sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A representação do mundo


Em devaneio 
A matemática surgiu da auto-alienação do espírito humano. A alma não consegue se encontrar na matemática. O espírito humano reside nas instituições humanas Giovanni Battista Vico (1668-1744)
O mundo como vontade e representação intitulou a magna obra de Schopenhauer.* Vagamente lembro o conteúdo. O mundo seria como a expressão que estivesse contida na mente. O centro e a essência do mundo não estão nele, mas naquilo que condiciona o seu aspecto exterior, na "coisa em si" do mundo, a qual Schopenhauer denomina "vontade" (o mundo por um lado é representação e por outro é vontade). O mundo como representação espelha  a "objetividade" da vontade (vontade feita objeto - submetida ao princípio formal do conhecimento, o princípio de razão. Aproximava-se da doutrina oriental. Talvez seja o único filósofo poupado pelo nosso arquiartilheiro TriPulante Nietzsche. Mas o mundo a que se refere o renomado autor é o das coisas, dos objetos, do Universo, enquanto o que trago à ribalta é o exclusivo da gente - o mundo formado por nossos costumes. De qualquer sorte, também somos produto e representação das vontades de nossos antepassados. Mercê das sapiências ´nosso mundo surgiu e se mantgém sob a égide dística, e geralmente dramática. Esta representação, este teatro teve seu script  lavrado na Caverna: . "Leia sobre Platão, Aristóteles e os matemáticos antigos e descobrirá como suas especulações e descobertas foram transformadas e ampliadas nos métodos e sistemas com que até hoje trabalhamos." (BARZUN, J.  A História, cit. FADIMAN, C.: 4)
A peça exige hierarquia, com papéis delimitados. "A sociedade grega e romana se fundou baseada no princípio da subordinação do indivíduo à comunidade, do cidadão ao Estado. Como objetivo supremo, ela colocou a seguranç a da comunidade acima da segurança do indivíduo." (TOYNBEE, A. J.:196). Os atores representam o povo, que não em limite. E nenhum compõe sequer a realidade que vê. Agem supondo o que melhor representa. Fidelidade não vem ao caso, Importa agradar a platéia.  A realidade assim se dissipa antes mesmo do objeto cumprir a missão pela qual oi representante ingressou no cenário.
Contemporaneamente o mito vai se identificando com a ideologia política: é que o processo mitológico sempre coloca suas crenças a serviço de uma ideologia. Barthes, coincidindo com este entendimento, afirma que através do mito consegue-se transformar a história em ideologia. WARAT, L. A. Mitos e Teorias na Interpretação da Lei: 128
O elenco segue as parcas noções transmitidas  de geração em geração. "Vivemos à base de idéias, de morais, de sociologias, de filosofias e de uma psicologia que pertencem ao século XIX. Somos os nossos próprios bisavós." (BERGIER, J. e PAWELS, L. , O despertar dos mágicos: 31) Eis o non sense: “Existem tempos nos quais os homens são tão diferentes uns dos outros que a própria idéia de uma mesma lei aplicável a todos lhes é incompreensível.” (TOCQUEVILLE, A. 1997, Livro Primeiro, Capítulo III: 61) Como o tempo varia para todos de modo geral, e ainda mais ao particular, cada qual descarta sua própria metafísica, sua personalidade, em prol de um denominador comum, dita sociedade, a história que se produz é uma permanente festa à fantasia, na qual os dogmas e as religiões do mundo comparecem vestidos de arlequim. Tudo de acordo com o script originamente disposto naquela Atenas dominada pelos Trinta Tiranos. 
As principais características do indivíduo no grupo são, portanto, o desaparecimento da personalidade consciente, o domínio da personalidade inconsciente, a orientação de pensamentos e sentimentos em uma só direção mediante a sugestão e contágio, a tendência à realização imediata de idéias sugeridas. O indivíduo não é mais ele mesmo, é um autômato destituído de vontade. Ademais, pela mera participação num grupo, o homem desce vários degraus na escada da civilização. LE BON cit. KELSEN, HANS, A Democracia: 315
E lá se vem a massa de roldão, em coro e  refrão. Quem nada represeta não merece, sequer, viver.
O mundo barroco pode ser descrito também como um grande teatro, onde cada homem deve ocupar o seu lugar. O mais belo dos teatros é o centro do mundo católico romano: a praça de São Pedro em Roma. A literatura, as artes, a filosofia giram em torno de Deus, de suas exigências e da salvação. Os filósofos e os sábios da época, em sua compreensão do mundo, privilegiam o caráter de abstração e de esquematização. (geométrico).  JAPIASSÚ, H., 1997: 81
Deus nomeou seu grande representante, bem como um exército de pequeninos, em crescimento tão acentuado quanto a máxima de Malthus.
Os sindicatos representam as classes profissionais; os partidos dividem a população em partes, feito fatias de pizza. Dentro do Congresso eles são representados pelos líderes. Os liderados podem descansar. Os clubes representam paixões; e a bandeira, o orgulho nacional. As câmaras de comércio e indústria decidem pelos segmentos correspondentes. Ninguém mais precisa se manifestar. Comércio de ações, só com a ação do intermediário. Perante o juiz, é vedado se defender, exceto por seu representante, o doutor. Ambos se  mostram mais realistas do que os reis... por preconceitos metafísicos. O importado atesta o sucesso profissional do condutor. Como foi adquirido, ou se de fato é da propriedade de quem está no volante, não vem ao caso. O cartão-de-crédito confere credibilidade, e a gravata, o prestígio. A cruz pendurada no espelhinho expõe a religiosidade do motorista, e a tatuagem, o amor. O preto, o luto; a estrêla, o general. O dez é o máximo. O cabelo identifica o skinhead. Com o cartão-vermelho o árbitro não precisa abrir a boca. Cristo abençoa a Cidade Maravilhosa; pouco importa o sangue correr pela sarjeta.

O representante máximo
Segundo o escritor pós-moderno David Harvey, a crença no 'progresso linear, nas verdades absolutas, no planejamento racional de ordens sociais ideais' engendrou 'uma celebração do poder burocrático corporativo e da racionalidade, sob o disfarce de um retorno à superfície do culto da máquina eficiente qual um mito suficiente para incorporar todas as aspirações humanas'. ZOHAR, D., 2000: 167
O elemento propulsor dessa racionalidade congrega todas listadas, e mais incontáveis, a ponto de ocupar quase todo o mundo real, também o virtual, é simples e popular: o dinheiro. O papelucho a tudo precede, especialmente vãs aspirações humanistas, entre as quais a ética, formulação estéril e improdutiva, por isso ignorada, e desprezada, coisa de Aristóteles, incompatível com a ambição de Platão.
A teoria macroeconômica não tem procurado superar seus outros defeitos mais sérios. Inspirada na errada crença de que deveria imitar os métodos das ciências naturais, especialmente os da física, acabou abstraindo-se das variáveis essenciais mas não quantificáveis, tratando uma série de eventos históricos como se fosse repetitiva, determinística e reversível. SIMPSON, D.: 6
Como sair da arataca greco-romana, estrêla-guia?
Einstein insinua que a ciência se deve ocupar, em primeiro lugar, não de noções que, na sua essência, estão marcadas por uma grande carga metafísica, como as de 'força' e 'matéria', mas antes daquilo a que agora chamamos 'intersecções’ no espaço-tempo de linhas do universo. HOLTON: 127.
Mais difícil era compreender que o Sol não girava ao redor da Terra. Quase impossível é conceber E=Mc2. De que modo se resignar com a precariedade da matéria,  apenas expressão de energia  estática,, um veículo efêmero, e volátil?  Convencer tuareg que a água pode ser sólida? E o que dizer do terreno onde pisa, que pode ser de origem líquida, manifesto nuclear? Talvez um pé de vulcão lhe demova as idéias fixas.  Como explicar que a gravidade não é por força do agente, mas concessão das circunstâncias desprovidos da menor visibilidade à sustentação? 
Estamos hoje no meio da maior catástrofe econômica – a maior catástrofe devida quase inteiramente a causas econômicas – do mundo moderno. Sustenta-se em Moscou de que é a crise final, culminante no capitalismo e que nossa ordem existente da sociedade não sobreviverá a ela. KEYNES, J.M., cit. TRATHERN: 224
Diante do colapso prenunciado, de novo deflagrado,, urge uma reversão. "A estimativa é de que atualmente haja 35,6 milhões de pessoas vivendo com demência no mundo. Este número deve subir para 65,7 milhões até 2030 e 115,4 milhões até 2050." BBC-Brasil, 21/9/2010 Não me proponho a extintor, mas sugiro um longo corte epistemológico no pontilhão do ocidente, no fito de readequar este cristal que mobiliza e monopoliza todas as atenções e relações humanas, responsável direto pela devastação à granel.
"Sabemos que o universo manifestado, que parece ser formado por objetos sólidos, é na verdade composto por vibrações, com os diferentes objetos vibrando em frequências distintas." (CHOPRA, DEEPAK, A realização espontânea do desejo: 124)  "O núcleo do novo paradigma é o reconhecimento de que a consciência, e não matéria, é o substrato de tudo que existe." (GOSWAMI, A. )
Você é produto de seu desejo mais profundo.
Como é seu desejo, assim é sua intenção.
Como é sua intenção, assim é sua vontade.
Como é sua vontade, assim é sua ação.
Como é a sua ação, assim é seu destino.
Realize-o, em prol do seu coração
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*SCHOPENHAUER, Arthur, O Mundo como Vontade e Representação. Tradução de Heraldo Barbuy. - São Paulo: Coleção Grandes Obras da Filosofia, Edições e Publicações Brasil Editora S.A., 1958.
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