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O obscuro papel do juro
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A quantidade de dinheiro exigida para efetuar, de um modo livre e fluente, as transações de um país em determinada proporção; se for superior às necessidades, não haverá nisso vantagens para o comércio; se for inferior, muito inferior, ser-lhe-á extremamente prejudicial. A escassez de dinheiro reduz o preço daquela parte da produção que é usada no comércio, pois o desestímulo que daí resulta para o comércio restringe a demanda da produção a ele destinada. A escassez de dinheiro num país desestimula o trabalhador e os artífices (que são a principal força e sustentáculo de um povo). Smith, A., Investigação Sobre a Natureza e Necessidade do Papel-Moeda; Economistas políticos: 179.
Ao gay de Bloomsbury, todavia, o que menos interessava eram as observações de Adam Smith, tampouco as de Franklin, essas ainda anteriores a do escocês:
A demanda de moeda depende da taxa de juros! O palco está armado para o Sr. Keynes. Hicks, O Sr. Keynes e os Clássicos: uma Sugestão de Interpretação; cit. Hilferding: 149
Ora, o fluxo monetário é o oxigênio da nação:
E já que um abundante meio circulante virá a tornar-se uma causa importante do progresso desta província, tanto no que se refere aos negócios, ao crescimento da riqueza e ao aumento do número de seus habitantes, e embora este aumento não cause sensível redução dos habitantes da Grã-Bretanha, ele propiciará, aqui, um aumento da oferta e da procura de suas mercadorias." ( idem: 183).
“É o sangue que corre pelas veias da produção”, como advertira o médico fisiocrata, fundador da Economia*
Aumentos rápidos da quantidade de moeda provocam inflação. Quedas acentuadas provocam recessão. Esta é uma proposição igualmente bem documentada. Não está diretamente documentada neste livro, embora sejam mencionados alguns tópicos: a depressão de 1873-79 nos Estados Unidos, os anos deprimidos do início da década de 1890, a grande retração de 1929-33 que levou Franklin Delano Roosevelt à Casa Branca e armou o palco para o programa de compra de prata da década de 1930. (Friedman: 242).
"Vem à recordação o desastroso erro entre 1929 e 1933, quando permitiu que a quantidade de moeda caísse um terço e, com isso, transformasse uma recessão grave numa depressão desastrosa." (Idem: 195).
Enfraquecido pela diminuição do trânsito, o capitalismo aceitou todas as drogas, sem mais questionamentos, e isso nem era novidade: o cultuado povo alemão, vítima das idênticas convulsões, mostrou como seria pautada a "nova economia". Ninguém menos que Einstein (cit. Brian: 222) pode avaliar: "O voto a favor de Hitler é apenas um sintoma, não necessariamente do ódio pelos judeus, mas de um ressentimento momentâneo provocado pela miséria econômica e o desemprego entre a juventude alemã mal conduzida."
A semelhança das maquiavélicas ações preparatórias sugere a comum intenção. Tanto Alemanha quanto os EUA provocaram crises, para em seguida apresentarem suas guinadas monetaristas de desvalorizações e intervenções desmedidas, O compasso, a similitude, e a aproximação leva a supor que tal arquitetura fosse obra de apenas um artista - Keynes. "Entre 1924 e 1929, portanto em apenas cinco anos, os Estados Unidos havia destinado, nada menos do que 30 bilhões de dólares a Berlim." O dinheiro foi bem investido: “Em Cadiz, na Espanha, desenvolviam-se submarinos em fábricas sob controle alemão.” (Levenson: 420).
O governo norteamericano extinguiu os bônus a milhares de veteranos de guerra; os juros de imediato foram ampliados; coibições multiplicavam-se, enquanto o dólar perdia velocidade de circulação. Tudo era atribuído às sinistras previsões de Marx. Milton Friedman, no seu “mais importante trabalho”, dito por ele mesmo, lembra das primeiras “atividades” do Federal Reserve: a cada ano o cidadão dispunha de menos dinheiro a ser conquistado, sumiço de cerca de 10% ao ano:
Uma escola, ao menos, - a de Chicago - nunca deixou de duvidar da potencialidade da doutrina monetarista, não tendo meios, porém, de contestar os postulados keynesianos na época, devido a falta de informações estatísticas que pudessem comprovar que as causas da depressão nada tinham a ver com a economia capitalista de livre mercado. As dúvidas persistiram até que, finalmente, Milton Friedman e Anna Schwartz vieram mostrar que os fatos apresentados por Keynes não eram tão evidentes e comprovar que as verdadeiras causas da grande depressão, ao menos nas dimensões sofridas pela humanidade, foram frutos do mau gerenciamento monetário do Federal Reserve, espécie de Banco Central daquele país, que permitiu que os meios de pagamento fossem reduzidos em um terço de 1929 a 1933. (Friedman, M., Capitalism and Freedom, cit. Peringer: 126).
Ilan Gleiser: (p. 125) adianta:
Friedman mostrou que as autoridades monetárias haviam produzido efeitos indesejados na economia, tais como inflação e depressão devido ao tratamento errôneo da oferta de moeda. Ele culpa o Federal Reserve pela grande depressão da década de 1930, alegando que este, em um primeiro momento, reduziu a oferta de moeda devido ao medo de especulação demasiada no mercado acionário e depois não fez nada de 1930 a 1931, quando houve uma corrida aos bancos. Em seu Tract on Monetary Reform (1923) [Friedman] alertou para o perigo da inflação e concluiu que o papel do Banco Central seria controlar a oferta de moeda na economia para garantir a estabilidade no nível de preços e manter a inflação sob controle.
Se era possível manter a inflação sob controle aumentando ou diminuindo sua intensidade, também seria trivial provocar a recessão, igualmente de maior ou menor incidência. Ambas contêm a mesma fórmul. A elevação do juro retroalimenta a depressão por estrangulamento progressivo:
“O juro não depende do valor da moeda, mas da sua quantidade.”
(Smith, A., Inquérito sobre a natureza e as causas da riqueza das nações, 1999: 26).-
A dose foi cavalar. O mundo se prostrou. Alguém tinha que levantá-lo. Apresentou-se o causador, como salvador!
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Nota
* - "O nascimento da economia como ciência foi marcado pelas observações do Dr. François Quesnay (1694-1794), médico da corte de Luís XV, rei da França. Por ser médico, Quesnay comparou o fluxo do sangue no corpo com o fluxo de dinheiro em uma economia, construindo o tableau economique na primeira tentativa de modelar matematicamente uma economia mostrando as relações entre seus diversos setores." (Gleiser, I.: 89).
Obrigado por mencionar o mue livro ... Vou let os seus comentarios. ABc, Ilan Gleiser
ResponderExcluirObrigado por mencionar o mue livro ... Vou let os seus comentarios. ABc, Ilan Gleiser
ResponderExcluirPrezado Ilan Gleiser,
ResponderExcluirMuito honrado em acolhê-lo. Fiz-lhe menção porque reputo sua obra "Caos e complexidade - a Evolução do Pensamento Econômico" uma produção de raro valor, verdadeiramente de ponta, cuja iniciativa somos nós, seus leitores, que temos que agradecer.
O livro esta agora disponivel de graca no site abaixo.
ResponderExcluirAproveitem.
Ilan Gleiser
ilan.gleiser@gmail.com
http://www.scribd.com/doc/15627112/Caos-e-Complexidade-A-Evolucao-do-Pensamento-Economico