Como há um homicídio a esclarecer, é inevitável que as autoridades
policiais escarafunchem todos os aspectos da história, mas isso não
significaque o grande público deva participar de tudo e acompanhar
'on line' cada novo desdobramento das investigações...
Entretanto, os limites do decoro foram quebrados pela perversa
combinação de uma imprensa ávida por sensacionalismo com
declarações irresponsáveis de autoridades policiais e judiciárias.
SCHWARTZMAN, Hélio, Editorialista da Folha de São Paulo, em 17/4/2008
O consciente jornalista se referia ao horrível crime sofrido pela menina paulista, atirada pela janela. A imprensa mobilizou toda a Nação, e com isso mostrou a pujança da sua capacidade de penetração popular, de seus assuntos permanecerem na crista da onda, nas rodas de chopp. Povo envolvido, ibope crescido, sucesso garantido. O grande predicado é desviar a atenção da massa para um rumo geralmente estéril, de finalidade inatingível. Caso alguém demonstre o "espanto" da Gravidade não se deve a nenhuma força, que não é nenhuma atração que mantém os corpos sobre a face da Terra, ou não acreditarão, ou ninguém dará bola. Tanto faz, diria o gajo. Pois alguém já demonstrou; no entanto, o que vende é a lei da atração!
A lei da atração jornalística é emocionar o leitor. Servem histórias de gente que saiu do tanque para assumir um levante. De cego que pode viver sem ver, mas não sem trabalhar.
Os autores do episódio se encontram presos, negados todos habeas corpus, ao arrepio da lei, do direito e da justiça, mas isso nem vem ao caso. A turba está contente. Contente? Com o que?
O maior golpe do mundo atinge diretamente todas as famílias brasileiras, já há mais de dez anos, e ocasiona todas as mazelas sociais e criminais desde então. Todavia, não emociona quanto aquele drama especial. Mais umas três ou quatro crianças seguiram a mesma viagem, por certo graças à propagação da primeira, mas, como àquela à Lua, já não rende mais audiência, não é mais novidade, de modo que apenas pequenos rodapés poderiam ser compatíveis com os raros anúncios comerciais que se serviriam do prato. Dessartes, fica claro e patente que não se trata de sede de justiça, mas do uso dessa ilusão para tomar dinheiro da gente, assim posta a Lamber sabão.
* * *O poder excessivo do setor financeiro é oDurante as espetaculares quedas das bolsas de valores, e o estardalhaço de todos os jornais do globo, via-se governantes absolutamente sorridentes, e banqueiros reunidos em grandes efemérides. Como são manifestações psicológicas, aventamos algumas hipótese pelas quais poderiam estar radiantes, em que pese o pânico da população ser de tal monta que as últimas semanas acusam centenas de suicídios.
motivo pelo qual o mundo chegou à crise atual.
(RUSSELL, Bertrand, O Moderno Midas, 1930/2002: 69.)
A especulação é péssima para a produção; exceto à gráfica. Nunca se vendeu tanto jornal; e com ele, o astro que do palco reluz, o economista.
“Não é de causar espanto que a economia seja, com freqüência, chamada de 'triste ciência!'”
(PILZER, Paul Zane, Deus quer que você enriqueça - A teologia da economia: 35)
Desde março deste ano venho sendo taxativo, sem margem à dúvida. Sempre afirmei que esta crise era fictícia, provocada pelos bancos em regime de gangsters, ou seja, em formação de quadrilha, ou, ainda, por combinação. Fazem das bolsas brinquedos de iô-iôs. Desta feita os estabelecimentos se fizeram de mortos para ganharem sapatos novos. Só a encomenda dos sapatos já foi suficiente para os bancos reapresentarem suas fortunas abruptamente retiradas daquelas cidadelas, e as bolsas readquirirem a pujança.
As empresas, aquelas que os jornais diariamente computavam as dantescas perdas de trilhões, terão que refazer os cálculos imediatamente.
Três grandes grupos, os que comandam todo o rebanho, em um mês lucraram mais do que em vários anos reunidos. O primeiro deles é coincidentemente o mais rico, e também o mais cruel. Neste ponto dão completa razão aos marxistas. Em regime lésbico, a crueldade e a riqueza dão-se as mãos para tripudiarem milhões de pessoas. Elas corrompem os governos antes mesmo deles assumirem. Como as apostas são equânimes, por irrisórias, nem precisa ser vencedor o cavalo-do-comissário. O lucro é garantido; e maior, se for potrilho, matungo ou pangaré:Os grandes banqueiros e industriais emergiram nessa época. Firmas de Wall Street - como Belmont, Lazard e Morgan - com apenas 15 anos de existência, ocupavam lugar de destaque na economia.Ao placê concorrem esses governos previamente subornados, cuja classe, mercê da democracia, vem do povo; portanto, da escassez, de modo que o brilho do ouro, como a luz à maripôsa, lhes encanta, até a queda fatal. Por último os intermediários, os bobos-da-corte, que por pratos de comida não hesitam em distrair o rebanho com truques, enquanto seus mandantes saboreiam o farto banquete no salão superior.
GLEISER, I.: 21
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