sexta-feira, 7 de março de 2008

A tragédia científica da proposição "social"

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O BRADO LETAL arrasta os povos para o protetorado social, para baixo da asa da grande galinha.
De um lado, a de proveta, temida adversária da Nação - a Internacional Socialista - bomba de efeito mundial: os estados deveriam ser dominados por “elites de trabalhadores” que controlariam todos os meios de produção, independentemente de quaisquer fronteiras nacionais, ao tempo em que preparariam o suicídio ou assassinato dele, Estado, para a obrigatória universalidade comunista.
Dessarte, a França quedou socialista no meado do XIX.
De outro, o prenúncio terrorista serve a que falsos heróis nacionalistas assaltem o comando escudados de razão, como acontece na Venezuela e alhures, de certo modo até nos EUA, desde Roosevelt muito chegados num fascismo.
Políticos calejados sabem que o trem do romantismo histórico atrai imprescindíveis seguidores, na categoria de defensores da Pátria. Exigem que seu povo, ao invés de sofrer convulsões internas advindas de choques de empregados contra patrões, contribua para as lutas externas, Nação contra Nação. Resplandeceu a "ciência social" de Bismarck.
Ambas ideologias eram, e por bizarro ainda são propaladas como necessárias. São todavia, interessantes, especialmente porque aos olhos da ingênua população se mostram democráticas, justas, sociais.
Para atingir a virtude, tome lutas, alternâncias de ditaduras entremeadas com escassas democracias de variada índole, despotismos e arremedos, predispondo antagonismos domésticos e internacionais, os últimos também comprometendo os movimentos internos - tudo ainda mais lamentável pelas comparações:
A Europa viu, durante séculos, muitos princípios ideológicos opostos na sua disputa pelo governo dos povos e viu, por algumas vezes, recusarem-se estes a toda a organização social. Tal espetáculo não se encontra, nem na Grécia, nem na Itália antigas; a sua história não começou por conflitos e as revelações só mais tarde ali surgiram. Entre estas populações, a sociedade formou-se pouco a pouco, lenta e gradualmente, passando da família à tribo e da tribo à cidade, mas sempre sem lutas nem convulsões. A realeza estabeleceu-se, muito naturalmente, primeiro na família e só depois mais tarde na cidade. Não foi ideada pela ambição de alguns; nasceu de necessidade manifestamente coletiva. Durante longos séculos, exerceu-se pacífica, honrada e obedecida. Os reis não tinham precisão da força material; não tinham exército nem finanças, mas a sua autoridade, sustentada por crenças possantes e cultivadas no comando da alma, mantinha-se santa e inviolável. (1)
Ah, doce época! Nem Maquiavel, muito menos Marx se esperava.
Na confusão de Paris (1848), lá estava o astuto com Engels oferecendo ao mundo o célebre Manifesto Comunista. O companheiro do Quartier Latin, Bakunin, presta o testemunho:
Eu e Marx éramos amigos naquela época e nos víamos com frequência. Eu o respeitava pela sua sabedoria e pela dedicação séria e apaixonada, ainda que misturada a uma certa dose de vaidade, à causa do proletariado. Costumava ouvir atentamente sua conversa inteligente e instrutiva, mas não havia intimidade entre nós. Nossos temperamentos não se adaptavam: ele me chamava de idealista sentimental - e estava certo. Eu o chamava de vaidoso, traiçoeiro, e ardiloso - e também estava certo!
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O que Marx sabia era mistificar:
“A dialética de Hegel, revista e corrigida por Marx, pretende impor uma perfeita transparência no domínio humano, capaz de tudo explicar.” (3)
Japiassú critica a técnica empregada:
“O gênio de Marx e a lucidez de suas análises nada ganham com tais malabarismos verbais.” (4)
Um dos mais notáveis sofismas marxistas, inspirado em Rousseau, é dizer que “somos condenados obrigatoriamente a viver na liberdade, porque assim nascemos; logo, não somos livres por completo, pois não podemos escolher nascer presos.”
Ora, quem escolheria tamanho disparate? Poder-se-ia dizer que não temos escolha, porque não podemos nascer mortos?
Todos nos rendemos às leis naturais. Não podemos nascer no futuro; só enxergamos quando há luz; mastigamos com dentição; mau odor ninguém gosta e, expondo-nos por muito tempo ao sol, afetamos a pele. Como disse Ortega Y Gasset, “somos nós e nossas circunstâncias”, mas uma afirmação categórica de que a chuva molha não qualifica seu autor, tampouco significa que não temos escolha.
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A influência de Ricardo
No tempo de Ricardo as circunstâncias econômicas giravam no domínio da terra. A preocupação recaia na eventual escassez de alimentos, somada à necessidade de transportes, posto a massificação das cidades pelas novas fábricas. David Ricardo, todavia, enfatizou a peculiaridade de seu sistema de averiguação, próprio apenas ao seu país, até pela restrita formação geográfica, não recomendando aplicar os mesmos métodos a estádios diferentes, num brilho de prudência. Karl Marx, o tomou como linha, juntou o que lhe interessava e deitou-se a montar seu esquema:
Tinha Marx um mestre, então? Sim. A verdadeira compreensão de sua economia começa quando se reconhece que, como teórico, Marx foi discípulo de Ricardo, mas também no sentido muito mais significativo de que, com Ricardo, aprendera a teorizar. Marx sempre usou os métodos de Ricardo e cada problema teórico se lhe apresentava revestido das dificuldades que lhe ocorriam em seu profundo estudo de Ricardo e de suas sugestões, para investigações posteriores, que encontrava nos escritos do mestre. O próprio Marx reconhecia isto, em parte, embora, naturalmente, não admitisse que sua atitude para falar, diversas vezes, em excesso de população e de população excedente e, novamente, da mecanização que cria excesso de populações e vai então para casa tentar resolver o problema. (5)
Bohm-Mawerk apontou a esperteza de Marx:
“Marx agravou o erro de Ricardo e sua falácia consiste numa seleção tendenciosa de evidências.” (6)
Carlos Galves, em Elementos de Economia Política, obra destinada a iniciantes, situa a disciplina no âmbito das ciências em geral. Aponta o malefício de torná-la gerente de nossas vidas:
Como estuda apenas um aspecto da vida humana - o aspecto econômico da vida - a Economia é uma ciência parcial. Não pode, por isso, pretender explicar toda a vida humana, ou a vida humana em todos seus aspectos. Pelo contrário, exige o auxílio das outras ciências do homem, para poder ser bem entendida e aplicada. E, por sua vez, auxilia essas outras ciências. A doutrina marxista ou socialista é que pretende, erroneamente, que a Economia explique toda a vida individual e social do homem, ou a vida em todos os seus aspectos. (7)
A “ciência” marxista se dá mal por essas nuances:
Marx, portanto, não formulou um nexo sistemático entre sua crítica da economia política e a lógica das ciências modernas. Um mundo recoberto de entroncamentos viários seria tão impensável a Marx quanto um mar do Norte contaminado ou a monstruosidade de um tomate com genes de peixe. Mas assim é nossa realidade atual. (8)
A tese, de científica, só tem o desejo:
Se o capital e o trabalho são, em última instância, sinérgicos, como insistir nas políticas sindicalistas de confronto, apoiadas nos velhos paradigmas da luta de classes? ... e aquela mentalidade anti-empresarial apoiadas na crença do lucro como exploração e na teoria de que os ricos ficam mais ricos, enquanto os pobres ficam mais pobres? Enfim, como oferecer suporte lógico a teoria central da obra de Marx, qual seja, a da luta de classes e motor da historia? A deposição de tais crenças, teorias e conceitos equivale a uma verdadeira revolução epistemológica e a uma revogação do paradigma marxista. Depois de erguer-se com tanto brilho, o edifício teórico construído pelo autor de O Capital parece tombar em ruínas, nada dele restando senão escombros conceituais. Inacreditavelmente, doravante, seria tudo ao contrário: capital e trabalho não mais seriam fatores antagônicos, seriam fatores sinérgicos! A disjuntiva capital e trabalho - base do paradigma marxista - não mais prevaleceria e deveria ser substituída pela conjuntiva capital e trabalho! Onde existia puro antagonismo e conflito existem agora enriquecimento mútuo e recíproco. (9)
A luta de classes não é paradigma, mas paradogma. Assim comentaram John Locke, Adam Smith e Abraham Lincoln, (1809-1865) este do alto do exemplo de colonização norte-americana, coisa que certamente Karl não conhecia:
O trabalho é anterior ao capital e independente dele. O capital nada mais é do que fruto do trabalho. Não existiria se o trabalho não tivesse existido primeiro. O trabalho é superior ao capital e merece uma consideração mais elevada. Todavia, o capital tem direitos dignos de serem protegidos, como qualquer outro direito.(10)
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Notas
1. Coulanges, F., A Cidade Antiga, p. 219.
2. Bakunin, cit. Woodcock, G., p. 36
23 Marx, Karl, cit. Japiassú, Hilton, Nascimento e Morte das Ciências Humanas, p. 104.
4. Idem, ibidem.
5. Schumpeter, Joseph A., Capitalismo, Socialismo e Democracia, p. 32.
6. Bohm-Bawerk, Eugen von, A Teoria da Exploração do Socialismo-Comunismo, p. 3.
7. Galves, Carlos, Elementos de Economia Política, p. 25.
8. Marx. K. cit. Kurz, Robert, A capitulação final dos ambientalistas, tradução de José Marcos Macedo, Folha de São Paulo, 3/12/2000, caderno Mais, p. 16
9. Mascarenhas, Eduardo, p. 202.
10. Lincoln, Abraham, cit. Challita, Mansour, p. 157.

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