sábado, 2 de fevereiro de 2008

A Arritmia do BioRitmo

-Neste dia de Iemanjá


Se desejássemos retraçar a história do Determinismo, seria preciso retomar toda a história da Astronomia. É na imensidão dos Céus que se delineia o Objetivo puro que corresponde a um Visual puro. É pelo movimento regular dos astros que se regula o Destino. Se alguma coisa é fatal em nossa vida, é porque uma estrela nos domina e nos arrasta. Há, portanto, uma filosofia do Céu estrelado. Ela ensina ao homem a lei física em seus caracteres de objetividade e de determinismos absolutos. Sem esta grande lição de matemática astronômica, a geometria e o número não estariam provavelmente tão estreitamente associados ao pensamento experimental; o fenômeno terrestre tem uma diversidade e uma mobilidade imediatas demasiado manifestas para que se possa neles encontrar, sem preparo psicológico, uma doutrina do Objetivo e do Determinismo. O Determinismo desceu do Céu à Terra. GASTON BACHELARD,
Não são poucos os sites voltados aos cálculos e tabelas biorrítmicas. Todos buscam equalizar os ciclos emocionais; suas dimensões, e possíveis conseqüências.Se essas razões motivam sua honrosa presença, sinto muito. Tal zenith não se distancia de um horóscopo (de horos, compasso da dança grega). Ambos tentam identificar no tempo a cadência que embala o transeunte. Até pode haver alguma coincidência - mas tanto quanto a impressão de que o Sol passa por nós. É certo que efeitos atômicos são produzidos por ondas, cujas dimensões atingem cristas e depressões, mas essas evoluções não tem vida; muito menos portam expectativas. A física quântica sim, trabalha com probabilidades, entre as quais há grande margem às variações das órbitas eletrônicas; nas humanas também, mas, ironia, estatísticas não contemplam particularidades; portanto, ao indivíduo são imprestáveis; exceto como palpite.
Ortega diz que somos nós e nossas circunstância. Se não as salvarmos, não nos salvamos. A tanto, a consciência é partidor. Desse modo, meio atravessando o célebre gênio espanhol, digo que o futuro de cada um depende de cada consciência. Ela não é mecânica, nem dialética, em que pese Freud jurar. Não precisamos restringi-la. O Universo atua por informações, não por jogo de forças; portanto, se expande em todas as direções, não sob trilhos, malgrado o percurso da Terra assim sugerir.
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A faina da previsão
Quanto tempo pode durar um casamento? A matemática é capaz de dizer. Pelo menos é o que afirmam o psicólogo John M. Gottman e os matemáticos James D. Murray e Kristin R., da Universidade de Washington. Eles estudaram durante algum tempo o comportamento de vários casais e prognosticaram se continuariam juntos ou não por meio de uma equação matemática. O índice de acerto foi de 94 por cento. Para fazer suas previsões, Gottman e equipe analisaram vídeos em que 700 casais escolhidos aleatóriamente nas cidades de Seattle, Bloomington e São Francisco, discutiam seu relacionamento. MAGALHÃES, João S. www.reporternet.jor.br/matematica-diz-quanto-dura-um-casamento
DESDE PLATÃO, e especialmente a partir de NEWTON, o sonho de acertar na loteria fascina a espécie humana:
A obsessão em dominar a natureza esconde a verdadeira obsessão do homem: dominar o caos, ou, em outras palavras, ter previsões seguras que evitem a queda no abismo. Para isso, ele inventou a ciência e tratou logo de criar leis deterministas que dessem estabilidade aos fenômenos naturais. A física de Aristóteles, a mecânica de Newton ou a abóbada de Ptolomeu tinham a função primordial de ordenar os acontecimentos da natureza, explicando suas origens e tentando prever seus movimentos. PENA, Felipe Pena, Biografias em fractais: múltiplas identidades em redes flexíveis e inesgotáveis. - Revista Fronteiras – estudos midiáticos VI(1):79-89, janeiro/junho 2004
Realizar-se-ia a promessa através de prévio conhecimento, na presteza contábil. Em 1822, o opúsculo Plano dos Trabalhos Científicos Necessários para a Reorganização da Sociedade» decretou:
Toda a ciência tem por fim a previdência. Porque a aplicação geral das leis estabelecidas segundo a observação dos fenómenos tem por fim prever a respectiva sucessão. Na realidade, todos os homens, por pouco instruídos que os julguemos, fazem verdadeiras previsões, fundadas sempre sobre o mesmo princípio, o conhecimento do futuro pelo passado.(...) Está, portanto, evidentemente muito conforme com a natureza do espírito humano que a observação do passado possa facultar a predição do futuro, e que o possa fazer tanto em política como em astronomia, em física, em química e em fisiologia. COMTE, Augusto, Reorganizar a Sociedade, Guimarães Editores, 4ª Ed., Lisboa, 2002: 146
Dessarte, lá se foi o galante atrás do impossível:
Em algum ponto perdido deste universo cujo clarão se estende a inúmeros sistemas solares, houve uma vez um astro sobre o qual animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o instante da maior mentira e da suprema arrogância da história universal.
NIETZSCHE, F. O livro do filósofo: 79. Cit. Matos, Olgária, A polifonia da razão, 1997: 134
A programação vital
Ao reparar o bioritmo o incauto supõe caucionar o advento:
"O método ganhou popularidade por ajudar as pessoas a conhecerem os ciclos do corpo físico, intelectual e emocional."

As primordiais observações foram desenvolvidas por um médico alemão, em 1870, para muito tempo depois serem gradativamente absorvidas:
O Dr. Fliess concluiu que o corpo humano apresenta um ciclo natural de 23 dias. A primeira metade aponta para um período de grande energia corporal, maior resistência às doenças e menos sensibilidade à dor. No período seguinte a energia diminui, favorecendo o surgimento da fadiga e o organismo fica mais vulnerável ao surgimento de doenças. Posteriormente, ele descobriu que independente desse ciclo físico, existia um outro ritmo, esse relativo ao aspecto emocional, constituído por um período de 28 dias, onde se alternavam bom humor e tranqüilidade com, uma segunda metade, onde prevalecia a tendência à irritação e desânimo. A continuidade das pesquisas permitiu que em 1930 o professor Alfred Teltscher da Universidade de Psicologia de Innsbruck, Áustria, acrescentasse um outro ciclo: o intelectual, com duração de 33 dias.
A simplicidade é acaciana:
"Para calcular o bio-ritmo é necessário ter certeza quanto ao dia de nascimento."
De posse do total de dias vividos, basta dividi-lo pelos ciclos correspondentes.
"No computador o cálculo é rápido e preciso", prometem.
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Os ciclos
O físico dura 23 dias (11,5 positivos e 11,5 negativos). Corresponde à força física, resistência às doenças, percepção da dor, desempenho sexual, vontade e energia. O ciclo emocional é de 28 dias (14 positivos e 14 negativos). Este ciclo está relacionado a criatividade, estabilidade emocional, à percepção que temos do mundo e à sensibilidade. O ciclo intelectual dura 33 dias (16,5 positivos e 16,5 negativos). Esse ritmo reflete os estados de memória, capacidade de concentração, raciocínio lógico, tomada de decisão. Os dias mais importantes analisados num bio-ritmo são os chamados 'críticos', de transição, e correspondem aos dias em que cada ciclo passa do positivo para o negativo ou vice-versa (metade dos ciclos). São críticos por caracterizarem-se por um potencial energético oscilante, tornando o período imprevisível. Os dias críticos variam de intensidade nos seus efeitos, de acordo com a posição que os demais ritmos ocupam na mesma data, assim, no caso de um deles cruzar o eixo central, com os outros dois no lado positivo, espera-se que traga conseqüências menos intensas do que se os outros dois estivessem no lado negativo.
(http://www.rhsoma.com.br/DNNHost/BioRitmo/tabid/67/Default.aspx___
O cálculo
1 – Multiplique a sua idade atual por 365.
2 – Divida a sua idade atual por 4. Acrescente o número inteiro do quociente ao que tiver encontrado para o item 1. Despreze o resto.
3 – Conte os dias desde o seu último aniversário até o primeiro dia do gráfico (...) Adicione ao resultado esse resultado à soma dos resultados dos itens 1 e 2 (...).
4 – Divida (faço você mesmo a divisão; não utilize máquina de calcular) esse número total de dias por 23, 28 e 33. Vá tomando nota dos restos, pois eles são importantes.
5 – Recorte as réguas curvas à esquerda e cole-as em papelão; depois recorte este pelos contornos das réguas... (...)
6 – Na régua do ciclo físico, procure o número que representa o resto que você achou quando dividiu o número de dias que você viveu (...) Trace a curva do gráfico,em vermelho (...) etc. etc. etc.

Reader´s Digest, 1976
O equívoco
No Universo parece certo que tudo evolui por ondas, a começar pelos efeitos gravitacionais. Entretanto, tudo está totalmente entrelaçado, e pinçar um elemento, mesmo que presumivelmente o mais importante, ainda assim dificilmente lograr-se-á obter uma identificação objetiva. Esta foi a pretensão de Freud, por exemplo, ao tentar fazer crer à constelação científica que o homem seria restrito ao eixo da libido, fantasia já convenientemente desmascarada ao longo do século passado. Ora a psiquiatria estende outro fio, no qual em cada ponta se instala um polo, e nele segue o artista tentando a permanência no equilíbrio, ora em ressaca, outra em vazão, seja na onda, ou no repuxo. Dizem que o paciente sofre da bipolaridade, o que não deixa de ser uma forma de bio-ritmo mais acentuada. A função da especialidade seria medicinal, ou seja, colocar o homem na média; ou seja, na mediocridade.
Qualquer exclusividade dialética porta a capacidade de alienação, intrínseca pelas suas restrições de padrão. Se Einstein (Cit. Pais, Abraham, Einstein viveu aqui, p.143) fosse informado do cronograma, apontaria o notável fulcro:
Quando pensamos no futuro do mundo, visamos sempre o ponto onde ele estará se continuar a seguir o curso que vemos seguir hoje; não prestamos a atenção no fato de que ele não segue em linha reta, mas segue uma curva, e que sua direção muda constantemente.Nas bases do pensamento, encontramos os exemplos mais candentes. São bilhões de neurônios, cada lampejo transmissor encontra receptores, e multiplicadores. Tudo se reflete no ser; portanto, altera sua própria realidade, por incontáveis inferências.
Por isso o maior mestre não temeu condenar a pretensão:
Não me agrada absolutamente a tendência 'positivista' ora em moda (modishe), de apego ao observável. Considero trivial dizer que, no âmbito das magnitudes atômicas, são impossíveis predições com qualquer grau desejado de precisão e penso que a teoria não pode ser fabricada a partir de resultados de observação, mas há que ser inventada. POPPER, K., A Lógica da Pesquisa Científica: 525
O Grande Relativo provou ainda que todas as energias são inter-relacionadas. Não existe energia isolada, e nenhuma pode permanecer a mesma. A noção do ciclo é empírica. A expansão é multipoint. O complexo corpo/mente (uma separação arbitrária, como todas as separações) é um sistema energético que pode se relacionar com padrões de energia mais finos, ou se desequilibrar até o ponto do caos, mas é a capacidade consciente o pano e o lastro que mantém o ser no equilíbrio. Quando alguém começa a trabalhar pela primeira vez com a atenção consciente, independentemente do momento, ou do histórico, descobre que os subsistemas do corpo, dos sentimentos e da mente funcionavam de maneira ineficaz e desarmônica.
Suponha estar num cinema. O filme passa na tela e você, ali no escuro, esquece de si próprio. Emocionado, chora, ri com o roteiro alheio. Não importa a vida lá fora. Esquece os problemas, as contas a pagar, o trabalho, a família. Durante toda a projeção, é como se a vida exterior não existisse. A "sua" realidade mudou, e com ela, naturalmente, seu bioritmo. Ele reflitira as imagens e os sons absorvidos. O enrêdo provocará conseqüências, ainda que mínimas, ainda que possa haver uma alienação a elas, se enfadonhas. Mas nada escapa, e algo mudará a cadência da mente e coração, e não será apenas a passagem do tempo. Em última análise, é a consciência o vetor fundamental de qualquer comportamento. E ela pode variar tanto quanto o desenho da nuvem - basta desviar qualquer atenção. Uma lembrança altera nosso pulsar, que dirá uma repentina preocupação. O próprio dia sofre inferências e interferências, provenientes de vetores endógenos e exógenos. Conforme nossas atividades vão transcorrrendo, entrentamos momentos de cansaço e/ou ou satisfação. A respiração se altera por detalhes. Apenas estas peculiaridades são fortes para mudar o próximo passo; portanto, o futuro. Uma noite mal-dormida acarreta um dia sacrificoso, independentemente de qualquer tendência. Um laudo jantar, ou apenas alguns aperitivos modifica a percepção, e até as circunstâncias imediatas ou subqüentes. Ao surgir nova paixão, o coração dispara; se desengano, tudo dispara. Fatos peculiares ocorrem a muitas mulheres, por ocasião da TPM. Pronto. O bioritmo calculado informava boa predisposição; no entanto, a intempérie vem acarretar significativa indisposição, aborrecimento, e de modo íntimo.

A teia da vida
A vida propicia um turbilhão de emoções. O universo é um holograma. Somos uma gota no oceano. O que acontece com o oceano, acontece na gota. O que faz a gota, sente o oceano. Tudo no presente.
Se entendermos o tempo como deslocamento no e do espaço, fica fácil perceber:
tudo é passageiro, mas por paradoxo conserva atualidade, exceto nosso corpo, que passa, e, pelo menos comprovadamente, não volta. Passado e futuro, pois, reduzem-se a meras e arbitrárias demarcações, projetadas na necessidade do homem de dar sentido à própria existência:
O verdadeiro tempo consiste propriamente na experiência vivencial da própria vida, e, por conseguinte, radicalmente intuitiva. Entretanto, para a maioria de nós, esse tempo verdadeiro foi inapelavelmente deslocado pelo ritmo do tempo marcado pelo relógio. Aquilo que constitui fundamentalmente o fluxo vital de experiência torna-se então um gabarito externo, arbitrariamente graduado, a que nossa existência é subordinada - e sentir o tempo de qualquer outra maneira torna-se 'místico ou louco'. Se a sensação do tempo pode ser assim coisificada, porque não haverá de ser tudo o mais? Por que não inventarmos máquinas que coisifiquem o pensamento, a criatividade, a tomada de decisões, o julgamento moral?
ROSZAK: 230
Angustia-nos os problemas que enfrentamos; todavia, sempre há espaço ao lúdico, a um estranho maravilhoso; e vice-versa. Por isso mister a vigilância. Nos momentos de maior ansiedade, convém lembrar, como bem sabe a águia, que por trás das nuvens aguarda o brilho radiante do magestoso Sol. Felizmente não somos máquinas; desse modo, não somos suscetíveis a programações.

As alterações da natureza
A natureza não é estática, em que pese supormos uma seqüência inexorável. A Lua se desloca, e conforme sua distância produz diferentes efeitos gravitacionais. O mesmo se dá com a própria Terra, em relação ao Sol, e este com seu sistema. As condições atmosféricas tem um enorme poder. O calor prostra o vivente; o frio, enrijece a musculatura. A pressão atmosférica tem ingerência direta no ânimo de qualquer ente. As leis diferem conforme a região, tendo em vista também o mesmo detalhe atmosférico longinquamente levantado por Montesquieu, no XVIIII.
A precariedade das previsões
Para encerrar:
Sempre me preocupou que, de acordo com as leis tal como as conhecemos hoje, um computador necessite de um número infinito de operações lógicas para descobrir o que está a acontecer, independentemente de quão minúscula seja uma região do EspaçoTempo.Como pode estar a acontecer tanta coisa nesse espaço minúsculo? Porque terá que custar uma quantidade infinita de lógica para descobrir o que um minúsculo pedaço de EspaçoTempo irá fazer? Assim, tenho levantado a hipótese de que a Física não necessitará de declarações matemáticas; que no final, a maquinaria será revelada, e as leis revelar-se-ão simples, tal como um tabuleiro de xadrez com todas as suas aparentes complicações. FEYMANN, Richard
As funções biorítmicas começam simplificadas no nascimento, mas vão criando complexidades. Diante da chuva de incidentais, contudo, fatalmente tudo se torna imprevisível:
A extrema quantidade de interações e de interferências entre um número muito grande de unidades (...) que desafiam as nossas possibilidades de cálculo; mas a complexidade abrange também indeterminações, fenômenos aleatórios. (...) Ela convive com uma parte de incerteza, seja nas raias de nosso entendimento, seja na escrita dos fenômenos. Pessis-Pasternak: 14
O cosmos enseja uma infinidade de buracos-negros e supernovas. Nem computador terá capacidade de predispor qualquer efeito. Ademais, ele próprio depende de ser alimentado pela mão do cocker.
Na Divina Comédia, o castigo no inferno para quem faz previsão é ser preso com uma corda no pescoço, e com a cabeça voltada para trás.
Destino e horário trem tem . Navegar é preciso, mas viver, não.
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Está bem, mas se pudermos equacionar um bio-ritmo, pelo menos acercamo-nos de algumas pistas. Afinal, trata-se de uma predisposição ao evento, e não o evento propriamente não o evento propriamente dito.
Vai enchendo o balão. Que rumo toma a borracha que prende o ar?
Do céu, se tiver gás.
Me tira o tubo!









2 comentários:

  1. Realmente ditam ou acham que ditam, mas em relação a cultura e seus aspectos creio que essa força cinematográfica, não interfere em seu processo evolutivo.
    wagner_artner@yahoo.com.br

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  2. Mas não foi a partir de Eistein que o mundo deixou de ser mecânico e passou a ser ou melhor a perceber a complexidade, as relações?

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