terça-feira, 18 de março de 2008

O teatro da demagogia

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Por isso a importância de jornais como o New York Times, que serve ao establishment americano, assim como o Pravda servia ao governo da União Soviética. Ele oferece aquilo em que os donos do país, e das grandes corporações, desejam que acreditemos.
Econ. José Paschoal Rosseti (1)

QUANDO EM 1934 um Al Capone sifilítico era transferido para Alcatraz, o teórico leninista inglês R. Palme Dutt publicava o que entendia como “fascismo social” americano - um fascismo de fato, disfarçado por tênue verniz de demagogia populista-eleitoreira, legitimação dispensada pelo golpista Mussolini. No ano seguinte, o Social Security Act era aprovado. Em meados de 1938, o Current History Magazine (cit. Rothbart: 41) veiculou:
A nova América não será capitalista no velho sentido, e tampouco será socialista. Se a tendência atual é para o fascismo, será um fascismo americano, que incorporara a experiência, as traições e as aspirações de uma grande nação de classe média. Quando o New Deal é despido de sua camuflagem progressista, social reformista, o que fica é a realidade do novo modelo fascista de sistema de capitalismo de Estado concentrado e servidão industrial, envolvendo um implícito ‘avanço rumo à guerra’.
Giddens (1996: 264) compreende a estratégia empregada:
"Nas crises, as despesas do governo, através de empréstimos, são o único meio seguro para a obtenção rápida de produção crescente a preços também crescentes. Esta é a razão pela qual uma guerra causa atividade industrial intensa."
Gore Vidal (entrevista para revista Veja. – São Paulo, 25/10/2000) corrobora:
"Havia, na verdade, uma conexão direta, freqüentemente comentada, entre o militarismo e o desenvolvimento inicial da democracia e do welfare state; os direitos de cidadania foram criados no contexto da mobilização maciça para a guerra."
Em um lustro, os americanos chegaram lá:
O Estado rooseveltiano ou a república da França apresentava, na época histórica do fascismo, características do Estado intervencionista (função econômica do Estado e fortalecimento do Executivo, por exemplo) que marcavam igualmente os fascismos alemão e italiano, sem que isto tenha significado o Estado de exceção.
(Poulantzas: 240).
A versatilidade, ou melhor, a magnitude e dubiedade é que inflavam os imprudentes italianos:
Na verdade, num discurso em maio de 1934, Mussolini informou à Câmara de Deputados que três quartos da economia industrial e agrícola da Itália estavam nas mãos do Estado, que, ele acrescentou, criava condições que podiam introduzir na Itália tanto o 'capitalismo estatal' como o 'socialismo estatal', onde ele achasse que era necessário.
(Cit. Pipes, 2001: 261).
Em 1936, reeleito sabe-se lá por qual arranjo, Roosevelt ampliou ainda mais as funções da Casa Branca, prescindindo do golpe e dos arroubos do Duce, mas não da retórica trovejante da incansável Eleonor. Saúde, educação, proteção aos trabalhistas, legalização de sindicatos, direito de greve e incontáveis arapucas embretaram as relações sociais e econômicas americanas. A Suprema Corte se viu provocada a vetar incontáveis atos de inspiração fascista. Keynes (cit. Skidelsky: 60-1) aprovava a demagogia totalitarista:
“Em grande parte de seus escritos políticos, Keynes empenhou-se num diálogo com o movimento trabalhista.”
Bobbio (Teoria Geral da Política: a Filosofia Política e as Lições dos Clássicos: 403) repara:
“A idéia da política como espetáculo nada tem de novo”.
O Estado Espetáculo (1) ganhara uma compreensão antecipada:
“Weber podia concordar com os transcedentalistas que a política é pura 'astúcia', o Estado, um 'embuste', e a democracia, o 'teatro dos demagogos'." (Cit. Diggins: 115).
Coube ao presidente Roosevelt o “reconhecimento” ao “colega” Orson Wells (Especial Os Anos Trinta, orig. outubro de 1959, MS-NBC Brasil, TV canal Superstation 24/10/2000, 19 h):
“Você e eu somos os melhores atores dos USA.”
A tanto, às favas os escrúpulos:
"Havia cantos obscuros na Casa Branca de Roosevelt: suas próprias infidelidades, a apaixonada ligação de sua mulher com outra mulher, a maneira inescrupulosa, às vezes pérfida, com que ele usava o poder executivo." (Joseph P. Lash, cit. Johnson: 214).
O que ficou foi sua oração, dedicada ao ditador nicaragüense Anastásio Somoza:
"É um f. da p., mas é nosso f. da p." (Roosevelt, cit. Clóvis Rossi, Os Canalhas Dele. Folha de S.Paulo, 21/11/2000: A2).
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Notas
1 - p. 69.

2. Schwartzenberg, G., O Estado Espetáculo.
No Brasil, o presidente anuncia o tal espetáculo do crescimento, mas no palco corre a tragédia da corrupção generalizada, da fome, do desemprego, da criminalidade, e do charlatanismo religioso.


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