atenas, 387, urgente: O senhor Aristocles, banido de Atenas por amar os espartanos, retornou à Grécia com o apelido de Platão. A alcunha lhe foi impingida no exílio, ao servir o Tirano de Siracusa, especialmente ao filho daquele debilóide. Descoberto, caiu na desgraça da corte, e foi vendido como escravo. Libertado graças a outro amigo, ora retorna jurando ter esquecido Dion, e também os antigos amores com os soldados de nossa rival Esparta.
(Naquela cidadela o infausto "conheceu a cultura militar, e aos que meninos abandonavam seus pais... Diálogos de Platão, é repleto de referências à competição dos jovens no atletismo.")http://www.consciencia.org/platao.shtml)
Ele diz que parou com isso.
O avantajado cidadão veio com a faina de fundar sua "escola filosófica", que propala de alto nível, mas se localiza na baixada, precisamente nas terras de Academus, ao noroeste da cidade. Embora as promessas, dizem que seu intuito se mantém em corromper os jovens, mercê da sua incorrigível homosexualidade. Parece mesmo continuar o mesmo. Abram os olhos com seus filhos.
3. São Paulo, hoje: A Justiça decretou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de empresas e de pessoas acusadas de montar um esquema para lavar dinheiro da Igreja Universal do Reino de Deus. A medida atinge sete integrantes da Iurd e duas empresas que manteriam relações com offshores em paraísos fiscais no Caribe. A investigação conduzida pelo Ministério Público Estadual (MPE) envolve remessas de divisas para o exterior que seriam recambiadas ao País e aplicadas em empresas controladas pela igreja. O mecanismo serviria para burlar a Receita Federal, escondendo a suposta origem dos recursos: o dízimo dos fiéis. A Cremo dos pseudocrentes foi aberta em 1991 e tem capital de R$ 28 milhões. A empresa era a proprietária do Cessna Citation-10 usado pelo então deputado João Batista Ramos da Silva para transportar R$ 10,2 milhões em sete malas apreendidas pela PF em julho de 2005, quando a aeronave se preparava para decolar.
A investigação atinge outras igrejas, como a Renascer, do casal Estevam e Sonia Hernandes, condenados nos Estados Unidos ao tentar entrar no país repletos de dólares não declarados.

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