segunda-feira, 21 de abril de 2008

A liberdade na "biodiversidade"

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A liberdade é uma necessidade fundamental para o
desenvolvimento dos verdadeiros valores.

Albert Einstein
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O ESPONTÂNEO MOVIMENTO internacional de 1968 levantou essa bandeira da revolta à ordem imposta, não juvenil, individualista, romântica, freudiana, ou marxista, mas colorida sem combinações preestabelecidas, por tudo desconforme aos métodos cartesianos, “cientísticos”, unilaterais, trazidos por aquela chamada ideologia dominante:
"Nesse ponto os Estados Unidos estão apenas numa posição dianteira, pois por mais paradoxal que possa parecer, é desde a ‘revolução cultural’ dos anos sessenta que cresce em todo o mundo o repúdio à autoridade governamental excessiva." (Penna, 1997: 433).
A “biodiversidade” obrigou as revisões:
Os guardiães da língua inglesa brigavam devido a questão da legitimidade do inglês negro. Os criminologistas brigavam devido a definição de crime. Os psicólogos discordavam das definições de personalidade. Os psiquiatras foram obrigados a rever a definição de homossexualidade como doença. Os sociólogos começaram a lidar não com problemas de pobreza, mas com a riqueza. Historiadores radicais resituaram as categorias supostamente atemporais de sexualidade, maternidade e inteligência como entidades subordinadas à história e mutáveis, sujeitas a direcionamentos e influências humanas. Na ciência os ativistas desafiaram as instituições em questões relativas à raça e Q.I., a sociobiologia, preconceito sexual na ciência, o ensino da ciência, o controle da ciência pelas corporações e o envolvimento americano na guerra do Vietnã. A manifestação mais profunda dessa corrente pré-revolucionária nas sociedades ocidentais foi em maio de 1968, na França. Estudantes enfrentando polícia. Uma semana depois, violenta repressão aos estudantes e greve geral dos sindicatos em 13 de maio. Em Saclay, um contingente de 2.000 trabalhadores organizou-se para participar da gigantesca manifestação de 800000 pessoas. As faculdades estavam ocupadas. As fábricas pararam. Os trabalhadores ocupavam-nas. Cerca de nove milhões aderiram às greves. Todos estavam confusos com o estonteante rumo dos acontecimentos.
(Schwartz: 310/11).
O muro da Sorbonne e a imprensa internacional apontaram para o novo rumo:
A revolução que está começando questionará não só a sociedade capitalista como também a sociedade industrial. A sociedade de consumo tem de morrer de morte violenta. A sociedade da alienação tem de desaparecer da história. Estamos inventando um mundo novo e original. A imaginação está tomando o poder.
(Mortimer, Edward, The Times. - Londres, 17/5/68; cit. em Roszak: 33).
Era o que vaticinava John Dewey (p. 205):
"Quando a filosofia vier a cooperar com o curso dos acontecimentos e tornar claro e coerente o significado dos pormenores diários, a ciência e a emoção hão de interpenetrar-se, a prática e a imaginação hão de abraçar-se."
Morin (cit. Descamps, p. 102) vivenciou o desabrochar:
O movimento de maio de 1968 demonstrou que as crises culturais não estão ligadas às crises econômicas. Após ter considerado as grandes marés da emancipação humana, Morin quer fundamentar as noções de autonomia, de sujeito e de indivíduo no interior de uma razão renovada. Seu saber alegra, emancipado de todos os totalitarismos, pensa com a complexidade.
Do alto da estação do novo milênio, aquilatamos a veracidade:
O ano de 1968 talvez haja constituído um divisor de águas: desde então assistimos ao progressivo refluxo da maré, o qual se acentuou em 1989/91. O século XXI poderá conhecer, após calamidades imprevisíveis - guerras, novas revoluções e catástrofes ecológicas - o princípio da reconstrução da ordem internacional, uma reorganização em escala mundial do Estado de Direito Liberal.
(Penna, 1997: 46).
Por essa espécie de difusão atômica, as manifestações, embora não conscientemente combinadas, de origens e objetivos aleatórios, paradoxalmente foram simultâneas e espontaneamente encadeadas:
O que começou a aparecer em 1960 foi, na verdade, o surgimento da corrente de pensamento anarquista acompanhada de movimentos ativistas que surgiram entre os jovens de vários países da Europa e da América. Muitas vezes o nome não era o mesmo; muitas vezes a doutrina acabava diluída por outras correntes de pensamento radical; raramente houve a tentativa de reestabelecer a continuidade com algum movimento do passado. No entanto, a idéia ressurgiu, clara e facilmente reconhecível, em países tão diferentes quanto a Inglaterra e a Holanda, a França e os Estados Unidos. Ela conseguiu atrair seguidores numa escala nunca vista desde os dias que antecederam a Primeira Guerra Mundial. Por toda a Inglaterra começaram a nascer grupos dedicados à prática de ação direta e à exploração de uma sociedade sem guerra nem violência e, portanto, sem coerção.
(Woodcock: 47).
Se lembrarmo-nos de que a trajetória da Revolução Gloriosa e mesmo o Iluminismo partiram dos Países Baixos, com Spinoza e Locke, energizando-se na Grã-Bretanha, para daí livrarem da obscuridade os Estados Unidos, com Jefferson e a França, com Tocqueville e Montesquieu, podemos registrar as coincidências:
Parece-me que o processo surpreendente de desafio à autoridade governante está absolutamente de acordo com a atmosfera geral da Revolução Liberal no mundo, a Segunda Revolução Gloriosa – que é uma Revolução contra uma classe ou um governo determinado, mas contra a própria idéia de governo e de sistema estatal hegemônico.
(Penna, 1997: 433).
Depois de três séculos chega, de novo, o futuro; e com ele as mudanças, a começar pelos padrões científicos:
Nos anos 70, uns poucos cientistas nos Estados Unidos e Europa começaram a encontrar um caminho através da desordem. Eram matemáticos, físicos, biólogos, químicos, todos procurando conexões entre os diferentes tipos de irregularidades. Fisiólogos encontraram uma surpreendente ordem no caos que se desenvolve no coração humano, a causa da morte súbita inexplicada. Ecologistas exploraram a ascensão e queda das populações de mariposas-ciganas. Economistas desencavaram velhos dados sobre preços de ações. Os insights que emergiram levaram diretamente ao mundo natural - as formas das nuvens, os riscos dos relâmpagos, o entrelaçamento microscópico dos vasos sangüíneos, o ramalhete galáctico de estrelas.
(James Gleick, Chaos, cit. Lemkow: 161).

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