segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Entropia & Economia Política



Todo sistema natural, quando deixado livre, evolui para um estado de máxima desordem, correspondente a uma entropia máxima'.
Entropia - a flecha do tempo

Não há mosqueteiro que não se apresente empunhando a bandeira da justiça social, do utilitarismo. Diz-se politicamente correto. Apura-se, contudo, o fracasso, variante de maior ou menor intensidade, de acordo com a observência do método. Alguns físicos se arvoram navegar pelas caudalosas fontes e projetos filosóficos, mas para informar que os elementos naturais pelos quais se esmeram, e os instrumentos que dispõem não devem ser usados em casa. Resignam-se com as mazelas; ., de,
Aplicar leis da Física na análise de problemas sócio-econômicos é uma tentação freqüente que se justifica pela sensação de segurança que elas nos inspiram. A aplicação extensiva das leis e dos métodos da Física requer certos cuidados pois o comportamento humano é regido por critérios mais restritivos, de caráter ético, social e religioso. A atividade econômica não racionalizada provoca desequilíbrios cujos resultados negativos já se fazem sentir no desemprego e no agravamento das desigualdades sociais com a redução forçada do consumo do trabalhador pelo próprio desemprego ou pela terceirização. Do mesmo modo, a globalização traz uma desnacionalização da economia que pode acarretar menor uso das potencialidades locais. Em lugar de confiar que um liberalismo econômico - que, contraditoriamente, pratica brutais intervenções no taxa de juros e de câmbio - possa resolver os nítidos sinais de desequilíbrio a que nos referimos, mais valeria ter um pouco de juízo e prestar atenção aos mecanismos de controle da Natureza que forçosamente vão coincidir, no longo prazo, com as verdadeiras forças de mercado. Entropia, economia e desenvolvimento social. - O.C.F., prof. de Ciências e Técnicas Nucleares- UFMG - Concentração em Planejamento Energético -
Pois o liberalismo não intervém em taxas de juros e câmbio. Ipso facto reflete um  mercantilismo, um fascismo. Ademais, não há desenvolvimento por jogo de forças, ao contrário. A gravidade é produto da retração espacial, não da atração suposta por Newton. O erro do darwinismo aí reside. Pois é mesmo esta racionalização tão preciosa ao professor estatal a causadora de TODOS distúrbios sociais, políticos, econômicos e até emocionais, mas ela não é propriedade exclusiva do racionalista. Não há ser humano que a priori não se julgue  racional!  Mas o racionalismo aplicado visa apenas a manutenção e o máximo usufruto do poder.
A manipulação cambial tem preferência em governos corruptos, mais ou menos fascistóides. Vultosas negociatas antecedem o artifício. E a estipulação, ou melhor a "legalização" de agiotas aparentemente minimiza o impacto da extrapolação monetária, mas sua racionalidade é composta para privilegiar banqueiros, os maiores "investidores de campanha" em qualquer país. Quanto à desnacionalização, ela atende ao princípio de sempre se buscar a maior economia, o menor esforço. A Nação só pode agradecer. Ademais, na abundância de produtos os preços tendem a cair, o que favorece toda a Nação, ainda que não o Estado. Quanto aos "mecanismos de controle da Natureza" é uma pena que eles não sejam explicitados. Mas nem poderiam: a natureza não é regida por mecanismos, e muito menos controlável. Disso bem pode entender qualquer cientista contemporâneo, ainda mais se nuclear. É admirável que as noções mais elementares da moderna ciência sejam assim desdenhadas em prol de uma ideologia, de uma totalmente obsoleta metafísica.
Se os seres humanos houvessem de inspirar-se nos exemplos da Natureza, fazendo deles normas de conduta, a anarquia, a independência, o individualismo e o princípio do menor esforço passariam a ser os ideais humanos. GARBEDIAN, H. Gordon, A vida de Einstein: o criador do Universo:161
Malgrado o espanto do próprio EINSTEIN, para quem DEUS não jogaria dados, desde 1900 a Física não mais se esmera na exatidão. Por ela é que não obtemos a certeza apregoada. Mas se meia dúzia de obras é suficiente para entendê-la, nos campos do Direito, da Filosofia, da Economia, das Ciências Políticas enfim, qualquer definição é precária, ainda mais se lastreada em preconceitos. E um deles, o fundamental, é supor que a Física possa descrever o cenário, mas não o comportamento dos atores. Compreende-se:
Quando passamos para assuntos infinitamente mais complicados, para a ética, a religião, a política, as relações sociais e os assuntos da vida, três quartos dos argumentos a favor de cada opinião controversa consistem em dissipar as aparências que favorecem uma qualquer opinião diferente dela. MILL, J.S., Sobre a Liberdade
O preço pelo apreço é o mais caro possível: "A viciosidade peculiar do racionalismo é que ele destrói o próprio conhecimento que possivelmente viria salvá-lo de si próprio, ou seja, o conhecimento concreto ou tradicional." (FRANCO, P., cit. GIDDENS, A.: 39.)  A receita charlatã veio da Grécia, para ser consubstanciada em Florença:

O Príncipe lesará somente aqueles dos quais tomará as terras e as casas para dá-las aos novos habitantes; e aqueles, os lesados, que representam uma ínfima parte de seu Estado, achando-se dispersos e desvalidos, jamais contra ele poderão conspirar.

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Pois assim como o perfume é próprio da flor, mas são suas circunstâncias que naturalmente auferem o predicado, sem ninguém precisar se preocupar com isso, a iniciativa individual pode ser usufruída pela sociedade, desde que não represada pela tétrica mão visível do Estado. Do mesmo modo como a energia se dissipa, a produção se torna necessariamente social.
O esforço natural de cada indivíduo para melhorar suas própria condição constitui, quando lhe é permitido exercer-se com liberdade e segurança, um princípio tão poderoso que, sozinho e sem ajuda, é não só capaz de levar a sociedade à riqueza e prosperidade, mas também de ultrapassar centenas de obstáculos inoportunos que a insensatez das leis humanas demasiadas vezes opõe à sua atividade. SMITH, A. cit. DOWNS: 56
Não se credite a F. CAPRA (1996: 176) maior apreço ao liberalismo, à Mão Invisível. Pelo contrário, o célebre físico detona os iluministas, taxados empíricos; mas reconhece: "Onde quer que vejamos vida, de bactérias a ecossistemas de grande escala, observamos redes com componentes que interagem uns com os outros de maneira tal que toda a rede regula e organiza a si mesma."
Pois em Bionomics, MICHAEL ROTHSCHILD (GLEISER, I.: 77) propõe direto: "A principal diferença entre a economia e um ecossistema é que a economia evolui mais rapidamente do que o ecossistema, mas suas propriedades fundamentais seriam similares." Vejamos como é tal procedimento, à luz da aparelhagem disponível.
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Da
Entropia
O termo é produto da soma de energia com tropos, do grego, a designar transformação, ou capacidade de modificação. O fenômeno foi detectado pela primeira vez no movimento que se convencionou chamar browniano, (1827), crédito a Robert Brown, O pesquisador comparou as aleatórias trajetórias de partículas macroscópicas num fluido como consequência da influência das moléculas do fluido.Também pode ser observado quando luz é incidida em lugares muito secos, onde macropartículas "flutuam" em movimentos aleatórios. (Vulgarmente confunde-se com poeira)
Há um sutil padrão em fractal. Quem primeiro percebeu isso foi Benoît Mandelbrot, matemático polonês. Esse movimento está diretamente ligado com muitas reacções em nível celular, como a difusão, a formação de proteínas, a síntese de ATP e o transporte intracelular de moléculas. Físicos atualmente estudam tal movimento em relação à Teoria do Caos.
LUDWIG BOLTZMAN foi o pioneiro na demonstração do fenômeno acusado pelo médico alemão RUDOLF CLASIUS e pelo físico inglês Lord KELVIN, o qual afirmara que “um calor sempre flui de um corpo quente para um corpo mais frio. GLEISER, MARCELO, Tempo, vida e entropia. - Folha de São Paulo, 19/5/2002 : 22
A termodinâmica aborda a dissipação do calor*, mas podemos também obervá-la com as mesmas características. A natural difusão pode ser verificada nas interações subatômicas - “cada partícula ajuda a gerar outras partículas, as quais, por sua vez, a geram”. A areia branca, misturada com a preta, quanto mais se tenta distingui-las, mais elas se confundem.
A. EDDINGTON (1882-1944, cit. COVENEY, P. & HIGHFIELD, R. : 133) comparou a entropia com “a beleza e com a melodia porque estas três coisas englobam ordenação e organização.”
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Entropia e Economia
Agindo orientada apenas em probabilidades, a ciência abandona a idéia de que a natureza exiba uma seqüência inexorável de causa e efeito. Lá se vai a pretensiosa esperança de que conhecendo o estado atual e a velocidade de qualquer corpo material no universo, pudéssemos prever a história do universo em qualquer tempo. Como prêmio dessa rendição, o livre-arbítrio ganhou novo argumento - se os acontecimentos físicos são indeterminados e o futuro imprevisível, então é possível que aquela quantidade desconhecida chamada 'espírito' possa guiar o destino humano entre as infinitas incertezas de um Universo tão caprichoso:
O conceito de um mundo sutilmente interligado, um oceano cósmico no qual estamos intimamente ligados uns aos outros e à natureza, assimilado por nosso intelecto e abraçado por nosso coração, poderá talvez inspirar novos modos de pensar e de agir que transformem o espectro de uma derrocada global no triunfo de uma renovação global – uma renovação para uma era mais humana e sustentável. LASZLO: 205
ILYA PRIGOGINE, prémio Nobel da Química em 1977, dedicou-se ao estudo do aparecimento de estruturas organizadas, em contradição aparente com essas leis da termodinamica, que dispõem que tudo caminha no sentido da desordem. O que o belga descobriu é que em determinadas condições - sistemas abertos longe do ponto de equilibrio - podem se formar estruturas dissipativas mas com focos de auto-organização. Elas capturam energia; e no out-side impõe a ordem. E assim falou PRIGOGINE (O fim das certezas: tempo, caos e as leis da natureza; tradução Roberto Leal Ferreira, São Paulo: UNESP, 1996) : "É lidando com a flutuação e a instabilidade do meio ambiente de forma criativa que os organismos auto-organizadores crescem e evoluem. Uma economia pode ser um sistema auto-organizador. A cultura de uma sociedade também." A auto-organização, em outras palavras, a complementariedade é constatada em vários andares: no nível das células (HUMBERTO MATURANA, FRANCISCO VARELA), no nível da família (a escola da terapia familiar de Milão) e no nível da sociedade (NIKLAS LUHMANN).
PRIESTLEY (cit. FALCON:73) ofereceu pioneira constatação:
“Os ricos obrigam-se, pelas leis naturais da economia e pelos ditames morais da natureza, a difundir sua riqueza às camadas menos favorecidas.”
Modernos economistas reconhecem nos sistemas liberais a possibilidade do trickle down, a entropia econômica:
A teoria do caos não só fornece uma explicação para as flutuações de uma economia de mercado, mas também demonstra que o Estado não tem o conhecimento necessário para adotar as medidas anticíclicas corretas. Na medida em que é extremamente baixa a probabilidade de se alcançar um estado final desejado em um mundo caótico, é difícil enxergar como o governo poderia especificar uma política para atingir esse objetivo, a não ser por acaso. ROSSER, J.B. Jr., Chaos Theory and New Keynesian Economics, The Manchester School, Vol. 58, n. 3: 265-291, 1990; cit. PARKER & STACEY, : 95.
O crescimento econômico é alcançável quando se permite o florescimento dos negócios, deixando a prosperidade verter para a população de baixa e média rendas, que se beneficiará da crescente atividade econômica” (GIDDENS, ANTHONY, 1996: 104))
“O motivo é que um crescimento da riqueza individual quase sempre representa um crescimento ainda maior da riqueza para a sociedade como um todo.” (PILZER: 12)
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L. BOLTZMAN (1844-1906) demonstrou a Segunda lei da termodinâmica em 1886, durante o encontro da Academia Austríaca de Ciências. (Populare Schriften Essay 1 : theorethical physics and philosophical problems: 15; cit. COVENEY & HIGHFIELD: 135)

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