quinta-feira, 6 de março de 2008

Freudismo & marxismo: charlatanismo & violência

A ciência como instrumento e máscara da dominação de classe: eis o signo indiscutível da ideologia
Claude Chrétien
Ninguém escreveu sobre o dinheiro tendo tão pouco no bolso.
Francis Wheen, biógrafo de Marx. *
O conceito maquiavélico-hobbesiano do “homem lobo do homem” convém para justificar essas "profissões." Nada de mais; tudo de menos.
Filhotes de Platão & Hegel
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 - 831) foi um filósofo que influenciou todas as ciências justamente por assar a filosofia com a física em projeto metafísico. Em Differenzschrift.(Cicero, A.: 73) "o mais servil lacaio de PLATÃO" (POPPER) define seu infalível método: de apuração: "A cisão é a fonte da exigência da filosofia”, 
A operação redunda em trazer à tona o dark side, o negativo subliminar da trajetória histórica conhecida, à luz de uma virtualidade completamente fantasiada, na moda evolucionista. Geólogos viam a Terra como produto de ação contínua das forças naturais (só não sabiam quais) durante enorme período, enquanto Lamarck apresentava uma coerência evolutiva capaz estabelecer até a Origem das Espécies, de Darwin. A evolução detectada na “força maior” encaixava-se no estudo das ciências humanas. Hegel lavrou a picada, ao gáudio de Darwin. Na tentativa de afastamento das antigas concepções rigorosamente deterministas, tanto este como aquele caíram vitimas dos próprios desígnios. Destarte, ao invés de se aproximarem da moderna concepção de natureza (que dezenas de anos após seria cabalmente demonstrada por Einstein) Hegel, alguns antepassados, contemporâneos e sucessores reforçavam o equívoco mecanicista com outro, embora pensado biológico, porém mais nefasto e mais baconiano, porque no sentido da dominação pela força. O absurdo pairou preconizado por esta biologia mecanicista, uma psicologia behaviorista, uma história empírica, uma sociologia descritiva, coisificante, e um direito que lhes corresponde, totalmente opressor. Danah Zohar observa:
Nossa atual psicologia da pessoa, tanto como compreendida pelas pessoas comuns como pelos acadêmicos, advogados e juízes é uma curiosa mistura de idéias deterministas tiradas diretamente da ciência em si ou de um bolo mal digerido dos usos em que Marx e Freud quiseram colocar a ciência.
As oposições, esses dark-sides, apenas Descartes, Hegel, Freud, e especialmente Marx seriam capazes de discernir:
“O padrão final das relações econômicas como vistas na superfície é muito diferente, para não dizer o oposto, do seu padrão essencialmente interno e oculto”.
No caso mental, basta substituir a “oculta” causa econômica do “ser-social” marxista (pai), pela “causa-mãe”, de Freud. Ambas teorias e seus efeitos dialéticos primam pelo duelo no eixo correspondente, às vezes comum.
"O marxismo e a psicanálise freudiana expressam os dois lados de um mesmo 'fato', duas perspectivas de uma mesma realidade, a realidade do indivíduo 'cindido', explorado e alienado." (Mrilia Mello Pisani, Revista Mal-estar e subjetividade . - Fortaleza, CE, março/2004.)
.
Marx
“A dialética de Hegel, revista e corrigida por Marx, pretende impor uma perfeita transparência no domínio humano, capaz de tudo explicar.” (Japiassú, Hilton, Nascimento e Morte das Ciências Humanas: 104)
Eis o método do filósofo-mór do materialismo:
“Em Hegel a dialética está de cabeça para baixo. É preciso recolocá-la sobre seus próprios pés para descobrir-lhe o núcleo racional, sob o invólucro místico.”(Coelho, L.F.:42)
Ao girar apenas pelo eixo econômico, designando-o leito a sua operação, embora contraposto a Hobbes pela ruptura histórica, coisa que não era admitida pelo pai do Levithan, Marx projetou a técnica que propiciou o mais completo domínio do Estado, maior ainda do que aquele proposto pelo medroso inglês, sobrepujando todas maquinações, fossem as de Maquiavel, de Comte, Rousseau ou Hegel. A universalidade da tese só seria viável pela aceitação, no convencimento geral, jamais pela força e isso ele deveria saber; mas ele também sabia, de antemão, que sua ciência era furada. Só à força bruta poderia ser impingida. Assim o foi

Freud
Para falar em termos fisiológicos: na luta com o animal,
torná-lo doente é talvez o único meio de enfraquecê-lo.
NIETZSCHE, F. Crepúsculo dos ìdolos, ou como filosofar a marteladas:. 54.
Para atingir o mercado sem rótulo de ciência abstrata, presumivelmente discutível, a Psiquiatria, como a esmagadora maioria dos ramos científicos, logrou o sucesso através do interminável cabo cartesiano-newtoniano: TV Cultura | Roda Viva | Elisabeth Roudinesco | Historiadora da psicanálise
As imutáveis leis da História descritas por Marx, a luta desesperada pela sobrevivência de Darwin e as tempestuosas forças da sombria psiquê de Freud devem, em alguma medida, sua inspiração à teoria física de Newton.
Zohar, Danah, e Marshall, I.: 16
Em que pese bem apessoado, e sempre rodeado, Sigmund Freud expressou muita sordidez, . E tal qual Maquiavel, acabou conquistando também o desprezo e a ojeriza generalizada: 
Para os leigos, a medida que se difundiam as teorias de Freud, ele se revelava o maior desmancha-prazeres da história do pensamento humano, transformando as piadas e as pequenas satisfações do homem em sombrias e misteriosas repressões, descobrindo ódios na raiz do amor, maldade no âmago da ternura, incesto nos afetos filiais, culpa na generosidade, e o ódio reprimido pelo próprio pai como herança humana normal. Downs, R.B: 210. (O autor não informa quem formulou a frase, limitando-se a caracterizá-lo como sendo "um critico um tanto jocoso".)
Quem não o levasse a sério, logo era taxado de demente, debilóide. Sequer outros pesquisadores ou cientistas poderiam questionar este campeão da arrogância: “Minha inclinação é tratar aqueles colegas que oferecem resistência exatamente como tratamos os pacientes na mesma situação.” (Idem, ibidem.)
Sigmund atuava “como um ideólogo messiânico da pior maneira, com uma tendência persistente de considerar aqueles que divergiam dele como desequilibrados e necessitados de tratamento.” (Johnson, Paul, Tempos Modernos: 4)
Embora Einstein tenha mencionado que o velho (Freud) tinha muita imaginação, o que faltou à dupla sinistra foi justamente isso. Aliás, no caso do fumante de charuto, foi até uma clonagem, flagrante ao importar a mitologia grega à sua fantasia negra.
MacPherson (1979) identificou no pai do Leviathan a inspiração que serve aos dois, e a incontáveis filhotes.
"Todos os programas de pesquisa modernos em ciência surgem e se consolidam com o apoio da obra de Hobbes."
Na verdade o liame vem desde Platão, o pioneiro em timbrar "o homem como lobo do homem".
Dessarte, O Mal-estar na Civilização diagnosticado por Freud sustenta que “a sociedade teve de impor de fora regras destinadas a conter as ondas de excesso emocional que surgem demasiado livres de dentro”.
.
Ambos
Não será audácia afirmar que em 1917, ano da revolução e insubordinação, assinalou também uma revolução cultural nos EUA - um movimento que iria adotar o vocabulário de Marx somado ao de Freud. (Mascarenhas, Eduardo: 190)
Ao marxista Marcuse deveria haver "um total rompimento com a forma alienada de sociedade e suas premissas, e a teoria freudiana fornecia elementos para a crítica desta sociedade, uma vez que seus conceitos revelava as contradições reais da sociedade alienada."
Michel Maffesoli entende tanta ansidedade:
Poucos e, para além de algumas variações, de pequena importância, os sistemas de explicação do mundo elaborados na segunda metade so século XIX, como o marxismo, o freudismo ou o funcionalismo, baseiam-se numa visão positivista, teleológica e material da evolução humana. (3)
Tanto o inconsciente freudiano quanto a luta de classes marxiana existem para contrastar com a realidade que lhes parece evidente; são as molas do artifício, os projetores da ficção, perfeitamente coadunados com o princípio platônico, cujo método alcançou seu esplendor através de Hegel, no primeiro quarto do XIX.
Os filósofos subseqüentes, como o próprio Marcuse, ficaram tão embevecidos ao percorrer essa picada, que acabaram propondo o fim-da-picada, no fito de levar a massa de roldão:
A criação de necessidades repressivas tornou-se há muito parte do trabalho socialmente necessário; necessário no sentido de que, sem ele, o modo de produção estabelecido não poderia ser mantido. Não estão em jogo problemas de psicologia nem de estética, mas a base material da dominação ideológica.
Marcuse, apud. Maar, 1998: 69

Hegel, Nietzsche, Marx e todos os seus asseclas são, no fundo, apóstolos da violência e apóstatas do espírito. Cresce o perigo e surgem proporções catastróficas quando essas filosofias essencialmente materialistas se revestem de roupagens de espiritualidade e defendem as suas teorias anti-espirituais sob a bandeira espiritualista. Poucos são os homens capazes de distinguir do erro a verdade, acabando por ser arrastados a funestas conclusões por essas premissas materialistas camufladas de espiritualidade.
ROHDEN, Huberto, Filosofia Contemporânea: 235
Hegel havia declarado que a consciência do homem determinava seu modo de ser. Para Marx, seu mais notável discípulo, o fenômeno seria inverso: o status social determinaria a consciência:
“O padrão final das relações econômicas como vistas na superfície é muito diferente, para não dizer o oposto, do seu padrão essencialmente interno e oculto." (3)
Pereira explica-nos a pretensão:
“O último elemento presente no materialismo histórico é a afirmação de que o homem não é dotado de consciência autônoma e liberdade de escolha, já que 'não é a consciência que determina o ser, mas, ao contrário, o ser social que determina sua consciência'.” (4)
No caso mental, basta substituir a causa econômica, o ser social marxista (pai) pela “causa-mãe”, de Freud. Ambas as teorias e todos os seus efeitos dialéticos são dispostos nos limitados eixos correspondentes.
O deputado-psiquiatra Eduardo Mascarenhas as misturou desse modo, incluindo ainda a idéia de Rousseau:
Freud preferia uma resposta mais psicológica: a luta de classes, a exploração do homem pelo homem, a desigualdade de riquezas, prerrogativas e poderes são a expressão da vontade narcísica de poder, do deleite da dominação, do gozo da superioridade. A civilização seria um pacto social para minimizar a luta selvagem pela supremacia. (5)
Alberto Oliva consegue, por Popper, qualificar, numa só frase, a teoria freudiana e a teoria marxista, ambas capengas por semelhantes defeitos:
“Suas estruturas explicativas basilares se apoiariam dissimuladamente em estratagemas para debilitar a ação da crítica. A conseqüência disso seria a dogmatização de conteúdos interpretativos cuja encenação social levaria, em última análise, à oclusão política.” (6)
Walter Evangelista faz a precisa pergunta:
“Marxismo e Psicanálise como ciências não seria o casamento da violência com o charlatanismo?”(7)
Soros também os enquadra:
É significativo que tanto Marx como Freud tenham sido altissonantes ao enfatizar o cunho cientìfico das suas teorias, baseando muitas das suas conclusões na autoridade emanante do 'cientificismo'. Aceito esse ponto, a própria expressão 'ciências sociais' se torna suspeita. Ela é em geral uma frase mágica, empregada pelos alquimistas sociais no esforço de impor sua vontade ao objeto, por encantamento. (8)
Para Paul Ricoer e também para Jürgen Habermas, a psicanálise não pode ser considerada ciência, mas “uma atividade hermenêutica (interpretativa), caso no qual deveria ser julgada somente em bases intuitivas e empáticas, não empíricas.” (9)
Danah Zohar ainda observa:
Nossa atual psicologia da pessoa, tanto como compreendida pelas pessoas comuns como pelos acadêmicos, advogados e juízes é uma curiosa mistura de idéias deterministas tiradas diretamente da ciência em si ou de um bolo mal digerido dos usos em que Marx e Freud quiseram colocar a ciência. (10)
Tratando-se de Marx, tudo foi por água abaixo, tragado pelo curso da História:
Assim sendo, contrariamente as previsões implícitas nas teorias da mais-valia e da exploração do homem pelo homem, considerado o sistema econômico como um todo, ao maior ganho do patrão não corresponderá o menor ganho do empregado, corresponderá ao maior. E ao maior ganho do empregado não corresponderá o menor e sim o maior ganho do patrão. Tudo ao contrário do que afirmara Marx. (11)
O programa marxista predisse fatos novos que nunca se cumpriram: o empobrecimento absoluto das classes trabalhadoras; a desabrochar da revolução socialista em uma sociedade industrial desenvolvida; a inexistência de conflitos de interesses entre os países socialistas; a ausência de revoluções em sociedades socialistas. As "anomalias" eram convenientemente explicadas:
Explicaram a elevação dos níveis de renda da classe trabalhadora criando a teoria do imperialismo; inclusive explicaram as razões para que a primeira revolução socialista tenha ocorrido em um país industrialmente atrasado como a Rússsia. “Explicaram” os acontecimentos de Berlim em 1953, Budapeste em 1956 e Praga em 1968. 'Explicaram' o conflito russo-chinês.
LAKATOS, 1989: 15
Quanto ao método de Freud, igualmente nada se pode esperar. Ao aplicar a dialética cartesiana divide o homem em consciente, inconsciente, ego, superego, tataraego; como consequência, ninguém jamais poderá reunificá-lo. Talvez seja até objetivo, mas, convenhamos, nada recomendável. O famoso discípulo Carl Gustav Jung se rebelou:
Caro professor Freud... Eu mostraria, contudo, que a sua técnica de tratar os discípulos como pacientes é uma asneira. Desse modo o senhor produz ou filhos servis ou fedelhos impudentes. Sou objetivo o bastante para perceber o seu pequeno ardil. O senhor anda por aí farejando todas as ações sintomáticas que ocorrem em sua vizinhança, reduzindo, assim, cada uma ao nível de filhos e filhas, que admitem, envergonhados, a existência de seus erros. Enquanto isso, o senhor permanece no alto, como o pai, em situação privilegiada. Por puro servilismo, ninguém se atreve a puxar o profeta pela barba e a perguntar de uma vez o que o senhor diria a um paciente com tendência a analisar o analista em lugar de si mesmo. Certamente o senhor perguntar-lhe-ia: quem tem a neurose?... Se o senhor se livrasse completamente de seus complexos e parasse de bancar o pai para seus filhos, e, ao invés de visar continuamente os pontos fracos destes, examinasse bem a si próprio, para variar, eu então me corrigiria e erradicaria de um só golpe o vício de hesitar em relação ao senhor
Deleuze deleta
O conceituado filósofo contemporâneo Gilles Deleuze e o psicanalista Felix Guattari sintetizaram sua crítica, misturando Marx e Freud num volume, o Anti-Édipo, “no qual realiza uma crítica do conceito freudiano e lacaniano de inconsciente a partir da categoria marxista de 'produção'." (12)
Descamps conheceu a "consistente" obra:
O anti-Édipo pode ser lido como um paralelo entre as vontades singulares e as máquinas sociais que cortam, recortam e segmentam. Porém este livro é, além disso, um ataque frontal às casualidades redutoras que confinam o desejo em um triângulo (pai, mãe, castração) ou, em última instância, na economia.
Ele complementa: “Não existe um 'bom' desejo e seu contrário. O desejo está em toda a parte, inscrito nas atividades livres ou opressivas.” (13)
Outros denominadores comuns traçou o psicanalista Eduardo Mascarenhas:
Tanto o psicanalista quanto o economista proclamam o poder de influência desse inconsciente coletivo composto de mitos, lendas, crenças, ideologias, valores e ideais - o imaginário social - sobre as subjetividades individuais. Ou seja, ambos, psicanalista e economista, sublinham a importância dos investimentos efetuados por cada uma destas subjetividades nas suas circunstâncias. Entre o psicanalista e economista existe uma poderosa convergência: ambos estudam as reações e as expectativas das pessoas (agentes econômicos) quando imersa no espaço social. Até porque desse formigueiro intersubjetivo ninguém escapa. (14)
Enganou-se, Doctor. Se examinasse mais detalhadamente o EspaçoTempo, poderia detectar inúmeras civilizações e incontáveis indivíduos isentos de tais vícios. Existe muito, mas muito mais coisas entre o Céu e a Terra, além dos aviões de carreira. Certamente agora sabes. Infelizmente.
_________
Notas
* Entrevista para TV - GNT/outubro de 2000.
1. Maffesoli, Michel, Mediações simbólicas: a imagem como vínculo social, Para navegar no século XXI, p. 46.
2. Crepúsculo dos ídolos - ou como filosofar a marteladas, p. 54
3. Marx, Karl, Para a Crítica da Economia Política, p. 135.
4. Pereira, Julio Cesar R., Epistemologia e Liberalismo, p. 128
5. Mascarenhas, Eduardo, Brasil, de Vargas a Fernando Henrique- Conflito de Paradigmas, p. 201.
6. Oliva, Alberto, Organizador, texto de Evangelista, Walter José, A Questão da Cientificidade em Teorias de Conflito: Marxismo e Psicanálise; Epistemologia: A Cientificidade em Questão, p. 213.
7. Idem, ibidem.
8. Soros, George p. 73.
9. Habermas, J. e Ricoer, P., cits. Crews, Frederick, O gênio da retórica; Folha de São Paulo, 22/10/2000.
10. Zohar, Danah, p. 18.
11. Mascarenhas, E., p. 6.
12. Deleuze, Gilles e Guattari, Felix, Folha de São Paulo, 9/6/97, p. 37.
13. Deleuze, Gilles e Guattari, Felix, cits. Descamps, Christian, p. 20/21.
14. Mascarenhas, E., p. 3.




Nenhum comentário:

Postar um comentário