segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Horizontes Quânticos

A consciência humana está transpondo um limiar tão importante como o que transpôs da Idade Média para a Renascença. O homem está faminto e sedento após tanto trabalho fazendo o levantamento de espaços externos do mundo físico começa a ganhar coragem para perguntar por aquilo que necessita: interligações dinâmicas, sentido de valor individual, oportunidades compartilhadas, efeitos. Nosso relacionamento com os símbolos de autoridade do passado está se modificando, porque estamos despertando para nós mesmos como seres, cada qual dotado de governo interior. Propriedades, credenciais e status não são mais intimidativos. Novos símbolos estão surgindo: imagens de unidade. A liberdade canta não só dentro de nós, como em nosso mundo exterior. Sábios e videntes previram esta segunda revolução. O homem não quer se sentir estagnado, o que deseja é ser capaz de mudar.
RICHARDS, M. C.,
The Crossing Point, 1973; cit. FERGUNSON, M.: 57
No último canto do XIX, antecipando-se a EINSTEIN por frações de segundo, HENRY POINCARÉ (cit. ABBAGNANO: 100) asseverava:
"A ciência, por outras palavras, é um sistema de relações. Portanto, só nas relações se deve procurar a objectividade: seria inútil procurá-las nos seres considerados isoladamente uns dos outros."
No quarto seguinte se escancararam as janelas do novo horizonte:
Em nosso século, o estudo da constituição atômica da matéria revelou que a abrangência das idéias da física clássica apresentava uma limitação insuspeitada e lançou nova luz sobre as demandas de explicação científica incorporadas na filosofia tradicional. Portanto, a revisão dos fundamentos para aplicação inambígua de nossos conceitos elementares, necessária à compreensão dos fenômenos atômicos, tem um alcance que ultrapassa em muito o campo particular ciência física.
BOHR, Niels, Física atômica e conhecimento humano: Introdução.
O esmerado rastreador não pode mais permanecer circunscrito às segmentações acadêmicas, às disciplinas profissionalizantes, meras técnicas.
Por isso não é de estranhar que muitos universitários ainda imaginem Einstein como uma espécie surrealista de matemático, e não como descobridor de certas leis cósmicas de imensa importância na silenciosa luta do homem pela compreensão da realidade física. Eles ignoram que a Relatividade, acima de sua importância científica, representa um sistema filosófico fundamental, que aumenta e ilumina as reflexões dos grandes epistemologistas - Locke, Berkeley e Hume. Em conseqüência, bem pouca idéia têm do vasto universo, tão misteriosamente ordenado, em que vivem.
BARNETT, L. O universo e o Dr. Einstein: 12
“O espírito não se satisfaz com a verdade científica, se moldada na seca abstração dos símbolos matemáticos, como diz A. S. Eddington, na valiosa obra sobre Space, Time and Gravitation (Cambridge, 1920).” (Cit. MOREIRA, I. C. & VIDEIRA, A. P. Orgs.: 103)
As ciências humanas edificadas naquela estrutura presumidamente correta, só podem sucumbir junto às próprias bases que lhes projetaram:
"As pesquisas atuais que se desenvolvem em setores da Filosofia, da Psicologia, da Lingüística, e mesmo da História e Arte, convergem todas para a mesma sugestão: o paradigma tradicional está, de algum modo, equivocado." (KUHN, T.:156)

A metodologia de investigação já não cabe no costumeiro empirismo:
Várias vezes, nos diferentes trabalhos consagrados ao espírito científico, nós tentamos chamar a atenção dos filósofos para o caráter decididamente específico do pensamento e do trabalho da ciência moderna. Pareceu-nos cada vez mais evidente, no decorrer dos nossos estudos, que o espírito científico contemporâneo não podia ser colocado em continuidade com o simples bom senso.
BACHELARD, G. (1972: 27)
A nova forma de visão pode talvez ser chamada de Totalidade Indivisível em Movimento Fluindo. Essa visão sugere que, de algum modo, o fluxo vem antes das 'coisas' que podem ser vistas como se formando ou se dissolvendo nesse fluxo. Nesse fluxo, mente e matéria não são substâncias separadas. Ao contrário, elas são aspectos diferentes de um movimento único e completo.
BOHM,D., Totalidade e ordem implicada: 26
Tal apreciação requer
lente “panorâmica", ao invés de microscópica. Nas palavras de EDGAR MORIN, mister "um contrabando do saber", fruto da peregrinação pelos distintos segmentos e especialidades. É pelo mosaico, pelo leque das ciências, que se apura o discernimento. Tudo o que é humano é ao mesmo tempo psíquico, sociológico, econômico, histórico, demográfico. É importante que esses aspectos não sejam separados, mas concorram para uma visão "poliocular". O cosmos, todas obras citadas, e tudo mais, se integram nessas relações:
Vivemos na Era do Conhecimento, e o conhecimento múltiplo permite associar medicina com engenharia, descobrir novas leis no mundo jurídico (as antigas já não funcionam mais), psicologia com informática, emoções com dinheiro, família com interesses, educação com criatividade, riqueza com libertação. Buscamos o ser completo.
PEREIRA, G.M.G.
Tal qual cessa tudo quanto à musa canta quando um poder mais alto se agiganta, felizmente estamos prestes a nos livrar do carma ocidental.
Assim ciência e filosofia não podem mutuamente desconhecer-se... são, uma e outra, emanação da razão e de uma razão que permanece fundamentalmente a mesma nestas duas manifestações.
E. M
EYERSON, De l’Explication dans les Sciences, Paris, Payot, 1924, t. II, p. 361.
Significa que estamos criando novas redes de conhecimento, interligando conceitos de maneiras surpreendentes, construindo espantosas hierarquias de inferência, gerando novas teorias, hipóteses e imagens, baseadas em novas suposições, novas linguagens, códigos e lógicas.
TOFFLER & TOFFLER: 42
É minha esperança que, graças à ciência e ao aperfeiçoamento das comunicações, possamos construir um mundo que apresente menos iniquidades, menos violência implícita, e, ao mesmo tempo, preservar os benefícios das civilização.
PRIGOGINE, Ilya, A ciência numa era de transição.


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