segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Dinheiro x Democracia 7 - o dilema americano II

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A Revolução Industrial tudo alterou, em curto EspaçoTempo.
As
instituições mecanicistas ainda permeiam a vida
econômica, social, cultural, política e demais áreas do conhecimento.
Na Revolução da Informação, a
estrutura hierarquizada não tem mais serventia. Destaco dois efeitos que me parecem mais salientes, no fito de aquilatar o grau do equívoco no qual permanecemos submetidos.
O primeiro efeito demonstrava que a força concentrada valia mais do que a individual, e isso parecia óbvio, fosse pela ascenção dos trusts e grandes indústrias, ou pelo flagrante exemplo alemão, antecedido pelo francês.
O segundo é que tudo era passível de planejamento. A Revolução colocou o Engenheiro Mecânico no patamar superior a todas as ciências. O homem havia saído em busca do conhecimento para suprir suas necessidades, e esta profissão passou a ser sua mais fiel expressão. Para completar, até o esteio jurídico escorregou pela verêda, através das proposições de Hegel, levadas à cabo na Alemanha bismarckiana, e em seguida pelo empurrão de Comte. Ambos contavam com a propositura legislativa para predispor o futuro conforme uma engrenagem. O nascimento do XX ratificava a esperança, e os grandes empreendimentos precisavam da cobertura do maior de todos, o Estado, até então ausente:
"É necessário que a ciência mostre por fim sua utilidade! Ela se tornou nutricionista a serviço do egoísmo: o Estado e a sociedade a tomaram a seu serviço para explorá-la segundo seus fins." (NIETZSCHE, F., O livro do filósofo: 30)
Nem era assim, tão novidade. O artista Da Vinci só foi admitido no Palácio porque sabia projetar máquinas de guerra, para não falar de Maquiavel e Bacon, se é que alguém pode admitir que esta dupla produziu algum tipo de ciência. Até Newton almejava, e conquistou cargo público, o mesmo se sucedendo com Hobbes, Bentham, Austin, Mill, Hegel, e Darwin, que fez um turismo espetacular, às custas dos súditos do Reino. Descartes e Rousseau, tofavia, em que pese a ambição, ficaram lambendo sabão.
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O Leviathan precisa de veias e artérias. O Estado se imiscui de modo ainda mais acentuado. Assim é que paulatinamente o rendimento de cada cidadão é drenado a compor a montanha reservada aos grandes projetos.
O sistema de transportes foi tomado pela economia nacional, desde o comando direto, até aos subsídios concedidos à sua grande criação, a indústria automobilística. O taylorismo Frederick Winslow Taylor (1856-1915) pôs a gente no liquidificador. Produção em massa
O troféu produzido passou logo a símbolo de status, e maior apelo ao trabalho de cada cidadão. Não obstante, ratificava o novo (velho) papel do Estado, associado à produção. Renascia a corrida ao ouro, e desta feita mais à feição, porque guardado no cofre político. A liberdade poderia ser plenamente exercida, mas, por paradoxo, exige um regime quase escravocrata. Foi de posse dessa experiência, do consórcio entre essas empresas privadas e o poder público que a produção americana se instalou no seio de inúmeras nações. Os governantes de republiquetas se fartaram de auferir lucros pecuniários e eleitorais para solaparem quaisquer outros projetos ferroviários, fluviais e marítimos, fatos que se sucederam ao longo de todo o século. Ao povo resta rodar; e ao universo, a poluição tolerar.
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Vivemos à base de idéias, de morais, de sociologias, de filosofias e de uma
psicologia que pertencem ao século XIX. Somos os nossos próprios bisavós.

BERGIER, Jacques e PAWELS, Louis, O despertar dos mágicos: 31
A maior participação do Estado na composição dos capitais privados, contudo, seria mais substancial e evidente através do mercado financeiro, direto. De modo crescente, desde a década de 1920 ele vem permeando todas as instituições elencadas por Bergier e Pawells, e por incontáveis não citadas. Os Estados Unidos não foram compostos com esses fins, tampouco a ideologia liberal, puritana, ou protestante poderiam ser conformes, mas ideais filosóficos, de crenças e ou tradições pouco importam no momento em que a "ciência", e não meras expectativas, apontam o caminho indicado às grandes conquistas. Ademais, no exclusivo pensamento através de projeções, ao gáudio platônico, o darwinismo de novo se põe coberto de razão: a imagem mais forte sobrepuja a de menor importância. A atualidade suplanta a posteridade. O vulto cresce na medida em que se aproxima, e decresce no horizonte.
O eleitorado aquiesceu, e a Nação adoeceu. Cavada depressão
As responsabilidades assumidas pelos governos centrais, bem como o poder de que se investiram para desincumbirem-se delas, aumentaram significativamente em todo o mundo depois da II Guerra Mundial. Em quase todos os países, sucessivos governos lançaram ou expandiram programas de assistência social, garantindo com isso que populações inteiras recebessem proteção contra desemprego, doença e velhice. Com base em exemplos estabelecidos pela Alemanha e pela Inglaterra antes da I Guerra Mundial, as nações ocidentais instituíram programas nacionais de crescente abrangência nas áreas de saúde e segurança social. Também os países socialistas e os do Terceiro Mundo procuraram minorar, em certos casos com notável rapidez, os problemas de pessoas às quais, durante gerações, fora negada a possibilidade de uma vida saudável e segura. Esse movimento, no sentido da expansão dos sistemas de bem-estar social, resultaram numa crescente tendência por parte dos governos para controlar seus cidadãos. Quais os resultados disso? Alguns observadores têm afirmado que o aumento, em todo o mundo, da autoridade dos governos centrais constitui sintoma de um declínio da ideologia política e econômica.
BURNS, LERNER & STANDISH,: 760
A microimaginação da macroeconomia não tem mais serventia, exceto se os EUA participarem de mais uma Guerra Mundial, e forem vencedores. A julgar pela atual configuração geopolítica, todavia, ambas condições me parecem remotas*. A atual crise americana requer exclusivo tratamento financeiro, sim, mas de modo a modificar, inclusive, seu eixo de rotação, dimensionado em 4x4 para andar no barro, quanto muito no asfalto. Por isso a Águia não pode mais voar; e talvez também por isso é que encontramos na China o Ninho dos Pássaros, malgrado composto nas oficinas materialistas, e de certo modo ainda monitorado por aqueles toscos engenheiros de Mao. Ora ela tem andado bem, e seus pássaros voando, até mesmo no espaço sideral!
Qualquer terremoto tem seu epicentro; e no caso, é perfeitamente localizável. Todos vetores apontam em apenas uma direção, que é a mesma, nos Estados Unidos, ou onde quer que haja: é o poder do governo, necessariamente mal-gerido, porque não contempla a diversidade, a individualidade, a incerteza, e qualquer tipo de variação, o grande fulcro e difusor de todas as mazelas economicas, sociais, políticas, e jurídicas.
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Logo após os deputados americanos barrarem o plano de resgate à economia de US$ 700 bilhões, o candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, fez um pronunciamento atribuindo o fenômeno aos "oito anos de irresponsabilidade" do governo Bush. Ora, jamais poderá uma pessoa assumir uma responsabilidade por milhões de pessoas. É inviável. Obama, se eleito, não poderá responder por tanto - faltar-lhe-á tempo até para proceder a chamada! Fica óbvio e patente, que concentrar o poder faz todo mundo sofrer. Ao ambicionar, ou pior, fingir querer a todos contentar, o Estado não contempla ninguém. E se for o caso de má-fé, como sói acontecer, embora num primeiro momento a farsa possa ser útil aos partícipes, convém sempre lembrar que o sádico Maquiavel: a "máquina de moer carne", programou-a sem variação, reservando um final melancólico, senão trágico, aos seus astros principais, justamente para seu deleite e o da platéia, que, afinal, é quem vem lhe garantindo o sucesso de bilheteria por todos esses séculos, e não suas estrelas, tais como Mussolini, Lenin, Stalin e Hitler, para não falar de nosso macaquito.
Quanto aos coadjuvantes, a história comercial é repleta em narrar os infortúnios, com exceções de um dígito, de modo que não cometerei a injustiça de ligar o atual desespero das grandes montadoras americanas ao hábito de subornar governos, para depois abiscoitarem vantagens, como nesta semana passada na qual lograram um aporte vultoso de Tio Sam. Não é prerrogativa dessas gigantes se fingirem de mortos para ganharem sapato novo. O mesmo diagnóstico pode ser aplicado à ascenção, mas igualmente razão dos dèbacles de grandes trustes bancários, securitários, etc.
A intervenção sem precedentes do Federal Reserve (o banco central americano) pode ser justificável ou não em termos estreitos, mas revela, mais uma vez, o caráter profundamente antidemocrático das instituições capitalistas, feitas em grande medida para socializar o custo e o risco e privatizar os lucros, sem uma voz pública.
(CHOMSKI, Noah,
do Massachusetts Institute of Technology, à BBC)
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A concepção da divisão de poderes foi encetada primeiramente por Locke, e no aspecto econômico David Ricardo lhe emprestou a primeira guarida, complementada de modo luminar por Adam Smith. Contudo, Ricardo cuidou de asseverar que suas soluções se adequavam à grande ilha, e não seriam possíveis em vastidões territoriais. Montesquieu importou o método, "tropicalizando-lhe" com a adição do poder Judiciário, mas também bem realçou: a democracia e a divisão de poderes que a embasa só seriam viáveis em países de reduzida dimensão. De fato, a Grâ-Bretanha, em que pese a aristocracia, mantém a democracia incólume por todos esses séculos, enquanto a rica França ratificou a certeza antecipada, ao coroar Napoleão, levando junto a tonta Alemanha, a hibernada Rússia, a folclórica Itália, e los valientes espanholes, todos aquinhoados, desde então, com inúmeras perturbações, guerras civis e internacionais, ditaduras e constituições de toda índole:
Faça a conta dos regimes que nos levam a codificar com um gesto nossas paixões do momento. Compensamos nossa inconstância através de visões eternas logo gravadas no mármore. Nossas revoluções passam primeiro pelo tabelião. Conseqüência: quinze Constituições em cento e oitenta se sucederam na França depois da Convenção: Diretório, Consulado, Primeiro Império, Restauração, Cem Dias, Restauração, Monarquia de Julho, II República, Segundo Império, III República, Vichy, de Gaulle, IV República, V República, ufa! "
MITTERRAND, François,
Aqui e Agora, p. 90.
Os Estados Unidos contornaram magistralmente a restrição, retalhando o imenso country em inúmeros pequenos estados, fato que lhe gerou, inclusive, seu próprio nome, até mesmo meio anônimo.
Qual a razão, todavia, de que nem lá, nem em outro lugar tentado imitar, dá certo a genial fórmula?
A razão é trivial, ao mesmo tempo chocante, pela falta de discernimento.
Antigamente era o poder da força, depois das leis que comandavam todos os países. Hoje vivemos sob a égide do dinheiro. É banal a conclusão: quem detiver seu comando, comandará a nação. E se o comando for unilateral, absoluto, e irrestrito, teremos e veremos, sempre, o absolutismo se agigantar, independentemente de ser ou não estado de direito. Como sair da armadilha? Elementar, meu caro Watson: assim como o poder foi repartido em três; e o country dividido em vários, poderemos compor sistemas concorrentes à égide imperial monetarista, e dessa maneira os cidadãos poderão se livrar dos grilhões, para usufruir a plena liberdade, sempre almejada, e jamais alcançada. A catarse de certo modo já se ensaia, e pode ser prazerosa:
Economistas redescobrem o trabalho de Joseph Schumpeter, que falou da 'destruição criativa' como necessária ao progresso. Numa tempestade de tomadas de controle acionário, alienação de bens, reorganizações, falências, deslanches, joint ventures e reorganizações internas, toda a economia está adquirindo uma nova estrutura que é anos-luz mais diversa, ágil e complexa do que a antiga economia das chaminés.
TOFFLER, Alvin e TOFFLER, Heidi: 74
Desse modo poderemos atender a restrição marxista, sem necessidade de liquidar o vilão: basta-lhe diminuir a importância, ou desvalorizá-lo, pela presença de outros. Trata-se de proceder uma espécie de reforma-agrária no poder financeiro! Ou seja: à liberdade não basta um regime político ou jurídico democrático e federativo. Mister estendê-lo ao econômico:
A difusão de poder, nas esferas política e econômica, em lugar da sua concentração nas mãos de agentes governamentais e capitães de indústria, reduziria enormemente as oportunidades para adquirir-se o hábito do comando, de onde tende a originar-se o desejo de exercer a tirania.
RUSSELL, Bertrand,
Ideais Políticos: 24
A diversificação poderá render exatamente o produto buscado pela divisão dos poderes: o excesso de algum, poderá ser compensado pela atuação, ou correção, do outro. Tentarei desenhar algumas protótipos que poderão servir de inspiração a engenheiros mais bem capacitados do que este mero sonâmbulo que vos acorda.
Utópico? Nem tanto. "É no impossível que a humanidade se perpetua." ( NIETZSCHE, F., ob. cit.: 8)
Quiçá seja mais fácil do que conceber a democracia em meio à tirania; e infinitamente mais compreensível do que a revolucionária, porém singela fórmula de Einstein, até hoje ainda não assimilada, embora totalmente comprovada. O significado do corte epistemológico
Tal movimento não poderá ser propriamente de um golpe, mas processual, ainda que rápido, mercê da emergência e das possibilidades eletrônicas, em tempo real.
O que não estranharei, contudo, serão as reações dos que se sentirão prejudicados, especialmente a classe política e seus associados, se é que haverá alguma, aí sim, eu estranharia mesmo. Minha hipótese não entrará, sequer, em cogitação, taxada de inviável já no primeiro parágrafo em que se mostrasse, ou sequer seria conhecida. O destino provável é o descarte, seja por ignorância, por ceticismo, quiçá, se ainda fosse, por alguma atitude reativa. Nada disso me vem ao caso. Trabalho para o futuro, e nele tudo pode caber; e tudo deve mudar.
Diminuindo a proporção comparativa, Einstein não foi imediatamente contestado mercê das comprovações matemáticas, mas demorou uma geração até que o eclipse de Sobral o consagrasse. Caso sua hipótese se efetuasse nos campos das ciências humanas, maior tempo ainda seria necessário, e as previsões matemáticas, inóquas. No interregno ingleses e americanos teriam encontrado elementos subversivos e terroristas na teoria, os anti-semitas veriam uma conspiração sionista, os nacionalistas a taxariam comunista, demasiado pacifista, e mero álibi para escapar do serviço militar, aos comunistas pareceria ultracapitalista, por proliferar o capital, os professores retrógados chamariam a Receita para impedir a importação das idéias, e os que apoiassem seriam demitidos, os esquimós diriam que nada disso vinha ao caso, de forma que apenas esse périplo de imaginação me é suficiente para não me abalar com obstáculos, ou ceticismos. Aliás, o que me faltará é ceticismo, talvez muito blague, certamente, e até antecipado. Russell (Ensaios céticos: 132) por exemplo, de plano já manda eu tirar meu cavalinho-da-chuva:
"Uma política que não lese ninguém não atrai uma boa base de sustentação; por sua vez, uma política que conquiste demasiado apoio também provoca feroz oposição."
Vá lá, meu TriPulante. Mas se minhas alternativas em nada podem contribuir, até em função da magnitude da problemática, e da empreitada correspondente, que precisa ser rica em detalhes, por certo um simples delinear tampouco atrapalhará. No meio do mato a distância é a mesma; mas a lúdica instância per se me satisfaz. "Temos necessidade da arte" e "só precisamos de uma parte do saber." (NIETZSCHE, F., ob cit.: 27.)
Péra que vou ali, pegar um lápis.
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* 1/10/2008: BBC confirma nossa predisposição:
A crise econômica global deve abalar o status dos Estados Unidos como única superpotência da atualidade.Do ponto de vista prático, os Estados Unidos estão militarmente no limite, com operações no Iraque e no Afeganistão --e, agora, estão também financeiramente no limite. Do ponto de vista filosófico, vai ficar mais difícil para os americanos defenderem o livre mercado em um momento em que o seu próprio mercado entrou em colapso. Alguns já vêem o atual momento como crucial. O filósofo político John Gray, que recentemente se aposentou da prestigiada faculdade de ciências sociais
London School of Economics, em Londres, deu seu ponto de vista em um artigo no jornal britânico The Observer:
"Temos aqui uma histórica mudança geopolítica, na qual o balanço de poder do mundo está sendo alterado de forma irreversível". Paulo Reynolds
BBC News.
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