quarta-feira, 19 de março de 2008

A integração trabalhista pelo capitalismo

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A revista Forbes demonstra a eficácia da complementariedade no mundo profissional, uma espécie de rede quântica originalmente apurada em formulação econômica, totalmente compatível com as teses de Locke, Smith, Bohr, Planck, Lemkow, Bachelard, Chopra e tantos, uma modalidade de relação que atenderia os anseios socialistas de Einstein, mas não de Marx:
Liderança Democrática na Gore - Na W.L. Gore and Associates a ênfase incide sobre a liderança participativa. Nenhuma outra companhia dá a seus empregados mais oportunidades de participar das decisões do que essa produtora e comercializadora de tecidos para trajes espaciais. A estrutura hierárquica da forma é a antítese da tradicional, em forma de pirâmide. Numa adaptação da forma organizacional de 'Matriz' a companhia inventou o que Bill Gore chamava de 'treliza organizacional'. Nela, encoraja-se a cada 'associado' (não há empregados) a trabalhar um com os outros numa espécie de competição livre que acabrunharia até o mais moderno consultor administrativo. A firma viola quase todos os princípios administrativos tradicionais. Não existe cadeia de comando nem hierarquia. As pessoas não possuem títulos. O chefe não dá ordens - aliás, não há chefes, mas sim 'responsáveis'. Não há uma autoridade fixa ou determinada. Quando novos associados são admitidos, os mais antigos lhes pedem que dêem uma olhada em volta e encontrem algo que gostariam de fazer. Como Platão, Gore limitou o tamanho de sua utopia: duzentas pessoas por fábrica. Resultado? A Gore Associates possui 28 fábricas espalhadas pelo país. Os lucros são divididos entre os associados e há um plano de posse de ações. 'De um modo estranho', diz a revista Forbes, 'por meio do capitalismo intensamente incentivado pelo lucro, os Gore realizaram um velho ideal marxista, eliminando a alienação entre o trabalho e o trabalhador e dando a este o fruto de seu trabalho'. [O que não era ideal marxista, e sim de Locke!] O estilo administrativo é chamado de 'não administração'. 'Nós não podemos dirigir o negócio. Aprendemos, há 25 anos, que os negócios se dirigem por si mesmos. O compromisso, e não a autoridade, produz resultados'.
(Clemens e Mayer: 186)
A poderosa também realizou a experiência, a partir da mesma estratégia:
A General Motors lançou a Saturn Corporation em 1985 para criar não apenas uma nova marca de carro, mas uma nova maneira de fazer automóveis e atribuir poder aos trabalhadores. O objetivo era ter uma firma em que a direção e operários trabalhariam juntos para atingir objetivos comuns e todos se preocupariam tanto com a qualidade que não haveria necessidade de um departamento separado para garanti-la. O sonho produziu resultados. A Saturn ganhou o prêmio J.D. Power de qualidade e satisfação dos clientes durante oito anos consecutivos e está atraindo um séquito de donos de carro.
(Gates: 270).-
Ligação direta
A possibilidade da participação de todos nos ganhos pelo sistema liberal fora levantada cento e cinqüenta anos antes de Marx, por Locke; morador da mesma Inglaterra, embora distante no tempo, o materialista bem poderia tê-la entendido. Preferiu o caminho da fama, mesmo sendo loucura. Hoje, economistas são categóricos:
"O motivo é que um crescimento da riqueza individual quase sempre representa um crescimento ainda maior da riqueza para a sociedade como um todo." (Pilzer: 12).
Isto é o que se denomina, modernamente, de Trickle Down. Todavia, isto se viabiliza pela palma da Mão Invisível, promotora e difusora da riqueza, no processo genuinamente recordado por Priestley (cit. Falcon: 73):
“Os ricos obrigam-se, pelas leis naturais da economia e pelos ditames morais da natureza, a difundir sua riqueza às camadas menos favorecidas.”
Einstein poderia chancelá-los: a Teoria da Relatividade ensina que somos parte de um sistema no qual a simples presença do corpo compõe uma força gravitacional. Todo campo é afetado. Planck diria que esse efeito é atômico e consiste numa difusão energética de amplitude ilimitada. Todos estão corretos, e por isso são compatíveis:
Ideal liberal e método democrático entrelaçam-se gradualmente de tal maneira que, se é verdade que os direitos de liberdade foram desde o início a condição necessária para a correta aplicação das regras do jogo democrático, é também verdade que, sucessivamente, o desenvolvimento da democracia tornou-se o instrumento principal para a defesa dos direitos de liberdade.
(Bobbio, 2001: 132).
Vivemos numa teia*, queiramos ou não. Alguma dúvida? A Internet a desfaz. Nela, a livre participação individual perfaz o esplendor do todo, sem ninguém estar submetido a nada.
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Prosperidade individual, ganho social
O pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Ronaldo Entler, tem se dedicado a pesquisar o uso dos novos sistemas de comunicação. Em suas observações, o cientista percebeu claras similaridades entre os sistemas dinâmicos das ciências físicas e a teia de informação. A rede oferece acesso a diferentes assuntos, todos interligados, em ordens que não obedecem necessariamente aos catálogos das bibliotecas e aos processos de pesquisa convencional.
A maneira como se trilha o caminho da informação altera as indagações do pesquisador e o resultado final de seu trabalho.
Em seu trabalho O Caos na Rede e a Ruptura das Hierarquias, Entler destaca a interdisciplinaridade como virtude de um novo padrão de construção do conhecimento. Na Internet as informações não estão necessariamente arquivadas como nas estantes de uma livraria.Na busca por um dado, esbarra-se em série de informações. Em segundos, colhemos dados coletados por séculos. Chinês interage com sueco. A cada novo site toda a comunidade aufere. Pela prosperidade individual se obtém o resultado social:
Houve uma ruptura mundial com a tradição do ‘fordismo’, na qual a produção em massa reinava suprema e os trabalhadores individuais eram um fator de custo a minimizar. A nova abordagem da manufatura valoriza o indivíduo e as equipes de trabalhadores qualificados, constantemente treinados, capazes de assumir responsabilidades, de usar redes e de se organizarem em regime de autogestão os empregados terão, graças ao aumento de seus conhecimentos, uma fatia maior dos meios de produção.
(Dertouzos: 270)
Isso tudo é conhecido há séculos, por Adam Smith (cit. Downs: 56):

O esforço natural de cada indivíduo para melhorar sua própria condição constitui, quando lhe é permitido, exercer-se com liberdade e segurança, um princípio tão poderoso que, sozinho e sem ajuda, é não só capaz de levar a sociedade à riqueza e prosperidade, mas também de ultrapassar centenas de obstáculos inoportunos que a insensatez das leis humanas demasiadas vezes opõe à sua atividade.
Nada mais óbvio. Russell (O poder: 187/188; cit. Fonseca: 26) compara:
As coisas verdadeiramente valiosas na vida humana são individuais e não coisas como as que acontecem num campo de batalha ou nas lutas políticas ou na marcha de massas arregimentadas em direção a uma meta imposta de fora. Nisso reside a diferença essencial entre a perspectiva liberal e a do Estado totalitário: a primeira considera o bem do Estado como consistindo em última análise no bem-estar do indivíduo, enquanto o segundo considera o Estado como o fim e os indivíduos meramente como ingredientes indispensáveis, cujo bem-estar está subordinado a uma totalidade mística, que é simples disfarce para o interesse dos dominadores.
Passadas as experiências fascistas, Kelsen (p. 191) teve que reconhecer:
"O problema da democracia não é o problema do governo mais eficiente; outros regimes podem ser mais eficientes. É o problema de um governo que garanta a máxima liberdade individual possível."
Na verdade nem é problema, mas solução, como diz um filósofo de Ipanema.
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Uma questão ecológica
Já que finalmente reparamos na ecologia, não podemos olvidar o ator principal. Por paradoxo, o ideal marxista da participação social só se obtém pela iniciativa individual. o trabalho de um, é o gáudio de todos. Sua renda, obviamente também, e não é mister nenhum imposto. A redistribuição é apenas justificativa do pastor-do-pasto-verde para tosquear as ovelhas com maior densidade de lã. Destarte, natural e literalmente, só ele aufere o produto do suor alheio. A função social tem que contemplar o individual, sob pena de crime ecológico.
Nota
* Capra, F., A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos, trad. Newton Roberval Eichemberg, São Paulo: Ed. Cultrix, 1996.

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