sábado, 26 de abril de 2008

Planck, o "Revolucionário Relutante"

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O salto conceitual que o físico alemão Max Planck deu em 1900, engendrando a base da mecânica quântica, reformulou de tal maneira a visão do mundo que, ao menos um historiador da ciência, não teria razões para supor que seu impacto já tivesse sido todo absorvido. Ulisses Capozoli (1) -
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Einstein e Bohr são dois dos três físicos sem os quais o nascimento do modo de pensar único do século XX, a física quântica, é inimaginável. Planck, o revolucionário relutante, descobridor da
teoria dos quanta, no início não entendeu que sua lei significava o fim de uma era hoje chamada de clássica.
E.B. Trattner (2)
MAX KARL ERNST LUDWIG PLANCK nasceu em Kiel, Alemanha,  no 23 de abril de 1858. Faleceu em Göttingen, 4 de outubro de 1947. Sua imagem foi estampada na moeda de 2 marcos, em 1958. A relevância de seu nome pode ser aferida inclusive no Brasil: desde 2002 fulgura a Faculdade Max Planck, localizada precisamente em Indaiatuba, no estado de São Paulo. A feliz iniciativa dos dedicados professores tem como o objetivo "cooperar com a Sociedade, auxiliando-a a tecer em sua formação valores comprometidos com a justiça, a ética e a valorização das pessoas e a vida." É dentro desta perspectiva que a instituição integra Ciência, Cidadania e Humanismo para compor a estrutura e o eixo de sua visão educacional.http://www.facmaxplanck.edu.br/-
A Revolução
Em toda a história da física nunca existiu um período de transição tão abrupta, tão imprevisto e de tamanha amplitude quanto o dos dez anos que separam 1895 a 1905.
Em 14 de dezembro de 1900, Max Planck anunciou o nascimento da Física Quântica na Sociedade Berlinense de Física. A energia não é emitida e tampouco absorvida continuamente, mas sim na forma de pequeninas porções discretas chamadas quanta, ou fótons, cuja grandeza é proporcional à freqüência da radiação.
Albert Einstein, em 1905, foi pioneiro em fazer uso da hipótese, o que lhe renderia o Prêmio Nobel de Física depois de mais de vinte anos de sua publicação. Tratava-se do efeito fotoelétrico. Este fenômeno é obtido quando uma luz de freqüência suficientemente alta atinge uma amostra metálica, arrancando elétrons superficiais, fazendo com que o metal adquira carga positiva.
O curioso é que o Grande Relativo passou mais da metade da vida refutando a Teoria Quântica, mercê do absolutismo religioso imporegnado pela tradição: “Deus não jogava dados”. Destarte, Einstein gastou enorme tempo na vã tentativa de unificar a quântica com sua relatividade. Demorou anos em aceitar os fenômenos, as anomalias matemáticas afiançados por Planck e depois Bohr. Ocorre, contudo, o fato pueril, que escapou à genialidade: a Teoria Quântica nada mais é do que um prolongamento, ou o prenúncio, da própria Teoria da Relatividade. Aliás, a Teoria Quântica é uma expressão da relatividade. Deus não vem ao caso, mas sim o observador, seu tempo e seu espaço.

As homenagens
No decorrer da longa existência, o “revolucionário relutante” foi agraciado com incontáveis homenagens. Nelas se inclui, de imediato, o Prêmio Nobel de 1919, curiosamente no mesmo ano em que os observatórios de Cambridge e Greenwich, cada um com concentrações diferentes, organizaram expedições de astrônomos para fotografar o contorno da luz das estrelas no eclipse que confirmou as certezas de Einstein. Foram assim as magníficas expressões de Albert(3) , no banquete em homenagem àquele pesquisador:

Há muitas espécies de homens que se dedicam à ciência, nem todos por amor à própria ciência. Alguns penetram no seu templo porque isso lhes dá ocasião de exibir os seus talentos especiais. Para essa classe de homens a ciência é um esporte, em cuja prática se regogizam como o atleta exulta no exercício de sua força muscular. Há outra casta que vem ao templo fazer ofertório para seus cérebros, movida apenas pela esperança de compensações vantajosas. Estes são homens da ciência pelo acaso de alguma circunstância que se apresentou por ocasião da escolha de uma carreira. Se a circunstância fosse outra, eles se teriam feito políticos ou financeiros. No dia em que um anjo do senhor descesse para expulsar do templo da ciência todos aqueles que pertencem às categorias mencionadas, o templo, receio eu, ficaria quase vazio. Mas restariam alguns fiéis - uns de eras passadas e outros de nosso tempo. A estes últimos pertence o nosso Planck. E é por isto que lhe queremos bem. (3)
Os infortúnios
As inúmeras honrarias que recebeu não foram suficientes para confortá-lo das muitas desgraças que atingiram sua trajetória. De dois casamentos ganhou cinco filhos. Uma das filhas casou-se com Max von Laue (Prêmio Nobel por seus estudos sobre raios X), mas dois filhos tiveram sorte trágica. Um tombou em Verdun, durante a I Guerra Mundial, e outro foi morto por agentes da Gestapo, em 1944, por haver participado de um atentado contra a vida de Hitler.
Ao fim da guerra, sua casa em Berlim estava destruída. E também arrasada estava sua preciosa biblioteca. Max Planck, fugiu do palco da tragédia, rumo a Göttingen, onde faleceu. Sua morte passou completamente despercebida no mundo ainda conturbado pelas conseqüências da guerra recém-finda.

Tributo
A Planck devemos o tributo. Além da estrutura atômica da matéria, há uma espécie de estrutura atômica da energia. Depois de séculos, podemos voltar a nos reconciliar com a poesia, com o cotidiano:
“A física contemporânea é uma verdadeira filosofia. Ela integra a experiência às condições da experiência.” (4)
Graças à iniciativa do revolucionário relutante, a civilização desenvolveu a microeletrônica e transistores, raios laser, supercondutores, e tantas outras apropriações que transformaram e se cotidianizaram no mundo contemporâneo, a ponto de se constituírem em fatores fundamentais do modelo econômico da globalização. Seus efeitos, porém, se estenderam para além da Física, com desdobramentos importantes na Química, com a teoria de orbitais quânticos e suas implicações para as ligações químicas, e na Biologia, com a descoberta da estrutura do DNA e a inauguração da genética molecular, apenas para citar dois exemplos. Pode-se aplicar os conceitos nos âmbitos das ciências humanas. O renomado professor paulista Goffredo Telles Jr. é autor do Direito Quântico.
"A descoberta do mundo quântico, que tanto impacto teve nas ciências e tecnologias, ameaça agora envolver o 'etéreo' universo da psique." (5)
No centenário da vitoriosa descoberta, pode-se aferir:
"Cerca de 30% do PIB dos Estados Unidos hoje é baseado em invenções tornadas possíveis pela mecânica quântica." (6)
Aprecio navegar neste espaço tão revolto. Tento estender um liame entre o desenvolvimento da economia liberal e o paradigma atômico.
Virtualidade e realidade, homem e natureza, ciência e religião, outrora toscamente apartados, são complementares. Por ondas o mar bate na areia; elas se propagam das pedras jogadas no meio do lago; por meio delas qualquer boato se amplia. A gravitação também flui por ondas; é dinâmica, por isto é mutante capacita-se a levar a energia emitida por qualquer objeto. Comunicações transitam pelo espaço sideral a vários portos de destino, mas às vezes só de passagem. Hardwares e softwares se conjugam no esplêndido universo.
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Notas
1.Ulisses Capozoli, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC)
2. p. 45.
3. Idem, p. 103.
4. Idem, p. 67.
5. Consciência Quântica ou Consciência Crítica? Roberto J. M. Covolan, Instituto de Física Gleb Wataghin da Unicamp.
6. Tegmark, M. & Wheeler, J.A, 100 Years of the Quantum, Scientific American, Fev. 2001.

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