quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Dinheiro x Democracia 9 - O cassino das bolsas


-"O valor de mercado das empresas brasileiras listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou perda de R$ 179,424 bilhões em setembro. Segundo a consultoria Economatica, das 336 companhias que fazem parte dos índices da Bolsa, 285 tiveram queda nos preços de suas ações no mês, prejudicadas pelo agravamento na crise financeira." Estadão, 30/9/2008
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Campeã de acesso é
A atual crise americana.
Navegantes precisam de faróis.
Pois não. Acendo todos que puder.

De plano, indico: o flash supra é inverossímel. Não se aplica na dinamicidade daquela correia.
Ainda antes de impresso o valor era diverso.
A manchete é ficcional, sensacionalista;
portanto, provida de alguma má-intenção.

..........................................,,,nnnnnnnnnnnnnnn,,,,,,,,,,,,,,,."A vida é uma roleta, em que apostamos tudo." Ângela Maria

Os jogos de cassino são tão sensacionais quanto estúpidos. Proibidos no país, eles correm solto alhures. Players brasileiros visitam vizinhos.
O mesmo elevado intento pode ser atingível por "investimentos" nas bolsas de valores, ou através de câmbios com moedas estrangeiras. Igualmente é sensacional. E estúpido.

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Nosso presidente há pouco taxou a economia americana de "grande cassino". Por certo lhe vinha à mente a espetacular queda em Wall Street, e a incerteza peculiar do tobogã do pano verde. S.Exa. não tem discernimento. A economia americana cumpre seu costumeiro cruzeiro, apoiado pela maior produção do mundo. O que varia é a tonalidade advinda de uma caixa de ressonância que pertence ao planeta da especulação; portanto, da ficção. Enquanto isso, neste nosso país o real se desvalorizava cinco vezes mais do que a maior baixa acontecida no índice Dow Jones: "A divisa acumulou forte alta de 16,79%" (Invertia, 30/9/2008). Isso sim é uma realidade, nítida demonstração do cassino no qual estamos submetidos. Este impacto, entretanto, sofre amenização na pecha de "alta" do dólar, não na desvalorização da nossa, como é evidente, posto que para aquela moedinha variar tamanho percentual necessita de uns dois ou três anos. Não obstante, esta fixação na "alta do preço do dólar" torna meio de comércio em objeto de negócio. Per se demonstra a esterilidade produtiva. Aliás, tal subversão não é prerrogativa do "mercado" de câmbio: isso também acontece com nossas estradas, que de meio de escoamento de produção, também passaram a objeto de transação, e com as telecomunicações, em primeiro plano, entregues a comparsas estrangeiros. Todavia, essas ilações, e mesmo a confusão de nossos ilustres presidentes, bem podemos compreender:
""O homem só muito lentamente descobre como o mundo é infinitamente complicado. Primeiramente ele o imagina totalmente simples, tão superficial como ele próprio." (NIETZSCHE, F., O livro do filosofo: 41)
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Havia um boato: a bolinha da roleta era metalizada para ser suscetível ao imã colocado estrategicamente embaixo do carrilhão. O engenho permitiria que a banca escolhesse o momento, e para quem perderia; e inversamente, o instante e qual felizardo levaria a "sorte" para si.
O material da bolinha foi alterado. Ora é produto petroquímico, de extrema leveza, inacessível ao ímã; mas não à sucção!
Se houvesse a menor possibilidade do apostador sair vitorioso, dar-se-ia pela lei das probabilidades: bastaria ir dobrando as apostas, até chegar a vez de pelo menos uma sair vencedora. Pois nem assim. Nesse mar milhares já sossobraram. Basta adotar a prática, para surgir a defesa correspondente.
A julgar pela suntuosidade dos estabelecimentos, e pelas cabeças baixas que de lá despencam, por certo a verdade está mais perto da perfídia. Suplanta a simplória honestidade da dialética sorte/azar.
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A mesma cândida percepção pode ser endereçada às trajetórias das bolsas de valores, especialmente a nossa, esquálida, por isso mais leve, e portanto, mais fácil de ser manipulada. Não falta quem veja uma variação aleatória daqueles números, tal qual a "produzida" pela mesa do grupier. Neste caso, estar dentro ou fora pode determinar a sorte grande, ou o suicídio. Profissionais, contudo, estão sempre dentro; e não podem ser afetos ao jogo. Eis a razão de haver apenas um jogador.
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Assim como qualquer mercadoria baixa o preço quando abunda, e toma maior valor na sazonalidade, a moeda corrente se desvaloriza, quando em excesso, ou toma maior importância, quando suprimida. As intempéries das bolsas refletem o volume entre oferta/procura das promessas em seu campo encetadas:
O Banco do Japão (BoJ) injetou US$ 11,32 bilhões como medida de emergência para acalmar a situação dos mercados financeiros. A bolsa de Tóquio fechou em leve alta o pregão desta quarta-feira, acompanhando o otimismo do fechamento das bolsas européias e americanas na terça-feira.
(Estadão, 1/10/2008)
Convenhamos que tal aporte é irrisório, ainda mais para um banco, agravado de integrar uma das maiores economias do mundo. Qualquer vilão cadencia o balanço da ação, ainda mais se a classe operar unida, coordenada como uma defesa de um time de futebol que na batida da falta coloca o adversário em impedimento. Pobre atacante, pilhado na banheira.
Mas os papéis "negociados" são apenas isso, promessas, das quais nenhuma se realiza, exceto se tomada no instante da intenção, ainda assim por escolha do santo invocado, que pode ser tanto um intrépido investidor, como uma potente banca.
O agravante na bolsa é que mesmo na queda, e ainda mais vertiginosa, alguns atingem a maior ventura, justamente pelo prosaico motivo: quando alguém perde, do outro lado existe um ganhador. No caso, são milhares que perdem para uma meia-dúzia ganhar, de modo que se conclui: quanto maior a vertigem, mais auferirão os profissionais do elevador. No entanto, periódicos não contemplam a sutileza, preferindo alardear as "perdas das empresas", perdas fictícias porque lastreadas em promessas que não serão cumpridas, e por isso não tem o menor efeito, enquanto olvida a realidade, que é o estupendo lucro abiscoitado desse modo vil pelos grandes grupos financeiros, os quais tem nesta arena o motivo de maior júbilo. Não se diga que as potências firam as regras; mas o que escandaliza são as regras permitirem a presença dos lobos nos galinheiros.
Para melhor entender a disparidade entre os players, basta examinar o quadrante e o volume da aposta. De um lado costuma pescar o poupador da vida inteira, cujo montante pode atingir alguns zeros, depois da unidade. Em sua frente, surge o da cartola, dotado de milhares de poupanças, para cuja mágica sequer precisa se mover - os coelhos previamente ingressam em seu aparato para depositarem os ovinhos, cuja hospedagem ainda lhes sai onerosa!
Como é o volume, os valores empregados na oferta de compra, ou a quantidade de papéis colocados à venda que serão decisivos à calibragem do preço da ocasião, é pueril concluir que ele varia, sim, mas de acordo com a vontade de quem detém o potencial de destinar maior ou menor quantidade de oxigênio à moribunda. Ele brinca de iô-iô.
Reconheço: ao cabo de um ano o pequeno investidor poderá lograr algum resquício extra, uma migalha qualquer da mesa do Lázaro, que cobra 20 por mês. Neste caso, ele tem alocado o troco, no máximo tal valor, mas pelo ano!
Você ainda poderá cogitar:
"Bem, mas se eu estiver colocado do lado dele, ganharemos juntos."
Sim, mas de quem? O banco só ganha se alguém perder. E quem seria (sempre) o perdedor?
É por isso que este "mercado" precisa, necessariamente, ser instável; e é por esta instabilidade, a qual insanos e ignorantes supõem variar de acordo com as "economias dos países", que se oferece o atrativo do lucro rápido, sem maior esforço físico, apenas mental, e como!, e o motivo da manchete vender um montão, no dia de hoje. Tirante o imprudente, no pesadêlo, ninguém mais se preocupa com a verdade, porque ela significa a perda do sonho. O meio de comunicação se põe difusor, não criador; portanto, se acha isento de culpa, de responsabilidade, e de fato é irresponsável mesmo. Nenhuma empresa estipulada na bolsa perde alguma coisa. Esses valores não lhes pertencem, nem integram suas respectivas operações. Ademais, são efêmeros. Os anúncios publicados semeiam o terror apenas para chamar atenção. Orson Welles fez escola. Cumprida a missão terrorista, voltarão aos patamares costumeiros, no Momento de reversão Quem perde são milhares de ousados, neste instante desesperados, em pânico, ou premidos por alguma circunstância que os leva a liquidar suas posições. Compram um papel pela manhã, e à tarde se obrigam a vendê-lo, não poucas vezes por menos da metade do preço que pagaram; ou vice versa: "vendidos", assumem o compromisso do resgate a qualquer preço. Uma simples fumaça pode incitá-los a descer do elevador, independentemente do andar. Eis como se desfazem incontáveis famílias, por nossas cercanias.
Além do banco deter praticamente oitenta por cento do volume de apostas, podendo com isso calibrar as pressões ao seu belprazer, ele mantém no garrote o próprio Banco Central e até o governo federal, mercê das tais contribuições de campanha, irrisórios investimentos com spreads inimagináveis para qualquer negócio decente. Isso significa que ele é o agente que irá regar ou sufocar o mercado, fazendo com que a economia prospere, ou caminhe à recessão, assim valorizando sua matéria-prima, que é o dinheiro sonante:
Aumentos rápidos da quantidade de moeda provocam inflação. Quedas acentuadas provocam recessão. Esta é uma proposição igualmente bem documentada. Não está diretamente documentada neste livro, embora sejam mencionados alguns tópicos: a depressão de 1873-79 nos Estados Unidos, os anos deprimidos do início da década de 1890, a grande retração de 1929-33 que levou Franklin Delano Roosevelt à Casa Branca e armou o palco para o programa de compra de prata da década de 1930.
FRIEDMAN, Milton: 242 .
É o que acontece na atual crise mundial, por sinal, idêntica a que precedeu a lambuzeira de Roosevelt..
Se Marx conclamou os operários do mundo para se unirem, e quase conseguiram, imagine a facilidade de bancos e governos se darem as mãos para espoliarem seus respectivos quintais. Não obstante, ambos, Banco Central e Governo, são as fontes de informação, que podem ser verdadeira, ou apenas aterrorizantes, neste caso no fito de causar um estouro na boiada para o cowboy laçar o boi que lhe apraz. Spinoza já sabia disso tudo:
"A liberdade consiste em conhecer os cordéis que nos manipulam.
"
Ora conhecemos não só os cordeis, como quem adora brincar com marionetes:
O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) é direto quando indagado se os bancos privados estão escondendo dinheiro por causa da crise: 'Claro que estão! O que eles fizeram? Fogueira com o dinheiro? Isso deve estar todo entesourado'
Folha de São Paulo
, 23/11/2008

Por último, permita-me uma sugestão: esta crise ao meu ver é préfabricada, como tentei expor ao longo deste approuch. Se você estiver na mesa, não a vire. Aguarde um pouquinho, quiçá apenas até o fim do ano. Os preços voltarão ao patamar. Neste caso, lembro de Lao-Tzè:
"Pela não ação, tudo pode ser feito"
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À distração:
Debate na TV's ALL
021 prevê colapso da democracia
As novas Olimpíadas da China
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