terça-feira, 25 de março de 2008

A Economia como Ecossistema


Como criar organizações que continuem vivas? Como criar organizações que não nos sufoquem com seus ditames de controle e obediência? A resposta é clara e simples. Precisamos confiar no fato de que nós temos a capacidade de organizar a nós mesmos e precisamos criar condições que favoreçam o florescer da auto-organização. Whetlay; Kellner-Rogers, Um caminho mais simples: 58
É lidando com a flutuação e a instabilidade do meio ambiente de forma criativa que os organismos auto-organizadores crescem e evoluem. Uma economia pode ser um sistema auto-organizador. A cultura de uma sociedade também. Ilya Prigogine (Илья́ Рома́нович Приго́жин)

Em inúmeros domínios os sistemas de autocontrole instáveis (tão numerosos no campo biológico, onde se manifestam fenômenos de auto-organização) fazem aparecer flutuações complexas e ricas. Compreender esses sistemas é fazer das probabilidades um dado essencial da percepção do mundo. A sobrevivência e o crescimento de uma grande quantidade de sistemas, que vai de um ecossistema como a floresta amazônica a um pequeno arbusto, a uma organização empresarial, a um formigueiro, a uma colméia de abelhas, ao cérebro humano, dependiam não de controles complexos, mas da combinação simples de algumas coisas que expressam a identidade básica do sistema (e que não podem mudar) somadas a um alto grau de autonomia para que os componentes individuais operem com liberdade. Nobrega, C. 1996: 250
O físico Rohden (p. 81) explicita:
Uma colméia é a perfeita imagem de uma ‘anarquia cósmica’, isto é, uma perfeita ordem e harmonia sem nenhum governo externo; o sem governo (anarquia) se refere a um fator extrínseco, mas o governo (autarquia) está dentro de cada abelha. É a consciência apiária que governa e, por isto, não há necessidade de uma organização externa.
Pontes de Miranda (p. 58), o jurista brasileiro mais citado no século passado, deparou-se com o dilema, tormentoso enigma para alguém formado ferrenho positivista, mormente considerando que a sentença exigia o abandono da própria formação, da crença de poder “ver para prever”, da ação estipulada (delito) à reação calibrada (punição) que sustenta toda a atividade normativa e, de resto, econômica e jurisdicional:
Onde quer que haja organismos, o que mais importa conhecer é o complexo 'organismo x meio'. Os próprios elementos dos organismos estão sempre e necessariamente em relação mediata ou imediata com o conjunto de outros elementos. A interação é o fato perene do mundo. Como, pois, limitar a aplicação do relativismo?
F. Capra, certamente, não conheceu a obra do mestre brasileiro, mas a coincidência é marcante: "Onde quer que vejamos vida, de bactérias a ecossistemas de grande escala, observamos redes com componentes que interagem uns com os outros de maneira tal que toda a rede regula e organiza a si mesma." (1996: 176)
-
Crime ecológico
Von Mises (1990: 112), com pesar, já identificara: "O que ocorreu foi que as premissas tecnocráticas quanto à natureza do homem, da sociedade e da natureza, deformaram-lhe a experiência na fonte, tornando-se assim os pressupostos esquecidos de que se originam o intelecto e o julgamento ético."
O economês encetado neste país é fruto dessa década de 1930. Na ocasião, ecologia se presumia efeito sonoro. A Economia pode e deve sofrer, de imediato, o incremento atômico que requer nossa geração, e permite nosso conhecimento:
"A superioridade dos sistemas auto-organizadores é ilustrada pelos sistemas biológicos, em que produtos complexos são formados com uma precisão, uma eficiência, uma velocidade sem iguais." (Biebracher, C., Nicolis, G.; Schuster; Self Organizations in the Physico-Chemical and Life Sciences; Relatório EUR 16546, European Commission, 1995; cit. Prigogine: 75).
Bruno Latour (Das Sociedades Animais às Sociedades Humanas; cit. Witkowski: 207) apresenta sua contribuição:
Depois do livro do americano Edward O. Wilson, Sociobiology e dos ensaios do inglês Richard Dawkins, os geneticistas das populações, assim como os especialistas em insetos sociais, procuraram compreender a organização social a partir dos interesses individuais. Não existe o formigueiro; só existem as formigas. Não existe a espécie; só existe o indivíduo. Falar de um sacrifício pelo grupo é, portanto, uma impossibilidade - pelo menos se estudarmos a evolução darwiniana dos caracteres sociais. Era preciso repensar a sociedade animal como a resultante do cálculo dos indivíduos e não mais como um vasto sistema dentro do qual os animais nascem e morrem. Esta revolução entre os animais assemelha-se às revoluções que as ciências políticas conheceram duzentos anos antes.
No livro Bionomics, Michael Rothschild propõe direto: a economia deve ser vista como um ecossistema. Seu argumento principal é que a economia, assim como um ecossistema não possui uma direção central, um plano; elas se desenvolvem, ou evoluem espontaneamente com o passar do tempo.
"A principal diferença entre a economia e um ecossistema é que a economia evolui mais rapidamente do que o ecossistema, mas suas propriedades fundamentais seriam similares." (Gleiser, I.: 77).
Isto foi apregoado no século XVIII, por Adam Smith, já mencionamos; e no primeiro quarto do século XX, por Hayek, Fridman, Schumpeter, e de resto por suas Escolas de Chicago e da Áustria. Nada de novo; infelizmente, tampouco experimentado.

A redenção
Como todas as ciências, especialmente a econômica, que deve ter por objeto o ser humano, e não apenas quantificações, tem obrigação de ser multidimensional e interdisciplinar, com isto melhor aferindo e respeitando as fronteiras atingidas pelas ciências mais tradicionais:
Uma concepção adequada de desenvolvimento deve ir muito além da acumulação de riqueza e do crescimento do Produto Nacional Bruto e de outras variáveis relacionadas à renda. Sem desconsiderar a importância do desenvolvimento econômico, precisamos enxergar muito além dele.
(Amartya Sen: 28)
A ordem é multiforme.
“Há infinitos universos paralelos formando ramificações. Em cada um se atualiza uma realidade”. (Toffler, e Toffler : 20)
O que vemos é apenas um aspecto, de tantos existentes. Se aqui é noite, lá é dia. Se uma moeda mostra cara, ao universo mostra coroa, mas sem antagonismos, sem forças conflitantes.
Quando a gota cai no oceano, ambos sentem. G.F. CHEW lembrou do bootstrap (cadarço de botas) para compará-lo a um universo todo amarrado, ligado, entrelaçado, mas não comandado, o que hoje conhecemos como rede, ou teia, na preferência de CAPRA. Resplandece a incidência dos vínculos, a tendência à associação, até à cooperação entre elementos ligados por diversas razões, mas sem imperiosidade determinística, jamais abdicando os "participantes" da originalidade, das características e respectivas vocações:
"Isto faz dos seres vivos elementos numa vasta rede de inter-relações que abarca a bioesfera de nosso planeta – que em si mesma é um elemento interligado dentro das conexões mais amplas do campo psi que se estende pelo cosmos." (Laszlo: 198)

O conceito de um mundo sutilmente interligado, um oceano cósmico no qual estamos intimamente ligados uns aos outros e à natureza, assimilado por nosso intelecto e abraçado por nosso coração, poderá talvez inspirar novos modos de pensar e de agir que transformem o espectro de uma derrocada global no triunfo de uma renovação global – uma renovação para uma era mais humana e sustentável.
(Idem: 205)
O golpe dogmático não tem mais serventia:
Lester Thurow se utiliza desta imagem potente para invocar cinco forças econômicas que, como afirma, moldam o nosso mundo material, seja ele econômico, seja político. Para ele, essas cinco forças são: o fim do comunismo; mudanças tecnológicas para uma era dominada pela inteligência humana; uma demografia inédita e revolucionária; uma era multipolar que desconhece qualquer tipo de dominância econômica, política, ou militar por qualquer nação.
(Raimar Richers, prefácio de Thurow: 7)
Vence a liberdade, no mundo abstrato dos números, nas letras e na natureza. É vitória por terra, mar e ar:
"As considerações econômicas são meramente aquelas pelas quais conciliamos e ajustamos nossos diferentes propósitos, nenhum dos quais, em última instância, é econômico (exceto os do avarento ou do homem para quem ganhar dinheiro se tornou um fim em si mesmo." (Sen : 328)
Nesta enxurrada de relatividade tudo se torna complexidade, mas fazer o quê?
Morin (1998, p . 30) amplia a idéia cerne:
“De toda a parte surge a necessidade de um princípio de explicação mais rico do que o princípio de simplificação (separação/redução), que podemos denominar princípio da complexidade.”
Ele lembra o significado (p. 215) :
Complexus = aquilo que é ‘tecido’ junto. Atingir a complexidade significa atingir a binocularidade mental e abandonar o pensamento caôlho.”
Complemente:
Sobre a Moderna Economia
A Economia através de Fractais*
Economia Quântica
Da Escola Austríaca de Economia
-_________



Nenhum comentário:

Postar um comentário