sexta-feira, 14 de março de 2008

Juros & Depressão

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Na verdade, os interesses dos banqueiros têm sido contrários aos dos industriais: a deflação que convém aos banqueiros paralisou a indústria britânica.
Bertrand Russell

Não obstante, o que se observou no sistema financeiro internacional foi o surgimento de uma brecha entre as duas taxas: os juros incidentes sobre empréstimos bancários mantiveram-se elevados enquanto o retorno esperado de investimentos produtivos declinava." (Hilferding: 101).
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Os grandes banqueiros e industriais emergiram nessa época. Firmas de Wall Street - como Belmont, Lazard e Morgan - com apenas 15 anos de existência, ocupavam lugar de destaque na economia. Os tempos modernos da legislação para as práticas de comércio começaram em 1934.
(Gleiser, I.: 211)
No fim da estória, salvou-se a vovozinha, mas os caçadores advertiram:
Este Hobart Special do Professor Hayek chega num momento em que - depois das asneiras monetárias cometidas antes da guerra, consideradas responsáveis por precipitarem a Grande Depressão de 1929-32 e de quase um terço de século de ‘controle monetário’ (ou melhor, descontrole) pelo governo no pós-guerra, constata-se que as tentativas de controle internacional de modo algum tiveram maior sucesso - mais uma vez os economistas estão à cata de meios para retirar totalmente o controle do dinheiro das mãos do governo, ‘afastar o dinheiro da política’ caso desejem que sobreviva a sociedade civilizada.
(Arthur Seldon, prefácio de Hayek, A desestatização do dinheiro: p.3)
A elevação do juro retroalimenta a depressão por estrangulamento progressivo: “O juro não depende do valor da moeda, mas da sua quantidade” (Smith, A., Inquérito sobre a natureza e as causas da riqueza das nações, 1999: 26).
Com Keynes a relação era invertida:"A demanda de moeda depende da taxa de juros! O palco está armado para o Sr. Keynes" (Hicks, O Sr. Keynes e os Clássicos: uma Sugestão de Interpretação, Hilferding: 149).
Não interessava a observação de Franklin, (Modesta Investigação Sobre a Natureza e Necessidade do Papel-Moeda; Economistas Políticos: 177), ainda anterior a de Adam Smith:
A quantidade de dinheiro exigida para efetuar, de um modo livre e fluente, as transações de um país em determinada proporção; se for superior às necessidades, não haverá nisso vantagens para o comércio; se for inferior, muito inferior, ser-lhe-á extremamente prejudicial. A escassez de dinheiro reduz o preço daquela parte da produção que é usada no comércio, pois o desestímulo que daí resulta para o comércio restringe a demanda da produção a ele destinada. A escassez de dinheiro num país desestimula o trabalhador e os artífices (que são a principal força e sustentáculo de um povo.
O fluxo monetário é o oxigênio da nação:
E já que um abundante meio circulante virá a tornar-se uma causa importante do progresso desta província, tanto no que se refere aos negócios, ao crescimento da riqueza e ao aumento do número de seus habitantes, e embora este aumento não cause sensível redução dos habitantes da Grã-Bretanha, ele propiciará, aqui, um aumento da oferta e da procura de suas mercadorias.
(Idem: 183).
“É o sangue que corre pelas veias da produção”, como advertira o médico fundador da Economia. (2)
Aumentos rápidos da quantidade de moeda provocam inflação. Quedas acentuadas provocam recessão. Esta é uma proposição igualmente bem documentada. Não está diretamente documentada neste livro, embora sejam mencionados alguns tópicos: a depressão de 1873-79 nos Estados Unidos, os anos deprimidos do início da década de 1890, a grande retração de 1929-33 que levou Franklin Delano Roosevelt à Casa Branca e armou o palco para o programa de compra de prata da década de 1930. Com recordações do seu desastroso erro entre 1929 e 1933, quando permitiu que a quantidade de moeda caísse um terço e, com isso, transformasse uma recessão grave numa depressão desastrosa. (Friedman: 195)
Milton Friedman, (Capitalism and Freedom, cit. Peringer: 126), no seu “mais importante trabalho”, dito por ele mesmo, lembra das primeiras “atividades” do Federal Reserve: a cada ano o cidadão dispunha de menos dinheiro a ser conquistado, sumiço de cerca de 10% ao ano:
Uma escola, ao menos, - a de Chicago - nunca deixou de duvidar da potencialidade da doutrina monetarista, não tendo meios, porém, de contestar os postulados keynesianos na época, devido a falta de informações estatísticas que pudessem comprovar que as causas da depressão nada tinham a ver com a economia capitalista de livre mercado. As dúvidas persistiram até que, finalmente, Milton Friedman e Anna Schwartz vieram mostrar que os fatos apresentados por Keynes não eram tão evidentes e comprovar que as verdadeiras causas da grande depressão, ao menos nas dimensões sofridas pela humanidade, foram frutos do mau gerenciamento monetário do Federal Reserve, espécie de Banco Central daquele país, que permitiu que os meios de pagamento fossem reduzidos em um terço de 1929 a 1933.
Ilan Gleiser(P. 151). adianta:
Friedman mostrou que as autoridades monetárias haviam produzido efeitos indesejados na economia, tais como inflação e depressão devido ao tratamento errôneo da oferta de moeda. Ele culpa o Federal Reserve pela grande depressão da década de 1930, alegando que este, em um primeiro momento, reduziu a oferta de moeda devido ao medo de especulação demasiada no mercado acionário e depois não fez nada de 1930 a 1931, quando houve uma corrida aos bancos.
Em seu Tract on Monetary Reform (1923) [Friedman] alertou para o perigo da inflação e concluiu que o papel do Banco Central seria controlar a oferta de moeda na economia para garantir a estabilidade no nível de preços e manter a inflação sob controle." (Idem: 125/6)
Se era possível manter a inflação sob controle aumentando ou diminuindo sua intensidade, também seria trivial provocar a recessão, igualmente de maior ou menor incidência. Ambas contêm a mesma fórmula.
A dose foi cavalar. O mundo se prostrou. Alguém tinha que levantá-lo. Apresentou-se o causador, como salvador!
Com o susto e a desgraça geral, Keynes soube aumentar seu patrimônio pessoal: de 16.315 libras, chegou a 411.238 - equivalentes a 12 milhões de libras em valores atuais - quando morreu. (Strathern: 35)
Estamos explicados?
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1. "O nascimento da economia como ciência foi marcado pelas observações do Dr. François Quesnay (1694-1794), médico da corte de Luís XV, rei da França. Por ser médico, Quesnay comparou o fluxo do sangue no corpo com o fluxo de dinheiro em uma economia, construindo o tableau economique na primeira tentativa de modelar matematicamente uma economia mostrando as relações entre seus diversos setores" (Gleiser, I.: 89)


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