sábado, 8 de março de 2008

O fim dos "sociais"


O que de propriamente científico existe no socialismo não é socialista e o que é socialista não é científico. O socialismo é um grito de dor, às vezes de cólera.
Èmile Durkheim (1)
O estudo da sociedade é tão precioso porque o homem é muito mais ingênuo como a sociedade do que como indivíduo. A sociedade jamais considera outro modo a virtude senão como meio para atingir a força, a potência, a ordem.
F. Nietzsche (2)
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O DESCALABRO MARXIANO foi tomado progressista porque suplantava os métodos rigorosamente lineares que imperavam incólumes até a presença mais enfática da dialética.
O baluarte Trótski assim o descreveu:
Com base num profundo e abrangente estudo da ciência, Lênin provou que os métodos do materialismo dialético, tal qual formulados por Marx e Engels, eram inteiramente confirmados pelo desenvolvimento do pensamento científico em geral e pela ciência natural em particular. (3)
Stálin confirmou a eficácia do científico método justamente contra Trótski: mandou assassiná-lo!
Walter Lippmann bem identificou os tipos:
Os coletivistas tem o empenho de progresso, a simpatia pelos pobres, o ardente sentido do injusto, o impulso para os grandes feitos, coisas que tanto vem faltando ao liberalismo nos últimos tempos. Mas sua ciência se baseia num profundo mal-entendido; e suas ações, portanto, são intensamente destrutivas e reacionárias. Assim, os corações dos homens são destroçados, suas mentes divididas e são apresentadas alternativas impossíveis. (4)
Houve quem alertasse:
“Uma comunidade de indivíduos padronizados, sem originalidade pessoal e sem aspirações pessoais, seria uma comunidade inferior, sem possibilidade de desenvolvimento.” (5)
A confirmação do pecado científico veio em nosso século, na confissão dos próprios discípulos da “comunidade inferior de indivíduos padronizados” teimosamente implantada. A farsa era incompatível com a verdade:
A Teoria da Relatividade foi condenada, não porque (como na Alemanha Nazista) Einstein fosse judeu, mas por razões igualmente irrelevantes: Marx havia dito que o Universo era infinito e Einstein havia tirado certas idéias de Mach, proscrito por Lênin. Por trás de tudo estava a desconfiança de Stálin de qualquer idéia remota associada a valores burgueses. Ele estava levando adiante aquilo que os comunistas chineses mais tarde chamariam de Revolução Cultural - uma tentativa de mudar, por decreto e uso da polícia, as atitudes humanas fundamentais em relação a uma gama de conhecimentos. (6)
As razões, todavia, não eram irrelevantes; pelo contrário:
“Moscou, o quartel-general do ateísmo, viu na Teoria da Relatividade incompatibilidade entre ela e o materialismo soviético fundamentado no marxismo.” (7)
O cisco caia nos pés dos carrascos bolcheviques, era empurrado para baixo do tapete, mas a máscara científica se dissolvia como açúcar:
Na União Soviética, do tempo de Lenine, se fez grande silêncio sobre a teoria de Einstein, porque os pontífices do Governo haviam declarado que o átomo não podia ser dividido, por ser a base da matéria, e sem matéria não haveria materialismo, um dos pilares do comunismo. (8)
O fim social
As grandes nações não são jamais arruinadas pela prodigalidade e mau emprego dos capitais privados, embora, às vezes, o sejam pelos públicos. Na maior parte dos países, a totalidade ou a quase totalidade das receitas públicas é empregada na manutenção de indivíduos não produtivos [...] Toda essa gente, dado que nada produz, tem de ser mantida pelo produto do trabalho de outros homens.
SMITH, Adam, Inquérito Sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações vol.I, 1999: 599.

Nem o comunismo, tampouco as “leis” de movimento descritas por Newton refletem a ciência. Embora ambiciosos, ambos traduzem, apenas, pitorescas coincidências. Fala o mestre Bertrand Russel:
“Os corpos se movem como o fazem porque esse é o mais fácil movimento possível na região de espaço-tempo em que se encontram, não porque forças 'agem' sobre eles.” (9)
Vale a pena transcrevermos todo ensinamento:
Os corpos se tornam, assim, muito mais independentes uns dos outros do que eram na física newtoniana: há um acréscimo de individualismo e uma diminuição de governo central, se nos for permitido usar esta linguagem metafórica. Isto pode, mais cedo ou mais tarde, modificar consideravelmente a visão que o homem culto tem do universo, possivelmente com resultados de grande alcance. (10)
Desde há muito, pois, cogitava-se do fim da farsa:
Um segundo pilar na catedral da teoria socialista foi o planejamento central. Em vez de permitir que o 'caos' do mercado determinasse as regras da economia, um planejamento inteligente de cima para baixo possibilitou concentrar recursos nos setores-chaves e acelerar o desenvolvimento tecnológico. Mas planejamento central dependia de conhecimento e, já nos anos 1920, o economista austríaco Ludwig von Mises identificou a falta de conhecimento, ou como a chamou, o seu 'problema de cálculo', como o calcanhar de aquiles do socialismo. (11)
O ser da matéria não se separa de sua atividade. A interação é total. O próprio Einstein afirmou:
“A massa de um corpo é a medida de seu conteúdo de energia.” (12)
Heisenberg já detetava:
“A física atômica fez a ciência afastar-se da tendência materialista que ela tivera durante o século XIX.” (13)
E o que relembra Rohden?
“O materialismo do século XIX morreu por falta de matéria - que ironia!- pois a ciência do século vinte reduziu a tal matéria a energia, E=mc2. Energia é massa multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz”. (14)
Como cientificamente falso, o que se deve gravar à lembrança do "sociólogo-economista" é o fato dele ser um dos principais, senão o principal responsável pela morte e pelo saque em milhões de inocentes pelo mundo afora, além de tolher de cada cidadão, de cada sobrevivente, de cada habitante do rincão alcançado pela sua preconceituosa idéia, o usufruto de uma vida de realização pessoal, trágica lista que começou em sua própria casa:
“De seus seis filhos apenas três chegaram a idade adulta, e desses três, dois vieram a suicidar-se”. (15)
Livraram-se de presenciarem as atrocidades recomendadas, cometendo-as contra si mesmos: “Em nome do progresso humano, Marx provavelmente causou mais mortes, miséria, degradação e desespero que qualquer outro homem que já tenha vivido”. (16)
Karl pecou por miopia, vigarice, ou talvez tenha sido vítima de uma precipitação, provavelmente de origem juvenil, na melhor das hipóteses; mas conseguiu embrulhar, carregar populações do mundo inteiro, arrastadas por uma corrente cada vez mais grossa, até transformar-se num rio arrasador. Empregou, infelizmente, metade da população a defendê-lo e outra metade a defender-se, antes de ser enterrado, com grande festa e muito champagne, embaixo das pedras do muro que propiciou construir, onde ainda hesitam alguns suspiros. Como disse James Buchanan, “O socialismo está morto, mas Leviathan ainda vive”. (16)
Lamentável é o morto-vivo morar no Brasil.
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Notas
1. Revue de Metaphysique et de Morale, 1921, cit. em Hugon, Paul, p. 190.
2. Vontade de Potência - Parte 2 - , p. 276.
3.Trotski, Leon, Vladimir Ilitch Lênin, cit. Fadiman, Clifton org., p. 318.
4. Lippmann, Walter, cit. Popper, K., Sociedade Democrática e Seus Inimigos, p. 88.
5. Barzun, Jacques, Sobre a História, cit. Fadiman, Clifton org., p. 8.
6. Johnson, Paul, p. 381.
7. Monteiro, Irineu, Einstein, Reflexões Filosóficas, p. 84.
8. Rohden, Huberto, Einstein, O Enigma do Universo, p. 56
9. Russel, Bertrand, As consequências filosóficas da Relatividade, em Fadiman, Clifton, p. 265.
10. Idem, ibidem.
11. Toffler, A e Toffler, Hedi, p. 86.
12. Einstein, Albert, cit. Jammer, Max, p. 154.
13. Heisenberg, W. cit. idem p. 173.
14. Rohden, Huberto, cit. Monteiro, Irineu, Einstein - Reflexões Filosóficas, p. 9.
15. Marx, Karl, cit. Downs, Robert Bingham, p. 100.
16. Idem, p. 111. O autor não cita quem é o autor da apreciação, apenas informando tratar-se de um crítico hostil.
17.Buchanan, James, cit. Klaus, Václav, Ministro das Finanças da Tcheco-Eslováquia de 1991, Presidente da República. - Demolindo o Socialismo, série Ensaios e Artigos - Inst. Liberal, R. Janeiro, 1992, p.10.

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