quarta-feira, 12 de março de 2008

Fascismo & sindicalismo: o papel de Sorel

Também no Partido Fascista existem sintomas evidentes da podridão social-democrata. Antônio Gramsci (1),
O DARKSIDE apareceu pela cartilha daquele contemporâneo capaz de inspirar marxistas e fascistas. Apresentamos Georges Sorel, “filósofo da técnica e um engenheiro moralista e pessimista” (2), “talentoso intelectual” mais influente ao protótipo iminente da safadeza.
Georges Eugène Sorel (2 de novembro de 184729 de agosto de 1922) engenheiro formado pela École Polytechnique e teórico do sindicalismo revolucionário, muito popular na França, na Itália e nos Estados Unidos, teve suas idéias aceitas tanto pelo fascismo italiano (Benito Mussolini) quanto pelos comunistas deste país (Antonio Gramsci) Wikipédia
Embora até certo ponto sonegado, com poucas citações, SOREL foi fundamental ao descalabro."Este teórico político, pelos seus artigos e pelos seus livros, publicados antes da primeira guerra mundial, exerceu uma influência perturbante tanto sobre os socialistas como sobre os nacionalistas." (Karlheinz Weissmann,www.causanacional.net)
Georges Sorel, o pai espiritual comum do fascismo e do bolchevismo, o ideólogo da violência, seja um homem profundamente pequeno-burguês, representante típico das classes médias francesas, preocupado com a decadência das 'autoridades sociais', que ele concebeu fielmente no espírito conservador de Le Play; preocupado, enfim, com a decadência vital da raça latina, pela qual ele responsabiliza violentamente a Inteligência; ao espírito ele prefere a vitalização pelos instintos bárbaros da massa. (Otto Maria Carpeaux, www.icones.com.br)
Von Mises testemunhou (3), e lamentou:
A ideologia mais perniciosa dos últimos sessenta anos foi o sindicalismo de George Sorel e seu entusiasmo pela action directè. Gerada por um frustrado intelectual francês, logo cativou os literatos de todos os países europeus. Foi fator de grande importância na radicalização de todos os movimentos subversivos. Influenciou o monarquismo francês, o militarismo e o anti-semitismo. Desempenhou um papel importante na evolução do bolchevismo russo, do fascismo italiano, bem como no movimento alemão de jovens que finalmente resultou no nazismo. Seu principal slogan era: violência e mais violência. O atual estado de coisas na Europa é em grande parte resultado da influência de Sorel.
Sorel promovera o hino à violência na homenagem aos primeiros atos de terror comunista (1905). A longa obra, publicada em 1906, foi complementada em vários anos seguintes, tempo que gastou o incendiário a pregar o extermínio da força que entendia contrária. A tanto, contava com a debilidade político-partidária, motivo da preferência às atividades sindicais. Líderes encaminhariam a greve geral antecedente a tomada do poder pelos proletários. O estado prenunciado por Sorel, tal qual a ciência de Hegel, Marx, Platão e a filosofia cartesiana sugeriam, primeiro deveria ser dividido, para em seguida ser colocado em antítese, operação justificada pelo extrato assim arrancado, à sombra dos mandamentos científicos:
“Fazer ciência é saber, antes de tudo, quais são as forças que existem no mundo e ser capaz de utilizá-las raciocinando de acordo com a experiência.” (4)
“Assim Platão constantemente estabelece o contraste nos seus diálogos.” (DEWEY, J.: 43)
Como os velhos “humanistas positivistas”, se é que se pode chamar de humana a crueldade soreliana, ele também comera o fruto da árvore newtoniana:
“Há muito estou convencido da importância de aprofundar a teoria das forças sociais que podemos comparar, em larga medida, às forças da dinâmica que agem sobre a matéria.” (5)
Juntando massas sindicais, as forcas da dinâmica social para a quebra do predeterminismo material, tudo calcado na dialética marxista, o agitador, que não gostava de ser chamado intelectual e negava sua vontade de direção revolucionária, na verdade também presumia, diante da inexorabilidade comunista demonstrada pelo reverenciado Marx, que a história encaminharia fatalmente as classes operárias para o confronto direto contra os patrões e, afinal, contra o Estado:
“Temos o direito de esperar que uma revolução socialista levada a cabo por sindicalistas puros não seria maculada pelas abominações que mancharam as revoluções burguesas.” (6)
A receita, com mínimas alterações, seria experimentada. A “oposição” representava o capital, embalado na terra. A idéia cerne de Georges empenhava-se na formação de um Exército Revolucionário tipo Unidos do Saque Geral, composição que Lênin haveria de alcançar dez anos após, curiosamente dispensando a via sindical pensada como único caminho:
“O papel da violência surge-nos como singularmente grande na história, contanto que seja a expressão brutal e violenta da luta de classes. Nada se faz a não ser pela violência.” (7)
Seippel (8) mostrou a ligação:
Lênin e Trotsky devem ter meditado pausadamente sobre o livro de Georges Sorel. Eles aplicam seus princípios com a lógica mais temível. Necessitam de um exército para impor a um grande povo, amorfo e adestrado a séculos a servidão, a dominação tirânica de uma minoria. Só querem por fim a Guerra estrangeiraaiante a guerra de classes para um Czarismo às avessas. É esse e o ideal que se propõe as nações européias.
Bobbio (9) confirma:
O autor de Reflexões sobre a violência desempenhou politicamente a função e o papel de inspirador de movimentos da esquerda: dele nasceu a corrente do sindicalismo revolucionário italiano, que teve seus quinze minutos de fama nas vicissitudes do socialismo em nosso país; em seus últimos anos de vida, ele próprio se tornou simultaneamente admirador de Mussolini e Lenin, e muitos de seus seguidores italianos confluiram para o fascismo.
Einstein lamenta e responsabiliza a fórmula do sindicalismo, da contraposição de classes:
“Vejo os homens se diferenciarem pelas classes sociais e sei que nada as justifica a não ser pela violência.” (10)
Mussolini, no fim, confessou seguir fielmente os “doutos”conselhos de Sorel, jamais os de Einstein:
“Fiz a apologia da violência durante quase toda a minha vida.” (11)
O socialista Poulantzas (12) registra o escambo e a origem "intelectual":
Chega-se assim ao segundo aspecto do problema - o conluio direto entre o fascismo e o sindicalismo revolucionário soreliano. O próprio Mussolini considera-se soreliano. O programa da Unione Italiana del Lavoro, de 1919, sobre a organização corporativa dos 'produtores' é diretamente retomado pelo partido fascista. Os revolucionários sorelianos aderem em massa ao partido fascista, organizando com Rossini, Bianchi, De Ambris e Farinacci os sindicatos fascistas.
Uma das adesões mais importantes olvidadas por Poulantzas foi a de Ítalo Balbo: aos 25 anos, este político regional entregou sua cidade - Ferrara - para Mussolini, trocando-a por um cargo de condottieri, na sórdida liderança junto aos camisas negras.
Para completar, as profecias de Oswald Arnold Gottfried Spengler (Blankenburg am Harz,29 de Maio de 1880 – Munique, 8 de Maio de 1936) catalizavam ebates historiográficos, filosóficos, sociológicos, e políticos da intelectualidade The Decline of the West atingiu cem mil cópias vendidas.(Richard, Lionel, A República de Weimar 1919-1933: 247)
Se o futuro parecia assombroso, e a U.R.S.S
antecipadamente lhe anunciara, muito pior se tornou pelo convencimento da negritude pintada:

O Declínio do Ocidente (1918) de Spengler, que pretendia reconhecer a ascendência morfológica da vida sobre a razão e do dinheiro e da máquina sobre a cultura e o indivíduo, atraiu intelectuais revoltados com os Estados Unidos por ser uma 'civilização comercial' puritana. Nos anos trinta, o texto de Spengler foi escolhido como um dos dez 'livros que mudaram nossa mente'.
(
Der Untergang des Abendlandes cit. Diggins, J.P: 42)
Esta vontade de destino presente na KR deve sobretudo o seu impulso ao choque da I Guerra Mundial, verdadeiro traumatismo que marca verdadeiramente a mudança de século. Enquanto que a velha direita monárquica vê a derrota como o resultado de uma conspiração das esquerdas derrotistas, aqueles a que vamos chamar revolucionários-conservadores consideram-na não como um azar mas como uma necessidade da qual convém decifrar o sentido: 'Tínhamos de perder a guerra para ganhar a Nação' dirá Franz Schauwecker, figura do movimento nacional-revolucionário; uma vitória da Alemanha guilhermina, burguesa e esclerótica, teria sido uma derrocada da “Alemanha secreta”. Essa prova (espécie de Krisis entre a vida e a morte) pode e deve, por conseguinte, permitir à Alemanha ultrapassar o guilhermismo, recomeçando sobre novas bases.
(www.causanacional.net/index.php?itemid=327)
Naturalmente a sumidade se debatia também contra a República de Weimar, bem como qualquer hipótese democrática.
No mesmo 1918 Le journal de Geneve publicava um artigo do Prof. Paul Seippel detectando “a grande onda revolucionária vinda do Oriente propagando-se na Europa, passando pelas planícies alemãs e vindo quebrar ao pé dos rochedos dos nossos alpes”. (Sorel, G., Reflexões sobre a Violência, apêndice III: 314)
Há década do desenlace nazista, o atento professor captava seus prenúncios:
“Na Alemanha o socialismo está impregnado do mesmo espírito despótico. O militarismo prussiano é o irmão inimigo do marxismo”. (Idem, ibidem)
No ano seguinte a revolução socialista alemã tentaria implementar o despotismo bolchevique, o Der Sozialismus:
Em Munique centenas de trabalhadores ocuparam estações ferroviárias e praças, enfrentando um exército de soldados e policiais. Arames farpados e barricadas brotavam por toda a parte, enquanto rajadas de metralhadoras varriam as ruas. Os vizinhos se acusavam mutuamente: 'Seu maldito bolchevique!' Ninguém estava a salvo dos delatores. Os revolucionários presos eram tratados como traidores. Em questão de semanas, os membros da Guarda Vermelha perceberam que haviam perdido sua mal concebida tentativa de tomar o poder; mas render-se significaria possivelmente enfrentar um esquadrão de fuzilamento. A loucura continuou assolando as ruas.
Diggins, J.: 271
Voltando à bota, na Marcha sobre Roma, fulgurou a gratidão do Duce:
“É a Sorel que mais devo. O fascismo será soreliano”. (13)
Ao “traidor” Gramsci, o duro destino - a mudez quase absoluta, O "programa" jogou-lhe aos porões, para serem confecionadas as estéreis Memórias de Cárcere, culminando com sua precoce morte, por inanição e múltiplas doenças.
À democracia, ao socialismo e ao liberalismo, às prisões em massa e à violência alastrada, ao saque nos cofres privados e à proteção aos apaniguados, Mussolini utilizou sua "justificativa":
Il corporativismo supera il socialismo e supera il liberalismo: crea una nueva sintesi.” (14)
Não superou. E a síntese foi levado à cabo num posto de gasolina de Milão, ao gáudio do sanguinário tomado por gurú.

____________

Notas
1. Cit. Coutinho, Carlos Nelson, Gramsci: um estudo sobre seu pensamento político, p. 29.
2. Sorel, Georges, Reflexões Sobre a Violência, Carta a Daniel Halevyin, Introdução.
3. Von Mises, Ludwig, A Mentalidade Anticapitalista, p. 102.
4. Sorel, Georges, Reflexões Sobre a Violência, p. 170/171.
5. Sorel, G, Greve Geral Política, p. 195.
6. Idem, p. 12.
7, Idem, p. 13.
8. Seippel, Paul, in Sorel, G, Apêndice; Johnson, Paul confirma a aproximação p. 43.
9. Bobbio, Norberto, Esquerda e Direita, Razões e significados, p. 50.
10. Einstein, Albert, cit. Thomas, Henry e Thomas, Dana Lee, Einstein, perfil bibliográfico, A Vida do Grande Cientista; Einstein por Ele Mesmo, p. 73.
11. Mussolini, Benito, Il Nuovo Stato Unitario Italiano, p. 84, cit. Octávio, Machiavel e o Brasil, p. 224.
12. Poulantzas, Nicos, Fascismo e Ditadura, p. 218.
13. Mussolini, Benito, cit. Chevallier, ob. cit, p. 359.
14. Mussolini, Benito, Opera Omnia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário