Direto já

Nenhuma gota d'água passa pelo
esgoto sem se tornar poluída. Roberto Jefferson

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São Paulo, 25 de janeiro de 1984:

O povo se aglomera na praça apregoada da Sé.

Quem não gosta de apreciar grandes artistas,
ainda mais sem pagar ingresso?
A multidão bate palmas à protagonização dos
trovadores das eleições diretas.
O movimento abarca toda a "oposição" e
"dissidentes", desconformes com o regime ditatorial.
Depois da performance dos cantores populares,
os holofotes foram à procura dos empresários do show.
No palanque, de mãos dadas, se jactam Tancredo Neves,
ex-ministro da "justiça" do introdutor do fascismo no Brasil;
Ribamar Costa, mais conhecido como Zé do Sarney,
ferrenho colaborador do regime
militar; Fernando Cardoso, ironicamente um filho de General,
mero papagaio-de-pirata, diletante de socio logia;
e Luís da Silva, operário aposentado por invalidez,
eis que perdera o dedo mínimo em alguma guilhotina,
desse modo podendo exercer fulltime o proselitismo sindical,
e preservado da cassação
graças à sua função de carneiro-guia.
Na primeira fila vê-se ainda Dante de Oliveira,
já de cabeça baixa, futuro governador do MT
a ser desmascarado por corrupção.

SP, 16 de abril de 1984:
Comício no Vale do Anhangabaú reuniu cerca de dois milhões de brasileiros. A estupenda platéia aplaudia os acrobatas de um futuro totalmente promissor. As manifestações das "Diretas Já" entraram para a história como o maior acontecimento político já registrado pela Nação.´=

DF, 9 meses depois:
Tancredo Neves, o líder das diretas já, ex-ministro do golpista Getúlio Vargas, e portador da famosa Carta-Testamento, (Fundação Getúlio Vargas) único depoimento de um suicida completado com máquina de escrever, ex-presidente nomeado ao Banco de Crédito Real de Minas Gerais, instituição centenária inaugurada em 1889, por Decreto Imperial de Dom Pedro II e extinta em agosto de 1997, por iniciativa do governa dor Eduardo Azeredo, (p$db), este introdutor do mensalão no Brasil, acaba de ser eleito por um tal "colégio eleitoral", uma via artificial, indireta, formada por seus pares, não pelo povo, no fito de exercer o poder máximo sobre este povo pelo qual jurava fidelidade.

Profissões
Tancredo foi guindado à testa do Banco do Brasil por Juscelino Kubischek, JK, O Amigo da Onça, sem dúvidas, para em seguida ser presenteado com Presidência do BNDEs.* Novo passo o elevou ao cargo de Primeiro-Ministro do Brasil (7 de setembro de 1961 e 26 de junho de 1962).
Destituído, na reformulação partidária ingressou no MDB, para retirar parte de sua força. Com a costela, compôs a Eva, denominada Partido Popular (1980), sendo eleito também seu presidente, isto é, dono, por isso pode também ser seu coveiro. Já no primeiro aniversário, em troca de um cargo de Vice-Presidente no partido maior que enfraquecera, não titubeou em sepultar seu próprio filho, com isto fazendo retornar à casa alguns outros filhos pródigos, uns filhos da luta, mas não todos.
Pois Tancredo acaba de ser eleito à Presidência, pelas vias indiretas, justamente as que jurava combater. Conta-se que ele vinha silenciosamente trabalhando esta candida tura há muito tempo.
Tão bem sucedidas foram as suas articulações que fizeram com que até mesmo Ulysses Guimarães, outro "Senhor das Diretas", abdicasse da disputa. Este velho senhor foi capitanear a Constituição Cidadã, na verdade vilã, tecida pelos que ficaram conhecidos nacionalmente como estelionatários do plano cruzado, os quais não tiveram pudor em recuperar os atributos dos decretos miltares, cognominados de medidas, um texto constitucional, enfim, que ainda seria mais alterado, de forma subretícia e confessa, por outro parceiro, Nelson Jobim, ora ministro da defesa daquele outro velho companheiro palanqueiro das diretas já, Luís da Silva.
* * *

Tan credo e U lisses - Ambos pagaram com suas próprias vidas*. Na ocasião assumiu o ex-ferrenho colaboracionista do regime militar, o Zé do Sarney. Não havia a menor legitimidade à sua aparição, sequer, pelas indiretas,** mas assumiu coberto a manu militaire, aquela dos antigos colegas.

Anunciou o falecimento de Tancredo um repórter da maior rede de TV - Antônio Britto. O gajo bem soube colher aquele momento de fama e comoção nacional, graças à sua aparente austeridade combinada com perfeita modulação de voz. Grangeou tanta simpatia e credibilidade a ponto de quase ocupar o trono do falecido. Assim se projetou o iluminado jornalista:
"Lamento informar que o Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Tancredo Neves, faleceu esta noite no Instituto do Coração, às 10 horas e 24 minutos."
Pronto. Com tamanho discurso, foi eleito Governador do Rio Grande Do Sul.
Ora recebo uma indagação:
-O que seria mais importante naquela hora, entretanto, na curta frase que se propunha? Informar o local ou a repentina causa mortis?***
* * *
$. - Zé do Sarney empregou toda família, emplacou o filho sen a dor, fez da filha governadora, pega em flagrante ato de corrupção, justamente quando contava o produto amealhado. A família controla o conglomerado Sistema Mirante de Comunicações, dono de três retransmissoras de televisão (afiliadas à maior rede de tv do Brasil), seis emissoras de rádio e o jornal O Estado do Maranhão. "Seu mandato caracterizou-se por grave crise econômica, que evoluiu para um quadro de hiperinflação histórica e moratória .Também se notabilizaram as acusações de corrupção endêmica em todas as esferas do governo - sendo o próprio Presidente José Sarney denunciado, embora as acusações não tenham sido levadas à frente pelo Congresso Nacional. Foram citadas suspeitas de superfaturamento e irregularidades em concorrências públicas, como a da licitação da Ferrovia Norte-Sul." (Wikipédia)
Ainda tem coragem de vir a público pleitear o continuismo:
"O senador José Sarney (PMDB-AP) defendeu nesta terça-feira, durante sabatina da Folha, que seu partido apóie o candidato que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicar na disputa presidencial de 2010." (Folha de São Paulo, 26/8/2008)
$ - Luís da Silva tornou-se, presidente, e com sua pensão se fez milionário, comprando mansão no Guarujá. Seu filho se tornou multimilionário.
$ - FHC alterou a constituição vilã em proveito pessoal, casou o filho legítimo e fê-lo sócio do Banco Nacional, um daqueles estabelecimentos que saquearam as contas de todos os correntistas, num envolvimento de aproximadamente quatro bilhões de reais. Dos filhos fora do casamento, um serve café no Congresso, e o outro escafedeu-se na Europa.
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Todos felizes presidentes. E o povo jaz inerte, por imprevidente:
"Na hora das compras, o paulistano faz dívidas, mas não sabe o quanto paga de juros, não lê os contratos antes de assinar e nem busca orientação." (Estadão, 27/8/2008)
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* Rio de Janeiro, 1/10/ 2006: "Teimei em morar de frente para o mar. Difícil encontrar apartamento. Tudo caro demais. Comicamente, os melhores que visitei pertenciam a gente ligada à política. O primeiro era de Antonio Carlos Magalhães. O segundo era da filha de Tancredo Neves, mãe de Aécio. Perdi este último para uma herdeira de Getúlio Vargas, ex-mulher de Moreira Franco. Estou pensando em lançar minha candidatura a governador de Roraima" (Diogo Mainardi)
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** "A posse foi tensa pois havia dúvidas constitucionais sobre se era Sarney ou o presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães, quem deveria assumir a presidência da República. Foi decisivo para sua posse o apoio do general Leônidas Pires Gonçalves indicado por Tancredo Neves para Ministro do exército que apoiou a posse de Sarney." (Wikipédia)
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