sábado, 15 de março de 2008

O ardil do New Deal

O Estado comprovou ser um gastador insaciável, um desperdiçador incomparável. Na verdade, no século XX, ele revelou-se o mais assassino de todos os tempos. O político de massas oferecia o New Deal, grandes sociedades, e estados de bem-estar social; os fanáticos atravessaram décadas e décadas e hemisférios; charlatães, carismáticos, exaltados, assassinos de massas, unidos pela crença de que a política era a cura dos males. Paul Johnson (1).
TENDO como padrinhos ninguém menos do que o próprio Marx e o professor Keynes pelo lado da Economia; Augusto Comte, Hans Kelsen (2) e Benito Mussolini pelo lado do Direito, veio ao mundo robusto filhote de proveta, alcunhado New Deal. Por completo, New Deal-Fair Deal, (3) a nacionalização de tudo quanto pudesse sê-lo. Os estados que eram unidos, reunidos se tornavam um: o Eua.
O medo atingira o povo e a liderança seria entregue àqueles que oferecessem uma saída fácil, a qualquer preço. A época estava madura para a da economia a serviço de um novo sonho americano...a solução fascista. (Polanyi: 275).
A retomada do ideal platônico se fazia perfeitamente justificável:
O grande acontecimento dessa crise do liberalismo econômico foi a eleição, em 1932, nos Estados Unidos, de Franklin Delano Roosevelt. Roosevelt, com seu New Deal, propôs uma verdadeira revolução: simplesmente a morte do Estado Liberal. Propunha um Estado inferente, gastador, que investe mais em obras públicas e assistência social do que dispõe em caixa e deixa para cobrir o déficit depois, com o dinheiro a mais que arrecadar numa economia aquecida pelos próprios gastos estatais. (Mascarenhas: 44)
Então Roosevelt, influenciado por Felix Frankfurter, pela Sociedade Socialista Intercongregada e por outros, fabianos e comunistas, maquinou uma revolução que colocou o país na senda que leva ao socialismo e, numa perspectiva mais distante, ao comunismo. Foi, contudo, a emenda do imposto de renda, levado em 1909, no Congresso americano, o início do socialismo. Então, o New Deal não foi uma revolução. Seu programa coletivista tivera antecedentes - recentes - com Herbert Hoover, durante a depressão; mais remotos, no coletivismo de guerra e no planejamento central que governaram os EUA durante a Primeira Guerra Mundial  Rothbard: 41
A triplicação de impostos feita por FDR, sua regulamentação dos negócios, e sua implacável propaganda anti-iniciativa privada também contribuíram para piorar a Grande Depressão, mas nada supera suas políticas trabalhistas, que provavelmente foram as mais danosas para as perspectivas de emprego dos trabalhadores americanos. Sob esse aspecto, a parte mais desapontadora do artigo de Cole e Ohanian é que eles sequer citam o trabalho pioneiro de Richard Vedder e Lowell Gallaway, Out of Work: Unemployment and Government in Twentieth Century America, publicado em 1993. Entre 1936 e 1937, as atividades grevistas dobraram. Em 1936 ocorreram greves equivalentes a uma perda de 14 milhões de dias de trabalho, valor esse que apenas um ano depois dobrou para 28 milhões. E somente em 1937 os salários subiram quase 15 por cento. A diferença salarial entre trabalhadores sindicalizados e não-sindicalizados, que era de 5 por cento em 1933, foi para 23 por cento em 1940. A recém-criada Previdência Social, bem como outros impostos sobre a folha de pagamento criados para bancar o seguro-desemprego, encareceram ainda mais o custo de se empregar alguém. O que tudo isso mostra é que durante um período de fraca e declinante demanda por trabalho, as políticas do governo empurraram significativamente para o alto os custos da mão-de-obra, fazendo com que os empregadores a demandassem cada vez menos. DI LORENZO, Thomas, Loyola College, Maryland, autor de The Real Lincoln (Three Rivers Press/Random House, 2003. Seu último livro é How Capitalism Saved America: The Untold History of Our Country, From the Pilgrims to the Present (Crown Forum/Random House, 2004).
Sem pudor ou qualquer ética, os sanguessugas do Leviathan turbinado primeiramente dizimaram o couro da população:"A grande retração de 1929-33 levou Franklin Delano Roosevelt à Casa Branca e armou o palco para o programa de compra de prata da década de 1930. (Friedman: 242)
Em seguida, as portas de Wall Street foram cerradas. Dentro se dividiram os despojos: "A grande depressão reduziu as poupanças pessoais de US$4,2 bilhões em 1929 a uma descapitalização líquida de US$600 milhões em 1932 e reduziu os ganhos retidos das firmas de negócios de US$16,2 bilhões para menos de um bilhão."
(Pipes, 2001: 183)
Havia muito mais em jogo, pois, além da burla ideológica:

Os grandes banqueiros e industriais emergiram nessa época. Firmas de Wall Street - como Belmont, Lazard e Morgan - com apenas 15 anos de existência ocupavam lugar de destaque na economia. Os tempos modernos da legislação para as práticas de comércio começaram em 1934. (Gleiser, I.: 211)
A tunga cresceu por todos tentáculos:"O imposto sobre rendimentos regular, direto e progressivo é um subproduto do welfare state: ele passou a existir ao mesmo tempo em okque este foi justificado como necessário para financiar os grandes gastos que os serviços sociais demandavam." (Galbraith, 1968: 245).
Os americanos se resignavam diante da forjada dicotomia: "O welfare state não se originou de um projeto socialista, mas tornou-se cada vez mais atraído para a órbita do socialismo, pelo menos o de tipo reformista."
(Giddens, 1996:170) .
Isso era apenas cortina-de-fumaça.
A base monetária aumentou mais de 100 % entre 1933 e 1939.
O Estado de bem-estar era um ardil político: uma criação artificial do Estado, pelo Estado, para o Estado e seus funcionários. É um eco irônico da democracia de Lincoln de, por e para ‘o povo’. Quando seus bem escondidos, porém crescentes, excessos e abusos no governo central e local foram revelados recentemente, havia se passado um século de defesa falaciosa.
Seldon: 60
Criadores de modelos macroeconômicos finalmente descobriram aquilo que Henry Hazlitt e John T. Flynn (entre outros) já sabiam desde os anos 1930: o New Deal de Franklin Delano Roosevelt (FDR) alongou e aprofundou a Grande Depressão. Não passa de mito a tese de que FDR 'nos tirou da Depressão' e 'salvou o capitalismo de si próprio', como tem sido ensinado a gerações de americanos (e, conseqüentemente, ao resto do mundo) em todas as instituições educacionais estatais. Thomas J. DiLorenzo

[A] recuperação ocorrida nos quatro anos após a posse de Franklin Roosevelt em 1933 foi incrivelmente rápida.  O PIB real teve uma média de crescimento anual superior a 9%.  O desemprego caiu de 25% para 14%.  Excetuando-se a Segunda Guerra Mundial, os EUA jamais vivenciaram um crescimento tão rápido e sustentável.Entretanto, aquele crescimento foi interrompido por uma segunda e severa retração econômica em 1937-38, quando o desemprego disparou novamente para 19%... A causa fundamental dessa segunda recessão foi uma infeliz, e amplamente negligente, mudança nas políticas monetária e fiscal, que passaram a ser contracionistas.  [Cortes nos gastos e aumento dos impostos] reduziram o déficit para aproximadamente 2,5% do PIB, exercendo uma significativa pressão contracionista. Christina Romer, Economista da Universidade de Berkeley, especialista na Grande Depressão, e atualmente chefe da Junta de Conselheiros Econômicos do presidente Obama
Entre 1936 e 1937, as atividades grevistas dobraram. Em 1936 ocorreram greves equivalentes a uma perda de 14 milhões de dias de trabalho, valor esse que apenas um ano depois dobrou para 28 milhões. Não fossem os despojos japoneses e alemães, aquela violenta crise americana teria recrudescido ainda mais. No entanto, o que vemos?

Muitas das reformas da década de 1930 permanecem entranhadas nas políticas atuais: distribuição arbitrária de terras, subvenção de preços e controles de mercado para a agricultura, ampla regulação de títulos privados, intromissão federal sobre as relações entre sindicatos e empregadores, governo fazendo empréstimos e atividades seguradoras, o salário mínimo, seguro-desemprego nacional, Previdência Social e pagamentos assistencialistas, produção e venda de energia elétrica pelo governo federal, papel-moeda de curso forçado - a lista é infindável. A indústria foi praticamente nacionalizada pelo decreto National Industrial Recovery Act, assinado por Roosevelt em 1933. Como a maioria das legislações do New Deal, esse decreto foi o resultado de um acordo conciliatório entre vários grupos de interesses: empresários querendo preços mais altos e mais barreiras à concorrência, sindicalistas buscando proteção e patrocínio governamental, assistentes sociais querendo controlar as condições de trabalho e proibir o trabalho infantil, e os habituais proponentes de gastos maciços em obras públicas. A teoria da economia mista, na qual o estado controla a economia de mercado, ainda é a ideologia dominante que sustenta todas as políticas governamentais. Em lugar da velha crença na liberdade, temos hoje uma tolerância maior com - e até mesmo uma demanda por - esquemas coletivistas que prometem seguridade social, proteção contra os rigores da concorrência de mercado e alguma coisa em troca de nada. Robert Higgs
"Nem o socialismo nem o Estado do bem-estar social apontam para uma estrada que possa ser percorrida para se construir um futuro coletivo melhor, que incluirá os excluídos." (Thurow: 327)
Disso já se sabia no raiar do XIX:

Estou profundamente convencido de que qualquer sistema regular, permanente, administrativo, cuja finalidade seja assistir as necessidades do pobre, fará nascer mais misérias do que as que pode sanar, depravará a população que deseja assistir e consolar, reduzirá com o tempo os ricos simplesmente ao papel de funcionários dos pobres, acabará com as fontes da poupança, parará a acumulação de capitais, deterá o progresso do comércio, entorpecerá a atividade e a indústria humanas e terminará por conduzir a uma revolução violenta no Estado, quando o número dos que recebem esmola for quase do tamanho dos que a pagam e quando o indigente, não conseguindo tirar dos ricos empobrecidos o necessário para satisfazer suas necessidades, achará mais fácil espoliá-los de uma vez por todas de seus bens do que solicitar seus auxílios.Tocqueville, cit. Rodríguez: 56
"A despeito de três grandes reveses - em 1920, 1928 e 1937-8 - Keynes aumentou seu ativo líquido de 16.315 libras em 1919 para 411.238 - equivalentes a 10 milhões de libras em valores atuais - quando morreu. (Skidelski: 35).
Estamos explicados?
____________
Notas
1. Johnson: 616.
2. O austríaco Hans Kelsen (1881-1973) morou em Berkeley, Califórnia.
3. Novo Pacto, Amistoso Pacto; ou um contrato social rousseauniano movido pelo ideal orgânico hegeliano, utopia inoculada no coração americano.






Nenhum comentário:

Postar um comentário