segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A redenção pela quântica

É necessário que a ciência mostre por fim sua utilidade! Ela se tornou nutricionista a serviço do egoísmo: o Estado e a sociedade a tomaram a seu serviço para explorá-la segundo seus fins. NIETZSCHE, O livro do filósofo: 30
A quântica é uma teoria fundamental para os avanços tecnológicos de nosso mundo atual e do vasto conhecimento científico que estamos adquirindo. Grandes avanços práticos e teóricos em áreas como astronomia, medicina, biologia, química e física são frutos de sua aplicação. Seus conceitos causaram um revolução na forma como entendemos o universo, mostrando que o comportamento da matéria a nível atômico não obedece a regras bem estabelecidas de nosso mundo macroscópico. GROOTE, Jean-Jacques, A Teoria Quântica depois de Planck. - www.comciencia.br
Faz-se oportuno, penso, pelo menos tentar brevemente discernir a epistemologia que vedou este conhecimento por milênios. Não, não se trata de avanço da ciência, nem da tecnologia. Na verdade foi um câmbio vertiginoso, um cavalo-de-pau, para usar da linguagem dos anos sessenta, que os próceres do conhecimento lograram encetar, em prol da existência da humanidade. A atômica nem seria necessária, como jamais foi, até Hiroshima. A rigor, malgrado as milhares de inocentes vítimas, a nuclear tem o mérito de acabar com as guerras. Quantos bilhões de pessoas já haviam morrido graças aos "avanços" das ciências primatas, especialmente desde o grande engenheiro Da Vinci? Por certo, se continuássemos avançando pela Babel erigida, todos seríamos soterrados, solapados na tosca arquitetura lograda por meio do estupendo cheque sem-fundo filosófico, mais falsa do que bigode postiço, mais fria do que traseiro de pinguim:

E como se desce, desse mundo de ironia e razão e veridicidade, ao reinado do sábio de Platão, cujos poderes mágicos o elevam muito acima dos homens comuns, embora não tão alto que dispense o uso de mentiras ou despreze o triste mercado de cada curandeiro, a venda de feitiços, de encantamento e criadores de raça, em troca de poder sobre seus concidadãos!
PEREIRA, J.C., Epistemologia e Liberalismo - Uma Introdução a Filosofia de Karl R. Popper: 153
Seria possível efetuar uma reconvenção no âmbito que nos é mais pertinente?

Existem todo o tipo de pessoas, mas acho que seria razoável dizer que ninguém que se diga filósofo realmente entenda o que se quer dizer com a descrição da complementariedade. A relação entre os cientistas e os filósofos é bastante curiosa. A dificuldade é que é inútil que haja qualquer tipo de compreensão entre os cientistas e os filósofos diretamente.
BOHR, NIELS, cit.
PAIS, ABRAHAM, Einstein viveu aqui
Esta percepção complementarista pode discernir o que seja Filosofia, e melhor orientar os díspares afluentes?
Nossa penetração no mundo dos átomos, antes vedado aos olhos do homem, é de fato comparável às grandes viagens de descobrimento dos circunavegadores... Essa descoberta, com efeito, gerou uma noíssima base para que se compreenda a estabilidade intrínseca das estruturas atômicas, a qual, em última instância, condiciona as regularidades de todas experiências corriqueiras. BOHR, N., Física atômica e conhecimento humano: 30
As pronúncias consagram o vaticínio de J. DEWEY, (p.205):
Quando a filosofia vier a cooperar com o curso dos acontecimentos e tornar claro e coerente o significado dos pormenores diários, a ciência e a emoção hão de interpenetrar-se, a prática e a imaginação hão de abraçar-se.

O princípio da relatividade deve ser mais geral ainda - devemos procurar a diferença de tempo nas realizações biológicas e sociais, - o tempo local das espécies e dos grupos humanos. Isto nos poderá explicar muitos fenômenos que resistem às explicações atuais. Mas para conseguir tais fórmulas muito terá que lutar o espírito humano contra os preconceitos que o rodeiam e contra as obscuridades da matéria que irá estudar.
MIRANDA, Pontes de,
cit. MOREIRA: 103

É verdade que desde 1915 a compreensão da relatividade geral foi vastamente aprimorada, nossa confiança na teoria cresceu e não foram encontradas limitações confirmadas sobre sua validade. Contudo, ninguém hoje afirmaria ter um domínio total do rico conteúdo da relatividade geral. O mesmo vale para as respostas a problemas filosóficos levantados pela teoria totalmente ao nosso alcance hoje. Segundo meus conhecimentos, os escritos filosóficos sobre esse assunto foram um tanto limitados, sem dúvida principalmente porque a matemática envolvida é bastante complicada. PAIS, A. Einstein viveu aqui : 150
O pensamento de Einstein sobre as grandes questões do momento foi sendo parcialmente captado, em pequenas porções, às vezes mesmo em parcas gotas. Mas o resultado foi alcançado. Einstein não é mais o pensador isolado e solitário. Suas idéias e opiniões circulam. O eremita volta de sua tebaida e espalha suas palavras entre os homens do século. ALMEIDA, Miguel Ozorio de, Ensaios, críticas e perfis: a ação humana e social de Einstein; MOREIRA, Ildeu de Castro e VIDEIRA, Antonio Augusto Passos Organizadores, Einstein e o Brasil: 42

A queda da Babel


O racionalismo priva de energia tudo aquilo que os homens mais amam: o sonho, a fantasia, o vago, a fé, a afirmação gratuita. Acrescentemos que isso é essencialmente inumano: o racionalista persegue seu raciocínio, não se importando em saber se ofende os interesses da família, da amizade, do amor, do Estado, da sociedade, da humanidade. Na realidade, o racionalista é um monstro. A humanidade se afirma nas suas religiões mais vitais atirando-lhes na cara o seu ódio.BENDA, JULIEN, cit. BOBBIO, N., Os intelectuais e o poder: dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade contemporânea: 56
Enquanto corrente filosófica, o positivismo influenciou diferentes produções humanas e situou-se em tradições culturais distintas: França (inseriu-se no racionalismo) - de Descartes a Auguste Comte; Inglaterra (tradição empirista e utilitarista) - John Stuart Mill e Herbert Spencer; Alemanha (cientificismo e monismo materialista) - Ernst Heckel e Jakob Moleschott; Itália (naturalismo renascentista) - Roberto Ardigò, e demarcou, antes de tudo, o espírito da época. (SILVINO, Alexandre Magno Dias. Epistemologia positivista: qual a sua influência hoje?. Psicol. cienc. prof. jun. 2007, vol. 27, n. 2.
O ímpeto dominador sofreu dois contundentes petardos: o primeiro, já no raiar do XX, assinalava que a realidade era composta por elementos até então desprezados, por invisíveis.
O salto conceitual que o físico alemão Max Planck deu em 1900, engendrando a base da mecânica quântica, reformulou de tal maneira a visão do mundo que, ao menos um historiador da ciência, não teria razões para supor que seu impacto já tivesse sido todo absorvido. CAPOZOLI, U., Presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC)
O abalo detonado em Zurique de 1917 na relatividade generalizada fazia rachar o edifício pré-racionalista onde se retinham os epistemólogos. Virado pelo avesso, o antigo espírito científico mostrava as suas costuras, as suas junções. Pois não devemos nos enganar: não há nenhuma relação de filiação nem de complementariedade entre a física de anteontem e a relatividade. Os fundamentos do newtonismo estão em Einstein na contracorrente da história. É com a famosa crise da razão que começamos a ver claramente. Não é muito exagerado dizer que o Nouvel esprit scientifique é a melhor das introduções ao “relativismo” kantiano, revolução coperniciana fossilizada por mais de um século de sedimentações professorais. BACHELARD, G., cit QUILLET, P. : 20
A lógica acabou rendida, e seus arautos dispersados.

"O Círculo de Viena que se empenhou em encontrar respostas... O conjunto das suas reflexões, que ficou na história com o nome de 'positivismo lógico', saldou-se num tremendo fracasso." (António José de Barros Veloso, À cerca da pós-modernidade.)
Restam muitos vitoriosos, por todos os lados; e mesmo número de derrotados, alhures.
Na verdade, nem o corpúsculo, nem o campo é a coisa fundamental. Ambos, em igual medida, são aspectos da matéria. São as duas formas fundamentais e primárias da matéria como tal. A estrutura da partícula é um reflexo de suas interações. TELLES JR. G., O Direito Quântico: 56
A dicotomia vem sendo lentamente minimizada, conquanto se espraia o entendimento.
A teoria quântica dos campos considera tanto a matéria (hadrons e leptons) quanto os condutores de força (bosons mensageiros) como excitações de um campo fundamental de energia mínima não-nula (vácuo).
Se desconsiderarmos, ou melhor, se conseguirmos nos desvencilhar do carma que nos acomete,talvez tudo tudo se torne trivial, mais simples e muito mais harmonioso do que as fantasmagóricas ilações greco-romanas, todas, sem exceção, projetadas no fito exclusivo do poder. Na frente de nossa casa guarda o caminhão da "grande mudança" aclamada por Polanyi e Kraemer. Capra qualifica como "momento da mutação", Pawells e Bergier, de "despertar dos mágicos", Naisbitt, de “paradoxo global”, Kuhn de "novo paradigma", Toffler de “powershift" (Mudança de poder), Ferguson da tal “era de aquarius”, Bobbio, a “dos direitos”, muitos da reengenharia, e o que Popper propugnava, há mais de meio século, o advento da "sociedade aberta".

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