sábado, 16 de agosto de 2008

O positivismo e a impostura dos partidos políticos

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O alfa e o ômega da teoria política é a questão do poder: como conquistá-lo, como conservá-lo e perdê-lo, como exercê-lo, como defendê-lo e como dele se defender. Norberto Bobbio, Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos: 252
Que belo resumo.
E de quê servem tão nobres ideais?
Os EUA vem descobrindo, há décadas:
O Governo é grande demais e ele tributa e gasta demais. De todas as crises que afetam os EUA nos anos 90, esta é a principal. Em grande medida, os outros grandes problemas da agenda nacional simplesmente derivam dele, sendo diretamente causados ou agravados pelo nosso governo glutão. Salários estagnados, o sufocado crescimento dos empregos, a violência e a pobreza nas cidades, os altíssimos custos de saúde e educação superior, todos esses problemas estão relacionados ao nosso sempre crescente setor público. Mas em nível mais profundo, o crescimento do governo é o nosso problema mais grave, porque ele agride no coração aquilo que significa ser um norte-americano. À medida que o governo cresceu nas décadas recentes, ele assumiu responsabilidades que antes pertenciam a famílias e comunidades, tornando mais fracas aquelas instituições e tornando-se ele próprio mais forte. Surgiu uma nova classe governante, com gosto pelo poder e apetite por mais poder ainda. Usando uma variedade de meios enganosos, ampliou o alcance do governo para muito além do que seria tolerado pelas gerações anteriores de americanos. Hoje os americanos se encontram tontos diante do imenso ônus governamental que está a serviço de uma elite entrincheirada, elite esta que de vários modos tem a pretensão de ser mais sábia e nobre que os próprios cidadãos americanos. Se ser um norte-americano significa estar livre das exigências injustas de governantes distantes; se significa usar os próprios esforços pessoais para construir um melhor futuro para os filhos, então algo está errado por aqui. A expansão do Governo está ameaçando o Sonho Americano.
(Dep. Fed. Dick Armey, ao propor projeto de lei no Congresso dos Estados Unidos, cit. (Niskanen, W., Regulation; The Cato Rewiew of Business and Government, cit. IL Notícias, R. Janeiro, n. 43)
A desenvoltura da impostura

Vivemos à base de idéias, de morais, de sociologias, de filosofias e de uma psicologia que pertencem ao século XIX. Somos os nossos próprios bisavós.
(Bergier, Jacques e Pawels, Louis,
O despertar dos mágicos, p. 31)
Os partidos políticos logram arrastar os povos à panacéia, ao exclusivo interesse de seus mentores.

A democracia fala de um governo comandado pelo povo e sujeito às suas leis; na realidade, entretanto, os regimes democráticos são dominados por elites que planejam maneiras de moldar e dobrar a lei a seu favor.
PIPES, R.:251
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A primordial metonímia sucede da dialética::
"A Revolução Francesa produzira um impacto galvanizado sobre os vizinhos europeus da França, desencadeando as idéias utópicas que reinaram soberanas nos séculos XIX e XX. "
(Brzezinski, Zbigniew, A desordem, in Veja 25 anos - Reflexões para o futuro, p. 67)
O objetivo sempre é flagrante, na França e alhures:
"A corrupção, a venalidade, os desvios de fundos e as especulações de todo o tipo,
os complôs e as traições, a degenerescência moral, a perversão dos costumes
floresceram à luz do dia no período conturbado de 1789 a 1799." (Gusdorf: 208)
A onda cruzou Gibraltar, para colher os incautos tupiniquins.
A narrativa é compatível com as instaurações da nossa República, do Estado Novo, e da Nova República; e pelo leste, precipitou-se na União Soviética, especialmente. Concomitantemente, a onda espalhou o nazismo e o fascismo.Em todos esses dantescos e alguns fortuitos atos, essas revoluções foram precedidas e sustentadas por orquestrações, por partidos, corporações montadas do vértice às bases.
* * *
Seria mesmo fundamental a presença dos partidos nas democracias?
Minha resposta é contundente: não. Ao visar o poder, é trivial concluir que o que menos lhe interessa é reparti-lo. Portanto, não há partido democrático, e sim totalitário, ainda que em princípio apenas latente, com rótulo de ovelha.
É certo que uma administração afinada em princípios basilares oferece uma desenvoltura de maior identificação e agilidade. Assim é que se o Executivo for colorido de apenas uma cor, em tese não haverá surpresa, e seu ritmo pode ser acelerado, mercê da compreensão e aquiescência generalizada. Todavia, o que distinguiria ainda um partido de outro, que não fossem as características mais elementares que podem ser exigidas de uma função pública - probidade, honestidade, cumprimento de promessas eleitorais?
Se no Executivo é estéril, quando não prejudicial, a disciplina partidária, no Legislativo é absurdo. Este Poder compõe uma câmara de discussões, por excelência. Por qual Minerva é dominado apenas por quatro ou cinco vozes, no máximo, mas geralmente por duas, que se apresentam ou como situação ou como oposição, e ainda por cima uma situação quase sempre hegemônica? Ao que serve ao povo tão primário e limitado embate?
O líder paulista César Nascimento dizia, em 1887, que se sobreviesse uma mudança súbita de governo, seria difícil atingir o ideal republicano, devido à diversidade de pontos de vista e à confusão de idéias. Aliás, a única doutrina que teve influência e deu certa unidade aos anseios republicanos foi, por certo, o positivismo.
(Costa, C., p. 33)
Infelizmente, esta concepção é mundialmente acatada, já há séculos:

Nossos contemporâneos imaginaram um poder único, tutelar, onipotente, mas eleito pelos cidadãos; combinam centralização e soberania popular. Isso lhes dá um pouco de alívio. Consolam-se do fato de estarem sob a tutela pensando que eles mesmo escolheram os tutores. Num sistema desse gênero, os cidadãos saem por um momento da dependência, para designar o seu patrão, e depois nela reingressam.
(
Benjamin Constant 1767-1830,
cit. Bobbio, 1993, p. 59.)
Como o positivismo nada mais é do que uma subversão científica, instrumento, apenas, de dominação, é pueril concluir que fomos e somos vítimas desse preconceito incrustrado em favor dos próprios introdutores, tão somente. O preço tem sido demasiado, para permanecermos na ilusão:
Pesquisa dá respostas ao atraso do Brasil - O positivismo não foi apenas o primeiro movimento filosófico moderno a influenciar as autoridades brasileiras, já no século passado, mas também conduziu a supervalorização da ciência, a ponto de considerá-la perfeita e acabada, simplesmente pronta a ser ensinada, mas não a ser pesquisada. E desta vez, mais do que nunca, o responsável pelo atraso não é o estrangeiro, mas deliberadamente local.
(Makiyama, Marina R., O Estado de São Paulo, 21/5/1995, p.D14.)
Para escapar dos grilhões
O determinado, o movimento da história, a lei do progresso inevitável, a dialética como motor do mesmo, a estrutura tecnocrática imposta, ao serem cotejados com os novos achados da ciência, resultam meros conceitos sem justificação, porque inclusive seus pressupostos científicos caducaram, revisados em suas raízes mais profundas.
(
Rueef Jacques, Les Dieux et les Rois, traduzido como A Visão Quântica do Universo, eCit. Goytisolo: 56)
Eric Kraemer, em La Grande Mutation, igualmente estabelece contundente crítica:
"Entre a teoria dos quanta, que sustenta o edifício científico da idade atômica e o pensamento dos economistas e filósofos, marxistas e tecnocratas, parece terem decorrido séculos. Já não falam a mesma língua. Já não têm nem uma idéia comum. " (Idem: 69).
A concepção moderna de mundo não admite que haja um universal positivo. No país de Morin, Bachelard, Gèny, Serres e Chardin, a Sorbonne não rebentou o busto de Comte, como fez a Rússia com o de Marx; sintomaticamente, porém, ela o deslocou:
Durante dez dias recarreguei as baterias em Paris, no Quartier Latin,
que freqüento há quase 50 anos. A não ser a mudança do monumento
a Augusto Comte da frente da Sorbonne para sua direita, desobstruindo
a visão da fachada da Universidade, não noto qualquer mudança notável.

(Gomes, Flávio Alcaraz,
Correio do Povo. - Porto Alegre, 15/6/1997, p. 4.)
Percorrido o circuito, via-cruxis propiciada especialmente por girondinos e jacobinos, mencheviques e bolcheviques, fascistas, nazistas e marxistas, o mundo almeja abandonar o trem, os trilhos ideológicos, os bretes partidários. Naisbitt (p.96) reconhece e aponta o zenith da Nova Era:
“De fato, a vida no espaço cibernético parece estar se moldando exatamente
como Thomas Jefferson gostaria: fundada no primado da liberdade individual
e no compromisso com o pluralismo, a diversidade e a comunidade.”
Somente a conjugação de pequenas unidades pode ensejar a desenvoltura,
não por acaso a única adequada à emergência:
Podemos resistir ao impulso da diversidade em uma última tentativa inútil para salvar nossas instituições políticas da Segunda Onda ou encampar a diversidade e mudar essas instituições. A primeira estratégia só pode ser implementada por meios totalitários e resultará em estagnação econômica e cultural; a segunda conduzirá à evolução social e a uma democracia do século XXI com base minoritária.
(Toffler e Toffler: 109)
Tolerância ao erro, ambigüidade e, sobretudo, diversidade, apoiadas por senso de humor e de proporção são requisitos indispensáveis à sobrevivência ao arrumarmos a nossa mala para a maravilhosa viagem ao próximo milênio... O primeiro princípio herético de governança da Terceira Onda é o fato do poder da minoria. Ele sustenta que o poder da maioria, o principal legitimador da Segunda Onda, está progressivamente obsoleto. Não são as maiorias que contam e, sim, as minorias.
(Idem, p. 113)
Os modernos pesquisadores se debatem pela reversão:
Do lado da sociologia, sabe-se que mesmo um autor como Luhmann acabou por se ver compelido a introduzir uma mudança radical no paradigma das relações entre a pessoa e o sistema social. Deixando de ser categorizada como mero ambiente do sistema social, a pessoa passa a valer, também ela própria, como sistema. Um sistema social, a figurar como seu (da pessoa) ambiente. A pessoa vê-se, assim, chamada - e legitimada - a desafiar permanentemente o sistema social, como fonte de 'contingência', 'irritação', mesmo desordem. De acordo com o 'novo paradigma luhmanniano', 'na construção de sistemas sociais, a complexidade opaca dos sistemas pessoais aparece como indeterminabilidade e contingência'. Não sobrando para o sistema social outra alternativa que não seja 'interiorizar a complexidade' irredutível, emergente da pessoa. O que bem justificara a pretensão de apresentar a nova teoria de Soziale Systeme (1984) como uma Zwang zur Autonomie.
(
Luhmann, N., cit. Andrade, Manuel da Costa, Liberdade de Imprensa e Inviolabilidade Pessoal: Uma Perspectiva Jurídico-criminal, p. 26.)

Complemente sua pesquisa:

Particracias - I - intróito

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