domingo, 20 de abril de 2008

A influência de Niels Bohr

A influência de Bohr* sobre a física e os físicos do nosso século foi mais forte que a de qualquer outro, até mesmo a de Albert Einstein . Abraham Pais**

Qual cientista foi mais importante para o avanço da humanidade: Thomas Edison, Louis Pasteur ou Niels Bohr? Uma questão difícil como essa é o que tenta responder Donald Stokes com o livro 'O quadrante de Pasteur'. Hebert França***

Einstein e Bohr são dois dos três físicos sem os quais o nascimento do modo de pensar único do século XX, a física quântica, é inimaginável. Planck, o revolucionário relutante, descobridor da teoria dos quanta, no início não entendeu que sua lei significava o fim de uma era hoje chamada de clássica. E.B. Trattner: 45
NIELS HENRICK DAVID BOHR (1885 1962) formulou o modelo atômico a partir da teoria quântica, de Max Planck - Chegando ao modelo atômico O Modelo atômico de Bohr Realizadas tantas constatações, o dinamarquês não titubeou sentenciar:
Em que pese Planck já ter lavrado o primeiro talhe, e o próprio Einstein encaminhasse a hipótese ao formular seu pioneiro trabalho sobre a eletrodinâmica dos corpos, a disposição do dinamarquês não era levado muito a sério; e, inicialmente, nem pelo própriio. .**** "Todos acreditamos que essa teoria é maluca. Resta saber se é suficientemente maluca para ter probabilidade de ser correta. Pessoalmente acho que não é suficientemente maluca."(Niels Bohr)
Até convencer a comunidade científica vários anos se passaram. A impossibilidade da certeza bania o norte das privilegiadas cabeças. "Deus não joga dados," assegurava Einstein. Mercê certamente da forte tradição judaica, Einstein não admitia a incerteza da órbita do eléctron, pela prosaica razão: "Deus não é malicioso."  "Em especial, não quis aceitar o papel do acaso." (ZEILINGER, A.: 203) Todavia, De Broglie, Schrödinger, Heisenberg, De Pauli, Dirac, entre outros, corroboravam as brilhantes assertivas de N.  Bohr. Einstein acabou rendido.
Ninguém sabe como estaria o nosso conhecimento do átomo sem ele. Pessoalmente, Bohr é um dos mais agradáveis colegas que já encontrei. Ele emite suas opiniões como alguém que esteja perpetuamente tateando, jamais como alguém que creia estar na posse da verdade definitiva  Albert Einstein
Naquela década de 20 descortinou-se o esplendor:
Nossa penetração no mundo dos átomos, antes vedado aos olhos do homem, é de fato comparável às grandes viagens de descobrimento dos circunavegadores... Essa descoberta, com efeito, gerou uma novíssima base para que se compreenda a estabilidade intrínseca das estruturas atômicas, a qual, em última instância, condiciona as regularidades de todas experiências corriqueiras. BOHR, N., Física atômica e conhecimento humano: 30
Se no campo da Física sua aceitação inicial foi reticente, nas ciências humanas ainda é solenemente ignorado. Eis o mais grave lapso:
Em nosso século, o estudo da constituição atômica da matéria revelou que a abrangência das idéias da física clássica apresentava uma limitação insuspeitada e lançou nova luz sobre as demandas de explicação científica incorporadas na filosofia tradicional. Portanto, a revisão dos fundamentos para aplicação inambígua de nossos conceitos elementares, necessária à compreensão dos fenômenos atômicos, tem um alcance que ultrapassa em muito o campo particular ciência física. BOHR, Niels, Física atômica e conhecimento humano: Introdução.
A Filosofia também vem dominada pela troupe platônica, de invejável cast, desde Maquiavel, Descartes e Hobbes, até Rousseau e Hegel, estrela-mor do método dialético. BOHR ( idem, : 33) lamentou:

Existem todo o tipo de pessoas, mas acho que seria razoável dizer que ninguém que se diga filósofo realmente entenda o que se quer dizer com a descrição da complementariedade. A relação entre os cientistas e os filósofos é bastante curiosa. A dificuldade é que é inútil que haja qualquer tipo de compreensão entre os cientistas e os filósofos diretamente.
ERIC KRAEMER (La grand mutation cit. Goytisolo: 69), estabeleceu contundente crítica:
Entre a teoria dos quanta, que sustenta o edifício científico da idade atômica e o pensamento dos economistas e filósofos, marxistas e tecnocratas, parece terem decorrido séculos. Já não falam a mesma língua. Já não têm nem uma idéia comum.
Por isso vaticinou JOHN DEWEY (p. 205): "Quando a filosofia vier a cooperar com o curso dos acontecimentos e tornar claro e coerente o significado dos pormenores diários, a ciência e a emoção hão de interpenetrar-se, a prática e a imaginação hão de abraçar-se."
JACQUES RUEF, em Les dieux et les rois, traduzido como A visão quântica do Universo, (p.56) liquida com o artifício platônico:

O determinado, o movimento da história, a lei do progresso inevitável, a dialética como motor do mesmo, a estrutura tecnocrática imposta, ao serem cotejados com os novos achados da ciência, resultam meros conceitos sem justificação, porque inclusive seus pressupostos científicos caducaram, revisados em suas raízes mais profundas.
Platônicos custam a apear de seus edificios. Já passadas décadas das pioneiras constatações atômicas, precisamente em 1932, MARIE BONAPARTE (cit. RODRIGUÈ, Emilio, Somos bicéfalos. - A Tarde: 5 - Salvador, 14/10/1995) enviou uma carta a FREUD:homem
Fiquei conhecendo aqui (Copenhagen) Niels Bohr que, como o senhor deve saber, é um dos mais proeminentes físicos de nosso tempo. Contudo, não posso aceitar um dos pontos de suas teorias sobre o 'livre arbítrio' do átomo. O átomo deve, agora, ser excluído do determinismo.
Ao que respondeu o desinformado médico: “O que a senhora me diz sobre os físicos modernos é realmente notável. É aqui onde a cosmovisão de nossos dias efetivamente está se realizando. Cabe-nos apenas esperar para ver.” O que lhe esperava só poderia lhe desmontar. BOHR ( cit. JAMMER, Max: 173) dissera ainda mais:
Além disso, o problema do livre-arbítrio, muito pertinente na filosofia das religiões, recebeu nova fundamentação, através do reconhecimento, na psicologia moderna, da frustração das tentativas de olhar a experiência, no que diz respeito a nossa consciência, como uma cadeia causal de acontecimentos, tal como originalmente sugerido pela concepção mecanicista da natureza.
Passado século,  pessoal continua reticente...
A descoberta do mundo quântico, que tanto impacto teve nas ciências e tecnologias, ameaça agora envolver o 'etéreo' universo da psique. COVOLAN, Roberto J. M., Instituto de Física Gleb Wataghin, Unicamp, Consciência Quântica ou Consciência Crítica?
Ameaça, apenas O método investigativo pode retomar a unidade perdida desde Platão:
Não é uma coincidência que em 1947, quando Bohr foi condecorado com a Ordem do Elefante da Coroa dinamarquesa, ele tenha escolhido o símbolo taoísta do Yin e Yang - contraria sunt complementa’, ‘os opostos se complementam’. (1) (Gleiser, 1997: 307.
Gilchrist (Lao Tsu, Tao Te Ching, trad. Gia-Fu Feng e Jane English. Wildwood House, 1973: 37) trancreve a origem, no poético apanhado:
O Tao gerou um,
Um gerou dois.
Dois geraram três.
E três geraram dez mil coisas.
As dez mil coisas carregam o Yin e abraçam o Yang.
Elas obtêm harmonia conjugando as forças.Heráclito (cit. Japiassú: 131) também aconselhara:
“Juntem o que é completo e o que é incompleto, o que concorda e o que discorda, o que está em harmonia e o que está em desacordo” Marcelo Gleiser (1997: 307) lembra das palavras do excepcional J. Robert Oppenheimer, razão de Bohr:
A riqueza e diversidade da física, a ainda maior riqueza e diversidade das ciências naturais como um todo, a mais familiar, embora estranha e muito mais ampla, vida do espírito humano, enriquecida por caminhos incompatíveis, irredutíveis uns aos outros, atingem uma profunda harmonia através de sua complementariedade. Estes são os elementos tanto das aflições como do esplendor do homem, de sua fraqueza e de seu poder, de sua morte, de sua passagem pela vida e de seus feitos imortais.
Toffler (Toffler e Toffler: 122) reitera:"É a diversidade que conduz à associação; quanto mais perfeita é a organização social, quanto mais variado o exercício das faculdades físicas e intelectuais, tanto mais se acentuam os contrastes sociais mais se eleva o homem."
Prigogine (cit. Anes: 108) ensina que “o sistema deve ser aberto, isto é, sujeito a uma troca de matéria e energia com sua vizinhança”, movimentando-se “de modo dinâmico, não-linear”.
Chopra (As sete leis espirituais do sucesso, p. 23) realça a capital importância e a gratificação na captura desta ação natural:
Quando você compreende a requintada coexistência de opostos, entra em alinhamento com o mundo da energia, o caldo quântico****, a substância imaterial, que é a fonte do mundo material. O mundo da energia é fluente, dinâmico, elástico, mutável, eterno movimento. Ao mesmo tempo é imutável, quieto, tranqüilo, silencioso, eterno repouso.
A principal influência exercida por Bohr foi mesmo diretamente perante o cientista mais reverenciado da história da humanidade. Convencido por Bohr que Deus não vinha ao caso, o Grande Relativo compôs a maior, e também mais simples equação que ora rege tudo o mais: E=Mc2. Massa e energia se confundem. Ou melhor, se complementam, como pregava Bohr:
O que governa a dinâmica da natureza, inclusive em seu aspecto mais material, na física, não é uma ordem rígida, predeterminada. Nem tampouco uma dialética entre contrários em luta, que leve a síntese, até que se produza uma nova antítese, como na visão dialética marxista rechaçada também pela genética, segundo diz MONOD. É precisamente uma interação - que já existe nos níveis materiais mais elementares entre o aspecto onda e o aspecto corpúsculo - o que impulsiona a dinâmica da natureza. Assim o mostram as relações de mecânica ondulatória, que explicou LOUIS DE BROGLIE, síntese genial que tornou possível, como diz RUEFF, uma filosofia quântica do universo, aplicável não somente às ciências físicas, senão também a todas as ciências humanas. GOYTISOLO, Juan Vallet, Interações

Planck, o "Revolucionário Relutante"

A falha de Einstein

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Notas
* Aage Niels Bohr nasceu em Copenhagen, 1922. Seu pai tinha o nome de Niels Henrik David Bohr (1885-1962) e também escreveu sua biografia entre os dez maiores cientistas da humanidade.
Nosso Bohr recebeu o Prêmio Nobel de Física (1975), pela descoberta da conexão entre o movimento coletivo e o movimento de partícula, e pelo desenvolvimento da teoria da estrutura do núcleo atômico baseada nesta conecção. Morou com os pais no Instituto de Física Teórica (hoje Instituto Niels Bohr) e, depois, em Carlsberg (1932). Aos 12 anos entrou para o Sortedam Gymnasium. Estudou humanidades e ciências. Na Universidade de Copenhagen (1940) antes da ocupação alemã, estudou Física, assistindo seu pai em trabalhos sobre física. Conseguiu fugir do nazismo em 1943. Suécia, e depois a Inglaterra, incrementavam os estudos sobre energia atômica. Retornou a Dinamarca (1945), mas continuou integrando equipes de trabalhos em física atômica em Londres, Washington e Los Alamos. Retornou à Dinamarca para obter o Master's Degree, em 1946; nomeado à equipe do Institute for Advanced Study em Princeton (1948); associado na Columbia University (1949-1950). Casou com Marietta Soffer (1950), em New York City, e o casal teve três filhos: Vilhelm, Tomas e Margrethe. Iniciou, então, uma produtiva e afortunada cooperação com Ben Mottelson, com o qual escreveu dois importantes livros sobre estrutura nuclear: Single-Particle Motion (1969), e Nuclear Deformations (1975).
Inicialmente pesquisador fellow tornou-se professor de Física na Universidade de Copenhagen (1956). Após a morte do pai (1962), foi seu substituto na direção do Instituto Niels Bohr (1962-1970). Foi membro (1957-1975), e depois diretor do Nordita (Nordisk Institut for Teoretisk Atomfysik), outro instituto fundado (1957) para funcionar em associação com o Instituto Niels Bohr.
** Einstein viveu aqui; tradução Carolina Alfaro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997, p. 33.
**www.radiobras.gov.br/ct/falaciencia/2002
.
*** Bohr pertenceu à geração de físicos que renovou radicalmente os fundamentos da sua ciência, abrindo caminho para uma nova forma de compreender a natureza. Com a teoria quântica, que ajudou decisivamente a criar, a constante universal descoberta por Max Planck deixou de ser um elemento estranho – e deveras incômodo – no edifício da física, doravante marcada pela descrição descontínua de processos fundamentais; a estabilidade da estrutura atômica, incompreensível em termos clássicos, foi finalmente entendida; iluminou-se o caminho da física nuclear; a tabela periódica dos elementos, proposta em 1869 por Dimitri Mendeleev, ganhou uma base teórica; a física e a química se fundiram num só campo de conhecimento; os termos do debate sobre a propagação de ondas e partículas, bem como sobre a constituição da matéria foram completamente redefinidos, admitindo-se a complementaridade das duas descrições; reconheceu-se a existência de uma limite inultrapassável na precisão com que se podem conhecer certas grandezas físicas associadas.
Reconhecido com a principal liderança na defesa da interpretação ortodoxa da mecânica quântica, Bohr entendeu rapidamente que inovações tão perturbadoras teriam grande impacto sobre o esforço de conhecimento em todas as áreas. Tornou-se então uma figura de vanguarda na revisão dos fundamentos filosóficos da física – e, por extensão, da ciência. Percebeu que a impossibilidade de separar observador e o objeto na física atômica recolocava em questão o estatuto do próprio ato de conhecer, tal como definido na tradição clássica ocidental, e viu que essa discussão interessava diretamente outras ciências, inclusive as humanas. Defendeu que, ao fazer uma experiência, o físico escolhe uma certa “linguagem”, e que as diferentes “linguagens” possíveis são complementares entre si, portanto necessárias, inexistindo um ponto de vista geral a partir do qual se possa vislumbrar a totalidade do real. Debruçou-se sobre o desafio da biologia, que usa inteiramente a física e a química, mas não pode reduzir-se a elas, necessitando de conceitos próprios, que expressam um certo finalismo, estranho a essas duas outras ciências mais básicas.
(Niels Bohr Física atômica e conhecimento humano
. Tradução de Vera Ribeiro. Revisão de Ildeu de Castro Moreira. - Rio de Janeiro, 1995: Contraponto)
**** "A própria palavra quantum refere-se a uma discreta parcela de energia, a menor unidade de energia possível capaz de associar-se a qualquer evento subatômico isolado." Zohar, D. e Marshall, I., 2000, p.52.
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1 “O princípio de Yin e do Yang - os elementos masculino e feminino da Natureza - é o princípio básico de todo o Universo. É o princípio de tudo quanto existe na Criação. Efetua a transformação para a paternidade; é a raiz e a fonte da vida e da morte, e também encontra-se no tempo dos deuses.
O “princípio da complementariedade” vem explicado no original por Niels Bohr em Atomic Physics and Human Knowledge; Nova York, 1963. David Bohm o interpreta em Wholeness and Implicate Order, London, 1980. A primeira apresentação pública da teoria foi em Como, 1927.
Gerald Holton abosda o tema na revista Humanidades, nº 9 (1984), pp. 49-71, da Universidade de Brasília, intitulado As Raízes da Complementaridade. Outros excelentes approaches sobre a quântica e a complementariedade você pode encontrar em
http://www1.uol.com.br/vyaestelar/fisicaquantica_yin_yang.htm

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