sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Banco Central, agente comercial?

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Banco Central anuncia leilão de venda de moeda estrangeira 'para injetar liquidez no mercado'.
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O BC possui mais de US$ 200 bilhões em reservas internacionais. Possui ainda mais US$ 20 bilhões da operação de swap cambial reverso.
Durante a crise de 2002, o BC fazia intervenções diárias no valor de US$ 50 milhões. Na época, a cotação chegou a bater em R$ 4 por dólar durante as negociações. 
A decisão é de caráter temporário e não tem como objetivo influir na taxa de câmbio.
Folha de São Paulo, 18/9/2008.
Conversa-fiada. Como não influir em nossa relação cambial tão expressivo volume, ainda mais se considerarmos que vinte por cento de nossas divisas veraneiam nas Caymanns, precisamente desde a noite de 15 de novembro de 1995? (O maior golpe do mundo)
A relação se estreita quando se junta aos outros dez hóspedes da velha pousada das montanhas:
Cinco funcionários de um banco suíço foram condenados nesta quinta-feira a uma pena de 400 dias de prisão por terem lavado US$ 45 milhões de funcionários brasileiros. Os funcionários da antiga Discount Bank & Trust Company não verificaram a origem duvidosa dos fundos brasileiros. (Invertia, 18/9/2008)
Tudo que falta, sobe de preço. Nosso Real exportado, e o Dolar importado  estrangulam a produção nacional. Não será também por isso que pagamos os juros mais caros do mundo? Mas além de pelo menos tentar repatriar o estupendo montante de R$30 bilhões das Cayman, mais sei-lá quanto da Suíça, e outros quetais alhures, coisa que jamais faria, posto ser o capitão dessas operações, o que mais seria da competência de nosso Banco Central? Cuidar da liquidez norteamericana? Inacreditável! Pois então nos responde o próprio trapezista:
Agora, existe, não há dúvida, uma questão de liquidez em dólar nos Estados Unidos, que é o grande provedor de dólares... Em razão disso, o Banco Central reagiu e tomou a decisão de promover leilões de venda de dólares conjugados com compra futura. Isto é, o BC vai prover liquidez", disse Meirelles, durante entrevista no Consulado do Brasil em Nova York. (Presidente do Banco Central do Brasil, no Estadão, 19/9/2008)
Como apregoar sumisso aos dólares, ainda mais no país que os "fabrica"?
"O Fed pode imprimir enquanto a demanda mundial pelo dólar permanecer forte." (ANTUNES, Cláudia, Folha de São Paulo, 20/9/2008)
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Se não tiver demanda, também, ora. A máquina lhe pertence. Afinal, no que se constituiu o New Deal? E os negócios por lá vão de vento-em-pôpa, sim senhor:
"Cogita-se a venda de alguns ativos na Europa. Entre os potenciais compradores estão o Barclays e o banco japonês Nomura Holdings Inc."

Por aqui, o vento é canalizado, todavia, à esquadra do comandante.
Crises interbancárias são fictícias, e quem mora na aldeia tem obrigação de conhecer:
"A chanceler alemã, Angela Merke reiterou que é necessário mais acordos internacionais contra especulações irresponsáveis." (Esta entrevista será publicada dia 22/9/2008 no jornal Münchner Merkur)

Elas visam o estouro da boiada, para o cowboy laçar o boi que lhe apraz. Só isso. A atual crise americana
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Brasileiro é mesmo tão bonzinho... Não se importa em largar seu país à deriva para ir beijar os pés do gigante. Porém, que grande marola fará a pífia intervenção naquele vasto oceano?
Compare nossas grandes reservas, e os 500 milhões alocados, com outro tesouro estrangeiro:
"Sentada sobre US$ 1,8 trilhão de reservas internacionais, a China freqüenta a lista de possíveis compradores de algumas das mais tradicionais instituições financeiras norte-americanas arrastadas pela crise do setor imobiliário. (Estadão, 19/9/2008)
Agora você pode supor o tamanho das reservas dos fabricantes dessa moeda?
A China sabe. Por isso nem se mexeu, tampouco seus dirigentes pisam em solo estrangeiro. Tem mais o que fazer no seu quintal. Além disso, quem por lá se aventurar de corrupto paga com sangue a ousadia.
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Virgílio indicou os sinais pelos quais se pode avaliar, de antemão,
se o boi é bom de charrua e a vaca para reprodução.
Erasmo de Roterdã (1466-1535)
Não falta quem justifique a defesa de nossa economia, que devemos nos adequar à globalização financeira. Como vimos, tal álibi não se sustenta, porque não pode ser de nossa exclusividade, tampouco se põe em nossa capacidade. Entretanto, qual o custo dessa benemerência?
Ao colocar em circulação a moeda estrangeira, que sequer deveria dispô-la, o BC do Brasil procede com a expressão de nosso trabalho, mercê do enxugamento dos reais!
No hábito de quem mantém a cartola, faz cortesia com chapéu alheio.
Ao focar a estabilidade geral, nosso instrumento se desgarra do compromisso doméstico:
A quantidade de dinheiro exigida para efetuar, de um modo livre e fluente, as transações de um país em determinada proporção; se for superior às necessidades, não haverá nisso vantagens para o comércio; se for inferior, muito inferior, ser-lhe-á extremamente prejudicial, A escassez de dinheiro reduz o preço daquela parte da produção que é usada no comércio, pois o desestímulo que daí resulta para o comércio restringe a demanda da produção a ele destinada. A escassez de dinheiro num país desestimula o trabalhador e os artífices (que são a principal força e sustentáculo de um povo).
(FRANKLIN, Modesta Investigação Sobre a Natureza e Necessidade do Papel-Moeda; Economistas políticos: 177/9).
Talvez resida justamente nessa ironia o alvo do timoneiro: ao pretender estimular a liquidez ao mercado internacional, ele aperta ainda mais o garrote sobre a nossa, e com isso as raposas penetram no galinheiro sem o menor barulho: as penosas já estarão todas mortas.
As razões oferecidas para essas atitudes são camufladas com o cuidado de ocultar a conexão com o petit comitè, por isso se apresentam eivadas em púrpuras. Mas a incidência dos desejos se cristaliza no apelo às falácias, variadas, mas correntes apenas em uma direção, a do delta pelo qual recolherá os patos. Aliás, quando um homem de governo apresenta qualquer inovação, tem chances de cometer erro, como todos, mas geralmente é em seu favor, ou de quem os cerca; dificilmente em seu detrimento. Quando ele faz seus planos, está mais apto em incorrer em deslizes advindos de seus desejos, e isso nem precisa demonstração. O erro do articulador é que proporciona a chave de sua personalidade.
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Por certo igualmente não faltará quem tente minimizar o efeito, supondo inofensivo, por isso o causador nem deva ser perturbado. Afinal, muito além do jardim se propala a prosperidade de nossa "economia". Depende para onde ela cresce. Se como rabo-de-cavalo, estamos em maus lençóis. Se para dentro dos cofres, também: dinheiro é energia; estático, perde a função. Na verdade essas ações monetaristas são as raizes de todas as mazelas que já por várias gerações enfrentamos, e o conforto que ora propagam é comprado com carinho pela infelicidade previsível que nos leva a tolerar.
A serviço de quem, afinal, estaria, o ex-presidente do Bank of Boston, daquela cidadela famosa pelos gansgters, e que ora torna nossa produção em assemelhado assentamento de letras, porém ainda mais fedorento? De que serve contribuir à calmaria mundial, se a nau verde-amarela navega no mar de lama e ainda sofre essas provocadas intempéries que a "beneficiência" precipita? Neste caso não escandaliza mirar a economia americana, em prejuízo daquela pela qual tem sua razão? Por quê Minerva seus joelhos se dobram? O que ocorre quando ele retoma os reais que deveria estar à serviço da produção, não para ser guardado no container do Patinhas, em troca seja do que for?
Ao restringir sua aparição, o papel representante do produto assume maior valor do que o representado! Como essa gente só trabalha com este meio, ele se torna objeto, e único. Neste instante, vale mais a pena a ciranda viciosa da especulação do que o círculo virtuoso da produção:
"'A pressão sobre o preço do dólar decorre de razões fora do mercado físico de câmbio e envolve especulação direta', afirma Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO." (Especulação na BM&F impulsiona alta do dólar. - Folha de São Paulo, 19/9/2008)
Se no chão-de-fábrica não é mister, pelo menos nas faculdades deve continuar o ministério da História da Economia. Basta abrir qualquer opúsculo para se constatar: o caos econômico-financeiro levado à cabo nas décadas de vinte e trinta foi em decorrência dos distúrbios provocados pela mãos visíveis e bobas dos bancos centrais alemão, americano e inglês. Isto sim, não resta a menor dúvida da crueldade desses agentes, tampouco do gurú lord Keynes, (Sobre o caráter de Keynes) um elemento que chegou com mesada nas mesas de operações, e dali partiu com todas, deixando os operadores a ver navios. Somente esta façanha pode encantar os discípulos, os quais, reconheço, tem de fato se multiplicado.
Nada vive que seja digno
De teus ímpetos e a terra não merece suspiro.
Dor e aborrecimento, esse é nosso ser e o mundo é lama
- nada mais que isso.
Fique tranquilo
Giacomo Leopardi, (1798-1837)
No Brasil há o impedimento da circulação de moedas estrangeiras. O fato de cercear também o fluxo da única corrente legitimada acarreta, por óbvio, o prejuízo de todo parque, que se vê repentinamente despojado da parca oxigenação que o mantém!
Naturalmente que isso não pode ser considerada política, exceto se por prisma de traição. Não creio ser aplicável aos doutos managers, mas que eles não estão à seviço da sociedade, igualmente não resta a menor dúvida. Fossem essas operações efetivadas às claras, não primariam de modo abstrato, apenas por vozes. Exceto em deslocamentos, ou às maracutaias constantemente pilhadas, não se usa mais telefone nem para namorar, que dirá para realizar grandes negócios. Estes necessitam registros, e contas, e termos, e tudo o mais que uma simples verbalização esconde.
Quantos Cacciolas e Dantas ainda permeiam esses arranjos?
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É enorme a brecha entre os objetivos idealizados na legislação de 1964 e as realidades de hoje. Concebido como um anjo Gabriel, o Bacen (Banco Central) virou um Frankenstein. Por isso, quando me perguntam se sou ou não a favor da 'independência' do Bacen, minha resposta é de tipo existencial: será que o monstro deve existir?
Verbetes de um dicionário
Desde que para seus quadros foram requisitados egressos de entidades financeiras privadas, e no caso estrangeira, o Banco Central se colocou no patamar dos simples mortais, e passou a fazer operações com seus iguais. Aliás, o velho mercantilismo tão execrado já no século XVIII, no Brasil jamais deixou de ser aplicado. Muitos bancos foram "criados" por gente que antes militou na política; como não eram da praia, quando batia o sol-a-pino recolhiam suas barracas, e deixavam o povo na sêca. Ora não só pelo envolvimento dos "dealers", senão que os redutos abonados tipificam a antiga e torpe conduta.
Naquele tempo do Morgan, o pirata, não o banco que lhe homenageia, a prática era devido à incapacidade do Rei para tudo gerir, mas modernamente é o interesse do Rei que é ativado, mercê das famosas contribuições de campanha. Dessarte, quem contribui com o ingresso tem lugar na mesa da pizzaria, e se o "investimento" for de monta, merece jantar no camarote, ao som da música que escolhe. O setor bancário tem reserva na primeira fila, mormente depois de listado na famosa pasta-cor-de-rosa, aquela de dúzia atrás.
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O Banco Central foi criado para ser o elo entre a Casa da Moeda e os estabelecimentos distribuidores, mas ele próprio entrou no jogo, e com grande vantagem: a velocidade é por ele imprimida, não pelos satélites, tampouco pelo mercado, coitado, à cabresto de seus humores. Como o poder se encontra desse modo enfeixado, é trivial concluir que ele pode tanto fazer galopar, como reter os cavalos da charrete, prerrogativa que em princípio seria mesmo sua, se não houvesse o colapso de 1929 seguido do sepultamento do padrão-ouro, fatos que alertaram as democracias: embora o povo tivesse a salvaguarda do poder político tripartido, o financeiro, contudo, não. O organismo haveria de perder a preponderância, ao alívio da produção, e disso tratou o amaldiçoado neoliberalismo, adjetivação tomada por encerrar a farra de uns, em detrimento de todos. O fascistóide Bush, contudo, resgatou a artimanha, quiçá até copiando a receita que vem apresentando o sucesso pela impunidade:
A intervenção sem precedentes do Federal Reserve (o banco central americano) pode ser justificável ou não em termos estreitos, mas revela, mais uma vez, o caráter profundamente antidemocrático das instituições capitalistas, feitas em grande medida para socializar o custo e o risco e privatizar os lucros, sem uma voz pública.
(CHOMKI, Noah,
do Massachusetts Institute of Technology, à BBC)
Por esta cruel razão o sistema monetário tem encabrestado livremente a cadeia produtiva e, por conseqüência, toda a sociedade.
Tal digressão se faz mister para ressaltar a gravidade das interveniências do nosso BC, e entre elas, as mais dantescas, do qual en passant já me referi, acontecidas na década passada, por governo de outro partido, mas por acaso o mesmo partido que o tem governado, em que pese alijado pelas urnas. Nesses novos arranjos suprapartidários, como traficantes que delimitam suas ações, nenhum dos protagonistas se prejudica; só a platéia, desse modo espoliada, como eram aqueles torcedores de luta-livre australiana.
A primeira incidência, ou conseqüência da participação no bolo da campanha presidencial do ex-ministro de Itamar Franco se efetivou na cobertura da maior apropriação indébita já formulada no seio de uma nação, quando uma meia-dúzia daqueles "investidores" exportaram as divisas de seus correntistas ao paraíso caribenho, onde ainda permanecem calçando esses dólares que ora estão compondo as "reservas", e que vem à tona quando assumem maior valor perante as suprimidas.
O segundo movimento foi a corretagem do BC aos "coleguitas" que não participaram diretamente do ágape, alguns remanescentes nacionais, e outros estrangeiros. Os objetos da intermediação foram a extensa clientela ludibriada, bem como os patrimônios daqueles estabelecimentos, tudo transferido a preço vil, especialmente quando envolvia o interesse espanhol.
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Por paradoxo, mas não por acaso, os empreendimentos creditícios não se interessam pelo êxito do devedor, por que o naufrágio enseja a tomada dos bens imobiliários que garantem as operações por valores irrisórios. Por coincidência, são esses intermediários que mantém nos registros enormes extensões territoriais, adquiridas a manu militaire dos inadimplentes que não foram e não são poucos, mercê dos extorsivos juros cobrados, garantida a legitimidade da agiotagem primeiro por sentenças inconstitucionais, e depois pela alteração da Magna Carta, tudo movido de uma maneira que só os mensalões podem nos fazer compreender.
Em que pese a exclusividade de seus contratos sociais, as operações de crédito são apenas apanágios, cujas lantejoulas ofuscam suas mais modernas atividades, que vão do ramo agro-pecuário a qualquer canto especulativo, onde ele estiver. Os bancos atuam diretamente nas bolsas de valores de todo o mundo, uma aberração só consentida pela ignorância dos seus efeitos, mas não só por isso, senão que pela cegueira em não percebê-lo como manipulador par excellence, mercê de trabalhar com dinheiro à vista, a custo zero, e interminável.
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Outro aspecto totalmente estranho à democracia, ao livre-mercado é praticado no Brasil à sonolência de todos aspirantes, só lhes restando se espremer na platéia : as moedas estrangeiras não circulam com liberdade, e sequer os contratos internos podem ser estipulados no diapasão. Isso enseja a participação direta do estabelecimento criado para ser de política, no âmbito econômico, de maneira comercial, mas sem o menor compromisso ético, nem moral, e sobreposto a qualquer julgamento. Age como um mero especulador. Faz aumentar o valor da moeda doméstica em relação as demais, e quando desse modo desse modo as estrangeiras são impelidas ao declínio, lá vem o astuto a recomprá-las a preço vil, demonstrando o heroísmo do ato, embora tal compra requeira a emissão de moeda nacional, ou de dívida do Tesouro, quando então nossa moeda se precipita em imediata desvalorização:
"Em setembro, o dólar já acumula valorização de 18,19% ", informa Pedro Paulo Bartolomei da Silveira, economista-chefe da Gradual Corretora.
Apenas um reparo: como a moeda americana não varia desse modo abrupto em tão curto espaço, nem em anos, em sua origem, fica claro e insofismável que não é ela que agora subiu de preço, e sim o real depreciado, justamente mercê das manipulações especulativas levadas à cabo pela instituição centralizadora, que de política virou comercial. Neste momento, a pilantra sai a vender as verdes reservas desse modo artificialmente valorizadas, com invejáveis spreads, assim enchendo as burras do Estado, mas principalmente dos que nele operam:
Enquanto o dólar subiu fortemente na primeira quinzena do mês, o Banco Central divulgou um resultado positivo em US$ 4,3 bilhões de entrada de dólares no país no mesmo período -fato que não justificaria a alta da moeda. Há muita especulação e é pouco provável que o dólar se mantenha nos níveis que vem atingindo, afirma José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.
(Folha de São Paulo, 19/9/2008)

O dólar caía 5,23% às 12h50, cotado a R$ 1,8290, após a realização do primeiro dos leilões de venda da moeda anunciados pelo Banco Central.
Estadão, 19/9/2008
A monstruosidade do lucro obtido em poucas horas projeta o alvo dos cem milhões de dólares no dia, quantia que paga, com folga, todas as pizzas aos participantes do ágape, não só para o opulento fim-de-semana, senão que para o resto das suas vidas!
Como para alguém ganhar sem nada produzir, alguém tem que perder, há que se minimizar o impacto em rateio entre os comuns mortais. Apenas algumas parcas estatísticas acusarão o movimento, e tudo ficará como se nada tivesse havido, ao gáudio dos exitosos trapezistas. De quebra, eles encerram arrebatando condecorações. A louvação parte da imprensa, aquinhoada através de comerciais de empresas públicas, e termina na plêiade que se serve do apôjo, aquele final de leite que a vaca reserva ao frustrado terneiro, logrado em prol do peão-boiadeiro. Enquanto isso, os alto-coturnos jurisdicionais se ocupam em livrar os dealers pegos em flagrante delito, ao tempo em que divertem o público com importantes sentenças ideológicas, questiúnculas morais, e processualísticas esterelizadas. Dos parlamentares? Ora gritam pelos alto-falantes para justificarem as eleições previamente combinadas, a serem apuradas pelas suspeitas eletrônicas, mas antecedidas pelo preparo da população através dos órgãos de verificação contratados, e com escala de progressão estipulada, como se narrassem uma corrida de prado. Quando der a lógica, ninguém de nada suspeitará.
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Você deve saber o papel de um dealer: tanto lá como aqui a designação se refere a um comerciante, ou corretor. Porém, no sentido mais literal, dealer se origina em sonho, e o sufixo er caracteriza um realizador. Portanto, temos realizadores de sonhos, mas alguns, só vendedores. Bem apropriada a denominação desses agentes preferidos pela nomenklatura hospedada na caixa-forte tupiniquim.
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No tempo de Maquiavel, o que valia era a força bruta, e para tanto contribuiam mercenários.
Com o incremento das rotas comerciais concomitantes à Revolução Industrial, o dinheiro passou a ser superior - comprava armamentos, a arte, e mantinha os exércitos. Ora o conhecimento, que de modo mistificado a todos manipula, sem que ninguém saiba nem porque, nem para onde vai a carruagem da Nomenklatura, dita a cadência marcial.
É curioso que a Economia, o esteio fundamental da sociedade, desde o controle do lar à globalização, revista-se desse hermetismo fantasmagórico. Provavelmente por isso tenha se tornado uma disciplina confusa, das mais discutíveis, e por isso indecifrável; portanto, desconhecida. Coindidentemente, mas não por acaso, também menos querida:
"Não é de causar espanto que a economia seja,com freqüência,chamada de ‘triste ciência'!" (Pilzer , Paul, Deus quer que você enriqueça : a teologia da economia; tradução Marli Berg. - São Paulo: Record, 1997: 35)
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Embora árduos, os números não mentem, jamais. Não tem bocas. Porém, seus porta-vozes podem ser bastante levianos, e irresponsáveis, porque agem no meio dos fogs que provocam:

Essa perda da compreensão dos fatores que determinam tanto o valor do dinheiro como os efeitos dos eventos monetários sobre o valor de bens específicos é um dos principais danos que a avalanche keynesiana causou ao entendimento do processo econômico.
(HAYEK, F. 1986: 73)
O povo provavelmente por isso prefere se atar em direitos, e até se põe a brigar por eles, esquecendo que no fim das contas, as sentenças almejadas nem são mais tão garantidas por códigos ou retóricas, tampouco por provas, mas pelo numerário, e geralmente manipulado, como sói acontecer em nossa republiqueta, especialmente desde o advento fascista do Estado Novo, e incrementado pela Nova República e sua constituição vilã. Mais uma vez se consagra a máxima de Platão: tanto quanto a economia, porém de maior serventia, por que lhe antecede, a justiça é uma instituição humana, por isso artificial, e naturalmente impossível, mas não perde a mais importante virtude pela qual foi estipulada: a de desviar a atenção do povo, para tomar o produto que ao produtor pertence . Do conceito de justiça
A difusão de poder, nas esferas política e econômica, em lugar da sua concentração nas mãos de agentes governamentais e capitães de indústria, reduziria enormemente as oportunidades para adquirir-se o hábito do comando, de onde tende a originar-se o desejo de exercer a tirania.
(RUSSELL, Bertrand,
Ideais Políticos: 24)
Os bancos centrais deveriam ser extintos, como se extingue qualquer regime totalitarista. E de modo antecipado, os antros que os legitimam.
Para saudável exercício comercial, qualquer monopólio é fatal.
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