quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O causador como salvador

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Para justificar sua presença, o Estado antes costuma espalhar
o terror. Hobbes anunciava que o homem era lobo do homem.
Então entrou o
lobão para acalmar a festa. Para impor a justiça do
trabalho, desse modo arrumando emprego a milhares de pelegos,
e tomando para si alto percentual do setor produtivo, o Estado
mostrou os pobres operários explorados pelos malvados patrões.

Aos malvados também recai pagar o maior imposto, por que são ricos às custas dos pobres; então o Estado retira o excesso em prol de si mesmo, e diz nivelar: joga os talentos ao res do chão, deixando todos a ver navios:
O que o Estado tira dos ricos, guarda para si e o que tira dos pobres, também. Seus beneficiários são poucos; uma oligarquia de empresários superprotegidos de qualquer concorrência, que deve sua fortuna a mercados cativos, a barreiras alfandegárias, a licenças outorgadas pelo burocrata a leis que o favorecem; uma oligarquia de políticos clientelistas para quem o Estado cumpre o mesmo papel que a teta da vaca para o bezerro; uma oligarquia sindical ligada a empresas estatais, geralmente monopolizadoras, que lhes concedem ruinosos e leoninos acordos coletivos; e, obviamente, burocratas parasitas crescidos à sombra desse corrupto Estado benfeitor.
MENDOZA, Plinio Apuleyo, MONTANER, Carlos Alberto, LLOSA, Alvaro Vargas: 120
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Ao aumento das multas de trânsito, precede maciça divulgação de estatísticas sobre as mortes nas estradas. Para instituir um imposto sobre a saúde, passam nos hospitais e nas filas filmando os doentes de toda a espécie. Para qualquer falcatrua, antes se propaga a necessidade na rua, mas Hollywood é imbatível. Por lá os enredos são muito bem calculados. Tempo de preparo, e ação.
Na antigüidade cabia enfrentar o diabo. Como o elemento não era suscetível às armas, na entrada do XX trocaram o sparring. Na reserva foram convocados mais três. Titular se fez o comunismo, secundado por anarquistas , bêbados e gansgters.
O povo já havia presenciado duas estupendas catástrofes. A Primeira Guerra Mundial inaugurara a carnificina em massa. Milhões de famílias perderam seus filhos no vão combate. Aproveitando a banalidade da bestialidade, a U.R.S.S. proporcionou outro dantesco ato, este sim, aproveitável.
Preparou-se o emocional da população, retirando-lhe a força, isto é o dinheiro em circulação. Durante dois mandatos houve inédito incremento dos juros, repatriações de capitais, aumento vertiginoso de impostos e arrocho legislativo. O furacão foi tomando corpo cada vez mais avassalador, até que a população quedou de joelhos. Apresentou-se o causador, como salvador.
Jogou a culpa no ouro, e o elemento foi esquecido, isto é, contrabandeado para alguma ilha de piratas. Em seu lugar entrou uma montanha de papel, que dizia representá-lo.
Desse modo fácil o Estado proveu todos os rincões, espalhando papel alhures, completamente desprovido de lastro, e também de parâmetros. Não fosse a adjudicação dos espólios alemães, o dólar seria furado.
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O povo americano trazia na lembrança a morte estúpida de seus filhos em terras estranhas, por uma guerra estranha. Também tinha em mente o descalabro econômico provocado na década anterior. Não queria mais nenhum filme. Exausto, preferia ir dormir.
Hollywood precisava entrar na guerra para salvar sua moeda, de modo que nem se importou quando uma enorme esquadra japonesa zarpou na mais longa viagem, do oriente ao ocidente. Ninguém soube, ninguém viu. Os radares estavam desligados, os pracinhas dormindo.
Apresentou-se o causador, com a coroa de salvador.
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Getúlio queria tomar o poder na marra, não hesitou formular seu filme, com apoio de Hollywood. O plano Cohen entrou em cartaz, tirando o sono da tonta população. Apresentou-se o causador, com galardão de salvador.
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O Brasil não queria a guerra, mas se fosse para entrar seria do lado da companheirada da ditadura. Hollywood tratou de torpedear dois ou três navios, e escondeu a mão. Tinham sido os invejosos boshes os causadores. Apresentou-se o causador, com a faixa de salvador. Os brasileiros ficaram sem escolha: ou se juntavam a ele, e declaravam guerra aos alemães, ou assinavam um atestado de covardia. O destino foi a tomada de inexpressivo monte italiano, que nada tinha a ver com seus navios, mas os saques efetuados dentro do do Brasil, contra estabelecimentos italianos e alemães, bem como os confiscos bancários, cobriram com folga o turismo forçado.
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As petroleiras americanas contribuíram com vultoso investimento ao texano.
As Gêmeas foram destruídas, por culpa de um ente que jamais alguém viu.
Apresentou-se o salvador, invadiu o Iraque, matou o chefe e se apoderou de todo o petróleo de lá, assim se vingando dos malvados. Quem seria o causador?
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Ora falta imaginação, e protagonistas. Se na década sumiu o ouro, ora sumiram as próprias cédulas. Nada menos do que quase um trilhão de dólares tomaram rumo ignorado. Que estarão fazendo com elas? Escondidas, aguardando um momento propício ao retorno? Dinheiro x Democracia - O cassino das bolsas
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Em 1994 os bancos elencados na pasta-cor-de-rosa contribuíram com um milhão de reais cada um, à campanha do socio logo. Eleito o cavalo-do-comissário, no ano seguinte foram os apostadores autorizados a "quebrar". Apresentou-se o causador, com a coroa do salvador. Tomou parte do excedente dos congêneres, decretando os juros mais caros do mundo, porque se civilizados não haveria dinheiro para todos.
Na mesma época duas montadores contribuíram com idênticas quantias. Apresentou-se o salvador, e vetou as importações paralelas.
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Nenhum jornal, nenhum noticiário dá conta de onde Tio Sam retirará um trilhão de dólares para cobrir o buraco-negro. Em qualquer lugar do mundo, no primeiro ano de economia se sabe que o fenômeno de inflação significa a desvalorização da moeda por emitida sem lastro, sem fundo, sem produção que a justifique. É o flagrante caso americano. No entanto, o Banco Central, agente comercial entende de valorizar o dólar ao extremo, ou melhor, de modo técnico, desvalorizar em mais de 20% nossa moeda, em apenas uma tacada, enriquecendo os financistas e apaniguados.
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Ainda assim, vem a público propalar medidas corretas para enfrentar a crise, uma crise localizada em apenas dois estabelecimentos creditícios, bodes expiatórios para toda a sorte de falcatruas financeiras. Apresenta-se o causador no pódium do salvador, e o povo o reverencia.

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