terça-feira, 25 de agosto de 2009

O atraso das ciências políticas


A filosofia mecânica forneceu uma resposta para o problema da ordem cósmica e, portanto, da ordem social, mas ao fazê-lo indicou a necessidade de poder e domínio sobre a natureza.
HENRY, JOHN: 101

Vivemos à base de idéias, de morais, de sociologias, de filosofias e de uma psicologia que pertencem ao século XIX. Somos os nossos próprios bisavós.
BERGIER, J. & PAWELS, L.,
O despertar dos mágicos: 31
De COPÉRNICO à Francesa transcorreu quase tres séculos. De EINSTEIN à Pereistroika não demorou um. Entretanto, se E=Mc2, já antes da bolchevique se sabia: o materialismo não possui, sequer, objeto.
Em nosso século, o estudo da constituição atômica da .atéria revelou que a abrangência das idéias da física clássica apresentava uma limitação insuspeitada e lançou nova luz sobre as demandas de explicação científica incorporadas na filosofia tradicional. Portanto, a revisão dos fundamentos para aplicação inambígua de nossos conceitos elementares, necessária à compreensão dos fenômenos atômicos, tem um alcance que ultrapassa em muito o campo particular ciência física. BOHR, Niels, Física atômica e conhecimento humano: Introdução
Dessarte o mundo poderia estar vivendo em Nova Era, tempo no qual as metafísicas já estivessem devidamente sepultadas, primeiro pela própria academia, de onde proveio; e em seguida, acompanhada pelas disposições sociais, como sempre aconteceu, e como a experiência direta já indicava:
A consciência humana está transpondo um limiar tão importante como o que transpôs da Idade Média para a Renascença. O homem está faminto e sedento após tanto trabalho fazendo o levantamento de espaços externos do mundo físico começa a ganhar coragem para perguntar por aquilo que necessita: interligações dinâmicas, sentido de valor individual, oportunidades compartilhadas, efeitos. Nosso relacionamento com os símbolos de autoridade do passado está se modificando, porque estamos despertando para nós mesmos como seres, cada qual dotado de governo interior. Propriedades, credenciais e status não são mais intimidativos. Novos símbolos estão surgindo: imagens de unidade. A liberdade canta não só dentro de nós, como em nosso mundo exterior. Sábios e videntes previram esta segunda revolução. O homem não quer se sentir estagnado, o que deseja é ser capaz de mudar. RICHARDS, M. C., The Crossing Point, 1973; cit. FERGUNSON, M.: 57
Talvez por nublada pelo proselitismo político-partidário, a juventude não se impôs como esperavam os prenúncios. O que apuramos é um crossover esquerda/direita, sem nenhum vínculo científico, sequer ideológico. A meta se restringe ao porão onde se aloja o cofre, reduto no qual o governante se faz mais poderoso do que os generais, mais infalível do que os divinos, e tão intocáveis quanto os grandes ditadores que tivemos de suportar:
Sponholz
Do ponto de vista filosófico, vai ficar mais difícil para os americanos defenderem o livre mercado em um momento em que o seu próprio mercado entrou em colapso. Alguns já vêem o atual momento como crucial. 'O mundo hoje se parece mais com o do século 19 do que com o do final do século 20. Não há dúvida de que o presidente Bush criou alguns de seus próprios problemas.' REYNOLDS, Paul, BBC News; Folha de São Paulo, 1/10/2008
 "A democracia fala de um governo comandado pelo povo e sujeito às suas leis; na realidade, entretanto, os regimes democráticos são dominados por elites que planejam maneiras de moldar e dobrar a lei a seu favor. (PIPES:251) Esta subversão já discernira ninguém menos do que o próprio autor da Teoria dos Tres Poderes: "Não existe tirania mais cruel do que a exercida à sombra da lei e com uma aparência de justiça, quando, por assim dizer, os infelizes são afogados com a própria prancha em que tinham sido salvos." (MONTESQUIEU, Do Espírito das Leis: 109) A minimização da mazela pode ser obtida em parte pelo método federativo.
A difusão de poder, nas esferas política e econômica, em lugar da sua concentração nas mãos de agentes governamentais e capitães de indústria, reduziria enormemente as oportunidades para adquirir- se o hábito do comando, de onde tende a originar-se o desejo de exercer a tirania. A autonomia, para distritos e organizações, daria menos ocasiões para que os governos fossem chamados a tomar decisões nos assuntos alheios. RUSSELL, B.: 24
Daquelas mal-traçadas linhas francesas, porém, vamo-nos a caminho do terceiro século, de RUSSELL a quase um, e ainda não encontramos solução:
O equilíbrio institucional na França, desde 1789, é ave rara! O amor ao direito escrito que nos entrou no sangue com a transfusão romana e nossa propensão a regulamentar por decretos não durou dois anos. A mais perfeita foi a que durou só um dia, em 1793. Foi tão perfeita que se pensa, desde então em reeditá-la. Faça a conta dos regimes que assuntos humanos, nos levam a codificar com um gesto nossas paixões do momento. Compensamos nossa inconstância através de visões eternas logo gravadas no mármore. Nossas revoluções passam primeiro pelo tabelião. Conseqüência: quinze Constituições em cento e oitenta se sucederam na França depois da Convenção: Diretório, Consulado, Primeiro Império, Restauração, Cem Dias, Restauração, Monarquia de Julho, II República, Segundo Império, III República, Vichy, de Gaulle, IV República, V República, ufa! MITTERRAND, François: 90

O Senado brasileiro se assemelha ao Senado romano em várias épocas, notadamente na fase do Imperador Julio Cesar, envolto em maracutaias, conchavos, corrupções, dossiês, privilégios, atos que em Roma eram de bastidores, longe dos olhos do povo romano e aqui externado com troca de insultos, representações por indícios de prática de ilícitos administrativos e penais, ameaças e desrespeito total a nós cidadãos brasileiros QUEIROZ, Del. Protógenes blog
"Procuradores e juízes vêem retrocesso na reforma eleitoral. Para eles o projeto já apurado na Câmara impede investigação da corrupção." (O Globo, 24/8/2009)
* * *
A rigor não há ciência, mas técnica, ainda assim obliterada, de exercício governamental.  O que chamamos "democracia" consiste tão somente numa enquete de opinião pública, na qual se pede ao incauto que diga sim ou balance a cauda em resposta a um conjunto de alternativas pré-fabricadas, geralmente relacionadas a fatos consumados.
Um homem vota em um partido e permanece infeliz; ele conclui que era o outro partido que traria o período de felicidade e prosperidade. No momento em que estivesse desencantado com todos os partidos, já seria um homem idoso, à beira da morte. Seus filhos teriam a mesma crença de sua juventude, e a oscilação contínua.
RUSSELL, Bertrand, Ensaios céticos: 121.
A condição primaz exige que o eleitor perca seu ás:
Em muitos Estados do Terceiro Mundo, o assim chamado povo soberano não é nada. Ou quase nada. Fica à margem ou ausente do jogo político, limitado a um círculo restrito. Chamam-no somente para ratificar, plebiscitar e aplaudir. [...] Sobretudo por ocasião das eleições presidenciais. SCHWARTZENBERG, R.-G.: 320
"Quanto mais facilmente os eleitores acreditarem nas forças mágicas do Estado, tanto mais estarão dispostos a votar a favor do candidato que promete maravilhas." (SOREL: 145)
"Mas quando o legislador é finalmente eleito – ah! Então o seu discurso muda radicalmente [...] o povo que durante a eleição era tão sábio, tão cheio de moral, tão perfeito, não tem mais nenhuma espécie de iniciativa." (BASTIAT: 59)
Em tempos atribulados, como os contemporâneos, muitas das lições clássicas se perderam. Os governantes encontram-se sem rumos. Parecem naus sem timoneiros.maginam-se, membros do Executivo e do Legislativo, reis absolutistas capazes de realizar as mais inconcebíveis ações, sem qualquer censura. Violam a lei. Ferem os costumes. Agridem o patrimônio público. Enriquecem sem causa.
LEMBO, Prof. Claudio, Lição dramática. - www.terra.com.br, 24/8/2009
Onde mais erramos? Cogito que a esterelidade profissional e a letargia social provenham da destruição dos mitos de outrora, sim; mas de outra parte, o grande lapso poderia já ter sido há muito ser preenchido, pela produção acadêmica. "Quem pariu Matheus que o embale". O pressuposto da maioria ser apreciada como expressão da verdade sói distanciá-la. Este preconceito provém das parelelas gregas: a força, e a matemática. Sob o ponto de vista científico, ambas foram destroçadas por EINSTEIN.
O princípio da relatividade deve ser mais geral ainda - devemos procurar a diferença de tempo nas realizações biológicas e sociais, - o tempo local das espécies e dos grupos humanos. Isto nos poderá explicar muitos fenômenos que resistem às explicações atuais. Mas para conseguir tais fórmulas muito terá que lutar o espírito humano contra os preconceitos que o rodeiam e contra as obscuridades da matéria que irá estudar. MIRANDA, Pontes de, cit. MOREIRA: 103
O mundo é regido por relações, não por jogo de forças. A matemática não vem ao caso. Relações necessitam concordâncias recíprocas. A matemática não tem nada a ver, mesmo na extraordinária proposição de NASH, a da combinação dos dados. Com essas metonímias a França, e de resto TODOS nos vemos constantemente envoltos em sucessivos golpes de Estado, sempre cobertos pela pretensa Vontade Geral preconizada por ROUSSEAU, não por MONTESQUIEU, e não poucas vezes fraudada até por mensalões.
Se estivéssemos doentes, e precisássemos de nos aconselhar com alguém, procuraríamos um médico. A última coisa que desejaríamos seria reunir uma multidão e pedir aos presentes que elegessem, através de voto, o remédio certo. WOLFF, Jonathan, Introdução à Filosofia Política. - Platão contra a democracia. Lisboa: Gradiva, 2004.
Tirante a proliferação das tumbas, nada há de novo no front ocidental. Mas a última a morrer permanece de pé: "É minha esperança que, graças à ciência e ao aperfeiçoamento das comunicações, possamos construir um mundo que apresente menos iniquidades, menos violência implícita, e, ao mesmo tempo, preservar os benefícios das civilização. (PRIGOGINE, Ilya, A ciência numa era de transição._

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