sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Momento de reversão

-
Em aclive o ciclista costuma colher a baixa velocidade do caminhão
esticando o braço à carroceria
. Uso a metáfora, cujo motor é do banco.
Há muitos participes na ciranda das bolsas, mas só o monstro condensa
a munição, a custo zero.
Numa economia em cruzeiro, há discrepâncias
de posicionamentos, de modo que as grandes casas se dividem
em compradoras e vendedoras, resultando em relativo equilíbrio à
flutuação de preços. Desta feita, contudo, não.
Ambas, de todo modo,
são produtos de uma Crise de vergonha.-
O crash de 1929 foi flagrantemente proposital.
O Plano recomendava cercear o fluxo monetário.
A cavada depressão estrangulou o parque produtivo,
"justificou" o desvio do padrão-ouro, e a bateria de alterações
políticas, jurídicas, sociais e econômicas. O causador como salvador
Eis o Fio-de-Ariadne pelo qual se articulou o ardil do New Deal
A atual crise americana também é proposital, mas não é verdadeira.
Desta feita não há deliberação de governo, mas blefe dos bancos.
Querem repetir a façanha. De certo modo já lograram, e como.
Os governos mundiais lhes estenderam o material tão cobiçado.
Além dessa fundamental distinção, subsistem incontáveis contrastes. Entre todos,
dois aspectos me parecem mais acentuados, por isso mais rapidamente elucidativos.
Diferentemente daquela traumática realidade, não há o estancamento pelo padrão-ouro, per se vedante à emissões monetárias Ademais, o governo americano, e quase todos, exceto o nosso, vem constantemente reduzindo os juros aos próprios bancos. Significa mais agilidade de rotação e maior volume monetário; portanto, contrário à escassez tão apregoada.
Dizer que a economia americana, em apenas um ano, vai à bancarrota por inadimplência de mutuários de casa própria é tão bizarro quanto anunciar falta de combustível no Spaceshuttle.
O americano comum assume prejuízos, mas não arrisca seu crédito, porque o tem como honra. Que haja alguma percentagem que solape o princípio até posso admitir; contudo, torná-la regra, e quase unânime, e apenas no setor imobiliário, com a desculpa da desvalorização daqueles bens, logo os mais perenes, equivale à justificativa de invadir o Iraque, e extrair o petróleo porque buscam capturar Bin Laden.
A crise é fictícia, mas oportuna aos bancos, fato que levou ao acordo geral. O regime de recessão valoriza a representação. O objeto deprecia o concreto:
Na verdade os interesses dos banqueiros
têm sido contrários aos dos industriais:
a deflação que convém aos banqueiros
paralisou a indústria britânica.

RUSSELL, B., 2002: 68; cit. DE MASI, 2001:99
Como tudo tem limite, e prazo de validade, alcançado o objetivo, a tendência é o retorno ao ponto de equilíbrio. As etapas foram cumpridas, em cronograma. Para pressionar a ação pública, nada melhor do que assustar o público. E para assustá-lo, basta mudar a batida da caixa-de-ressonância, que são as bolsas de valores, apenas uma em cada país. Para fazer qualquer preço cair, é só não aparecer dinheiro. Foi o que os maiores investidores fizeram, de modo praticamente combinados, senão orquestrados.
Na divulgação do aporte oficial, os bancos deram a impressão que tudo imediatamente retornaria à normalidade, os preços se elevaram e os bancos venderam seus investimentos recém adquiridos em ponto menor, para no outro dia já não aparecerem e os preços de novo caírem, tal qual brinquedo de iô-iô.
Poderiam esses estabelecimentos levar esse jogo torpe por muito tempo?
Difícil. Como se trata de um movimento mundial, é quase impossível mantê-lo intacto, sem furo, por mais de uma semana. São centenas de estabelecimentos, de todo o canto do mundo. A dispersão é inevitável; e determinará a tendência à estabilidade natural.
Os valores foram drasticamente afetados. Quedaram a patamar irreal. Preços de barganha. Poder-se-ia argumentar, como tudo, que ela é relativa. Se a cotação se reduzir ainda mais, pela metade, por exemplo, o suposto barato se torna caríssimo. Todavia, neste caso é improvável. Não é possível, nem há interesse em manter a orquestração mundial***. Eventuais ensaios, de alguns conjuntos, poderão se suceder, mas de forma localizada, e por short time. Bastarão algumas dissidências, provavelmente européias, e os preços não cairão de modo mais duradouro. Tenderão ao costumeiro pêndulo, cujo ângulo oscilatório, por certo, será mais civilizado, de acordo com a tradição, mas em rumo crescente. E digo mais: mercê dos balanços contábeis, ainda antes do fim-do-ano atingirão o patamar superior, se não ultrapassá-lo.** O "fenômeno" evidenciará o mau agouro dos interesses escusos que insistem em manter a sociedade sob suspense, por justificativas de movimentos de exceção, ou por inaptidão gerencial, no caso dos governos, e no desdém dos especuladores, tubarões sempre sedentos por atônitas sardinhas.
No cenário doméstico, aqueles investimentos internacionais estrategicamente levantados voltarão ainda mais encorpados, inclusive mercê das injeções oficiais, justamente para readquirirem aquelas mesmas ações recentemente vendidas pelo dobro. O movimento propiciará paulatina substância aos preços defasados.
Para formar a onda, mister o repuxo. Os números retornarão ao leito, ainda que suscetíveis de algumas oscilações, como mencionei, os quais irão diminuindo como se reduzem cristas e freqüências de todas as ondas longetudinais, na medida em que se afastam de seus epicentros.
___________
* Folha, 26;10/2008: O bilionário americano Warren Buffett, que recentemente aconselhou a volta às Bolsas porque, na baixa, é a hora de comprar.
O GTI tinha vendido, quando o Ibovespa atingiu 73 mil pontos, ações da empresa de logística ALL, da operadora Net e da Energias do Brasil. "Recompramos essas ações por menos da metade do preço de venda", diz Gordon. Segundo ele, uma das vantagens deste momento de incerteza é que, com a tendência de as empresas postergarem investimentos, seu caixa ficará mais líquido. Conseqüentemente, a distribuição de dividendos será maior."Poucos têm frieza para entender que nem tudo acabou", diz Gordon. "Mas há bons ativos... Ao investir durante a crise, o retorno esperado é muito maior."

** São Paulo, 4/11/2008 - Petrobras, Vale, siderúrgicas e setor financeiro carregaram a Bolsa de Valores de São Paulo de volta aos 40 mil pontos, patamar perdido em 15 de outubro.
Na mosca:Desde o dia 27 de outubro, quando fechou aos 29.435 pontos, menor pontuação nos últimos três anos, o Ibovespa já recuperou 36,8%. Até ontem, o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) havia registrado alta de 36,8%, nos últimos sete pregões.(5/11/)
l

Nenhum comentário:

Postar um comentário