sábado, 15 de março de 2008

O espanto de Schumpeter


Os partidos de esquerda política - socialistas e comunistas - tiveram enorme influência sobre os padrões de cultura política que emergiram na Europa do século XIX. Pode-se observar o efeito dos partidos fascistas e comunistas na Europa, durante a depressão econômica mundial iniciada em 29, quando suas orientações monolíticas e seus poderosos símbolos políticos deram unidade e direção políticas a milhões de pessoas numa época de angústia e colapso social. ALMOND, G.A. e POWELL Jr, G.Bingham: 82.
Nos Estados Unidos, por exemplo, jamais houve resistência real contra a imposição de esmagadores fardos financeiros durante a última década ou contra uma legislação trabalhista que é incompatível com uma administração eficiente da indústria. O imposto sobre rendimentos regular, direto e progressivo é um subproduto do welfare state: ele passou a existir ao mesmo tempo em que este foi justificado como necessário para financiar os grandes gastos que os serviços sociais demandavam. JOSEPH ALOIS SCHUMPETER (Třešť, 1883Taconic, 1950, p. 201)
Os americanos se resignavam na forjada dicotomia:
Uma grande quantidade de literatura e de resenhas de arte é veiculada através do poder jornalístico de Bloomsbury, com os Woolf, MacCarthy, Forster, Keynes e Strachey. Este último influencia a opinião pública com freqüentes publicações literárias nos mais influentes periódicos, enquanto Keynes, editor do Economic Journal, manipula a opinião pública com seus artigos de International Review e na Nation, esta reorganizada financeiramente e controlada por Keynes; MacCarthy escreve para o Sunday Times e é editor do New Statement (este também controlado por Keynes), para o qual colaboraram Virginia e Leonardo Woolf, Clive Bell e Roger Fry. (Gori, Emma, cit. De Masi, 2000: 156).
"O welfare state não se originou de um projeto socialista, mas tornou-se cada vez mais atraído para a órbita do socialismo, pelo menos o de tipo reformista." (Giddens, 1996:170) .
Muitas das reformas da década de 1930 permanecem entranhadas nas políticas atuais: distribuição arbitrária de terras, subvenção de preços e controles de mercado para a agricultura, ampla regulação de títulos privados, intromissão federal sobre as relações entre sindicatos e empregadores, governo fazendo empréstimos e atividades seguradoras, o salário mínimo, seguro-desemprego nacional, Previdência Social e pagamentos assistencialistas, produção e venda de energia elétrica pelo governo federal, papel-moeda de curso forçado - a lista é infindável.Robert Higgs
Em 1983 a Forbes anunciou: a obra compatível com nosso tempo não provinha de Keynes, mas de Schumpeter. Joseph Schumpeter conseguiu entender como ninguém a lógica do capital na sociedade moderna. Em sua publicação mais célebre, a Teoria do Desenvolvimento Econômico, o economista, advogado e cientista político introduz os principais conceitos de seu pensamento: “inovação” e “destruição criativa”. Para ele, a razão para que a economia saia da estagnação e cresça está ligada ao surgimento de inovações econômicas que alterem consideravelmente as condições de equilíbrio, quer seja por meio da entrada de um bem inovador no mercado, quer pela descoberta de um novo método de produção, por uma forma inédita de comercialização de mercadorias, pela descoberta de novas matérias-primas, quer pela alteração da estrutura de mercado vigente (exemplo: quebra de um monopólio). Ele cunhou os termos “ato empreendedor” e “empresário empreendedor”, determinando que a busca pelo lucro acima da média do mercado é o motor da atividade empreendedora. Já o conceito de “destruição criativa” refere-se ao fato de que quase todas as empresas fracassam – vítimas das inovações introduzidas por seus concorrentes.
Schumpeter formou-se na Universidade de Viena e foi aluno de Eugen Böhm-Bawerk, precursor da escola econômica austríaca. Schumpeter seguiu, ainda que de maneira incompleta, a teoria austríaca, dando ênfase às ações inovadoras dos empresários no mercado, criadoras de novos bens e novas tecnologias, num de scarte dos bens e processos antigos, denominado por ele de “destruição criativa”, essenciais ao desenvolvimento econômico sustentado (Teoria do Desenvolvimento Econômico). Sua visão continha apurada lógica: graças à capacidade de transformação e inovação, seria não somente impossível, mas também desnecessário, compor um plano preciso de desenvolvimento econômico: 
O desenvolvimento, no sentido em que o tomamos, é um fenômeno distinto, inteiramente estranho ao que pode ser observado no fluxo circular ou na tendência para o equilíbrio. É uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo, perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente. A mudança emerge de dentro do sistema, deslocando de tal modo o seu ponto de equilíbrio que o novo não pode ser alcançado a partir do antigo mediante passos infinitesimais. Adicione sucessivamente quantas diligências quiser, com isso nunca terá uma estrada de ferro.  SCHUMPETER, J.A., Teoria do desenvolvimento econômico: Uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. - São Paulo: Abril Cultural, 1982 (Coleção Os Economistas).

O tcheco-austríaco pode ser apreciado em dois distintos momentos. Na juventude Schumpeter erigiu A natureza e a essência da economia teórica, (1908), e a (1911), supra citada Teoria do desenvolvimento econômico (TDE) (1911), . Na segunda fase destacam-se Capitalismo, socialismo e democracia, (1942), Ciclos econômicos, (1939), e História da análise econômica, (1954), publicado postumamente. Em Capitalism, Socialism and Democracy Schumpeter demonstra a superioridade dos mercados sobre o planejamento central. Ele se opunha frontalmente às táticas fascistas e marxistas:
Temos assim, fundamentalmente, duas e somente duas classes: a dos proprietários ou capitalistas e a dos que nada possuem e são compelidos a vender seu trabalho, a classe trabalhadora ou proletariado. A existência de grupos intermediários, tais como os formados por agricultores e artesãos, que empregam trabalhadores, mas também executam trabalho manual, pelos empregados no comércio e pelos profissionais liberais não é naturalmente negada. Mas tais grupos são tratados como anomalias, que tendem a desaparecer no decorrer do processo capitalista. As duas classes fundamentais são, em virtude da lógica de suas posições e inteiramente fora da vontade dos indivíduos, essencialmente, antagônicas. A própria natureza das relações da classe capitalista e do proletariado é de luta, isto é, de guerra de classes.
SCHUMPETER criticava duramente as postulações de Keynes, para quem  a  Grande Depressão havia sido causada por mecanismos intrínsecos ao capitalismo, e não pelo confuso sistema bancário norte-americano. Para Christopher Hitchens, Schumpeter era ‘um socialista instintivo’. Comparando com os modelos atuais de participação, pode-se até afirmar, tal qual muitos, que o socialismo somente se realiza através da liberdade, da individualidade, da livre-iniciativa. Na ocasião, contudo, essas duas óticas estavam condenadas, vistas antagônicas. O Estado precisava atuar, regular, recuperar o dano causado pelo liberalismo desenfreado, antes que os comunistas viessem se agadanhar da oportunidade.
O sucesso de Keynes foi tão devastador que a teoria econômica de Schumpeter foi pouco notada em sua época. Durante os anos 20 e 30, Keynes recebeu 200 citações em artigos publicados por outros cientistas, ficando em primeiro lugar. Já Schumpeter, no mesmo período, recebeu somente 22, ficando em 18º na classificação.
Gleiser, I: 171
O ardil do New Deal veio a confirmar a empulhação:

A partir de publicação, em 1936, da primeira edição da Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda, de John Maynard Keynes, a quase totalidade dos economistas passou a acreditar nas chamadas políticas de ‘sintonia fina’, isto é, em uma pretensa capacidade dos governos de, mediante intervenções na ordem espontânea de mercado, evitar flutuações ‘indesejáveis’ no emprego dos fatores de produção e, assim, impedir as oscilações na produção.
Skidelski: 5

Schumpeter condenava a sina regulatória  por castrar a iniciativa empreendedora. Para ele era justamente a desigualdade social a promotora do desenvolvimento, a mola propulsora, o estímulo vital ao ser humano em direção ao aperfeiçoamento do trabalho. A necessidade da inovação de que ele abordou estaria bem representada pelos empreendedores do mundo contemporâneo, como Steve Jobs e sua Apple ou Bill Gates e a Microsoft.
Doug French cita o discurso pronunciado pelo austríaco na American Economic Association (1948)r:
“Keynes está cego por sua ideologia da estagnação: a de que é necessário o estímulo governamental para eliminar o desemprego. O coração do sistema capitalista tem um dinamismo sem fim, bem o oposto do que defende." 
O emblema do capitalismo serviu como nunca ao oportunismo. As portas de Wall Street foram cerradas; dentro se dividiram os despojos:
"A grande depressão reduziu as poupanças pessoais de US$4,2 bilhões em 1929 a uma descapitalização líquida de US$600 milhões em 1932 e reduziu os ganhos retidos das firmas de negócios de US$16,2 bilhões para menos de um bilhão." (Pipes, 2001: 183).
Ao reabrirem-se as portas encontraram muita gente nadando no dinheiro
"A despeito de três grandes reveses - em 1920, 1928 e 1937-8 - Keynes aumentou seu ativo líquido de 16.315 libras em 1919 para 411.238 - equivalentes a 10 milhões de libras em valores atuais - quando morreu." (Skidelski: 35).
Estamos explicados?
.
Caça às bruxas
Ao falecer Schumpeter, outro Joseph, Joe McCarthy reiniciava a brutal e espetacular perseguição aos comunistas. Artistas de Hollywood, como Cary Cooper e Ronald Reagan (quê disparate!), tiveram que se explicar. Quatro anos depois, o próprio herói McCarthy seria cassado, mas a eficiente rede fascista, propalada como mais forte anteparo ao comunismo, continuou cada vez mais atuante, nos EUA e no mundo considerado “livre”:
As responsabilidades assumidas pelos governos centrais, bem como o poder de que se investiram para desincumbirem-se delas, aumentaram significativamente em todo o mundo depois da II Guerra Mundial. Em quase todos os países, sucessivos governos lançaram ou expandiram programas de assistência social, garantindo com isso que populações inteiras recebessem proteção contra desemprego, doença e velhice. Com base em exemplos estabelecidos pela Alemanha e pela Inglaterra antes da I Guerra Mundial, as nações ocidentais instituíram programas nacionais de crescente abrangência nas áreas de saúde e segurança social. Também os países socialistas e os do Terceiro Mundo procuraram minorar, em certos casos com notável rapidez, os problemas de pessoas às quais, durante gerações, fora negada a possibilidade de uma vida saudável e segura. Esse movimento, no sentido da expansão dos sistemas de bem-estar social, resultaram numa crescente tendência por parte dos governos para controlar seus cidadãos. Quais os resultados disso? Alguns observadores têm afirmado que o aumento, em todo o mundo, da autoridade dos governos centrais constitui sintoma de um declínio da ideologia política e econômica.
Burns, Lerner, e Standish: 760
As lições de Schumpeter até hoje são preteridas, especialmente entre nosotros, macaquitos brasileños:
Entre nós, o sintoma mais típico e persistente desse atraso é a confusa expectativa de que há uma espécie de 'força superior', o 'Estado', capaz de distribuir a todos os bens desejáveis deste mundo: emprego, salários altos, bem- estar - em suma - 'felicidade geral da nação'. Qualquer jornal que se pegue ao acaso revelará, enxertadas, notas de fundo populista, 'progressista' e nacional-corporativista que não mudaram nestes 30 anos passados, exceto que agora a encarnação do Satã a ser exorcizada não e mais o 'neocolonialismo' e sim o 'neo-liberalismo'. Só quando o público impuser ao Estado um profundo respeito pelos contribuintes e quando as fantasias de onipotência da burocracia forem contidas (e punidas) é que alcançaremos afinal o liberalismo.
Campos, Roberto, O Estado do Abuso, Jornal do Comércio, 22/05/1995: 4
O fim da história
O insígne batedor não pode vê-lo coroado, mas estamos no limiar. Ora são outros, os quinhentos, os mesmos que teriam evitado o crack de 1929:
Economistas redescobrem o trabalho de Joseph Schumpeter, que falou da 'destruição criativa' como necessária ao progresso. Numa tempestade de tomadas de controle acionário, alienação de bens, reorganizações, falências, deslanches, joint ventures e reorganizações internas, toda a economia está adquirindo uma nova estrutura que é anos-luz mais diversa, ágil e complexa do que a antiga economia das chaminés.
Toffler, Alvin e Toffler, Heidi, p. 74
Em tempo:
A atual crise americana
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Obras de Schumpeter:
A natureza e a essência da economia política - Das Wesen und der Hauptinhalt der Nationaloekonomie, 1908; - Teoria do desenvolvimento econômico - Die Theorie der Wirschaftlichen Entwicklung, 1911;
Ciclos econômicos - Business cycles), 1939; -
Capitalismo, socialismo e democracia - Capitalism, socialism and democracy, 1942; - História da análise econômica - History of economic analysis, publicado postumamente em 1954.
 


Um comentário:

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