sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Dinheiro x Democracia 4 - na ca bine

-
=
Nossos contemporâneos imaginaram um poder único, tutelar, onipotente,
mas eleito pelos cidadãos; combinam centralização e soberania popular.
Isso lhes dá um pouco de alívio. Consolam-se do fato de estarem sob a tutela
pensando que eles mesmo escolheram os tutores. Num sistema desse gênero,
os cidadãos saem por um momento da dependência, para designar o seu patrão,
e depois nela reingressam.

CONSTANT, Benjamin 1767-1830, cit. BOBBIO N., 1993:59


ADENTRANDO NA CABINE, o eleitor pressupõe privilegiar seu favorito, ao tempo em que julga castigar a quem rejeita. Sua certeza vem robustecida porque observou os conselhos advindos pela farta publicidade da Justiça Eleitoral, que ora se arvora responsável não apenas pelas sentenças. Dessarte, o esperançoso se habilita de antemão enganado.
Há competidores que ingressam apenas para servir de
coelho, aqueles que puxam as votações colhidas pelos tais institutos de pesquisas, vindo paulatinamente a ceder o terreno ao cavalo-do-comissário, de modo que seu objetivo é justamente perder. Particracias - O leitmotiv dos partidos
Outros, entram apenas para atrapalhar um adversário, tirar os votos de uma determinada classe ou região, enquanto alguns buscam projetar mísera evidência para uma futura eleição, mais de acordo com sua classe, ou melhor, com sua falta de classe. Todos terão assento no banquete de posse. O próprio rejeitado, mercê da instituição do segundo turno, criado na pretensa questão aritmética, retorna flamante na carona do vencedor.
Alarma o consentimento do espúrio acordo suprapartidário, na verdade
supraeleitoral, ou seja, fora do alcance do eleitorado.
Não obstante, pode acontecer, especialmente em eleições legislativas, a eleição de um, para gáudio de outro, o chamado suplente. O titular é guindado a uma posição executiva, e a vaga fica ocupada por alguém que jamais alguém ouviu falar, mas geralmente é algum parente do espertalhão. Mais de vinte por cento dos senadores exerce o mandato através desse escoadouro.
Há outros que entram no páreo fitando resolver o próprio dilema financeiro. É a maioria. O procedimento é semelhante. Antecede-lhe alguma pesquisa elaborada em um momento propício, no qual ele aparece com chances. A propósito, o professor Jean L. Benson, professor em ciências econômicas da Universidade de Grenoble, elaborou conceituada obra, justamente intitulada A Ilusão das Estatísticas (SP :UNESP,1996), onde aponta a democracia como uma superstição daí advinda. Já no raiar do XIX era aplicada a perfídia. Tocqueville (Democracia na América: 254) pode reparar:
Quando a estatística não se funda em cálculos rigorosamente verdadeiros, ela confunde em vez de orientar.O espírito se deixa enganar facilmente pelos falsos ares de exatidão que ela conserva até mesmo em seus desacertos, e repousa sossegado em erros que lhes são revestidos com as formas matemáticas da verdade. Abandonemos, pois os números e tentemos procurar nossas provas em outro domínio.
É boa-vontade. Nenhuma estatística pode obter "cálculos rigorosamente verdadeiros", pelo prosaico motivo: como o próprio nome que a designa, ela provém de status, ou seja, de estado, daquele instante, como se qualquer tempo pudesse ser assim congelado. Para se desculparem da errônea informação que tem consciência oferecer é que seus autores a propalam como uma fotografia do momento. Portanto, ela jamais espelhará o real. Nunca será passível de comprovação. A realidade é cinética, mutante a cada instante, e por isso o compromisso estatístico com a verdade é absolutamente nulo, ainda que possa oferecer alguma pista ao navegante. Porém, se navegar tem que ser preciso, e a escolha democrática também isso pretende, ao pressupor que o resultado das urnas seja a mais exata expressão, convém lembrar-lhes que ao excesso de precisão no reino da quantidade corresponde exatamente o excesso do pitoresco no reino da qualidade. O mais importante, contudo, nem se trata de honestidade científica, mas de propósitos : os índices de popularidade que medem tem o fito da propagação, de modo que se algum número não satisfizer, ele não será divulgado. Não obstante, esses chamados institutos são como seus congêneres de cabelos: como o cliente sempre tem razão, eles ajeitam o corte, e formulam o penteado conforme o gosto do freguês.
E tudo isso é importante, porque sobre o cabelo paira o chapéu que passará de casa em casa, às vezes pedindo, não poucas chantageando investidores. Sobre o financiamento de campanha Esta é a verdade que interessa. De posse do montante, o que ele mais quer é se livrar dos compromissos, e curtir a fortuna amealhada. Portanto, o voto lhe prejudicará.
Pode ser que nos últimos cem metros haja de fato alguma competição, porém, igualmente, não se estranhe se já não estiverem bem combinados, ora em moda por aqui. Todavia, seja qual for o vencedor, ele estará compromissado, antes de tudo, com o valor em dinheiro que nele se tenha investido, o qual é inifinitamente superior aos papéis que o elegeram, ainda mais que, passada a glória do dia do pleito, ninguém mais se lembra em quem votou.
Se eleito, ele não irá cuidar da pólis, mas do produto que ela proporciona. Para governar as pessoas, ele manipulará os bens. Com o dinheiro, ele dominará o povo inteiro. O desenvolvimento de Keynes no Brasil - II
Propugnará pela redução da desigualdade social. A impossibilidade da Igualdade Contudo, não haverá maior disparidade de arrecadação entre ele próprio e o cidadão; jamais haverá uma instituição privada que renda tanto*. Apenas a produção de todos os habitantes do sítio, reunida, poderá empatar com sua riqueza!
O desenvolvimento de Keynes no Brasil - I
Dessarte, do alto da aeronave, curtindo estupenda circunavegação, manda ajeitar a mansão conquistada, cuja exuberância não lhe cabia sequer no melhor sonho, enquanto aponta para os miseráveis para lhes dizer que está ombreando com eles.
* * *

O que chamamos "democracia" consiste tão somente numa enquete de opinião pública, na qual se pede aos coadjuvantes que digam sim ou balancem a cauda em resposta a um conjunto de alternativas pré-fabricadas, geralmente relacionadas a fatos consumados. A turba supõe comandar por simples botões, mas as eletrônicas se encarregam do resto.
Na mosca:
Hackers dizem que o desafio lançado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pediu a piratas da internet de todo o País para que tentem fraudar o sistema de urnas eletrônicas é, na verdade, apenas uma forma de "provar" que o mecanismo eletrônico é inviolável. Eles, do TSE, não querem correr o risco. Por isso escolhem os softwares a serem usados. Os softwares que o governo vai disponibilizar, nem em computadores domésticos conseguem ser explorados. No mundo da informática não existe sistema seguro. Somos nós, seres humanos, que estamos atrás dessas máquinas e somos cheios de falhas. Para haver voto seguro essas urnas eletrônicas também não poderiam passar pelo mesário. Hoje o mesário libera a urna (por meio de um dispositivo na mesa de votação) para a pessoa votar. Já imaginou se o mesário fosse um hacker?
Terra. 25/10/2009
Criada para ser do povo, pelo povo e para o povo, é a que menos o povo vê. Ele fica totalmente dependente do governo, e passa a gravitar em seu entorno:
"Submeter as províncias à capital consiste em entregar o destino de todo Império nas mãos de uma porção do povo, o que é injusto." (TOCQUEVILLE, Alexis, A democracia na América, Livro II, cap. 9: 265.)
Nem se trata de porção, mas de uma partícula de zero, vírgula zero zero zero um, no máximo uns mil aquinhoados, para cada cem milhões de seres.
A razão fundamental não é mesmo novidade. Exceto os pseudodigladiantes, todos podem concordar com as premissas que ora levanto. Contudo, ninguém sabe como suplantá-las.
Há quem propugne a participação de fundos públicos. Em nada alterará; pelo contrário, agravará a importância do pleito, e atrairá ainda mais gente disposta a enriquecer sem precisar trabalhar. Não obstante, não elidirá a subversão democrática pelo suborno antecipado, que sói acontecer em todas as democracias vigentes no mundo.
Vislumbro apenas uma estratégia para tentar arrefecer a possibilidade da corrupção: cercear, ou minimizar ao máximo, a capacidade do Executivo em manipular o sistema financeiro do país. Depois do gatuno atuar, prendê-lo de nada adiantará. Aliás, trata-se, apenas, de um consôlo, movido por um ideal de justiça que se quer serve de norte: como castigo, o meliante é destituído do cargo, e assim pode gozar livremente o produto logrado.
* * *
Nenhuma outra hipótese além da vigente, foi jamais tentada, pelo menos em nosso país. Ao contrário, a moeda nacional reina única e soberana, e completamente à feição do regulador, fato que agrava a escravatura.
A coexistência de outras moedas é possível, e subsiste na maior parte dos países civilizados. Não é pela falta de praticidade, ou de viabilidade, tampouco pelo desconhecimento que a economia permanece enfeixada nas mãos de um único feitor.
Ela se mantém engarrafada apenas pelo prosaico motivo: quem faz as leis, nunca as produzirá contra si.
Banco Central, agente comercial?
Todavia, bem o sabemos: quem elaborava as leis antes do advento da democracia eram os reis divinos; ao cair o véu, eles se foram ao beleléu.
O modo de proceder tamanha aventura?
Antes de tudo cabe a questão: ela per se merece debate? A julgar pela atual convulsão, a resposta parece óbvia. Percebido o foco, ele poderia sofrer alguma intervenção? Poderíamos trocá-lo por outro, encostar-lhe alguns reforços, mudar um pouco a orientação, ou seria mais pertinente dispormos de vários condutos concomitantes?
* * *
Depois de esmiuçá-lo, em suas entranhas e ramificações, bem como escolher o método e os intrumentos da operação, e a quantidade de injeções necessárias, podemos calibrar o tamanho do corte. Diante da emergência, encorajo-me apresentar algumas alternativas, visando a melhor circulação do sangue à produção, no fito de atingir maior desenvoltura, até mesmo àqueles que ora usufruem da comodidade de se alimentar, sem nada produzir. De algum modo haveremos de encontrar um meio para subverter o regime subversivo pelo qual estamos submetidos. Se nada disso prosperar, como é evidentemente provável, diante da fortaleza mitológica do Brucutú, pelo menos assinalá-lo já me parece oportuno. O renomado professor Wanderley Gulherme dos Santos (Não ao fracasso, in Veja 25 anos - Reflexoes para o futuro) de modo antecipado já expressou sua concordância:
Hoje o país vive dificuldades de outra sorte. Com um presidente constitucionalmente legítimo e politicamente trõpego, o acelerado crescimento do hiato entre ricos e pobres (sem mencionar miseráveis e desempregados) e a exacerbação do corporativismo como forma privilegiada de associar participação e distribuição. Naturalmente espera-se que o Brasil e a América Latina consigam associar progresso e liberdade, recuperando, sem traumas, parte do atraso civilizatório em que se encontram. Mas é de toda conveniência examinar prognósticos que, pelo contrário, antecipam para a região uma permanente subalternidade, numa civilização de segunda classe.
A lei do galinheiro
Todas as ciências, especialmente aquelas onde o ser humano é Alfa e Omega, tem obrigações recíprocas,
e multidimensionais. Encerro o capítulo com o recente prêmio Nobel de Economia:

Uma concepção adequada de desenvolvimento deve ir muito além da acumulação
de riqueza e do crescimento do Produto Nacional Bruto e de outras variáveis
relacionadas à renda. Sem desconsiderar a importância do desenvolvimento
econômico, precisamos enxergar muito além dele.
SEN, Amartya: 28
___________
* Em meio ano
o dinheiro tomado dos cidadãos atinge a impressionante cifra de R$ 400 bilhões, 10,33% acima do registrado no mesmo período de 2007. O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foi o campeão da arrecadação. "Essa calibragem quem faz é o ministro (da Fazenda, Guido Mantega). Se não houver fatores adversos é possível que ele venha a rever isso, mas isso é da competência do ministro. (A eventual revisão) Uma justificativa econômica para o aumento eu não posso dar', afirmou Otacílio Cartaxo.
Ou seja: desprovida dos recursos, a produção ainda paga o maior imposto por isso,
e de acordo com a vontade do mero contador, jamais do eleitor, por óbvio.


Nenhum comentário:

Postar um comentário