sábado, 8 de novembro de 2008

O atômico Obama

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O mais genial dos consultores políticos não seria capaz de inventar nada de
melhor para restaurar a imagem norte-americana depois do governo Bush.
Ele oferece uma redenção aos Estados Unidos. (VAÏSSE, Justin, Brooklyn Institution)
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Com uma família presente em quatro continentes, ele personifica uma
genealogia da espécie humana. (BRUCKNER, Pascal)
Disposto a se regenerar, Tio Sam tirou o coelho mais precioso de sua cartola. Obama chegou arrasador e surpreendente como uma bomba atômica. Os próprios americanos se lançam em decifrá-lo. Se muitos deles sequer tinham ouvido falar no distinto Senador, que dirá o resto do mundo.
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As apreciações que encabeçam este artigo parecem pertinentes, mas igualmente óbvias. Não quero me deter nessas características, já por demais divulgadas; todavia, são raros relatos ou comentários sobre o teor da coletiva. Poucos se detiveram sobre o viés, e ninguém citou o cronograma do elenco, digo, a ordem de apresentação das prioridades. Algumas indagações ocorridas ventilavam hipóteses por demais obsoletas: o novo presidente lançará mão do protecionismo? Vai direcionar investimentos? Em outra palavras: à civilização, acostumada a raciocinar sob dialéticas, não ocorre outra alternativa que não aquela da regulagem do tamanho do Estado, que para uns deve ser mínimo, para outros, mais contundente. Presumem que o eleito, por democrata, irá trilhar o caminho percorrido por seus antecessores. Mercê da crise de 1929, Roosevelt é constantemente lembrado. Aliás, a escassez de imaginação não é prerrogativa dos jornalistas, senão que também dos velhos tecnocratas, ora reunidos (à tôa) no Brasil:
O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, afirmou neste sábado em São Paulo, durante encontro do G20 financeiro, que a expansão de gastos do setor público deve ser pensada como instrumento para minimizar os impactos da crise econômica global e incentivar o crescimento da economia.
Evidentemente o Estado, tal qual este senhor, nada produz; portanto, estará gastando o que não é dele. Ademais, cá entre nós, por mais paradoxal que à primeira vista pareça, são os governos e os bancos os principais aliados da crise:
Para Michaël Zöller, sociólogo alemão da universidade de Bayreuth, o que se chama de Estado é certamente um sistema de interesses pessoais organizados, uma Nova Classe. Como todos nós, sua ambição é aumentar a remuneração e a autoridade. Como classe, ocupam-se, pois, a desenvolver seus poderes, suas intervenções e sua parte no mercado, isto é, a apropriação pelo setor público dos recursos nacionais, operada através do imposto sobre a sociedade civil.
SORMAN, G. :74.
At last, se o Executivo retornar com o apelo às torpes artimanhas de Keynes, qualquer elemento serviria, até mesmo a senhora Clinton! Não parece haver uma formidável diferença?
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Não são poucos os que testemunham o conhecimento de Obama sobre a história. É de se presumir. Afinal, ele nasceu num recanto amealhado pelo
fascismo americano, o qual desembocou no ardil do New Deal. O ápice se abateu na pergunta sobre consulta a algum antecessor! Ora, advogar experiências passadas para suplantar os novos desafios não parece o cúmulo da falta de imaginação? Então querem descobrir qual será sua equipe econômica, como se ele já não tivesse em mente o método que irá aplicar, e houvesse necessidade de se valer dos contadores, desses que andam por aí alhures ditando os números à civilização. Enquanto uns discutem a eficácia do trem, e propõem o automóvel, outros dizem que o automóvel é egoísta, e propõem a composição. A ninguém ocorre que ambos podem ser dispensados, em troca do avião, por exemplo!
Na ânsia para sair da depressão macroeconômica assume maior relevância a clássica pergunta: o quê será atacado nos primeiros cem dias? Calca-se em pensamento linear, na hipótese da linha férrea, direcional, objetiva, e excludente. Embora os recursos materiais sejam sempre limitados, ainda assim em cem dias dá para acionar todos os vetores, simultâneamente: basta incrementar uma Economia Quântica, que até é mais fácil do que a puxada pela prosaica loco motiva. A tanto ele dispõe da conjugação da maior riqueza e tecnologia com a maior concentração de cientistas de todos os calibres, uma rede de informações que ninguém possui,* e ainda a melhor equipe administrativa que se pode conceber na face da Terra. É mole? Não será uma partida de trem, mas um início de Big Bang, onde a evolução se encaminhará sobre todos os pontos, ao mesmo tempo, e com velocidade espantosa, compatível com a capacidade de sua gente, e com as possibilidades energéticas de nossa Era, momento de tempo real. Naturalmente não será um passe-de-mágica, mas apenas a mudança de rumo já livrará a civilização do despenhadeiro. A partir daí, o que vier, é lucro.
* * *
S.Exa demonstra conhecer a Teoria do Campo. Como o átomo, primeiro se preocupa com o que lhe rodeia; portanto, o que lhe é mais valioso: sua família, suas filhas, desde já sob risco. E qual o prêmio que lhes promete? Uma sociedade numa empresa de telefonia? Uma poupança? Nada disso. (Obama x Lula) Duas preocupações, apenas: não torná-las diferenciadas, por isso lhes submetendo a um colégio comum. E para as horas de lazer, um guaipeca qualquer. A genialidade é irmã gêmea da simplicidade.
Novamente como o átomo, Obama sabe que é ele, o átomo, o ser humano, e não a máquina do Estado, a totalidade orgânica, a responsável pela abundância da energia. De onde tirei tal ilação? Ele foi claro: são as famílias que trabalham duro as que merecem sua atenção. É a classe média que vai ser aliviada dos fardos tributários. Mais do que isso, porém, foi o fato dele se lembrar das cidades, dos prefeitos, e dos estados, dos governadores. Há, entretanto, um sinal amarelo:
A criação de um banco de investimento em infra-estrutura, proposta por Obama durante a campanha, ganhou impulso na crise. O banco teria US$ 60 bilhões para ajudar Estados e cidades a investir em obras como pontes e estradas. Agora, essa proposta pode crescer para US$ 150 bilhões, dentro do pacote de estímulo.
Eis uma grande bobagem. É passeio do capital. Ele sai da produção, passeia no centro e volta à origem? Ou será deslocado para regiões insípidas? Quem sabe colocará, como Roosevelt, a impressora da Casa da Moeda à disposição? Neste caso terá que programar uma guerra, para com osdespojos recompor as reservas reais. Não creio que S. Exa. trilhe o caminho da perfídia. Seria por demais desastroso, não só para si, como ao parque fabril americano, e de resto à comunidade internacional.. Desse modo, tampouco cogito na criação de empregos. Governos nada produzem; portanto, não lhes cabem criar postos de trabalho, mas propiciá-los à produção. Como alcançar tal intento? Simplesmente permitindo que a renda, o capital, gere mais renda a partir de sua cabeceira, provada per se sua eficácia. Suponho que Obama valorize a liberdade na biodiversidade, através da cientificidade federalista, da descentralização de poder. Suas últimas palavras, quiçá as mais importantes, deram conta que o desenvolvimento eclodirá das bases ao vértice, e não o contrário, como sói acontecer, porém jamais exitoso. Certamente ele observará a Relatividade das Leis. Ou seja: aquela conversinha de centralizar os recursos para depois distribuí-los parece estar com os dias contados, tanto quanto a presença do Estado como motor do desenvolvimento. A desenvoltura se faz por todos os pontos, em todas as direções. Quem quiser represá-la, ou mesmo orientá-la, na verdade a estará cerceando:
A manutenção da organização na natureza não é - e não pode ser - realizada por
uma gestão centralizada, a ordem só pode ser mantida por uma auto-organização.

BIEBRACHER, C. K.,; NICOLIS, G., SCHUSTER, R., cits. PRIGOGINE, I.: 75
É bem verdade não falamos especiíficamente da natureza, senão que da política, a qual constantemente solapa a própria natureza. Desse modo sabemos que injunções são flagrantes também de imediato, e o socorro prometido às montadoras e mesmo aos atingidos pela tão propalada e interessante crise atesta, mais uma vez, a prevalência dos "investimentos" de campanha**:
O setor do automóvel é a espinha dorsal da indústria americana e uma parte crítica de nossa tentativa para reduzir nossa dependência do petróleo estrangeiro", continuou o líder eleito. Fiz uma das máximas prioridades da minha equipe de transição trabalhar em outras opções para ajudar que o setor do automóvel se ajuste, combata a crise financeira e tenha sucesso na hora de produzir nos Estados Unidos carros de consumo reduzido.
Barack Obama
Para mim trata-se de grave erro de percepção, além de discriminação com milhares de outras empresas, tão ou mais importantes do que esses objetos que nos rodeiam desde a tenra idade, com nossos brinquedinhos. É manter fábricas de máquinas de escrever, ou de telex. O automóvel tem os dias contados. Se Malthus se equivocou na equação alimentos/crescimento populacional, porque ela não é estanque, a produção de veículos automotores em relação ao espaço necessário está fadado ao colapso, e arrisco, ainda antes de completar uma década. Todavia, reputo os arranhões como impossibilidade da perfeição.
A macropolítica, a macrocultura, a macroeconomia dependem da micropolítica,
da microcultura, da microeconomia (em termos de seu respectivo âmbito,
quantitativo ou extensivo), e aquelas não podem absorver estas sem sofrer as
conseqüências que, ao fazê-lo, provocaria. A vida é interação das partes no todo.
GOYTISOLO, J.V.: : 74
O efeito atômico contaminou todo o planeta, tingindo-lhe com o tom da esperança. Se algo ocorrer de acordo com meu exercício especulativo, ele poderá separar o joio do trigo. Será fácil identificar os vilões, os impostores, os oportunistas que se espalharam alhures a partir da queda do muro; mas também servirá de picada e incentivo à novas e verdadeiras vocações, ora submersas pela presença de príncipes curiosamente maquiavelescos, malgrado esses discípulos acabarem invariavelmente muito mal.
Posso estar enganado, mas merecemos muito mais do que até hoje nos foi imposto. Finalmente contamos com um Almirante à
Nova Era. Merece o voto de confiança, até pelo altivo desempenho. Neste caso, o mútuo interesse, e a Ética*** precederão discussões jurídicas, ou regulamentares; as relações humanas conduzirão as comerciais; e a Economia será levada à cabo pela produção, pelos atratores, e não mais por sua representação, mero capital.
Ao
grande périplo, Obama nas alturas!
__________
*I
ntensifica-se a Internet à relação nacional com o novo governo no site www.change.gov. A estratégia prevê a manutenção de uma base de dados com endereços de e-mail de 10 milhões de pessoas.
** A GM está ultimando a limousine presidencial. O veículo tem os seis metros de comprimento à prova de fuzis, granadas e lança-chamas.
*** "O presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, irá introduzir regras para restringir o papel de lobistas durante a transição e durante o seu governo, segundo o coordenador de sua equipe de transição, John Podesta. Em uma entrevista à imprensa, Podesta disse que Obama 'prometeu mudar a maneira como Washington funciona e conter a influência de lobistas'. Podesta disse que Obama irá introduzir 'as regras éticas mais rigorosas e mais abrangentes de qualquer outro processo de transição da história' e prometeu a transferência de poder 'mais aberta e transparente' já realizada. (BBC-Brasil, 12/11/2008).
Na mosca, de novo. Nav's ALL antecipa o futuro para você.

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