terça-feira, 11 de novembro de 2008

Crise de criatividade

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A obsessão em dominar a natureza esconde a verdadeira obsessão do homem:
dominar o caos, ou, em outras palavras, ter previsões seguras que evitem a queda
no abismo. Para isso, ele inventou a ciência e tratou logo de criar leis deterministas
que dessem estabilidade aos fenômenos naturais. A física de Aristóteles, a mecânica
de Newton ou a abóbada de Ptolomeu tinham a função primordial de ordenar os
acontecimentos da natureza, explicando suas origens e tentando prever seus movimentos.

PENA, Felipe, Biografias em fractais: múltiplas identidades em redes flexíveis e inesgotáveis.
Revista Fronteiras – estudos midiáticos VI(1):79-89, janeiro/junho 2004.
Dante alerta, na Divina Comédia: o castigo imposto ao "adivinhão" consiste em descer ao inferno amarrado com a cabeça voltada para trás. A reportagem não surte efeito desejado.
As escolas fornecem o condão aos "dominadores", as carteirinhas de habilitação aos condutores. As melhores (en)formam de tal modo que a sociedade presume que os diplomados satisfaçam as expectativas curtidas por décadas. Lêdo engano:
"O homem só muito lentamente descobre como o mundo é infinitamente complicado. Primeiramente ele o imagina totalmente simples, tão superficial quanto ele próprio." (NIETZSCHE, F., O livro do filósofo: 41)
Como se não bastasse, por necessitar da certeza científica as fórmulas acadêmicas provém do passado; portanto, são obsoletas, e inapropriadas:
O mundo em que vivemos é dinâmico, está aberto, em transformação constante. Esta abertura é justamente onde podemos encontrar possibilidade, projeto, construção... Assim, as saídas não estão dadas, não estão definidas de antemão. É preciso inventá-las, é necessário criá-las.
GALLO, Silvio, Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas.
Todavia, munidos de alguns dez, e enfiados no galardão, os plantonistas se põem a diagnosticar o futuro, e de antemão oferecem essas enormidades:
Os economistas vêem o mundo como uma máquina. Uma máquina complicadíssima, talvez, cujo funcionamento pode ser entendido se juntarmos cuidadosa e meticulosamente as partes que a compõem. O comportamento do sistema como um todo pode ser deduzido de uma simples soma desses componentes. Uma alavanca puxada em certa parte da máquina, com uma certa força, provocará resultados regulares e previsíveis em outra parte da máquina.
ORMEROD, Paul:
48
Os ciclos político-econômicos obedecem o padrão:
"Economistas e outros especialistas estão quase sempre submetidos à pressão das 'verdades' e 'teorias' consagradas pelos interesses e preconceitos dominantes.” (BATISTA Jr., Paulo Nogueira, Professor da Fundação Getúlio Vargas, Economia e Ideologia, Folha de São Paulo, 3/4/97)
É trivial identificar uma artimanha. Rara é novidade, nem mesmo no leito da liberdade, mas Joseph Alois Schumpeter (p. 201) (Triesch, 8 de Fevereiro de 1883Taconic, 8 de Janeiro de 1950) estranhava a inércia do cidadão americano, engolido pelos crescentes encargos de rubrica social:
"Nos Estados Unidos, por exemplo, jamais houve resistência real contra a imposição de esmagadores fardos financeiros durante a última década ou contra uma legislação trabalhista que é incompatível com uma administração eficiente da indústria."

E quanto mais a perfídia é utilizada, mais se presume eficaz, de modo que o círculo vicioso se torna perene, por isso flagrante:
"Vivemos à base de idéias, de morais, de sociologias, de filosofias e de uma psicologia que pertencem ao século XIX. Somos os nossos próprios bisavós."(BERGIER, Jacques e PAWELS, Louis, O despertar dos mágicos: 31)
"Até dez ou quinze anos atrás, a maior parte da ciência – não só a teoria econômica, mas também a física e a engenharia – era dirigida por técnicas lineares de análise."*(Ormerod, 1996: 194)
O homem ainda não descobriu que a natural evolução não é produto dialético, necessariamente empírico, como propunha o turista do Beagle, e confirmaria o barbudo de Treveris; tampouco ocorre de modo linear, tal qual apregoava o xará Comte. Ela se dá de modo simultâneo a todos os confins, como atesta o Hubble. Na antiquada má temática, permanecemos presos àquele passado que nos acompanha feito corrimão de escada-rolante. Ora subimos, ora descemos, jogados nos tobogãs:
Mesmo nos Estados Unidos, onde a livre iniciativa encontra sua mais alta expressão, as atividades governamentais e a responsabilidade do Estado em relação ao conjunto da economia vêm registrando sensíveis acréscimos, ampliando-se durante a grande depressão e mantendo-se desde então substancialmente elevado.
UMBREIT, Myron, HUNT, Elgin F. & KINTER, Charles V. Economics - an Introcuction to Principles and Problems, cit. ROSSETII: 347.
Os governantes se postam como cocheiros de uma carruagem cujo cavalo é o cidadão. Desse modo, conforme ele enxerga, ou de acordo com seus interesses, ora o relho desce, ora aperta o buçal. O êxtase do comando, como brinquedo à criança, per se lhes consagra, de maneira que pouco importa o que sente o cavalo, muito menos o ritmo e o destino imprimido. Presumem que podem detê-lo quando quiserem, e acelerá-lo, quando convier:
O homem de sistema costuma se achar muito sábio em seu próprio juízo; e ele está, com freqüência, tão enamorado da suposta beleza do seu próprio plano ideal de governo que não tolera qualquer desvio, por menor que seja, em qualquer parte dele. Ele atua com o intuito de implantá-lo completamente e em todos os detalhes, sem prestar atenção seja nos grandes interesses, seja nos fortes preconceitos que podem se opor a ele. Ele parece imaginar-se capaz de dispor os diferentes membros de uma grande sociedade com a mesma facilidade com que a mão dispõe sobre as peças de xadrez.
SMITH, Adam An Inquiry into Nature and the Causes of the Wealth of Nations, 1776: 233
Quando vê, o cocheiro dá com os burros n'água:
A teoria macroeconômica não tem procurado superar seus outros defeitos mais sérios. Inspirada na errada crença de que deveria imitar os métodos das ciências naturais, especialmente os da física, acabou abstraindo-se das variáveis essenciais, mas não quantificáveis, e tratando uma série de eventos históricos como se fosse repetitiva, determinística e reversível.
SIMPSON: 61.
* * *
A história das descobertas científicas e técnicas
revela-nos quanto o espírito humano carecede idéias
originais e de imaginação criadora.

EINSTEIN, A. Como Vejo o Mundo: 198.
Governantes semialfabetizados e especialistas quiromantes implicam a civilização:
Entre a teoria dos quanta, que sustenta o edifício científico da idade atômica e o pensamento dos economistas e filósofos, marxistas e tecnocratas, parece terem decorrido séculos. Já não falam a mesma língua. Já não têm nem uma idéia comum.
KRAEMER, Eri, La grand mutation; cit. Goytisolo: 69

Se Einstein (cit. PAIS, Abraham, Einstein viveu aqui:143) fosse informado do cronograma, apontaria o notável fulcro:
Quando pensamos no futuro do mundo, visamos sempre o ponto onde ele estará se continuar a seguir o curso que vemos seguir hoje; não prestamos a atenção no fato de que ele não segue em linha reta, mas segue uma curva, e que sua direção muda constantemente. Nas bases do pensamento, encontramos os exemplos mais candentes. São bilhões de neurônios, cada lampejo transmissor encontra receptores, e multiplicadores. Tudo se reflete no ser; portanto, altera sua própria realidade, por incontáveis inferências.
Para consagrar o medieval muita corda ainda é espichada; contudo, ao arrepio dos hóspedes de Belzebú, nem a natureza, tampouco a realidade são suscetíveis de doma:
Quando a mente toma a dianteira do espírito, constrói uma sociedade contra a natureza e persiste em seus conceitos até que apareça a Grande Complexidade proveniente de seus próprios processos. Ela percebe então que já não pode administrar essa realidade, nem quantativamente, nem qualitativamente.
(Random: 208)

Sobre a
moderna Economia

A Economia como Ecossistema

A criatividade dos 60:


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