sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Brasil com dólares de sobra


-SURPREENDEM as manchetes tupiniquins, hoje unânimes. Nenhuma foi elaborada por jornalista. É press-release, produto de informações da gente que quer justificar o cartão-que-vale-milhão. Mais uma vez ludibriam a turba. Pintam cor-de-rosa no caixão. Pensam escapar ilesos. Impossível. Se não salvarem suas circunstâncias, não se salvarão.
Temos dólares de sobra? Muito bem. Sairemos a passear? Que acha de uma excursão à Disney, agora? Não pode sair? Então importe algo. Um submarino nuclear nos daria um status invejável.
Pagar a dívida externa? Tudo de uma vez? Mas, para quem? Onde estão? Estarão cobrando?
E quanto à dívida interna, econômica e social, poderá ser satisfeita com tal feito?
Há quem propale que mercê de um pretenso up-grade no rating internacional, advirão investimentos estrangeiros. Só eles, mesmo, porque os nacionais estão exauridos, há década no abismo.
-Dizem que a reserva brasileira agora está plena. Prefiro a titular. O carente também.
Por outro ângulo, se estamos assim, tão endinheirados, porque pagamos a maior taxa de juros do mundo? Eu sei, mas não digo.
Na verdade o que importa aos brasileiros, impedidos de livre negociar com moedas estrangeiras, é saber onde estão aqueles reais de cem. Há mais de uma década sumiram; mas as lembranças, não sucumbiram. Eles foram trocados, me dizem. Para quem tem saudade do azul que os compunha, ora pode ser apreciado nas cédulas de dois, imediatamente colocadas em seu lugar. Vai bem o novo papel, no imundo papel: poucos notam a diferença das notas. Só quem sabe ler.
Na verdade tal conta apresentada é proveniente da chicana monetarista que torna o Real a moeda que mais se valoriza no mundo. Você pode pensar que isso é um bem. Neste caso, mais uma vez, estará redondamente enganado, se me permite a afronta. Trata-se de um mal, um dano social de muito difícil reparação. Pergunte a qualquer exportador o que acha do esplendor. Fale com algum comerciante, e o verá pronto ao levante. Repare nas filas de concursos, até para serventes. Para achar tal rima é até infantil. Olhe as ruas, repletas de indigentes, deitados ao relento. E cuidado com os criminosos. Eles aumentam na proporção geométrica. Sem oxigênio à produção, o que se cria é ladrão.

O dólar não oscila assim. Da última vez foi na década de vinte, aquela dos gansgters. Em seguida apareceu um papai, prometendo novo sonho. Não fosse o pesadêlo da II Guerra, e a locupletação sobre os vencidos, os vizinhos estariam amargando o preço da perfídia.
Gangsters temos ao borbotões. A recessão perdura pela década. Se formos repetir a exitosa história, quem haveremos de espoliar?
Dólar não é objeto de comércio, mas apenas meio-de-pagamento. A condição primaz é sê-lo estável, muito estável. Aliás, desde há muito é a moeda mais equilibrada do globo. Porisso é o diapasão. Não é ele que se desvaloriza. É o Real que assume um valor fictício.
O Real atinge a supervalorização pelo prosaico motivo: tudo que é raro, sobe de preço.
Pobre do pobre, sem reais, como comprará o frango-a-um-real?

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