terça-feira, 18 de março de 2008

Somalética, uma postura quântica.

=
Por isso não é de estranhar que muitos universitários ainda imaginem Einstein como uma espécie surrealista de matemático, e não como descobridor de certas leis cósmicas de imensa importância na silenciosa luta do homem pela compreensão da realidade física. Eles ignoram que a Relatividade, acima de sua importância científica, representa um sistema filosófico fundamental, que aumenta e ilumina as reflexões dos grandes
epistemologistas - Locke, Berkeley e Hume. Em conseqüência, bem pouca idéia têm do vasto universo, tão misteriosamente ordenado, em que vivem..
.Lincoln Barnett (1).
O PORTA-AVIÕES mecanicista afundara já no primeiro quartel do século XX, mas a ex-quadrilha marxista-positivista-utilitarista-determinista-dialético-messiânica, atacando no mar da ficção, tardou em tomar ciência da chocante novidade. Alguns ainda nem acreditam. Não medem esforços, todos empíricos e infrutíferos, ao restabelecimento da arena na qual sempre se refastelaram. O certo, porém, é que o campo alagou. O materialismo é apenas ilusão:
“Além da estrutura atômica da matéria, há uma espécie de estrutura atômica da energia” (Planck, M., cit. Einstein, 1994: 241),constante universal:
Nos anos 20, os físicos, liderados por Heisenberg e Bohr, constataram que o mundo não é uma coleção de objetos distintos; pelo contrário, ele parece uma teia de relações entre as diversas partes de um todo unificado.
Capra, 1995: 15
A ordem é multiforme:
“Há infinitos universos paralelos formando ramificações. Em cada um se atualiza uma realidade.” (Toffler, e Toffler: 20).
O que vemos é apenas um aspecto, de tantos existentes. Se aqui é noite, lá é dia. Se uma moeda mostra cara, ao universo mostra coroa, mas sem antagonismos, sem forças conflitantes.
Nos ecossistemas resplandece a teia, a importância dos vínculos, a tendência à associação, até à cooperação entre elementos ligados por diversas razões, mas sem imperiosidade determinística, jamais abdicando os "participantes" da originalidade, das características e respectivas vocações:
"Isto faz dos seres vivos elementos numa vasta rede de inter-relações que abarca a bioesfera de nosso planeta – que em si mesma é um elemento interligado dentro das conexões mais amplas do campo psi que se estende pelo cosmos." (Laszlo: 198).
O conceito de um mundo sutilmente interligado, um oceano cósmico no qual estamos intimamente ligados uns aos outros e à natureza, assimilado por nosso intelecto e abraçado por nosso coração, poderá talvez inspirar novos modos de pensar e de agir que transformem o espectro de uma derrocada global no triunfo de uma renovação global – uma renovação para uma era mais humana e sustentável.
(Idem: 205).
O golpe dogmático não tem mais serventia:
Lester Thurow se utiliza desta imagem potente para invocar cinco forças econômicas que, como afirma, moldam o nosso mundo material, seja ele econômico, seja político. Para ele, essas cinco forças são: o fim do comunismo; mudanças tecnológicas para uma era dominada pela inteligência humana; uma demografia inédita e revolucionária; uma era multipolar que desconhece qualquer tipo de dominância econômica, política, ou militar por qualquer nação.
(Raimar Richers, prefácio de Thurow: 7).
Vence a liberdade, no mundo abstrato dos números, nas letras e na natureza. É vitória por terra, mar e ar:
As considerações econômicas são meramente aquelas pelas quais conciliamos e ajustamos nossos diferentes propósitos, nenhum dos quais, em última instância, é econômico (exceto os do avarento ou do homem para quem ganhar dinheiro se tornou um fim em si mesmo.
(Sen, A. : 328)
Nesta enxurrada de relatividade tudo se torna complexidade, mas fazer o quê?
Morin (1998, p. 30) amplia a idéia cerne:
“De toda a parte surge a necessidade de um princípio de explicação mais rico do que o princípio de simplificação (separação/redução), que podemos denominar princípio da complexidade.”
Ele lembra o significado: “Complexus = aquilo que é ‘tecido’ junto. Atingir a complexidade significa atingir a binocularidade mental e abandonar o pensamento caolho” (p. 215).
Anna Lemkow (p. 41) adota o mesmo modo de produção científica. Ela explicita:
Numerosos pares de opostos são um fato da existência: alegria e tristeza, bom e mau, masculino e feminino, positivo e negativo, luz e sombra, acima e abaixo, dentro e fora, sujeito e objeto, fato e teoria, permanência e mudança, universal e particular, ordem e desordem, nascimento e morte, liberdade e necessidade, um e muitos. Mas precisamos fazer nosso pensamento avançar da análise (que toma as coisas isoladas) para a síntese (que põe as coisas juntas). Numa perspectiva não dualista, os opostos são polaridades inseparáveis, mutuamente necessárias e mutuamente definidas.-
A Correção Iluminista
O caráter da relação polar vista por Locke resplandece no esteio requerido por Pascal, Edgar Morin, Lemkow e por todos modernos físicos – um leitmotiv solidário-integrativo -, uma expressão somada, algo que inventamos expressar como somalética, em vez da preconceituosa “dialética”:
Uma inteligência da complexidade não considerará mais satisfatória a ‘razão suficiente’ e dedutiva de Leibniz e a de seus seguidores – aquela que, sabendo calcular, pretende prescrever – mas clamará, antes de tudo, a ‘compreensão humana de Locke, a que, sabendo ‘que também é preciso a sombra para ver’, tentará descrever ‘trabalhando para o bem pensar’.
(Pascal, Pensées, cit. Morin, 2000: 16).
Manifesta-se o professor Miguel Reale (cit. Nader: 269) sobre o método de Locke, embora este, é bom que antecipadamente se corrija, diante da impossibilidade cronológica não poderia conhecer a dialética de Hegel. A Coruja, todavia, em nada foi original. Para Locke, bastava apreciar as perfídias doiléticas de Hobbes e Platão, para refutá-las, de antemão. Eis a análise do professor paulista sobre a peculiaridade metódica do pioneiro iluminista:
A dialética que desenvolveu é a da complementariedade que implica uma pluralidade de perspectivas, que conduzem a sínteses abertas, onde os elementos sociais alcançam sentido quando se relacionam e se complementam. Com ressalva, continua admitindo a dialética hegeliana sob a condição de que os opostos, em lugar de integrarem um processo de síntese superadora, fossem considerados componentes da dialética de complementariedade.
Os avais
“Einstein deve ser considerado o padrinho da complementariedade.” (Abraham Pais, cit. Brian: 83).
Miguel Reale lista outros clássicos que descobriram na complementariedade a chave de acesso ao conhecimento científico:
Eminentes cientistas e filósofos da Ciência como Niels Bohr, Louis Victor de Broglie, Philip Frank, Gaston Bachelard e F. Gonseth sentem a necessidade de recorrer a um novo tipo de dialética, a de complementariedade, para explicar problemas insuscetíveis de solução em termos de lógica axiomática.
(1992: 72).
Intervalo, para nanar. Uma boa noite, e um alegre despertar.
__________
Nota
1- O universo e o Dr. Einstein; ilustrações de Anthony Sodaro; tradução de José Reis; 2. ed. São Paulo: Melhoramentos, s/d, p.12.

Um comentário:

  1. Bom dia...Sensacional o seu blog.
    Que tal uma parceria(troca de banners)?
    Obrigado pela visita

    ResponderExcluir