FARTA PUBLICIDADE atraiu curiosos, diletantes, temerosos e incautos, convencidos pelo falatório da General Theory of Employment, Interest and Money (2), e pela fama de seu ator, quero dizer, autor:
Uma grande quantidade de literatura e de resenhas de arte é veiculada através do poder jornalístico de Bloomsbury, com os Woolf, MacCarthy, Forster, Keynes e Strachey. Este último influencia a opinião pública com freqüentes publicações literárias nos mais influentes periódicos, enquanto Keynes, editor do Economic Journal, manipula a opinião pública com seus artigos de International Review e na Nation, esta reorganizada financeiramente e controlada por Keynes; MacCarthy escreve para o Sunday Times e é editor do New Statement (este também controlado por Keynes), para o qual colaboraram Virginia e Leonardo Woolf, Clive Bell e Roger Fry. (Gori, Emma, cit. De Masi, 2000: 156).
A obra, de incomparável fôlego, raros estudiosos tiveram tempo ou paciência para entendê-la, discuti-la e, por fim, apontar suas contradições, armadilhas e sofismas. Há, ainda, o pré-requisito da leitura, compreensão, crítica, assimilação e julgamento de O Capital, de Marx, forja tão maçante e onírica quanto a derivada:
“Os escritos reunidos de Marx e Engels preenchem dezenas de volumes: só Das Kapital (O capital) cobre cerca de 1400 páginas de uma prosa densa, técnica.” (Pipes, 2002: 24).
A carta escrita a George Bernard Shaw (1935; cit. Rosseti: 99) mostra como a pretensão de Keynes só encontrava rival na precedência de Marx:
Para que você compreenda meu estado de espírito é necessário saber que julgo estar escrevendo um livro sobre Teoria Econômica, que revolucionará em grande parte - não imediatamente mas, creio, no curso dos próximos dez anos - o modo pelo qual o mundo vê este problemas. Não posso esperar que você ou qualquer outra pessoa acredite nisso, agora. Mas eu mesmo não tenho apenas esperança de que tal prognóstico seja verdadeiro - no íntimo.
O filósofo-empresário-ensaísta, que patrocionou a estada de Einstein na Inglaterra por mais de três meses, evidentemente não pode acreditar; muito menos Bertrand Russel. O que Keynes propunha, e bem sabemos como foi convincente, era uma reinvenção radical do mercantilismo, ao qual aliás não poupou elogios em seu livro. Seu edifício, todavia, sofreu muitos abalos; como o de Newton, só se manteve pela maleabilidade:
“Keynes não respondeu por escrito a nenhum dos comentários críticos ao TP - (Russel, Sanger, Nicod, Jeffreys)” (Schwartz: 145).
Depressão de 1929
O medo da sangrenta revolução bolchevique, conforme a maldição de Marx, tornava o povo refém daqueles que ofereciam uma saída fácil. O esperto Keynes vislumbrou a freeway:
Estamos hoje no meio da maior catástrofe econômica – a maior catástrofe devida quase inteiramente a causas econômicas – do mundo moderno. Sustenta-se em Moscou a idéia de que é a crise final, culminante no capitalismo e que nossa ordem existente da sociedade não sobreviverá a ela. (Keynes, cit. Strathern: 224)
Teve o astuto de Bloomberg premonição, ou teria contribuído diretamente para o desastre, a fim de saquear a carga? Peringer entende pela primeira:
Keynes teve, porém, a inteligência de, primeiramente, ter apresentado uma análise alternativa para explicar os fenômenos depressivos de sua época que pareciam encontrar suporte nas evidências dos fatos, provocado pela Grande Depressão, e, em segundo lugar, inserir o seu pensamento dentro de um arcabouço teórico bem fundamentado. Ademais, mesmo apresentando uma teoria muito bem estruturada para sua época, nunca colocou qualquer dúvida na validade da equação quantitativa da moeda, apresentando, apenas, novas funções a algumas de suas variáveis.
Especulamos pela segunda:
Antes de Keynes os governos liberais temiam, com razão, perturbar os equilíbrios econômicos se manipulassem a moeda, o orçamento, o imposto, as taxas de juros. A partir de então, tendo justificativas para atuar nesta direção, a estatização se torna 'científica', 'intelectualmente respeitada'.
Sorman: 54/55
Sua razão não divergia da plêiade ora instalada neste país:
Cinco anos antes da quebra, investidores crédulos tomaram freneticamente empréstimo para entrar no mercado, e muitos eram sistematicamente iludidos por Wall Street... No início de 1929 o valor do índice de ações quase dobrou.. À medida que o preço chegava nas alturas, alguns deles em silêncio vendiam suas ações e embolsavam os lucros.
PARKER, S.: 34/44/46
Os corretores haviam acumulado U$906 milhões em lucros, 'apesar da depressão' isto é, nos anos entre 1928 e 1933. Como o Times astutamente noticiou, o governo havia sido beneficiário de alguns desses lucros... Whitney havia se apropriado do dinheiro da Bolsa, quando era seu presidente, e dos clientes também, inclusive órfãos e viúvas.. A Comissão de Títulos e Câmbios instalada foi entregue a Joseph Kennedy, um doador da campanha de Roosevelt, e dessa forma obteve o posto.
PARKER, S., O crash de 1929: 382/5
"A despeito de três grandes reveses - em 1920, 1928 e 1937-8 - Keynes aumentou seu ativo líquido de 16.315 libras em 1919 para 411.238 - equivalentes a 10 milhões de libras em valores atuais - quando morreu." (Skidelski: 35) O causador como salvador
Havia muito mais em jogo, pois, além da burla ideológica:
Os grandes banqueiros e industriais emergiram nessa época. Firmas de Wall Street - como Belmont, Lazard e Morgan - com apenas 15 anos de existência ocupavam lugar de destaque na economia. Os tempos modernos da legislação para as práticas de comércio começaram em 1934.
Gleiser, I.: 211
Estamos explicados?-
Algumas conseqüências
Treinta anos después un Presidente de los Estados Unidos afirmaba que 'todos somos keynesianos' en el preciso instante en que se iniciaba el regresso de la ortodoxia, el propio exito del modelo keynesiano llevo a la desmesura. El discurso argentino actual es muy semejante al repetido a comienzos de la decada del treinta. La experiencia muestra que la crisis se autoalimenta.
SCHVARZER, Jorge, El Clarin, 25/10/1995: 17
Alguém pode supor que as civilizações americana e britânica pudessem descambar para uma revolução comunista? Donald foi induzido a supor. Caiu como patinho.
O ardil do New Deal arrastou milhões, pelo mundo afora, ao precipício da insensatez.
O grande acontecimento dessa crise do liberalismo econômico foi a eleição, em 1932, nos Estados Unidos, de Franklin Delano Roosevelt. Roosevelt, com seu New Deal, propôs uma verdadeira revolução: simplesmente a morte do Estado Liberal. Propunha um Estado inferente, gastador, que investe mais em obras públicas e assistência social do que dispõe em caixa e deixa para cobrir o déficit depois, com o dinheiro a mais que arrecadar numa economia aquecida pelos próprios gastos estatais.
Mascarenhas: 44
Então Roosevelt, influenciado por Felix Frankfurter, pela Sociedade Socialista Intercongregada e por outros, fabianos e comunistas, maquinou uma revolução que colocou o país na senda que leva ao socialismo e, numa perspectiva mais distante, ao comunismo. Foi, contudo, a emenda do imposto de renda, levado em 1909, no Congresso americano, o início do socialismo. Então, o New Deal não foi uma revolução. Seu programa coletivista tivera antecedentes - recentes - com Herbert Hoover, durante a depressão; mais remotos, no coletivismo de guerra e no planejamento central que governaram os EUA durante a Primeira Guerra Mundial
Rothbard: 41
A saída, portanto, de nada foi fácil.
"Em 1929, as despesas federais para todos os bens e serviços montavam a 3,5 milhões de dólares; em 1939, eram de 12,5 bilhões." (Galbraith, 1968: 251)
O preço foi a privação da liberdade, a corrupção reinando, e a guerra alastrada, não de patrões contra empregados, mas de nações contra nações. Não fossem os despojos de japoneses, italianos e alemães, Tio Sam estaria metido dentro de sua própria cartola.
Conquanto não fosse economista, muito menos psicólogo ou vidente, Einstein (1981: 97) igualmente não aprovava a teoria keynesiana:
É necessário impedir as flutuações do valor do dinheiro e, para isto, substituir o padrão-ouro por uma equivalência com base em quantidades determinadas de mercadorias, calcadas sobre as necessidades vitais, como, se não me engano, Keynes já propôs há muito tempo. Pelo emprego deste sistema, poder-se-ia conceder uma certa taxa de inflação ao valor do dinheiro, contanto que se considere o Estado capaz de dar um emprego inteligente àquilo que, para ele, representa um verdadeiro presente. As fraquezas de seu projeto se manifestam, em meu entender, na falta de importância concedida aos motivos psicológicos. O capitalismo suscitou os progressos da produção, mas também os do conhecimento, e não por acaso. Sem dúvida sou pessimista demais a respeito das empresas do Estado ou comunidades semelhantes, mas de modo algum creio nelas.
Keynes (cit. Bodanis: 228), sem argumento, preferiu taxar o Grande Relativo de "garoto judeu malcriado, sujo de tinta”.
Não foram e ainda não são pouco os que adotam a artimanha:
"Os economistas passaram quase todo o século XX encantados com a pseudopanacéia keynesiana e com a venenosa serpente marxista." (Iorio: 134)
Muito além dos “próximos dez anos”, passamos do cincoentenário enredados:
Desde a publicação, em 1936, da primeira edição da Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda, de John Maynard Keynes, a quase totalidade dos economistas passou a acreditar nas chamadas políticas de ‘sintonia fina’, isto é, em uma pretensa capacidade dos governos de, mediante intervenções na ordem espontânea de mercado, evitar flutuações ‘indesejáveis’ no emprego dos fatores de produção e, assim, impedir as oscilações na produção. (Skidelski: 5)
O totalitarismo político-jurídico perdeu seu apelo em 1945, mas a praga de Keynes evoluiu no tempo, no espaço e na intensidade:
Nos anos 60 o keynesianismo foi universalizado, 'alcançou seu potencial', num sentido duplo: o uso da política fiscal para equilibrar as economias foi estendido à França, Itália, Alemanha e, em menor escala, ao Japão; e essa política tornou-se mais ativa e ambiciosa à medida que renascia o receio de recessão. De modo geral, enquanto o interesse dos primeiros keynesianos se concentrava em garantir o pleno uso dos recursos existentes, os keynesianos dos anos 1960 procuraram garantir o pleno uso dos recursos potenciais - i.e., o crescimento da capacidade produtiva da economia, com o objetivo de conter a inflação de custos e satisfazer as 'exigências' sociais, cada vez maiores, sentidas pela economia. O que David Marquand (1988) chamou de fase democrática social do keynesianismo, está associado a uma guinada política para a esquerda e o uso sério, pela primeira vez, da política fiscal, deslocando-se a ênfase na demanda do setor privado para o público. O orçamento tornou-se, simultaneamente, uma peça da administração da demanda, do crescimento e da previdência social. A partir dos anos 60 a participação dos gastos públicos no PIB começou a subir em toda a parte.
(Idem: 136)
Rothbard (p. 42) se reporta:
Com a publicação da General Theory of Employment, Interest and Money, em 1936, a nova, incompleta e emaranhada justificativa e racionalização da inflação e dos déficits governamentais propostas por John Maynard Keynes assolou o mundo econômico como fogo na pradaria. Até Keynes, a ciência econômica constituíra um freio impopular ao fomento da inflação e ao déficit orçamentário, mas, agora, como Keynes e armados com seu jargão nebuloso, obscuro e quase matemático, os economistas podiam atirar-se a uma popular e lucrativa aliança com políticos e governos ansiosos por expandir influência e poder. A economia keynesiana foi esplêndidamente talhada para servir de armadura intelectual para o moderno Estado Provedor-Militarista (Welfare-Warfare State), para o intervencionismo e o estatismo em ampla e poderosa escala.
O ex-ministro do governo Sarney e banqueiro João Sayad, aquele mesmo responsável pelo fracassado Plano Cruzado e que há pouco atormentava os paulistanos como secretário de finanças da prefeita Dona Marta, exalta Keynes frequentemente em suas lacrimosas colunas no JB, salientando que o inglês foi o primeiro a manifestar interesse pela questão do desemprego e na orientação para "salvar" os trabalhadores das garras do capitalismo predatório. Os economistas responsáveis pelo projeto econômico do pt, Guido Mantega, Luiz Beluzzo, o próprio Sayad e outros, baseiam-se muito em Keynes e pouco em Marx, o contrário do que normalmente se esperaria de um partido outrora rotulado de extrema-esquerda.Não menos keynesianos são os economistas do p$db "autêntico", pontificando entre eles outro ex-ministro de Sarney e comandante de mais um desastrado "plano", senhor Bresser Pereira. A revista República, veículo semi-oficial das candidaturas de Serra, não poupa elogios a Keynes e invectivas contra o superado neoliberalismo do americano Milton Friedman. O colunista do New York Times Paul Krugman, cujas diatribes ultra-keynesianas são reproduzidas em alguns jornais brasileiros, é acatado por seus congêneres tupiniquins, acadêmicos ou não, como a máxima autoridade mundial em economia:
"Os juízos de Krugman produzem em nosso país um efeito categórico de Roma locuta, causa finita." www.olavodecarvalho.org/convidados/0138.htm
Na Argentina, Perón, trouxe Keynes para promover a inédita corrupção, como de resto em TODAS as nações que aplicaram o embuste. A nosotros, macaquitos brasileños a introdução de Keynes denegriu, de modo indelével as relações sociais, políticas e produtivas da Nação:
Completamos no ano 2000 a notável marca de 20 anos de crescimento econômico medíocre, duas décadas perdidas. Entre os economistas brasileiros pairam ainda muitas dúvidas sobre as causas de nossos descaminhos recentes. Após crescimento exemplar durante quase cinqüenta anos, amargamos agora uma longa estagnação que parece nunca terminar. Afinal de contas, o que ocorreu? O livro dos professores Luiz Gonzaga Belluzzo e Júlio Gomes de Almeida constitui referência fundamental para o entendimento desse problema. A partir de uma riquíssima interpretação keynesiana do comportamento de nossa economia nesses últimos vinte anos, oferecem o que parece ser um dos principais diagnósticos acerca de nossa estagnação recente: a ruptura do padrão monetário brasileiro a partir da crise da dívida do início dos 80.
www.rep.org.br/resenhas/resenhas-88.pdf
Essa perda da compreensão dos fatores que determinam tanto o valor do dinheiro como os efeitos dos eventos monetários sobre o valor de bens específicos é um dos principais danos que a avalanche keynesiana causou ao entendimento do processo econômico.
(Hayek, 1986: 73)
Ao contrário do que dizia Keynes, a Grande Depressão atestava o poder da política monetária e não, a sua impotência.
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