quarta-feira, 9 de abril de 2008

Fascismo na Ásia

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"Ofenda pela razão e se defenda pela força."
Chiang Ching (1)
Made in Japan
A DEVASTADORA frota de Platão, Maquiavel, Hobbes, Hegel e Sorel haveria de aportar também pela Ásia. Já no início da década fatídica, o Japão trocava seu direito consuetudinário por uma “amarelação” hegeliana, cruel hitlerização levada à cabo pelo Ministro Sadão Araki.
Nascido e mantido por um Estado cuja educação evidenciava alguns princípios históricos de raça, família e religião, o japonês agora se submetia ao “papai de araque” terreno. Ao esquecer Confúcio, o Oriente relegava o cidadão a mero produto do sistema preestabelecido, oprimido no ordenamento positivista, linear, pretenso defensor do todo, usufruto de um. O ser depende do todo, deveria ser controlado pelo todo, em prol do todo, timoneado por um. Indivíduos serviam apenas como elos da grande cadeia, carrapatos do Leviathan.

As decisões não continham responsabilidade individual. Cada ordem, por mais absurda, diluia-se no coletivismo exacerbado, anônimo e irresponsável, todos acobertados por hipocrisias. Utilizando-se do Código dos Samurais, o positivismo japonês exigia lealdade e obediência à honra nacional, acima de quaisquer outros interesses, mesmo a vida próprio indivíduo.

A degeneração do assalto à China, em 1937, levou o horror e devastação ao reduto dos humildes campesinos vizinhos.

A estupidez foi levada ao extremo poucos anos depois.
Os Kamikases* , inocentes úteis recrutados pela estória do Xintó**, envolveram-se numa história que não se sabia onde acabaria. Em 45, os japoneses obtiveram a resposta. Na cruel realidade, findou o xintoísmo e o fascismo:
“A primeira bomba atômica destruiu mais que a cidade de Hiroshima. Ela também explodiu nossas idéias políticas herdadas e ultrapassadas.” (2)

Talvez nem tanto quanto necessário, a constituição japonesa confeccionada no pós-guerra, ainda que montada no quartel-general do ultradireita Gen. McArthur, expressa os princípios democráticos-liberais extraídos das constituições britânica e norte-americana; e ensina aos japoneses que o Estado pode existir para o cidadão, sem ser fraco, ao contrário: ele garante os direitos individuais e liberdades civis, direitos naturais inalienáveis até então solapados pelo ente coletivo. No mastro fundamental o País do Sol Nascente fixa a grande vela que aproveita todo vento, favorável e até desfavorável, para assumir a velocidade indiscutível de seu desenvolvimento.

Oceania
A Austrália, até então sem parceiros na região, pode participar do intercâmbio de oportunidades, junto com Coréia do Sul, Taiwan, Hong-Kong, Tailândia, Malásia, Filipinas, até Fiji etc. alargando as potencialidades da região, até que a temerária onipotência gerencial-financeira de alguns teimosos governos fascistas-keynesianos retornassem ao poder a tempo de colocar a economia em risco:

“Há muitas deficiências no modelo asiático de desenvolvimento econômico: fraquezas estruturais no sistema bancário e na propriedade das empresas, relações incestuosas entre empresas e políticos, a falta de transparência e a ausência de liberdade política”. (3)

Depois dos desastres, foi o retorno das constituições liberais que lhes colocaram de volta à trilha viruosa:

O modelo asiático de desenvolvimento proporcionou o aumento acentuado do padrão de vida, com os países exibindo o crescimento médio anual de 5,5 por cento na renda per capita, durante um longo período - ritmo mais acelerado do que praticamente todas as economias de mercado emergentes. (4)
Na Indonésia a Terra recebera a maldição Sukarno, escopo da mais infeliz idéia hegeliana. “Delenda Cartago” reaparecia como “Esmague a Malásia”, com a idéia:
“Uma Nação precisa de inimigos”. (5)

Destruídos foram a própria Indonésia e seus filhos. Por volta de 65, o massacre correu solto; na tradição local, coletivamente. O “igualitarismo” condenou à morte um milhão de pessoas. Famílias inteiras foram carregadas ao holocausto. Nas covas comuns, o igualitarismo fora atingido - todos jazem em igual condição. Sukarno morreu de moléstia em 70, abandonado e sem poder falar; mas a Nação ainda teve que amargar um clone, em nome e atitudes - Suharto.

Nas Filipinas, os americanos, após a luta contra os kamikazes, doavam àquele povo uma base militar de excepcional capricho e extensão, inúmeras áreas residenciais, loteamentos, clubes, patrimônios construídos e intactos. Tentaram conduzir uma certa consciência cultural; havia, contudo, coincidentemente ou não, a presença antecipada da Igreja Católica, através do anterior domínio espanhol, a dificultar e frustrar a colonização cultural protestante. Na evacuação americana, ocupou-se do poder o corrupto Ferdinand Marcos, o qual foi desmascarado pela brava Coraçón Aquino.
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Notas
* Famosos pilotos suicidas da II Grande Guerra. Atiravam seus aviões de encontro aos navios adversários, crendo serem reconhecidos como mártires da religião nacional.
** Caminho dos Deuses. Culto mistificador da raça e império japonês. O Xintoísmo fez-se religião oficial até 1945 como culto aos antepassados e exaltação ao imperador; seu nascimento antecede a Buda. A exaltação comprovava-se no suicídio.
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1. Chiang Ching era atriz de cinema, mulher de Mao Tsé Tung e espécie de “ministra da cultura”; cit. Bridgham, Philip, Mao’s Cultural Revolution in 1967, in Richard Baum and Louis Bennet (eds.) China in Ferment (Yale, 1971) 134-5; Thomas Robinson, Chou En-lai and the Cultural Revolution in China” in Baum and Bennett (eds) The Cultural Revolution in China (Berkeley, 1971), 239-50; cit. Johnson, P., p. 473.
2. Correspondência recebida de leitor pelo jornal The New York Times, cit. Pais, A., Einstein viveu aqui, p. 273.
3. Soros, G., p. 195
4. Idem, ibidem.
5. Johnson, P., p. 405.

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