terça-feira, 22 de abril de 2008

A presença dos atratores* econômicos

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O choque, a ação de um átomo sobre o outro, pressupõe também a sensação. Algo de estranho em si não pode agir sobre o outro. Se tudo possui uma sensação, teremos uma confusão de centros de sensações muito pequenos, maiores e muito grandes. Esses complexos de sensações, maiores ou menores, deve ser chamados "vontades".
NIETZSCHE, Friedrich, O livro do filósofo: 45
DE "EFEITO-BORBOLETA" muitos ouvem falar. Diz-se que a batida de suas asas na primavera do sul pode provocar uma tempestade no outono do norte. As circunstâncias absorvem e incrementam a ação. O mesmo se dá com o que se convencionou designar como atratores*, fenômenos que se sujeitam, como tudo, à relatividade e à realidade quântica..
No EspaçoTempo de Einstein os eventos expressam influências remotas e futuras de todo o Universo. A isto se referem, com outras palavras (quiçá variando um pouco pelo temor da “morte”), as doutrinas religiosas. Além das conexões vizinhas, locais, sempre há conseqüências, efeitos considerados não-locais, até imprevisíveis, mas também instantâneas, e não poucas vezes decisivas à realidade**:
Por um prego, perdeu-se a ferradura;
Por uma ferradura, perdeu-se o cavalo;
Por um cavalo, perdeu-se o cavaleiro;
por um cavaleiro, perdeu-se a batalha;
Por uma batalha, perdeu-se o reino
(James Gleick: 49)*
Leibniz (RUSSEL, B., Ensaios céticos: 68) alertava sobre as falhas científicas do louvado Newton. Uma mulher que morresse na ìndia poderia precipitar imediata mudança intrínseca no marido londrino. O senso newtoniano , todavia, e a totalidade da escola não admitia a hipótese, até prova em contrário, que neste caso seria a notícia, não o sentimento. Tais diferenças ocasionam também notáveis conseqüências.
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A dança do caos e a impossibilidade de se acompanhar tantas variáveis foram levantadas pioneiramente pelo excepcional matemático Henry Poincaré, ao findar o século XIX.Traduzidas para nada menos do que seis línguas, suas demonstrações foram pautadas pela criatividade. Excediam a régua de Descartes e a presunção de Laplace. Poincaré rondou as cercanias da Relatividade quase simultaneamente a Einstein, eleito “concorrente” na corrida epistemológica. P. Ormerod (1996: 51) comenta a revolucionária ótica de Poincaré:
Mais significativo ainda foi o que ele descobriu em sistemas físicos que aparentemente eram bastante simples. A característica típica do sistema caótico é que é impossível prever seu comportamento a longo prazo. Uma propriedade que não pode ser abarcada por uma visão que considera o mundo como uma grande máquina. Segundo esta visão, uma alavanca puxada aqui, neste momento, terá conseqüências em diferentes partes do sistema com o passar do tempo, as quais, dado um entendimento suficiente do funcionamento de uma máquina, podem ser compreendidas em seu todo e acuradamente previstas. Em sistemas caóticos, isso simplesmente não é verdadeiro.
Einstein (cit. Trattner: 94), além de citar Poincaré em inúmeros comentários, concordava plenamente com a existência dessa “anomalia”.
O gênio trouxe o exemplo das condições climáticas. Não custa repeti-lo:
Para dizer a verdade, quando o número de fatores em jogo num complexo fenomenológico é demasiado grande, o método científico falha na maioria dos casos. Basta pensar no tempo atmosférico, em que a previsão até mesmo para uns poucos dias antecipados é impossível. As ocorrências nesse domínio estão fora do alcance da previsão exata devido a variedade de fatores em operação, e não devido a alguma falta de ordem na natureza.
E o que dizer da precoce consciência de John Muir (1838-1914. Cit. Gleiser, 2001: 317):
"Cada vez que tocamos algo na Natureza, causamos reverberações no resto do universo”.
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Um mundo repleto de atratores
A física em cada átomo a potencialidade atratora. Naturalmente ela atém aos fenômenos naturais, mas não por afazer não contempla a participação humana. Pois nosso maior intento é colher os precisos conceitos da física de ponta, pára transladá-los ao Universo da Civilização. Tal projeto encontra amparo inclusive nos precursores da Física: todas as ciências foram por ela pautadas. Portanto, não estamos inovando, senão que apenas tentando as pertinentes readaptações, vez que aquela física foi totalmente reformulada, mas não as ciências humanas, que claudica indefinida. Pois bem. Catamos algumas peças que podem ser útil ao puzzle.
Todas as formas de cooperação social legítima são portanto obra de indivíduos que nela consentem voluntariamente; não há poderes nem direitos exercidos legalmente por associações, inclusive pelo Estado, que não sejam direitos já possuídos por cada indivíduo que age sozinho no justo estado de natureza inicial.
(Rawls: 11)
Pois cada ser perfaz, pelo menos, um atrator, mas o número de fatores que compõem o mercado é muito maior do que a soma de seus habitantes, de modo que seu alcance e influência excedem sua simples unidade. Essas exceções ainda podem variar, em tudo, e a forma de conhecê-los, ou projetá-los, não admite cálculo antecipado, por depender de relações, de incidências de múltiplos e incontáveis vetores, de intensidade e direção que não podem ser identificados. A resposta, ou o melhor efeito, em paradoxo, será tanto mais preciso quanto maior for a liberdade dos agentes:
A teoria do caos não só fornece uma explicação para as flutuações de uma economia de mercado, mas também demonstra que o Estado não tem o conhecimento necessário para adotar as medidas anticíclicas corretas. Na medida em que é extremamente baixa a probabilidade de se alcançar um estado final desejado em um mundo caótico, é difícil enxergar como o governo poderia especificar uma política para atingir esse objetivo, a não ser por acaso.
(Rosser, J.B. Jr., Chaos Theory and New Keynesian Economics, The Manchester School, Vol. 58, n. 3: 265-291, 1990; cit. Parker e Stacey: 95).
A sincronicidade entre o indivíduo e a sociedade é conhecida há séculos, propugnada por vários, entre os quais o maior expoente:
O esforço natural de cada indivíduo para melhorar suas própria condição constitui, quando lhe é permitido exercer-se com liberdade e segurança, um princípio tão poderoso que, sozinho e sem ajuda, é não só capaz de levar a sociedade à riqueza e prosperidade, mas também de ultrapassar centenas de obstáculos inoportunos que a insensatez das leis humanas demasiadas vezes opõe à sua atividade.
SMITH, A. cit. DOWNS: 56
A expansão é simplificadora:
"O fato significativo é que estamos, agora, deslocando-nos para futuras formas poderosas de processamento de conhecimento que são profundamente antiburocráticos" (Toffler, 1992: 199).
Como o próprio conhecimento é organizado relacionalmente ou na forma de hipermeios - significando que pode ser constantemente reconfigurado - a organização tem de se tornar hiperflexível. É por isso que uma economia de firmas pequenas, que interagem, reunindo-se em mosaicos temporários, é mais adaptável e, em última análise, mais produtiva do que uma outra construída em torno de uns poucos monolitos rígidos.
(Toffler, 1992: 250).
A humanidade está emergindo de uma reação em cadeia de causa e efeito que se estende por bilhões de anos no passado. Agora a espécie tem o poder de afetar sua própria evolução através da escolha consciente. As pessoas hoje sabem mais do que nunca. Rádios, televisores, computadores, telefones, copiadoras se espalharam pelo globo em um século. Nenhuma geração pode acrescentar essas coisas aos jornais, revistas e as artes. O nosso é um tempo de possibilidades ilimitadas para intercâmbio, interação entre culturas, viagens e aprendizado.
(Gromyko, Anatoly e Hellman, Martin, Breakthrough: 8; cits. Lemkow: 383).
"Pensar globalmente exige a descoberta da relação certa entre indivíduo e a comunidade global. Nenhum deles é insignificante. Deve haver uma relação saudável entre comunidade, ordem social, o todo e o indivíduo." (Lemkow: 382).
A mútua dependência, a interatividade entre o indivíduo e seu meio é inexorável, por qualquer ângulo, ou sob qualquer disciplina, mormente na ciência econômica:
A macropolítica, a macrocultura, a macroeconomia dependem da micropolítica, da microcultura, da microeconomia (em termos de seu respectivo âmbito, quantitativo ou extensivo), e aquelas não podem absorver estas sem sofrer as conseqüências que, ao fazê-lo, provocaria. A vida é interação das partes no todo. (Goytisolo: 74/5).
Novas regras de conduta para as condições do paradoxo global estão começando a surgir. Essas regras novas se baseiam em nossas expectativas da conduta e comportamento individuais. Novamente partimos dos protagonistas menores do mundo a fim de criar as novas regras para a ordem econômica global em expansão.
(Naisbitt, J., Apresentação)

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* Atrator foi introdução de Edward Lorenz, à ciência, nos anos sessenta. Ele partiu de equações simplificas que evoluem em sistemas dinâmicos na evolução temporal. É um sistema não-linear, tridimensional. "Um atrator amarra um sistema a um padrão de comportamento. Pode ser atração a um ponto estável, a um ciclo regular ou a formas mais complexas de comportamento. (Stacey e Parker: 115).
O que Lorenz queria dizer é que insignificantes fatores podem amplificar-se temporalmente de forma a mudar radicalmente um estado. Assim, a previsão do tempo a longo prazo continua a ser algo inalcançável, pelo fato de que nossas observações são deficientes e os arredondamentos que utilizamos, inevitáveis; portanto, sem precisão. Qualquer desvio, por menor que seja, viajaremos perdidos no EspaçoTempo.
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Suíços confirmam a tese
Emitindo pares de fótons - partículas de luz - ao longo de uma fibra óptica estendida entre as cidades suíças de Satingny e Jussy, cientistas do Grupo de Física Aplicada da Universidade de Genebra determinaram que um fóton, chegando a um extremo da linha, é capaz de reagir instantaneamente a uma manipulação realizada no parceiro que foi para o lado oposto, a 18 km de distância. Os pesquisadores calcularam que, se essa reação for resultado de uma comunicação entre as partículas, o sinal teria de viajar a, no mínimo, 10.000 vezes a velocidade da luz. 'Trata-se de uma violação do espírito, se não da letra', da Teoria da Relatividade de Einstein, que diz que nada pode viajar mais depressa que a luz, diz o físico Terence Rudolph, do Imperial College London, em comentário ao experimento suíço. Tanto a descrição da experiência quanto o comentário de Rudolph estão publicados na edição desta semana da revista Nature.
O efeito utilizado pela equipe suíça é conhecido pelos cientistas como 'emaranhamento quântico', e ocorre quando duas partículas são preparadas de tal forma que qualquer alteração numa delas afeta a outra instantaneamente, não importa a distância que as separa. A velocidade de 10.000 vezes a da luz, determinada pelos físicos de Genebra, é o limite mínimo para que o sinal seja 'instantâneo'. 'Sabemos que as partículas que representam os bits quânticos, ou q-bits, precisam adquirir, durante o processamento da informação, certo grau de emaranhamento para que a computação quântica seja mais eficiente que computação clássica', explica o físico brasileiro Marcio Cornelio, atualmente na Unicamp. Cientistas acreditam que computadores quânticos serão capazes de realizar cálculos muito mais rapidamente que computadores normais, ou clássicos, além de resolver problemas que estão fora do alcance das máquinas atuais. O emaranhamento não viola a 'letra' da relatividade porque, por si só, o fenômeno não permite a transmissão de sinais de comunicação mais depressa que a luz - não seria possível, por exemplo, usar partículas emaranhadas para criar um telefone celular instantâneo. 'O emaranhamento não pode ser usado para comunicar unidades de informação escolhidas por uma pessoa, exatamente porque os eventos correlacionados por ele são aleatórios, fora do controle humano. Se os eventos fossem determinísticos, seria possível usar o fenômeno para comunicação clássica mais rápida que a luz', o que violaria a relatividade, diz Gisin. Mas se as partículas não trocam sinais entre si, como o emaranhamento quântico é possível? Como uma partícula 'sabe' que sua parceira, a quilômetros de distância, foi manipulada? Eu diria que as partículas simplesmente estão correlacionadas', diz Cornelio. 'Como não é possível transmitir informação usando apenas partículas emaranhadas, não há necessidade de uma 'saber' o estado da outra e vice versa. Existe apenas uma correlação estranha, que não pode ser descrita pela física clássica'. Partículas 'conversam' a 10.000 vezes a velocidade da luz.'
(Partículas 'conversam' a 10.000 vezes a velocidade da luz, - Estadão, 13/8/ 2008.)







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