sexta-feira, 28 de março de 2008

Iluminismo para acabar com o apagão

O que nos falta é radicalizar a ideologia iluminista, que os Estados Unidos deixaram para trás. A concepção moderna de mundo não admite que haja um universal positivo. É por isso que a concepção moderna de mundo é não-religiosa. Hoje temos cada vez mais medo da diversidade. O Estado brasileiro nos dá freqüentes provas disso. Montesquieu já dizia que as leis ruins prejudicam as boas. Mas no Brasil de hoje, tudo tem de ser regulamentado. Isso é um perigo. Temos de ter um mínimo de lei absoluta para ter um máximo de experimentação. Mas o que se dá no Brasil é o contrário, temos o máximo de lei e um espaço cada vez menor para experimentar. Antônio Cícero* -
O ILUMINISMO não determinou o fim do Estado. Por certo não há mesmo a imperiosidade dele, Estado, acompanhar o fim de tudo, de Fukuyama a Ormerod. Isso poderia significar até mesmo o fim do próprio homem. O Estado pode e deve ser uma racionalidade a serviço da gente. O seu tamanho é que deve ser contido. Sua abrangência, restrita. A racionalidade não se coaduna na ficção, na tapeação, na perfídia ora encetada até pela mídia. Mister alterarem-se funções e, por conseguinte, responsabilidades.
A grande epopéia das Luzes incluía no mesmo movimento o justo e o belo. Organizava um afresco tranquilizador da natureza e da sociedade. Os romances de aprendizagem diziam como se conduzir e se comportar. Ora, as indicações foram se desagregando nas sociedades industriais contemporâneas.
Descamps: 27
Não há por que continuarmos com o excessivo culto.
A revolução que está começando questionará não só a sociedade capitalista como também a sociedade industrial. A sociedade de consumo tem de morrer de morte violenta. A sociedade da alienação tem de desaparecer da história. Estamos inventando um mundo novo e original. A imaginação está tomando o poder.
Mortimer, Edward, The Times, Londres, 17/5/1968 cit. Roszak: 33
Vivemos em tempos reais e virtuais. A humanidade ora respira mais liberta; e pode usufruir de novos horizontes, sem abandonar o Universo, em expansão:
A consciência humana está transpondo um limiar tão importante como o que transpôs da Idade Média para a Renascença. O homem está faminto e sedento após tanto trabalho fazendo o levantamento de espaços externos do mundo físico começa a ganhar coragem para perguntar por aquilo que necessita: interligações dinâmicas, sentido de valor individual, oportunidades compartilhadas, efeitos. Nosso relacionamento com os símbolos de autoridade do passado está se modificando, porque estamos despertando para nós mesmos como seres, cada qual dotado de governo interior. Propriedades, credenciais e status não são mais intimidativos. Novos símbolos estão surgindo: imagens de unidade. A liberdade canta não só dentro de nós, como em nosso mundo exterior. Sábios e videntes previram esta segunda revolução. O homem não quer se sentir estagnado, o que deseja é ser capaz de mudar.
Richards, M. C., The Crossing Point, 1973; cit. Ferguson: 57
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Utopia realizada
Por isso o físico nuclear Richard Feynman (p. 14) assim abria suas palestras:
“Não há praticamente nada do que vou dizer esta noite que não pudesse já ter sido dito pelos filósofos do século XVII”.
Para encerrá-las, o pesquisador de Los Alamos trocava o “vou dizer” por “eu disse“; e praticamente repetia as concepções de Locke e Smith:
Nenhum governo tem o direito de decidir sobre a verdade dos princípios científicos nem de prescrever de algum modo o caráter das questões a investigar. Também nenhum governo pode determinar o valor estético da criação artística nem limitar as formas de expressão artística ou literária. Nem deve pronunciar-se sobre a validade de doutrinas econômicas, históricas, religiosas ou filosóficas. Em vez disso, tem para com os cidadãos o dever de manter a liberdade, de deixar os cidadãos contribuírem para a continuação da aventura e do desenvolvimento da raça humana. Obrigado.
(Feynmann: 14)
Foucault (1997:92) de certo modo o consagra:
Não se pode, portanto, dizer que o liberalismo seja uma utopia nunca realizada - a não ser que se tomem como núcleo do liberalismo as projeções que ele foi levado a formular a partir de suas análises e críticas. Não é um sonho que se choca com uma realidade e nela deixa de se inscrever. Ele constitui - e nisso está a razão de seu poliformismo e de suas recorrências - um instrumento crítico da realidade: de uma governabilidade à qual se opõe e de que se quer limitar os abusos.
Cientistas jurídicos contemporâneos também reconhecem:
Podemos dizer, portanto, que cada homem é seu primeiro legislador. Repetimos: a pessoa humana é o critério, o sistema de referência, a medida para a determinação de todos os valores. O ser humano, o ‘eu’ é razão do dever-se. Esta é a norma fundamental da ordem ética.
Telles Jr.: 213
Vanguardeiros da Economia se alinham:
Existe uma acentuada complementariedade entre a condição de agente individual e as disposições sociais: é importante o reconhecimento simultâneo da centralidade da liberdade individual e da força das influências sociais sobre o grau e o alcance da liberdade individual. Para combater os problemas que enfrentamos, temos que considerar a liberdade individual um compromisso social. Essa é a abordagem básica que este livro procura explorar e examinar. A expansão da liberdade é vista, por essa abordagem, como o principal fim e o principal meio do desenvolvimento. O desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de agente.
Sen, 2000:10
A nova ciência
O ano de 1960 foi um marco para os estudos sobre Locke. Em um só ano, além da edição crítica de Laslett, já lembrada, foram publicadas três monografias importantes (2) que representam muito bem o interesse renovado pelo filósofo do liberalismo e do cristianismo racional. Todas as três enfatizam Locke moralista e político, mais do que o teórico do conhecimento, sobre o qual se havia detido especialmente os trabalhos e a crítica precedente.
Bobbio, 1997: 78
A Teoria da Relatividade, a energia nuclear e a realidade virtual glorificam Locke, Spinoza, Smith e a sua Mão Invisível, e isso mencionamos de modo exaustivo. A sustentação é corroborada por quase todos os pesquisadores contemporâneos, de todos os ramos científicos:
Para o biólogo Stuart Kauffmann, um dos criadores da Ciência da Complexidade, a vida é um fenômeno que emerge devido à junção de órgãos individuais. Através do uso de simulações por computador, Kauffmann demonstrou que existe 'ordem de graça', uma cristalização espontânea de ordem nos sistemas dinâmicos complexos, sem a interferência do processo de seleção natural ou qualquer outra força externa.
Cit. Gleiser, I.: 59
Prigogine (cit. Pessis-Pasternak: 39) concorda:
A pesquisa atual se volta para a incorporação de elementos aleatórios em um número cada vez maior. Isso é verdade tanto para a cosmologia de Hawking quanto para o estudo dos insetos sociais que são tão qualificados como Pierre Paul Grassé ou Rèmy Chauvin insistem sobre o papel do aleatório no comportamento social.
O Iluminismo nunca esteve tão cercado de verdades; e Maquiavel, Descartes, Hobbes, Rousseau, Hegel, Comte, Malthus, Darwin, Marx, Freud e Keynes tão desmascarados. Desabastecido seu trem, não vão mais a lugar nenhum. Já podemos e devemos escolher o destino e a função que melhor aprouver, em grupo, com par, ou individualmente. Utópico? Exagero? Talvez nem tanto; por isso concordamos com Feynman e Foucault: o primeiro ensaio aconteceu, de verdade, por fatos, há três séculos, na geração inglesa que fincou os básicos preceitos de respeito ao indivíduo, ao cidadão, para louvor da democracia; e, por teoria, além daquela que impulsionou estes fatos, as de Gasset, Einstein e Planck - corpos são livres, mas se respeitam e cooperam uns com outros. Na aridez científica não há mais assunção de miragens ou de fantasmas; muito menos espaço ou tempo a trapaças. Por ela resplandece a real silhueta do paraíso sempre lembrado, que pode ser diferente a cada um, mas é esperado por todos:
"De fato, a vida no espaço cibernético parece estar se moldando exatamente como Thomas Jefferson gostaria: fundada no primado da liberdade individual e no compromisso com o pluralismo, a diversidade e a comunidade." (Naisbitt: 96).
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Belo Horizonte
É possível e necessário abrir os olhos para ver e viver, conhecer, trabalhar, criar, amar, ser feliz, solidário, cada qual a seu modo, para que cada ser possa se responsabilizar por sua respectiva atitude.

Daí a cibercultura ser herdeira da filosofia iluminista do século XVIII, pois incentiva o debate e a argumentação, retomando e aprofundando os antigos ideais de 'emancipação e exaltação do humano'
LÉVY, Pierre, Cibercultura. - Editora 34: 256;

O big-bang do nascimento e a expansão pessoal que lhe corresponde não pode e não deve ser abafado, truncado ou alterado por nenhum sistema ou interesse alienígena. O cidadão tem direito, pelo menos, à sobrevivência, à sua realização. Além e afinal, seja para cima, para frente, para dentro ou para fora, para um ou para vários lados, ou até no mesmo lugar, seu alcance e vontade transcendem qualquer ideologia. A cada dia mais gente sabe disso. Cada vez menor é a resistência.
A realidade pulula, a vida pulsa; e Einstein (Arquitetos de Idéias; cit. Trattner, apresent.) conclama:
Atrás fica o porto. O vento enfuna as velas.
Acolá se estende o tenebroso mar.
Meus marinheiros,
Companheiros de batalhas e vigílias...
... Vinde amigos:
Inda é tempo de buscar um mundo novo.

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