Ligação direta
A possibilidade da participação de todos nos ganhos pelo sistema liberal fora levantada cento e cinqüenta anos antes de Marx, por Locke; morador da mesma Inglaterra, embora distante no tempo, o materialista bem poderia tê-la entendido. Preferiu o caminho da fama, mesmo sendo loucura. Hoje, economistas são categóricos:
"O motivo é que um crescimento da riqueza individual quase sempre representa um crescimento ainda maior da riqueza para a sociedade como um todo." (Pilzer: 12).
Isto é o que se denomina, modernamente, de
Trickle Down. Todavia, isto se viabiliza pela palma da
Mão Invisível, promotora e difusora da riqueza, no processo genuinamente recordado por Priestley
(cit. Falcon: 73):
“Os ricos obrigam-se, pelas leis naturais da economia e pelos ditames morais da natureza, a difundir sua riqueza às camadas menos favorecidas.”
Einstein poderia chancelá-los: a
Teoria da Relatividade ensina que somos parte de um sistema no qual a simples presença do corpo compõe uma força gravitacional. Todo campo é afetado. Planck diria que esse efeito é atômico e consiste numa difusão energética de amplitude ilimitada. Todos estão corretos, e por isso são compatíveis:
Ideal liberal e método democrático entrelaçam-se gradualmente de tal maneira que, se é verdade que os direitos de liberdade foram desde o início a condição necessária para a correta aplicação das regras do jogo democrático, é também verdade que, sucessivamente, o desenvolvimento da democracia tornou-se o instrumento principal para a defesa dos direitos de liberdade.
(Bobbio, 2001: 132).
Vivemos numa teia*, queiramos ou não. Alguma dúvida? A
Internet a desfaz. Nela, a livre participação individual perfaz o esplendor do todo, sem ninguém estar submetido a nada.
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Prosperidade individual, ganho social
O pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Ronaldo Entler, tem se dedicado a pesquisar o uso dos novos sistemas de comunicação. Em suas observações, o cientista percebeu claras similaridades entre os sistemas dinâmicos das ciências físicas e a teia de informação. A rede oferece acesso a diferentes assuntos, todos interligados, em ordens que não obedecem necessariamente aos catálogos das bibliotecas e aos processos de pesquisa convencional.
A maneira como se trilha o caminho da informação altera as indagações do pesquisador e o resultado final de seu trabalho.
Em seu trabalho
O Caos na Rede e a Ruptura das Hierarquias, Entler destaca a
interdisciplinaridade como virtude de um novo padrão de construção do conhecimento. Na
Internet as informações não estão necessariamente arquivadas como nas estantes de uma livraria.Na busca por um dado, esbarra-se em série de informações. Em segundos, colhemos dados coletados por séculos. Chinês interage com sueco. A cada novo
site toda a comunidade aufere. Pela prosperidade individual se obtém o resultado social:
Houve uma ruptura mundial com a tradição do ‘fordismo’, na qual a produção em massa reinava suprema e os trabalhadores individuais eram um fator de custo a minimizar. A nova abordagem da manufatura valoriza o indivíduo e as equipes de trabalhadores qualificados, constantemente treinados, capazes de assumir responsabilidades, de usar redes e de se organizarem em regime de autogestão os empregados terão, graças ao aumento de seus conhecimentos, uma fatia maior dos meios de produção.
(Dertouzos: 270)
Isso tudo é conhecido há séculos, por Adam Smith
(cit. Downs: 56):
O esforço natural de cada indivíduo para melhorar sua própria condição constitui, quando lhe é permitido, exercer-se com liberdade e segurança, um princípio tão poderoso que, sozinho e sem ajuda, é não só capaz de levar a sociedade à riqueza e prosperidade, mas também de ultrapassar centenas de obstáculos inoportunos que a insensatez das leis humanas demasiadas vezes opõe à sua atividade.
Nada mais óbvio. Russell
(O poder: 187/188; cit. Fonseca: 26) compara:
As coisas verdadeiramente valiosas na vida humana são individuais e não coisas como as que acontecem num campo de batalha ou nas lutas políticas ou na marcha de massas arregimentadas em direção a uma meta imposta de fora. Nisso reside a diferença essencial entre a perspectiva liberal e a do Estado totalitário: a primeira considera o bem do Estado como consistindo em última análise no bem-estar do indivíduo, enquanto o segundo considera o Estado como o fim e os indivíduos meramente como ingredientes indispensáveis, cujo bem-estar está subordinado a uma totalidade mística, que é simples disfarce para o interesse dos dominadores.
Passadas as experiências fascistas, Kelsen (p. 191) teve que reconhecer:
"O problema da democracia não é o problema do governo mais eficiente; outros regimes podem ser mais eficientes. É o problema de um governo que garanta a máxima liberdade individual possível."
Na verdade nem é problema, mas solução, como diz um filósofo de Ipanema.
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Uma questão ecológica
Já que finalmente reparamos na ecologia, não podemos olvidar o ator principal. Por paradoxo, o ideal marxista da participação social só se obtém pela iniciativa individual. o trabalho de um, é o gáudio de todos. Sua renda, obviamente também, e não é mister nenhum imposto. A redistribuição é apenas justificativa do pastor-do-pasto-verde para tosquear as ovelhas com maior densidade de lã. Destarte, natural e literalmente, só ele aufere o produto do suor alheio. A função social tem que contemplar o individual, sob pena de crime ecológico.
Nota
* Capra, F., A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos, trad. Newton Roberval Eichemberg, São Paulo: Ed. Cultrix, 1996.
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