sábado, 9 de fevereiro de 2008

Um Brasil Muito Além do Jardim

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Lembro daquelas coincidências.
Muito Apreciei o enrêdo.
O genial Hal Ashbey, (Utah 1929- Califórnia, 1988),
criador do célebre Ensina-me a Viver
(Harold & Maude - 1971),
mais uma vez
lograva transpor às telas
a sutileza
em grau mais elevado;
e desta feita, de modo muito engraçado.
Aquela gente estava por demais confusa. Um jardineiro, entretanto, não. O dedicado conhecia o mètier: para a planta crescer sadia, exuberante, magestosa, com todo esplendor que se quer, requer cuidado, carinho, atenção, até afeto, por que não? Cantarolando, o jardineiro regava o jardim. Cumpria seu ritual matutino. Nunca entrara em um carro. Não sabia ler, muito menos escrever. Não possuia, sequer, carteira de identidade. Nada disso era mister..
O jornal também cumpria a sua vocação. Todos almejam o êxito, e ele costuma acorrer. Mas enquanto as flores floresciam, o matutino informava que povo murchava. De que serviria o perfume se desprovido de endereço?
Trouxeram o jardineiro. O povo precisava respirar; mais do que isso, sobreviver. Se desse, bem desabrochar.
O jardineiro começou a receber flashes, entrevistas, fotos, manchetes. Limitava-se a responder as coisas mais simples: para a flor desabrochar, o Sol lhe faz bem. A noite também. E não esqueçam da água.
Todos pensavam que o gênio elaborara metáforas, a fim de que o povo, sempre tonto, pudesse melhor digerir. Como o disco trancava bem no meio "deste país", o povo começou a desconfiar que tinha sido vítima de suas próprias ilusões. Precipitaram-se acusações, mas o jardineiro continuava no estrebilho. Nada mais sabia, o coitado. Para sua função, era eficiente, Para o desvio, contudo, não. Desviaram sua função. Desvirtuaram o povo.
A cidade começou a despertar. O que, afinal, esperar de um mísero jardineiro?
O Sol raia todo dia, todavia.
No horizonte, há belo desponte.
No poente, não será diferente.*
Prenúncio de noite fria!



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