quinta-feira, 20 de março de 2008

A Expansão (liberal) do Universo

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Várias  pesquisas demonstram que o caos consegue surgir até na mais simples das situações; por exemplo, quando só três partículas estão interagindo. Isso demole o mito secular da previsão e do determinismo e com ele a idéia de um universo de mecanismo de relógio. Se o passado é fixo, e o futuro permanece aberto, redescobriremos a flecha do tempo. (Coveney, e Highfield: 31)
Perdõem-me Coveney e Highfield: cujo best-seller me rendeu um manancial de subsídios.  O futuro se expande em todas as direções, ao mesmo tempo; como a crosta de um balão enchendo. Todos os tempos permanecem abertos na verdade. Não há um rumo. Não há flecha. O Universo é expansionista,; por isso tem que ser liberal. le não é predeterminado, mas  tecido na infinidade de partículas complementares. A redescoberta da flecha do tempo, portanto, é impossível: ela não excede nosso próprio corpo! Há oriente individual, mas, talvez por isso,  no processo inflacionário que a tudo abrange não cabe direção exclusiva.  . Sequer o passado pode ser considerado fixo: conforme sua interpretação, ele pode ser alterado. Se entendermos o tempo como um percurso de qualquer partícula no espaço, e não o percurso do espaço, fica fácil supor a viabilidade de um tour, ao norte ou às pradarias. Outrossim, no "espanto" da Gravidade a simples presença de qualquer corpo, ou massa, altera o ambiente; e, como tal, a flecha almejada. Passado e futuro, pois, são apenas meras e arbitrárias demarcações, projetadas na presente necessidade do homem de dar sentido à própria existência. (Loja do Tempo, post de 12 de outubro de 2007; também no site oficial da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo - http://www.leialivro.com.br/)

Questão de Ordem
O jurista Goffredo Telles Jr (p. 226 e 228), por profissão atento à "ordem", alerta para o erro trivial:
"Supor que a desordem precede logicamente ou cronologicamente a ordem e que a ordem é algo que se acrescenta à 'ausência de ordem', é passar para as esferas da utopia e negar simplesmente a realidade das coisas."
O que faz que, a essa ordem chamemos desordem é o desacordo entre a ordem existente na realidade e a que percebem nossos sentidos. Damos o nome de ordem à ordem que nos convém e o nome de desordem à ordem que não nos convO Professor (Telles Jr., p. 227) resgata Henry Bergson (1859-1941):
Bergson, em seus livros A evolução Criadora e O Pensamento e o Moventedesordem é sempre ordem; mas é uma ordem que não desejamos, que não procuramos. A desordem tida como ausência de ordem é impossível, por ser intrinsecamente contraditória. Nunca se viu a ausência da ordem, como nunca se viu o nada." demonstrou luminosamente a falsidade dos termos em que os problemas sobre a ordem e a desordem são geralmente construídos.
Rohden (p. 206) ainda salienta:
"Em contraposição a Hegel e toda a ala da supremacia estatal, defende Bergson o valor supremo da individualidade humana. Qualquer espécie de sociedade é um meio, e não um fim em si mesma."
Bergson (cit. Coveney: 187) identificava o turning point com muita antecedência:
"Nos sistemas não-lineares existe um aspecto muito significativo das bifurcações ou pontos de crise que ressalta muito bem o tempo como ‘meio de inovação’ para o qual o filósofo Henry Bergson tanto procurou chamar a atenção em seus trabalhos."
Ainda com maior antecipação, no longínquo século XVII, Spinoza alertara:
“Que haja desordem na Natureza, ninguém tem o direito de o afirmar, pois que ninguém conhece todas as causas para daí poder concluir." (Châtelet, 1995, vol. II.: 127).

A Base Científica do Liberalismo
O holandês renascentista e seus famosos hóspedes guardavam o espectro da tolerância, da relatividade científica, da quântica, da complementariedade:
“A metafísica de Espinosa prenunciou a física de Einstein." (Sylvaia Zac, cit. Jammer: 114).
O holandês contemporâneo Paul K. Feyerabend (cit. Silva: 310) distingue justamente a “tolerância” como valor cultural a ser preservado, "relativismo que devemos adotar como remédio contra a arrogância".
Mais conhecida pelo toque que embalou o marxismo e o fascismo, a relação dialética pelo prisma de John Locke, hóspede daquela Holanda e autor do Tratado Sobre a Tolerância, jamais é paradoxal, contraditória ou hierárquica. Voga o caráter integrativo dos dois pólos, o que denomino somalética, rito mais complexo, por isso também mais completo do que a simploriedade platônica da contraposição de vetores:
"Foi igualmente pela recusa do dualismo cartesiano, e pela defesa da observação e da análise contra o espírito sistemático, que Locke se impôs como 'mestre da sabedoria' aos filósofos franceses do século XVIII." (Châtelet: 228).
O mestre iluminista escrevia os acordes à modernidade:
"A ideologia política do liberalismo originou-se de um sistema de idéias fundamentais que foram, inicialmente, desenvolvidas como teoria científica, sem qualquer significação política." (Mises, 1987: 158).
Hans Kelsen (p. 105), por fim, configurou a ligação da democracia (desde que liberal) com a relatividade, fato que determinou o abandono às causas que lhe fizeram famoso:
"A concepção metafísico-absolutista está associada a uma atitude autocrática, enquanto à concepção crítico-relativista do mundo associa-se uma atitude democrática."
Carlos Lacerda (p. 50) seguramente não o leu, mas de certa forma o repetiu:
"A democracia só é possível onde os homens, em sua maioria, tomam consciência da relatividade das soluções. Do contrário, o que domina é o sentimento, tipicamente totalitário, das soluções absolutas – ou absolutistas. "
Por ironia, é a própria ciência que, pela matemática endeusada, deparou-se com a paradoxal impossibilidade da verdade absoluta: "A Teoria da Relatividade Geral freqüentemente é considerada a derrota final do absolutismo.” (Ray: 179).
A má temática da matemática
O Grande Relativo recolocou o instrumento no devido lugar:
"As teses de matemática não são certas quando relacionadas com a realidade, e, enquanto certas, não se relacionam com a realidade." (Einstein, 1997: 15).
Em 1931 o matemático austríaco Kurt Gödel (Strathern: 243) demonstrou cabalmente, em famoso teorema: “a matemática era incompleta, não podendo jamais alcançar a certeza absoluta.”
Max Born também escreveu, para dizer que não entendia como era possível conciliar um universo totalmente mecanicista com a liberdade da ética individual:
"Um mundo determinista é, para mim, um mundo muito aborrecido” (cit. Brian: 374).
Embora até se pareça, o Universo não é um simples relógio:
Antes pensava-se, por exemplo, que se pudéssemos conhecer todas as partículas e forças do universo, seria possível prever exatamente todo o futuro do cosmo. Já as descobertas do século XX comprovaram que isto é impossível, devido não à nossa ignorância, mas à íntima natureza da realidade.
(Giulio Meazzini, A Trama Profunda do Real; revista Cidade Nova. Vargem Grande Paulista, abril de 2002: 36).
"Significa que quanto maior a precisão na determinação da posição da partícula quântica, maior a imprecisão relativa a seu momentum." (Lima, M.: 31).
O gênio recomendou:
Einstein insinua que a ciência se deve ocupar, em primeiro lugar, não de noções que, na sua essência, estão marcadas por uma grande carga metafísica, como as de 'força' e 'matéria', mas antes daquilo a que agora chamamos 'intersecções’ no espaço-tempo de linhas do universo. (Holton: 127).
A Reversão da Ciência

Outra noção que chegou ao mundo da ciência como um soco no estômago, trazida pela Teoria do Caos, foi o reconhecimento de que, a partir de uma certa escala de considerações, é impossível separar as coisas, resolvê-las individualmente e depois tornar a juntá-las para obter a solução final. Idem para a proporcionalidade de causa e efeito. Causas pequenas se amplificam em efeitos catastróficos.
(Nobrega, 1996: 242/3).
George Soros (p. 48) leva o princípio às relações humanas:
"Na teoria, a incerteza seria suscetível de eliminação mediante a introdução da premissa heróica do conhecimento perfeito. Mas esse postulado é insustentável, pois ignora o fato de que as pessoas são livres para exercer opções."
A ciência quântica e a teoria da relatividade afastaram a possibilidade do conhecimento exato e absoluto, demonstrada a nossa incapacidade na coleta de todas as variáveis que influenciam sujeito e objeto, participantes e tabuleiros; o desafio restringe-se a meras aproximações - o que dizia Adam Smith.
Soros (p. 81) reconhece:
Longe de serem desprovidas de sentido, sustento que as proposições cujo valor de verdade é indeterminado são ainda mais significativas do que aquelas cujo valor de verdade é conhecido.
Quando cheguei a essa conclusão, considerei-a um grande insight. Agora que as ciências naturais não mais insistem numa interpretação determinística de todos os fenômenos e o positivismo lógico se desvaneceu nos bastidores, sinto-me como se estivesse açoitando um cavalo morto.
Pois quando quiser açoitar um vivo, basta vir ao Brasil.
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