-
O alfa e o ômega da teoria política é a questão do poder: como conquistá-lo, como conservá-lo e perdê-lo, como exercê-lo, como defendê-lo e como dele se defender. Norberto Bobbio, Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos: 252Que belo resumo.
E de quê servem tão nobres ideais?
Os EUA vem descobrindo, há décadas:
O Governo é grande demais e ele tributa e gasta demais. De todas as crises que afetam os EUA nos anos 90, esta é a principal. Em grande medida, os outros grandes problemas da agenda nacional simplesmente derivam dele, sendo diretamente causados ou agravados pelo nosso governo glutão. Salários estagnados, o sufocado crescimento dos empregos, a violência e a pobreza nas cidades, os altíssimos custos de saúde e educação superior, todos esses problemas estão relacionados ao nosso sempre crescente setor público. Mas em nível mais profundo, o crescimento do governo é o nosso problema mais grave, porque ele agride no coração aquilo que significa ser um norte-americano. À medida que o governo cresceu nas décadas recentes, ele assumiu responsabilidades que antes pertenciam a famílias e comunidades, tornando mais fracas aquelas instituições e tornando-se ele próprio mais forte. Surgiu uma nova classe governante, com gosto pelo poder e apetite por mais poder ainda. Usando uma variedade de meios enganosos, ampliou o alcance do governo para muito além do que seria tolerado pelas gerações anteriores de americanos. Hoje os americanos se encontram tontos diante do imenso ônus governamental que está a serviço de uma elite entrincheirada, elite esta que de vários modos tem a pretensão de ser mais sábia e nobre que os próprios cidadãos americanos. Se ser um norte-americano significa estar livre das exigências injustas de governantes distantes; se significa usar os próprios esforços pessoais para construir um melhor futuro para os filhos, então algo está errado por aqui. A expansão do Governo está ameaçando o Sonho Americano.
(Dep. Fed. Dick Armey, ao propor projeto de lei no Congresso dos Estados Unidos, cit. (Niskanen, W., Regulation; The Cato Rewiew of Business and Government, cit. IL Notícias, R. Janeiro, n. 43)
A desenvoltura da impostura
Vivemos à base de idéias, de morais, de sociologias, de filosofias e de uma psicologia que pertencem ao século XIX. Somos os nossos próprios bisavós.Os partidos políticos logram arrastar os povos à panacéia, ao exclusivo interesse de seus mentores.
(Bergier, Jacques e Pawels, Louis, O despertar dos mágicos, p. 31)
A democracia fala de um governo comandado pelo povo e sujeito às suas leis; na realidade, entretanto, os regimes democráticos são dominados por elites que planejam maneiras de moldar e dobrar a lei a seu favor.A primordial metonímia sucede da dialética::
PIPES, R.:251.
"A Revolução Francesa produzira um impacto galvanizado sobre os vizinhos europeus da França, desencadeando as idéias utópicas que reinaram soberanas nos séculos XIX e XX. "
(Brzezinski, Zbigniew, A desordem, in Veja 25 anos - Reflexões para o futuro, p. 67)
O objetivo sempre é flagrante, na França e alhures:
"A corrupção, a venalidade, os desvios de fundos e as especulações de todo o tipo,
os complôs e as traições, a degenerescência moral, a perversão dos costumes
floresceram à luz do dia no período conturbado de 1789 a 1799." (Gusdorf: 208)
A onda cruzou Gibraltar, para colher os incautos tupiniquins.
A narrativa é compatível com as instaurações da nossa República, do Estado Novo, e da Nova República; e pelo leste, precipitou-se na União Soviética, especialmente. Concomitantemente, a onda espalhou o nazismo e o fascismo.Em todos esses dantescos e alguns fortuitos atos, essas revoluções foram precedidas e sustentadas por orquestrações, por partidos, corporações montadas do vértice às bases.
* * *
Seria mesmo fundamental a presença dos partidos nas democracias?
Minha resposta é contundente: não. Ao visar o poder, é trivial concluir que o que menos lhe interessa é reparti-lo. Portanto, não há partido democrático, e sim totalitário, ainda que em princípio apenas latente, com rótulo de ovelha.
É certo que uma administração afinada em princípios basilares oferece uma desenvoltura de maior identificação e agilidade. Assim é que se o Executivo for colorido de apenas uma cor, em tese não haverá surpresa, e seu ritmo pode ser acelerado, mercê da compreensão e aquiescência generalizada. Todavia, o que distinguiria ainda um partido de outro, que não fossem as características mais elementares que podem ser exigidas de uma função pública - probidade, honestidade, cumprimento de promessas eleitorais?
Se no Executivo é estéril, quando não prejudicial, a disciplina partidária, no Legislativo é absurdo. Este Poder compõe uma câmara de discussões, por excelência. Por qual Minerva é dominado apenas por quatro ou cinco vozes, no máximo, mas geralmente por duas, que se apresentam ou como situação ou como oposição, e ainda por cima uma situação quase sempre hegemônica? Ao que serve ao povo tão primário e limitado embate?
O líder paulista César Nascimento dizia, em 1887, que se sobreviesse uma mudança súbita de governo, seria difícil atingir o ideal republicano, devido à diversidade de pontos de vista e à confusão de idéias. Aliás, a única doutrina que teve influência e deu certa unidade aos anseios republicanos foi, por certo, o positivismo.Infelizmente, esta concepção é mundialmente acatada, já há séculos:
(Costa, C., p. 33)
Nossos contemporâneos imaginaram um poder único, tutelar, onipotente, mas eleito pelos cidadãos; combinam centralização e soberania popular. Isso lhes dá um pouco de alívio. Consolam-se do fato de estarem sob a tutela pensando que eles mesmo escolheram os tutores. Num sistema desse gênero, os cidadãos saem por um momento da dependência, para designar o seu patrão, e depois nela reingressam.Como o positivismo nada mais é do que uma subversão científica, instrumento, apenas, de dominação, é pueril concluir que fomos e somos vítimas desse preconceito incrustrado em favor dos próprios introdutores, tão somente. O preço tem sido demasiado, para permanecermos na ilusão:
(Benjamin Constant 1767-1830, cit. Bobbio, 1993, p. 59.)
Pesquisa dá respostas ao atraso do Brasil - O positivismo não foi apenas o primeiro movimento filosófico moderno a influenciar as autoridades brasileiras, já no século passado, mas também conduziu a supervalorização da ciência, a ponto de considerá-la perfeita e acabada, simplesmente pronta a ser ensinada, mas não a ser pesquisada. E desta vez, mais do que nunca, o responsável pelo atraso não é o estrangeiro, mas deliberadamente local.Para escapar dos grilhões
(Makiyama, Marina R., O Estado de São Paulo, 21/5/1995, p.D14.)
O determinado, o movimento da história, a lei do progresso inevitável, a dialética como motor do mesmo, a estrutura tecnocrática imposta, ao serem cotejados com os novos achados da ciência, resultam meros conceitos sem justificação, porque inclusive seus pressupostos científicos caducaram, revisados em suas raízes mais profundas.Eric Kraemer, em La Grande Mutation, igualmente estabelece contundente crítica:
(Rueef Jacques, Les Dieux et les Rois, traduzido como A Visão Quântica do Universo, eCit. Goytisolo: 56)
"Entre a teoria dos quanta, que sustenta o edifício científico da idade atômica e o pensamento dos economistas e filósofos, marxistas e tecnocratas, parece terem decorrido séculos. Já não falam a mesma língua. Já não têm nem uma idéia comum. " (Idem: 69).
A concepção moderna de mundo não admite que haja um universal positivo. No país de Morin, Bachelard, Gèny, Serres e Chardin, a Sorbonne não rebentou o busto de Comte, como fez a Rússia com o de Marx; sintomaticamente, porém, ela o deslocou:
Durante dez dias recarreguei as baterias em Paris, no Quartier Latin,Percorrido o circuito, via-cruxis propiciada especialmente por girondinos e jacobinos, mencheviques e bolcheviques, fascistas, nazistas e marxistas, o mundo almeja abandonar o trem, os trilhos ideológicos, os bretes partidários. Naisbitt (p.96) reconhece e aponta o zenith da Nova Era:
que freqüento há quase 50 anos. A não ser a mudança do monumento
a Augusto Comte da frente da Sorbonne para sua direita, desobstruindo
a visão da fachada da Universidade, não noto qualquer mudança notável.
(Gomes, Flávio Alcaraz, Correio do Povo. - Porto Alegre, 15/6/1997, p. 4.)
“De fato, a vida no espaço cibernético parece estar se moldando exatamente
como Thomas Jefferson gostaria: fundada no primado da liberdade individual
e no compromisso com o pluralismo, a diversidade e a comunidade.”
Somente a conjugação de pequenas unidades pode ensejar a desenvoltura,
não por acaso a única adequada à emergência:
Podemos resistir ao impulso da diversidade em uma última tentativa inútil para salvar nossas instituições políticas da Segunda Onda ou encampar a diversidade e mudar essas instituições. A primeira estratégia só pode ser implementada por meios totalitários e resultará em estagnação econômica e cultural; a segunda conduzirá à evolução social e a uma democracia do século XXI com base minoritária.
(Toffler e Toffler: 109)Tolerância ao erro, ambigüidade e, sobretudo, diversidade, apoiadas por senso de humor e de proporção são requisitos indispensáveis à sobrevivência ao arrumarmos a nossa mala para a maravilhosa viagem ao próximo milênio... O primeiro princípio herético de governança da Terceira Onda é o fato do poder da minoria. Ele sustenta que o poder da maioria, o principal legitimador da Segunda Onda, está progressivamente obsoleto. Não são as maiorias que contam e, sim, as minorias.Os modernos pesquisadores se debatem pela reversão:
(Idem, p. 113)
Do lado da sociologia, sabe-se que mesmo um autor como Luhmann acabou por se ver compelido a introduzir uma mudança radical no paradigma das relações entre a pessoa e o sistema social. Deixando de ser categorizada como mero ambiente do sistema social, a pessoa passa a valer, também ela própria, como sistema. Um sistema social, a figurar como seu (da pessoa) ambiente. A pessoa vê-se, assim, chamada - e legitimada - a desafiar permanentemente o sistema social, como fonte de 'contingência', 'irritação', mesmo desordem. De acordo com o 'novo paradigma luhmanniano', 'na construção de sistemas sociais, a complexidade opaca dos sistemas pessoais aparece como indeterminabilidade e contingência'. Não sobrando para o sistema social outra alternativa que não seja 'interiorizar a complexidade' irredutível, emergente da pessoa. O que bem justificara a pretensão de apresentar a nova teoria de Soziale Systeme (1984) como uma Zwang zur Autonomie.
(Luhmann, N., cit. Andrade, Manuel da Costa, Liberdade de Imprensa e Inviolabilidade Pessoal: Uma Perspectiva Jurídico-criminal, p. 26.)
Complemente sua pesquisa:
Particracias - I - intróito
Nenhum comentário:
Postar um comentário