As origens da civilização da Segunda Onda são controvertidas. Mas a vida não mudou fundamentalmente para um grande número de pessoas até aproximadamente trezentos anos. Foi quando surgiu a ciência newtoniana. A máquina a vapor era utilizada pela primeira vez. Junto com as novas fábricas, proliferavam-se pela Grã-Bretanha, França e Itália. Os camponeses começaram a se mudar para as cidades. Idéias arrojadas passaram a circular: idéia de progresso; a estranha doutrina de direitos individuais; a noção roussoniana de um contrato social; o secularismo; a separação da Igreja do estado; e a nova idéia de que os líderes deveriam ser escolhidos pela vontade popular, não por direito divino. (1)
O êxodo rural jogou os agricultores para alistamentos em quartéis ou parques fabris. Produção e organização, "com razão", trituram o indivíduo:
“A sociedade industrial fundou o seu sistema em grandes organizações coletivas: na fábrica, nos partidos, nos sindicatos e nas instituições.”
(2)
O sagrado mudava de enderêço:
"A ciência havia destronado a teologia, colocando no altar a deusa da Razão. Saint-Simon acreditava encontrar-se numa situação similar à de Sócrates, que havia suplantado as deidades do politeísmo em favor do monoteísmo."
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Platão, contudo é quem merece a primazia:
A questão é ontológica: o que deve ser o mundo real para que a ciência desse mundo possa converter-se numa ciência matemática. Neste sentido, a ciência moderna, desde suas origens, seria uma ciência platônica: o sentido do platonismo era o matematismo. (4)=
Um Estado Lamentável
Para tudo fazer, para todos atender, mister que o poder tudo possa:
Refiro-me à representação moderna do Estado que designo como poder uno, separado, homogêneo e dotado de força para unificar, pelo menos de direito, uma sociedade cuja natureza própria é a divisão das classes. É esta figura do Estado que designo como a nova morada de Deus. (5)
E o cidadão, que nada possa:
“O chefe deve mostrar constantemente o caminho ao povo, que não conhece sua verdadeira vontade; deve fazê-lo ver as coisas como elas são – ou como devem lhe parecer.”
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O momento se fazia adequado para se apresentarem os condutores dessa força imensa. Marx descobriu a senha e acendeu o pavio da discórdia social;
cadinho antes, Darwin atingira o último baluarte eclesiástico: além do homem não estar mais no centro do universo, sequer era filho de Deus, senão do macaco.
Tocqueville prognosticou a emergência do
Grande Irmão:
É o único agente de felicidade; ele lhes proporciona segurança, prevê e supre suas necessidades, facilita-lhes os prazeres, manipula suas principais preocupações, dirige as indústrias, regula a transmissão de propriedades e subdivide as heranças - o que resta senão poupar-lhes todo o cuidado de pensar e a preocupação de viver? Assim, cada dia se torna o exercício da livre ação menos útil circunscreve a vontade em um âmbito mais reduzido. Ele cobre a superfície da sociedade com uma trama de pequenas regras complicadas, minuciosas e uniformes, através das quais as mentes mais originais e as personalidades mais dinâmicas não conseguem passar. A vontade do homem não é esfacelada, mas amaciada, dobrada e guiada. Um tal poder não tiraniza, mas oprime, enerva, extingue e entorpece um povo. A nação nada mais é do que um rebanho de animais trabalhadores e tímidos, dos quais o governo é o pastor. (7)
Tal assertiva veio ao mundo há dois séculos. De que modo pode permanecer em cartaz?
Aprecie:
O rebanho e a alcatéia
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