sexta-feira, 14 de março de 2008

O Planejamento da Depressão

-ENQUANTO Stalin, Mussolini e Hitler se agadanhavam do poder, . A alcatéia e o esperto Keynes  vislumbraram a freeway: Keynes (cit. Strathern: 224) publicou a “oração fúnebre do liberalismo”, vaticínio intitulado O fim do Laissez-Faire.

Estamos hoje no meio da maior catástrofe econômica – a maior catástrofe devida quase inteiramente a causas econômicas – do mundo moderno. Sustenta-se em Moscou a idéia de que é a crise final, culminante no capitalismo e que nossa ordem existente da sociedade não sobreviverá a ela
Em apenas três anos a Grande Depressão confirmou o prenúncio, granjeando-lhe a fama. Premonição ou autoria? Peringer (p.6) entende pela primeira:
Keynes teve, porém, a inteligência de, primeiramente, ter apresentado uma análise alternativa para explicar os fenômenos depressivos de sua época que pareciam encontrar suporte nas evidências dos fatos, provocado pela Grande Depressão, e, em segundo lugar, inserir o seu pensamento dentro de um arcabouço teórico bem fundamentado. Ademais, mesmo apresentando uma teoria muito bem estruturada para sua época, nunca colocou qualquer dúvida na validade da equação quantitativa da moeda, apresentando, apenas, novas funções a algumas de suas variáveis. 
Especulamos pela segunda:
Antes de Keynes os governos liberais temiam, com razão, perturbar os equilíbrios econômicos se manipulassem a moeda, o orçamento, o imposto, as taxas de juros. A partir de então, tendo justificativas para atuar nesta direção, a estatização se torna 'científica', intelectualmente respeitada. (Sorman, 1989: 54/55)
Em America's Great Depression (1963), Murray Rothbard situa o processo econômico que levou ao colapso de 1929, mercê da "escabrosa depressão por causa das políticas implementadas pelo governo Herbert Hoover."   Hoover "um planejador intrometido, mandão e exortador". adquirira fama no mundo inteiro durante a guerra gerenciando programas de assistência; em seguida ocupou importantes posições na área econômica ao longo dos anos 1920, até instalar-se na própria Casa Branca em 1929.
A Grande Depressão de 1929 começou com quebras bancárias que ocorreram porque o Fed parou repentinamente de expandir a oferta monetária. Os bancos — que praticavam reservas fracionárias — começaram a restringir empréstimos e a pedir a quitação de empréstimos pendentes.  As pessoas se assustaram com a situação e correram para sacar seu dinheiro dos bancos.  Por causa das reservas fracionárias, isso gerou uma série de falências bancárias.  Essas falências bancárias geraram uma forte contração na oferta monetária — consequentemente, uma recessão.  Tal recessão não precisaria durar mais de um ano caso o governo americano permitisse ampla liberdade de preços e salários, de modo que estes se adequassem à nova realidade da oferta monetária.  Porém, o governo fez exatamente o contrário: ele implementou políticas de controle de preços, controle de salários, aumento de tarifas de importação, aumento de impostos, aumento de gastos, aumento do déficit e estimulou uma arregimentação sindical de modo a impedir que as empresas baixassem seus preços. Resultado: a recessão foi prolongada por 15 anos.
 O método se impunha por prático, viável e oportuno, sem requerer qualquer pudor ou piedade:
Examinando com acuidade o significado dessa crise na passagem da democracia liberal para a democracia social, Gustavo Radbruch excelentemente escrevia, ao abrir-se a década de 1930, que em semelhante estado de coisas não se trata de convencer o competidor, mas de coagi-lo ou esmagá-lo, pois a luta pelo poder substitui em definitivo a luta pela verdade.
(Bonavides: 280)
Os destemidos yankees e o mundo inteiro se renderam à estorinha: Keynes, e não mais o mercado, comandaria as escolhas.
O capitalismo de livre empresa, um mercado onde perdurassem a competição e a livre iniciativa, passou a ser considerado como instrumento de exploração do povo, enquanto uma economia planejada era vista como alavanca que colocaria os países no caminho do desenvolvimento. Caberia ao Estado, portanto, o controle da economia doméstica, das importações e a alocação dos investimentos de maneira a assegurar que as prioridades sociais se sobrepusessem à demanda egoísta dos indivíduos.
(Milton Friedman, Capitalism and Freedom; cit. Peringer: 126)
A guinada mercantilista exigiu o poder concentrado:
“A década de 1920 marcou um período de consolidação e a criação de oligopólios.” (Gabor: 96)
"Divisas estrangeiras haviam inundado os Estados Unidos durante a década..." (Parker, S.:25)
"Hoover, que era secretário de comércio durante os anos 20, considerava Wall Street um cassino deplorável. No entanto, era o mais assíduo promotor do mercado internacional de ações." (Johnson: 194)
"Recessões e quedas na Bolsa de Valores não eram apenas costumeiras, mas também partes necessárias do ciclo de crescimento: elas separavam o joio do trigo, liquidavam com os malsãos da economia e repeliam parasitas." (Johnson: 215)
Diagnosticada a síndrome, o doutor se efetivaria:
“A extensão da depressão americana sem causa foi o fato assoberbante que a teoria geral propunha-se a explicar.” (Skidelsky: 24)
"Ocorre ao mesmo tempo o uso da linguagem keynesiana para reestrutar a doutrina mercantilista e o mecanismo da taxa de juros, cujo desenvolvimento pleno ocorreria apenas na época do próprio Keynes, com o surgimento dos bancos centrais." (Schwartz: 69)
O Lord conhecia a única vilã da depressão econômica - a escassez monetária – , mas os financistas com ela lucravam duplamente:
“Por conseguinte, os devedores tendem a perder com a deflação, e os credores, a ganhar.” (Friedman: 114)
Não existe ramo credor além do bancário; tampouco maior devedor do que o produtivo; mas o dissimulado articulador dos meios de pagamento imputava os distúrbios financeiros e criminais à “demanda egoísta” dos participantes, dos indivíduos.
"A grande retração de 1929-33 levou Franklin Delano Roosevelt à Casa Branca e armou o palco para o programa de compra de prata da década de 1930." (Friedman: 242)
Em seguida, as portas de Wall Street foram cerradas. Dentro se dividiram os despojos:
"A grande depressão reduziu as poupanças pessoais de US$4,2 bilhões em 1929 a uma descapitalização líquida de US$600 milhões em 1932 e reduziu os ganhos retidos das firmas de negócios de US$16,2 bilhões para menos de um bilhão."
(Pipes, 2001: 183)
Havia muito mais em jogo, pois, além da burla ideológica:

Os grandes banqueiros e industriais emergiram nessa época. Firmas de Wall Street - como Belmont, Lazard e Morgan - com apenas 15 anos de existência ocupavam lugar de destaque na economia. Os tempos modernos da legislação para as práticas de comércio começaram em 1934.
(Gleiser, I.: 211)
A tunga cresceu por todos tentáculos: "O imposto sobre rendimentos regular, direto e progressivo é um subproduto do welfare state: ele passou a existir ao mesmo tempo em okque este foi justificado como necessário para financiar os grandes gastos que os serviços sociais demandavam." (Galbraith, 1968: 245).
Os americanos se resignavam diante da forjada dicotomia: "O welfare state não se originou de um projeto socialista, mas tornou-se cada vez mais atraído para a órbita do socialismo, pelo menos o de tipo reformista."
(Giddens, 1996:170)
Isso era apenas cortina-de-fumaça:

O Estado de bem-estar era um ardil político: uma criação artificial do Estado, pelo Estado, para o Estado e seus funcionários. É um eco irônico da democracia de Lincoln de, por e para ‘o povo’. Quando seus bem escondidos, porém crescentes, excessos e abusos no governo central e local foram revelados recentemente, havia se passado um século de defesa falaciosa.
(Seldon: 60)
Quer que eu te conte outra vez?
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