quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A saga da obssessão política

Se Stálin roubou um banco, não o fez para encher de dinheiro os próprios bolsos, mas para ajudar o seu Partido e movimento. O senhor não pode considerar isso um roubo de banco.
HITLER, A., Documentos da Polícia Alemã; cit. TOLAND, John, Adolf Hitler: 657.

Porque deslocando-nos sobre sua superfície numa direção qualquer, temos a impressão de que viajamos em linha reta. A realidade, como se sabe, é outra; e a prova é que se nos continuássemos a viajar na mesma direção, acabaríamos fazendo o circuito da Terra e regressando ao ponto de partida. EINSTEIN, A., cit. TRATTNER, Einstein por ele mesmo
A vida do grande cientista
: 43

A CIVILIZAÇÃO greco-romana vem iludida a buscar felicidade através do poder - sobre as coisas, a natureza, os animais, e, por fim, sobre o próprio homem, o semelhante. Eis o marco zero:
Mas, na verdade como surgiu a filosofia? Segundo nosso parecer, a filosofia nasce no VI séc com a crise da polis, com Sócrates . Surge com uma linguagem típica da polis.
RAIMUNDO GOMES MEIRELES (www.espacoacademico.com.br)

Por sua doutrina da similaridade entre Esparta e o estado perfeito, tornou-se Platão um dos propagandistas de maior sucesso do que eu gostaria de chamar ‘o Grande Mito de Esparta’, o perene e influente mito da supremacia da constituição e do modo de vida espartanos.
POPPER, KARL, 1998, T. I: 54
Os espartanos se notabilizaram por duas relevâncias: competição, e ausência de pensadores.
O objetivo é simples, delineado, e não requer controvérsias.
É essa configuração de coletivismo extremado que, desde o século V, é vista na Grécia como um modelo perfeito de Estado, com a coletividade assim rigidamente aparelhada e destinada à defesa do Estado.
CASTRO, P.P. www.fflch.usp.br
A sociedade grega e romana se fundou baseada no princípio da subordinação do indivíduo à comunidade, do cidadão ao Estado. Como objetivo supremo, ela colocou a segurança da comunidade acima da segurança do indivíduo. Educados, desde a infância, nesse ideal desinteressado, os cidadãos consagravam suas vidas ao serviço público e estavam dispostos a sacrificá-las pelo bem comum; ou, se recuavam ante o supremo sacrifício, sempre o faziam conscientes da baixeza de seu ato, preferindo sua existência pessoal aos interesses do país.
TOYNBEE, Arnold J.: 196.
Diante da escravidão, e da morte à granel, as Leis de Deus passaram a reger todos os servos.
Com o homem primitivo é acima de tudo o medo que invoca noções religiosas - medo de fome, bestas selvagens, doença, morte. Já que nesse estágio da existência a compreensão das conexões causais é geralmente pouco desenvolvida, a mente humana cria seres ilusórios mais ou menos análogos a ela mesma, de cujas vontades e ações dependem esses acontecimentos temerosos.
EINSTEIN, Albert, cit. PAIS, Abraham, Einstein viveu aqui: 139
Ele dispunha "a natureza aos nossos pés"; e os homens instituíram os reis à organização:
É necessário que os soberanos não estejam, de forma alguma,
sujeitos às ordens de outrem e
que possam dar leis aos súditos,
quebrando ou aniquilando as leis inúteis para fazer outras.
KOSELLECK, Reinhart: 22
As leis haveriam de servir aos novos senhores, constituídos à Sua imagem e semelhança:
“Afirmando que a autoridade provinha de Deus, ele restabeleceu o que praticamente equivalia ao direito divino dos reis.” (CROMMWELL, cit. BURNS Edward McNall: 432.)
A Revolução Gloriosa coibiu o irresponsável jogo dinástico, livrou o povo do capricho real, e pelo menos naquele estádio as leis passaram a contemplar a torcida.
Locke e Shaftesbury consideravam o despotismo como um mal francês e, quando escreveu o documento, em 1679, Locke acabava de voltar da França, após estudar o mal francês enquanto sistema político. A filosofia de Shaftesbury foi planejada para combater a interpretação mecanicista da realidade, mas sobrepujou a filosofia daqueles em seus esforços para salvar as artes dos efeitos das idéias mecanicistas: aspirou fundar bases não só para a verdade e a bondade, como também para a beleza.
BRETT: 109-
Porque entendido o Universo como produto de ações de forças, a Revolução Francesa lavrou o confronto no seio do povo. Julgava-se que da dialética se apurasse a certeza. As leis passaram às mãos da maioria da população, mas a desvairada produzia descalabros contra si própria, e assim o poder foi transferido apenas à seus representantes, por tese mais esclarecidos.
A legislação é o ponto terminal do processo no qual a autoridade sempre prevalece, possivelmente contra a iniciativa e a liberdade individuais. Considerando que os resultados científicos e tecnológicos são sempre devidos a minorias relativamente pequenas ou a indivíduos isolados, com freqüência, se não sempre, em oposição as maiorias indiferentes ou ignorantes, a legislação, especialmente hoje em dia, reflete o desejo de uma maioria contingente, dentro de um comitê de legisladores que não são necessariamente mais instruídos ou mais esclarecidos do que os dissidentes. Onde prevalecem as autoridades e as maiorias, como na legislação, os indivíduos precisam se render, não importando se estão certos ou errados.
LEONI,
B. , A Liberdade e a Lei: 24
Os representantes da maioria se apropriaram de tudo, deixando todos a-ver-navios.
Não só nos países autocráticos, como naqueles supostamente mais livres - como a Inglaterra, a América, a França e outros - as leis não foram feitas para atender a vontade da maioria, mas sim a vontade daqueles que detêm o poder.
TOLSTÓI, Leon, A escravidão de nosso tempo, 1900, cit. WOODCOCK, G.:106
Restou, de novo, a submissão.
Os positivistas do século passado chegavam, portanto, a negar a liberdade do homem, que eles consideravam como puramente ilusória, a fim de tornar possível a existência das ciências sociais.
DUVERGER, Maurice: 6
No final do século XIX, a principal influência sobre a teoria acadêmica social e econômica era das universidades. A idealização bismarckiana do Estado, com suas funções previdenciárias centralizadas foi devidamente reestudada pelos milhares de ocupantes de postos-chave do meio acadêmico que estudaram em universidades alemãs nas décadas de 1880 e 90.
SCHESINGER, Arthur M., The Crisis of the Old Order 1919-1933, p. 20; cit. em JOHNSON, Paul: 13
Com a Escola Histórica, a ciência política tornara-se uma doutrina de arte para estadistas e políticos. Nas universidades e em anuais, reivindicações econômicas eram apresentadas e proclamadas como 'científicas'. A 'ciência' condenava o capitalismo, tachando-o de imoral e injusto. Rejeitava como 'radicais' as soluções oferecidas pelo socialismo marxista e recomendava o socialismo estatal, ou, às vezes, até o sistema de propriedade privada com intervenção do governo. Economia não era mais questão de conhecimento e capacidade, mas de boas intenções.
MISES, Ludwig von,
Uma crítica ao intervencionismo: 41
A Revolução Bolchevique veio para recolocar o poder à vontade do povo:
“O universo é um movimento da matéria regido por leis, e nosso conhecimento, não sendo senão um produto superior ao da natureza, só pode refletir essas leis.” (LÊNIN, Materialisme et empiriocriticisme; cit. CHRÈTIEN: 131)
Devorando seus próprios agentes, a 'ciência do poder' constitui uma terrível unidade. O terror é aí regulamentado minuciosamente por um partido que detém as chaves 'científicas' do futuro. Aqui a história não passa de um imenso canteiro - Brejnev gostava muito deles - onde os cadáveres são desprezíveis em vista do grande desígnio da locomotiva burocrática. O terror se torna, então, o instrumento da sociedade e do Estado.
LEFORT, Claude, cit. DESCAMPS, C.: 75
Ao confronto ressurgiu o trem da direita, pronto a se chocar, de frente:
O medo atingira o povo e a liderança seria entregue àqueles que oferecessem uma saída fácil, a qualquer preço. A época estava madura para a da economia a serviço de um novo sonho americano...a solução fascista.
POLANYI: 275
"O conceito científico do tecido do universo tem de mudar. A recém-confirmada teoria de Einstein exigirá uma nova filosofia do universo, uma filosofia que vai varrer quase tudo o que se tem aceito até agora." ( "Fabric of the Universe"; The Times de Londres, editorial de 7/11/1919)
Como o poder é mera ficção, posto não controlarmos, sequer, nosso sono, as ideologias demoraram, mas se vieram abaixo.
As políticas mundiais de crescimento induzido pelo Estado tiveram exatamente o efeito oposto do que pretendiam: tinham aumentado, e não reduzido, o custo da produção de bens e serviços e tinham abaixado, e não aumentado, a capacidade das economias de conseguirem uma produção vendável.
SKIDELSKI: 140
O ser humano se resignou na impotência, e o Neoliberalismo foi implantado, mas claudica. A frustração decorre dos meios (a divisão dos poderes). O constitucionalismo não é capaz de limitar os poderes do governo; consequentemente, não é salvaguarda à liberdade individual.
“A meu ver, seus objetivos permanecem válidos como sempre o foram”, afirma Hayek (Direito, Legislação e Liberdade: xl), “mas, já que os meios de que lançaram mão se mostraram inadequados, faz-se necessário inovar no campo institucional” .
Com a compreensão de que as leis regentes do Universo não são produtos de forças antagônicas, mas complementares, e que a rigor nem são forças, mas relações, ora os grupos se aglutinam em impressionante convenção, cujo prato é uma estupenda pizza antropofágica, assada no velho forno à lenha:
Na verdade, a política não mudou desde a sua invenção pelos gregos.
GALSTON, Willian, Brookings Institution, e ex-assessor da Casa Branca.
Do ponto de vista filosófico, vai ficar mais difícil para os americanos defenderem o livre mercado em um momento em que o seu próprio mercado entrou em colapso. Alguns já vêem o atual momento como crucial. 'O mundo hoje se parece mais com o do século 19 do que com o do final do século 20.
REYNOLDS, Paul, BBC News; Folha de São Paulo, 1/10/2008
Resulta inédito o ascenso de aristocratas sindicais às altas esferas governamentais, como são os casos de Luiz Inácio, Evo Morales, Álvaro García Linera e pessoas à sua volta, assim como e ex-guerrilheiros arrependidos, entre tupamaros uruguaios que acompanham Tabaré Vasquez no Uruguai. Seus "ancestrais", como os do M-19 da Colômbia, jamais estiveram tão perto ou tão dentro dos governos quanto agora.
NORONHA, Dr. João Fábio. - www.espacoacademico.com.br

Em menos de dez anos a carga tributária deixou o patamar de 25% da renda nacional, no qual havia se mantido por mais de duas décadas, e se aproxima da marca de 36%.
PATU, Gustavo, A Escalada da Carga Tributária. - São Paulo: Publifolha, 2009

Para Michaël Zöller, sociólogo alemão da universidade de Bayreuth, o que se chama de Estado é certamente um sistema de interesses pessoais organizados, uma Nova Classe. Como todos nós, sua ambição é aumentar a remuneração e a autoridade. Como classe, ocupam-se, pois, a desenvolver seus poderes, suas intervenções e sua parte no mercado, isto é, a apropriação pelo setor público dos recursos nacionais, operada através do imposto sobre a sociedade civil.
SORMAN, G.: 74
Todo dia, contudo, raia o Sol; e com ele, a esperança:
A história das ciências emergirá então como a mais reversível de todas as histórias. Ao descobrir o verdadeiro, o homem de ciência barra a passagem de um irracional.
BACHELARD, Gaston, cit. QUILLET, Pierre, Introdução ao Pensamento de Bachelard: 45
É o mínimo que se pode esperar.

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